Desconfortável dependência do câmbio

O semestre começa com movimento de flutuação cambial. A relação com o dólar que parecia tender a se consolidar acima de R$ 3,50, talvez até razoavelmente acima, abriu a primeira semana de julho girando abaixo de R$ 3,30, mesmo depois da intervenção do Banco Central.

Bom para os sistemistas e mesmo para algumas montadoras que ainda tem de importar parte ponderável dos componentes que utilizam. Mas ruim, muito ruim, para as empresa que começavam a buscar na exportação alguma compensação para o verdadeiro drama vivido no mercado doméstico que, pelo segundo ano consecutivo, registra queda acima de 20% em relação ao período anterior.

Mais uma vez, a real capacidade de competição da indústria instalada no Brasil é posta em cheque. Bastou leve flutuação cambial para ameaçar a viabilidade de projetos inteiros de exportação de veículos, seus componentes e demais implementos.

Quem não consegue ser competitivo na exportação, vale lembrar, também não tem como se defender da importação sem ajuda de barreiras protecionistas que compensem toda a incompetência interna.

Voltamos, em síntese, a última década do século passado quanto um presidente, Fernando Collor de Melo, chamou de carroças os automóveis fabricados no Brasil e abriu repentinamente as fronteiras nacionais para os veículos fabricados no exterior. Foi um desastre.

Ainda que seja difícil e dolorido de admitir, Collor não deixava de ter alguma dose de razão: depois de décadas e décadas de proteção integral, os carros fabricados no Brasil eram, de fato, algo bem próximos de carroças quando comparados aos que circulavam nos países desenvolvidos.

E as fábricas brasileiras não eram exatamente o que se poderia de se chamar de um primor de modernidade. Até porque outra proteção integral, a da informática, tinha obrigado presidentes de montadoras a trazer nas malas, às escondidas, qualquer coisa que portasse um mero chip.

Há quem diga que, naquela época, o objetivo central era criar dificuldades para que, na sequência, se fizesse a venda de facilidades. Reais motivações à parte, o certo é que as fábricas e os veículos estavam, de fato, tecnologicamente ultrapassados.

Hoje o quadro é bem diferente: as fábricas, muitas recém- inauguradas, estão entre as mais novas e modernas do mundo. E nesta época em que a internet reduz as distâncias do mundo a centímetros, automóveis, caminhões e ônibus lançados são no mínimo da mesma geração dos comercializados na Europa, Ásia ou América do Norte.

Como explicar, então, a manutenção de tanta e tão frágil dependência de uma simples e mera variação cambial, seja para cima, seja para baixo? Como explicar que a necessidade de proteção continue praticamente a mesma?

Vale retornar a ultima década do século passado. Naquela época, posto diante da dificuldade que a indústria automobilística encontrava para competir com os veículos importados, Silvano Valentino, que presidiu a Anfavea entre 1995 e 1998 foi incisivo e profético. Vale, inclusive, a reprodução de parte da entrevista que concedeu à AutoData no dia em que estava encerrando seu mandato na entidade

AutoData – O que vem pela frente?
Valentino – Mesmo depois das trocas dos sistemas de produção e dos produtos, as montadoras vão constatar que ainda não serão competitivas. Vão então forçar seus fornecedores e seus concessionários a também investir na modernização. E ainda assim permanecerão sem poder de competição

AD – E então?
Valentino – Então vão constatar que o problema central está, de fato, no tamanho e na ineficiência do Estado. Vão constatar que se este ponto não for corrigido, não há como ser realmente competitivo.

Naquela entrevista Valentino estimou que em dez a quinze anos todo este ciclo estaria percorrido. E previu que, ao fim dele, não exatamente a indústria automobilística, mas sim a sociedade como um todo forçaria a mudança. “Em tempo histórico, o que são dez a quinze anos? Muito pouco”, acrescentou.

É exatamente o ponto no qual parecemos estar: montadoras, sistemistas e concessionários cuidaram de tornar eficientes seus produtos e sistemas de produção ou de comercialização. Falta, porém, que o último elo, o Estado, faça a sua parte.

Tal como previu Valentino, já há dois anos a sociedade vem saindo às ruas em todo Pais para exigir que o Estado também aumente a sua eficiência.

Até isto acontecer, todavia, a desconfortável dependência do câmbio estará mantida. Resta torcer, então, para que o dólar se mantenha num patamar capaz de compensar toda a ineficiência que ainda insiste em se manter na área fiscal, trabalhista, educacional, infraestrutura…

Haja proteção!

