Em outubro de 2015 Holger Marquardt foi nomeado diretor geral de marketing e vendas de automóveis da Mercedes-Benz do Brasil depois de 26 anos na companhia e de passagens por vários países, como África do Sul, China e Portugal. Em pouco mais de oito meses por aqui ele já inaugurou uma fábrica e assistiu suas vendas crescerem 47% em 2015, para 17,5 mil unidades, e depois caírem 30% nos primeiros cinco meses de 2016. Na direção de uma das maiores marcas premium de automóveis no Brasil, Marquardt prevê um ano complicado, aposta na flexibilidade da fábrica de Iracemápolis, SP, para manter a rentabilidade da operação no País e alerta: carros não ficarão mais baratos depois da produção local. Confira a entrevista:
A inauguração da fábrica de Iracemápolis, em março, aconteceu em um momento ruim?
Seria pior ter inaugurado a fábrica há dois anos, quando o mercado ainda estava bom, pois teríamos nos programado para ter dois turnos e produzir muito mais. Iniciar as operações neste momento nos trouxe um ar de realismo, que nos dá tempo para programar e crescer junto com o mercado. A fábrica tem capacidade produtiva de 20 mil unidades por ano em dois turnos. Neste primeiro momento estamos trabalhando em um turno e produzindo um modelo, o sedã Classe C. No segundo semestre iniciaremos a produção do utilitário GLA. Os dois modelos respondem por quase metade das nossas vendas no País. Temos flexibilidade para produzir mais modelos e estamos estudando essa opção. Tudo depende da recuperação do mercado.
As exportações tem sido um alento para muitas empresas. As remessas para a América do Sul estão nos seus planos?
Neste momento toda a produção é para o mercado local. Mercados como Argentina e Colômbia, abastecidos por Estados Unidos e Alemanha, estão no nosso radar. Porém ainda não há nada concreto.
Com a fábrica local a tendência é a de que os preços dos veículos fabricados aqui fiquem mais baratos?
Você viu a concorrência fazendo isso? Nós também não faremos. As despesas com oscilações do câmbio e mão de obra impedem que os valores sejam reduzidos. Atendemos às normas de nacionalização previstas no Inovar-Auto, mas ainda importamos peças. Temos uma política de preços transparente e no início do ano reajustamos nossa tabela em 6,5%. Com a produção local miramos o longo prazo. Queremos estar presentes em um mercado promissor.
Quais são as projeções de vendas da Mercedes-Benz neste ano?
Teremos 27 lançamentos este ano: novas versões, motorizações e modelos completamente novos. Mesmo assim será difícil conter uma queda puxada pela retração geral no mercado.
Em 2015 o mercado de veículos premium cresceu 20%. Como deve ser agora?
No ano passado o segmento cresceu na contramão da indústria de veículos, pois não requer muito crédito. Apenas cerca de 20% dos nossos clientes fazem financiamentos. Porém o alongamento da crise e a falta de definição política e econômica acabam comprometendo nossas vendas, pois os clientes estão inseguros. Precisamos de estabilidade para que eles voltem a gastar. No primeiro trimestre nossas vendas caíram 19,7%, enquanto o mercado geral caiu 21,5%. Com isso conseguimos elevar nosso market share em 1 ponto porcentual, para 30,5%. Acreditamos que o mercado cairá cerca de 20% este ano. Nós e a concorrência surfaremos na mesma onda.
Caso a economia não se recupere rapidamente quais são os planos da Mercedes-Benz?
Sou otimista e realista. Torço para que a economia se reestabeleça já em 2017, mas caso isso não aconteça teremos de reprogramar nossa estratégia. Com a flexibilidade da fábrica isso fica mais fácil. Também é importante contar com o apoio da matriz. Eles nos deixam trabalhar e entendem que o mercado brasileiro é de longo prazo. Estão apostando em nós e não precisamos ficar nos explicando o tempo todo.
A operação brasileira da Mercedes-Benz é rentável?
Há mercados bem mais rentáveis do que o nosso. O Brasil ocupa algum lugar da décima à vigésima posição no volume global de vendas da Mercedes-Benz. Em 2015 nossa rentabilidade ficou em cerca de 10%. No primeiro trimestre deste ano os números começaram a cair e não sabemos como chegaremos até o fim do ano.
Qual é o potencial do mercado de automóveis premium no Brasil?
No ano passado tivemos 50 mil unidades vendidas. Acredito que o crescimento deve ser orgânico, de 3% a 4% por ano. Em cinco anos devemos ter um mercado de cerca de 70 mil unidades. É nesse número que miramos nossa estratégia.