Transmissões automotivas: realidade e futuro.

Um dos maiores desafios da indústria da mobilidade atual é oferecer veículos integrados às necessidades de preservação do meio ambiente e dos recursos finitos de produção. Nunca se falou tanto, como nesta última década, em eficiência energética e na consequente necessidade de soluções leves e eficientes para os veículos. O Brasil busca nos últimos anos responder a esses imperativos, aliando-os às necessidades internas de crescimento econômico, ao lançar programas como o Inovar-Auto para promover mudança radical no panorama da mobilidade. No entanto, todo o esforço despendido e o desenvolvimento alcançado têm sido prejudicados face ao atual momento de crise econômica do País.

Vivemos a era da inovação. Forças são arregimentadas, visando um mundo de ventura social, tecnológica e econômica, aproveitamento inteligente dos recursos naturais e entrega de novos valores com alto grau de aplicação para a sociedade. Ultimamente, a queda do preço mundial do barril de petróleo impulsionou o consumo global desta commodity. Particularmente, nos Estados Unidos, observa-se uma tendência de aumento do uso de veículos maiores enquanto as leis que regulam a emissão de poluentes tornam-se mais severas na maioria dos países.

Surge um dilema a ser vencido pelos fabricantes de veículos: atender às normas de emissões em tempos de combustível barato e expectativa de prazer ao dirigir sem limitações. Diversas tecnologias disponíveis trazem contribuições inovadoras inestimáveis, porém permanecem as perguntas: conseguiremos gerenciar ideias e resultados disruptivos ou permaneceremos muito próximos do comum? Inovar significa otimizar ou expandir as fronteiras do negócio? Quais tendências podem indicar as tecnologias futuras a serem desenvolvidas hoje?

Os sistemas de trem de potência ou, como são mais conhecidos, sistemas de powertrain têm contribuído significativamente para o alcance dos objetivos e das metas globais para a redução da emissão de poluentes e particularmente com o grande impulso dado pelo desenvolvimento de motores mais leves, menores e mais eficientes. Semelhante desafio se impõe também aos sistemas de transmissão.

Atualmente, é comum nos depararmos com perguntas contraditórias, mas ainda nem sempre há resposta certa. Qual é o melhor caminho? Aumentar o número de relações de transmissão para propiciar ganhos, fazendo com que os motores trabalhem em faixas mais eficientes ou reduzir o número destas relações, para propiciar a redução do tamanho das caixas de transmissão automotivas? Há necessidade ou não de caixas de transmissão automotivas para veículos 100% elétricos? Qual é o papel das transmissões no contexto de veículos híbridos? Como os novos materiais e processos para a fabricação dos componentes de uma transmissão podem contribuir para o aumento de eficiência energética de um veículo?

Tendências parecem indicar palavras-chave como melhoria dos componentes das transmissões, hibridização, eletrificação, comunização, modularidade, flexibilidade e escalabilidade. O mercado ainda busca fórmulas para responder perguntas como estas e solucionar as contradições impostas por tais requisitos à inovação dos sistemas de transmissões. Não é tarefa fácil, mesmo para as empresas envolvidas, saber ao certo qual será o futuro das transmissões.

No Brasil, há um espaço considerável para o mercado absorver a chegada de novas tecnologias, porém a barreira atual que precisamos vencer é da credibilidade. Não obstante, ainda que num cenário mais pessimista do que otimista, as empresas da mobilidade brasileira fazem o trabalho de casa, redefinem seu ambiente de negócios e buscam a inovação tecnológica como caminho de sucesso. O que fica claro neste contexto é o seguinte: para que as inovações sejam bem desenvolvidas no Brasil, é preciso que a indústria automotiva aprofunde seu entendimento do que significa inovar, de como fazê-lo de forma sustentável e qual o retorno esperado com inovações. Reconhecer tendências, entender para onde vão as tecnologias e identificar quais soluções atuais fazem sentido no ambiente brasileiro e como adaptá-las é fundamental para que as empresas invistam e modifiquem positivamente esse cenário de competitividade do setor automotivo brasileiro.

O 14° Simpósio SAE BRASIL de Powertrain objetiva oferecer aos engenheiros da mobilidade, voltados ao ambiente de negócios brasileiro, espaço para entendimento das tendências e questionamento sobre as tecnologias que direcionam o mundo das transmissões automotivas. Os temas escolhidos para a pauta do simpósio serão apresentados nos dias 1º e 2 de agosto, no Parque Tecnológico de Sorocaba, a 100 km de São Paulo, por profissionais altamente qualificados de renomadas empresas de alto nível tecnológico.

Mauro Moraes de Souza é diretor regional da Seção Campinas da SAE BRASIL.

Mercedes-Benz na liderança das vendas de caminhões e ônibus

A Mercedes-Benz encerrou a primeira metade do ano na liderança das vendas de caminhões. No período foram licenciados 7,5 mil unidades, o que representou participação de 29,52% do mercado. O volume ampliou ainda mais a diferença para vice-líder MAN para seiscentos caminhões a mais.

O desempenho da montadora de São Bernardo do Campo, SP, também foi o de menor perda, pois enquanto o mercado total de caminhões caiu 31,4%, com 25,5 mil unidades, a fabricante registrou queda de 20,5% no período de seis meses em relação ao mesmo período do ano passado.

Em segundo lugar no ranking aparece a MAN. A montadora vendeu nos seis primeiros meses 6,9 mil caminhões, queda de 32% com relação ao mesmo período do ano passado e fatia de 27,17%.

A Ford encerrou o primeiro semestre 3,9 mil unidades vendidas, o que representou queda de 44,8% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado. Ainda assim, a montadora conseguiu preservar o terceiro lugar do ranking com participação de 15,37% do mercado.

A Volvo garantiu o quarto lugar do ranking de venda com 2,9 mil caminhões vendidos nos primeiros seis meses, o que representou uma queda de 32,6% na comparação com o período de um ano antes e participação de 11,34% do mercado. O volume licenciado pela Volvo assegura também boa distância da rival Scania, que vendeu pouco mais de 2 mil unidades no primeiro semestre. A montadora sueca de São Bernardo do Campo, no entanto, registrou queda de 17,7%, recuo bem menor do que o apurado pela fabricante de Curitiba, PR.

Fecham a lista das dez fabricantes que mais vendem, a Iveco, a DAF, na sétima, a RAM na oitava, Agrale, na nona, e International, em décima.

A única montadora capaz de comemorar seu desempenho no mercado é a DAF. Os 277 caminhões que vendeu no primeiro semestre, representou alta de 58,3% sobre o mesmo período do ano passado. O volume traduz uma participação pouco acima de 1%.

Chassis – No segmento de ônibus a Mercedes-Benz é líder de vendas disparada. No primeiro semestre o mercado absorveu 3,1 mil chassis da montadora, o que representou uma queda de 36,22% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os licenciamentos, no entanto, garantiram 54,6% do mercado.

Muito a lamentar com o desempenho no primeiro semestre tem a MAN, na vice-liderança das vendas. Os 922 chassis negociados no período representam queda de 56,6% com relação às vendas de um ano antes, são 15 pontos porcentuais acima da retração do mercado total de chassis, de 41,16%.

A Agrale aparece no terceiro lugar e encostada da MAN. Nos seis primeiros meses a montadora de Caxias do Sul, RS, apurou vendas de 919 unidades, queda bem menor que a do mercado, de 31,1% e participação de 16,17%, praticamente a mesma da MAN, de 16,22%.

Completam a lista a Volvo, na quarta posição, seguida pela Iveco, Scania e International. Vale destacar o desempenho da Scania no primeiro semestre, a única montadora a registrar crescimento. As vendas acumuladas de 135 chassis representaram alta de 15,4% sobre o mesmo o período do ano passado e participação de 2,4%.

Vendas de usados crescem 2,32% em junho

O leve crescimento nas vendas de veículos novos em junho também se apresentou no mercado de usados. De acordo com dados da Fenabrave, trocaram de mãos 831,6 mil automóveis e comerciais leves, crescimento de 2,32% sobre maio. O volume, no entanto, é 2,79% menor do que o negociado em junho do ano passado.

O recuo nas vendas de usados também se mantém no acumulado do ano até junho. Nos seis primeiros meses do ano foram vendidos 4 milhões 613 mil 990 automóveis e comerciais leves usados, baixa de 3,99% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo relatório da Fenabrave de cada um automóvel 0 km vendido, cinco usados são negociados. O Volkswagen Gol foi o modelo mais vendido no mercado de usados em junho, somando 81,6 mil unidades. Seguem atrás dele Fiat Palio, Fiat Uno, Chevrolet Celta e Chevrolet Corsa.

No mercado de caminhões usados o desempenho de junho também registra alta sobre maio, de 2,6% com 29 mil unidades vendidas e estabilidade com relação a junho de 2015, quando foram comercializados 28,2 mil caminhões de segunda-mão, baixa de 0,08%.

No primeiro semestre do ano as vendas de 156,9 mil caminhões usados também apresentam estabilidade, pois representam leve alta de 0,04% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram negociadas 156,8 mil unidades. A proporção no segmento é de cada caminhão novo vendido para outros 6,9 usados trocam de mão.

Desempenho positivo expressivo registrou o mercado de ônibus usados. Em junho foram negociadas 3,5 mil unidades, o que representaram alta de 14,02% sobre o mês anterior e de 2,82% em relação a junho do ano passado. No acumulado do ano, no entanto, persiste queda de 4,79%. No primeiro semestre de 2016 foram negociados 18,9 ônibus usados contra 19,8 mil no mesmo período do ano passado.

Carteira de CDC tem alta de 5,5% em maio

Os sinais de alguma retomada de confiança presentes no desempenho do mercado de veículos também se apresentam na liberação de crédito, ainda que de forma tênue. Os recursos liberados em maio na carteira de CDC totalizaram R$ 6,2 bilhões, alta de 5,5% na comparação com abril.

De acordo com a Anef, Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras, trata-se do segundo melhor resultado do ano, superado apenas pelo valor de março, quando somou R$ 6,6 bilhões. Os dados foram divulgados pela associação na quarta-feira, 6.

Apesar do leve crescimento mensal, ainda pairam incertezas no mercado de crédito. Segundo a Anef, o saldo das carteiras de CDC e leasing somou R$ 171,5 bilhões, o que corresponde a uma queda de 14,4% na comparação com maio do ano passado e de 1,3% em relação a abril.

O total de recursos liberados em maio chegou a R$ 31,8 bilhões, recuo de 18,6% no acumulado dos últimos doze meses. “A demanda continua reprimida, pois o consumidor ainda se mantém cauteloso e evita contrair dívidas”, observa em nota o presidente da entidade Gilson Carvalho.

O saldo das carteiras correspondeu a 2,9% do PIB, contra 3,5% no mesmo período de 2015. O resultado representa redução de 0.6 ponto porcentual e equivale a 5,5% do total de crédito do Sistema Financeiro Nacional oferece e de 10,9% do total das operações de crédito de recursos livres.

Taxas – Os bancos das montadoras ainda são os que oferecem as taxas mais atraentes do mercado para o consumidor. Em maio os índices foram de 1,74% ao mês e de 23% ao ano, enquanto os bancos independentes praticam taxas de 1,93% e de 26,3%, respectivamente.

O prazo médio das concessões se manteve em 41 meses e os planos máximos oferecidos ao consumidor são de 60 meses.

Exportações crescem 14,2% no semestre

Apesar da queda de 7,5% no comparativo de junho com maio, as exportações de veículos continuam registrando crescimento no ano e as perspectivas são ainda mais favoráveis para este segundo semestre. De acordo com o presidente da Anfavea, Antônio Megale, algumas montadoras enfrentaram problemas na área produtiva, o que gerou postergação de alguns embarques: “Estamos avançando em vários mercados e a renovação do acordo com a Argentina até 2020 é mais um dado positivo na área de exportação”.

A única coisa que preocupa no momento, segundo Megale, é a volatilidade do câmbio: “Isso atrapalha bastante na hora da negociação. Mas acreditamos que a equipe econômica do governo esteja atenta a tudo isso e agirá no sentido de ao menos estabilizar no novo patamar em que o dólar chegou”.

Foram embarcados em junho 43,4 mil veículos, ante os 46,9 mil de maio, totalizando 226,6 unidades exportadas no acumulado dos primeiros seis meses, o que representou crescimento de 14,2% no comparativo com o mesmo período de 2015. As vendas externas de automóveis e comerciais leves cresceram 15,4% no semestre, com total de 213,4 mil unidades este ano, enquanto as de caminhões caíram 8%, baixando para 9,4 mil.

Já as exportações de ônibus registraram o melhor desempenho por segmento no semestre – alta de 17,7%, com 3,8 mil unidades exportadas –, enquanto as de máquinas agrícolas retraíram 17,8%, com o embarque de 4,4 mil unidades no ano. No comparativo de junho com maio, no entanto, as vendas externas de máquinas agrícolas reagiram. A alta foi de 38,9%, com 997 exportadas no mês passado.

Receita em queda – Por causa do mix de exportação – máquinas agrícolas, por exemplo, são bens de maior valor –, a receita com as exportações no ano ainda registram queda em relação a 2015. De janeiro a junho foram exportados US$ 4,8 bilhões, 12,5% a menos do que a receita de US$ 5,5 bilhões do primeiro semestre de 2015.

Mas como essa queda relativa ao acumulado do ano tem sido menor a cada mês a Anfavea mantém a expectativa de que o ano será encerrado com vendas externas no valor de US$ 10,4 bilhões, com decréscimo de apenas 1% em relação aos US$ 10,5 bilhões do ano passado. Em volume de veículos a meta é crescer 21,5%, ultrapassando 500 mil unidades exportadas.

Megale voltou a elogiar a atuação dos governos brasileiro e argentino no processo de renovação do acordo bilateral entre os dois países, dizendo que o mais importante para o setor é ter regras estáveis de longo prazo: “A Argentina continua sendo nosso principal parceiro e certamente a renovação do acordo até 2020 favorecerá a atuação das nossas associadas nos dois países”.

Setor de máquinas comemora junho e lamenta o semestre

As vendas internas de máquinas agrícolas e rodoviárias bateram em 4,1 mil unidades em junho. Comparado com o desempenho de maio, dá para comemorar evolução de expressivos 18%. Mas a festa para por aí. A comparação com o mesmo mês do ano passado aponta recuo de 7,8% e o acumulado do primeiro semestre teve tintas ainda mais vermelhas, com os negócios encolhendo 30,9%. Foram vendidos no período 17,1 mil equipamentos contra 24,7 mil nos primeiros seis meses de 2015.

As exportações também deram um salto na comparação mensal, mas ainda penam para igualar os números do ano passado. Se em junho os fabricantes embarcaram 997 equipamentos, 39% a mais do que em maio, de janeiro a junho somam 4,4 mil unidades contra 5,3 mil de 2015, 17,8% a menos.

O crescimento expressivo de maio para junho não indica uma tendência, na avaliação de Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea. Está ligada muito mais a entregas programadas por contratos de um ou outro fabricante.

Com vendas internas ainda muito aquém do ideal e exportações que ainda não chegaram a entusiasmar ao longo do ano a produção, por decorrência natural, não poderia apresentar quadro muito melhor, em especial no transcorrer do semestre.

Os fabricantes encerraram junho com 4,5 mil máquinas fabricadas, elevação de 10,4% perante maio e de expressivos 25% sobre o mesmo mês do ano passado. Apesar disso, ressalta Ana Helena, são variações sobre um patamar produtivo muito baixo e que vem se mantendo ao longo dos últimos meses. Tanto que no semestre saíram das linhas de montagem nacionais somente 19,8 mil equipamentos, enquanto de janeiro a maio do ano passado foram 30,5 mil unidades.

Mesmo com alguns tímidos sinais de que a economia pode melhorar no segundo semestre e a divulgação do novo Plano Safra 2016/2017 no fim de maio, com condições consideradas satisfatórias mesmo em relação às taxas de juros, a Anfavea teme dificuldades maiores tanto nas vendas internas como na produção nos próximos meses.

Isso porque os financiamentos foram interrompidos em junho, após o esgotamento dos recursos do Plano Safra passado e retomado somente neste mês, depois da divulgação de todas as portarias referentes aos novos parâmetros. O impacto assim, avalia a diretora da Anfavea, deve ser sentido neste terceiro trimestre, já que os números de junho refletiram os negócios no atacado e não das revendas para o consumidor final.

Vendas a prazo são as mais baixas da história

O pequeno crescimento de 2,6% nas vendas internas de junho em relação a maio indica que o mercado está se estabilizando, com perspectiva de retomada ainda este ano. A avaliação é do presidente da Anfavea, Antônio Megale, que na quarta-feira, 6, divulgou o balanço do setor automotivo no semestre, informando que o atual índice de vendas a prazo, de apenas 51,8% em junho, é o mais baixo da série histórica do setor: 

“Esse dado tanto pode significar que ainda há restrições para a obtenção de crédito como também ser reflexo do receio dos consumidores de fazer dívidas. Mas acreditamos que já há indicadores positivos em relação à volta da confiança do consumidor e da indústria, o que pode favorecer as compras a prazo e a reação das vendas em geral a partir do final deste ano”.

Segundo a Anfavea, o acompanhamento do índice de financiamento no total das vendas de veículos é feito desde o começo da década passada e, tradicionalmente, sempre ficou na faixa de 60%. Mas o importante, na análise de Megale, é que tudo indica que agora o mercado encontrou o seu piso. “Chegamos a um patamar de estabilização. E depois disso, tradicionalmente, vem o crescimento.”

As vendas de automóveis e comerciais leves totalizaram 166,6 mil unidades em junho, ante as 162,3 mil de maio, atingindo 952,3 mil no semestre. Esse resultado representa queda de 25,4% em relação aos primeiros seis meses de 2015 e a volta aos patamares de vendas internas de 2006. Com relação a junho, no entanto, Megale fez uma ressalva: “Os números poderiam ter sido melhores não fossem as festas juninas do Nordeste e Centro-Oeste, que atrapalham as vendas, e também a greve do Detran em alguns municípios paulistas, que impediram os emplacamentos de vendas realizadas”.

Assim como o segmento de automóveis e comerciais leves também o de caminhões apresentou desempenho positivo no mês passado em relação ao anterior. Com 4,2 mil emplacamentos, esse mercado cresceu 3% nesse comparativo. No semestre, porém, o decréscimo em vendas é de 31,4% – 25,6 mil unidades contra 37,3 mil.

Já as vendas de ônibus, que atingiram 982 unidades no mês passado, caíram em todos os comparativos. A queda foi de 7,8% em junho com relação a maio, 32,% no comparativo com o mesmo mês de 2015 e de 41,2% no semestre.

Projeção mantida – No total, considerando todos os segmentos, as vendas de veículos totalizaram 171,8 mil unidades no mês passado e 983,5 mil no acumulado janeiro a junho. A retração em relação ao primeiro semestre de 2015 é de 25,4%. Acreditando, no entanto, que o segundo semestre deste ano será melhor do que o mesmo período do ano passado, a Anfavea mantém a projeção de 2016 encerrar-se com retração de 19% nas vendas internas, com um total de 2 milhões 80 mil veículos.

Ainda dentro do balanço de junho o presidente da Anfavea enfatizou a queda no volume de estoques nas fábricas e nas redes. O mês de junho foi encerrado com 225 mil veículos nos pátios das montadoras e das concessionárias, equivalente a 39 dias de produção. Em maio eram 235 mil unidades, comparáveis a 41 dias. “Há um essforço grande em todo o setor no sentido de reduzir estoques e equilibrara oferta e demanda”, comentou Megale.

Produção de veículos cresce 4,3% em junho

A produção de veículos no País em junho registrou alta de 4,2% com relação ao mês anterior, para 182,6 mil unidades. O volume, no entanto, ainda é 3% menor do que o apurado em junho do ano passado, quando saíram das linhas de montagem 188,1 mil unidades.

Ainda bem mais acentuado é o recuo na produção do primeiro semestre. No acumulado do ano foram construídos 1.016 milhão de autoveículos, o que representa 21,2% no confronto com o mesmo período do ano passado. Tantos os volumes de junho quanto do primeiro semestre são os menores desde 2004.

“A produção em junho poderia até ter sido melhor, caso algumas montadoras não tivessem tido problemas com a falta de fornecimento de peças”, lembrou Antonio Megale, presidente da Anfavea durante apresentação do desempenho do setor automotivo na quarta-feira, 6. “Mas a situação do mercado se reflete muito na produção, que ainda se mantém em patamar muito baixo.”

A produção de junho somente de veículos leves foi de 175,2 mil unidades, queda de 3,2% na comparação com o mesmo mês de 2015. No primeiro semestre do ano o volume de produção de automóveis e comerciais leves somou 976,1 mil unidades, o que representa retração de 20,9% em relação ao mesmo período do ano passado.

No segmento de caminhões, a produção de 5,5 mil unidades em junho representa alta de 5,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado dos seis primeiros meses, as 31,3 mil unidades produzidas são 24,8% menores do que um ano antes.

O desempenho da produção de caminhões também se repete na área de ônibus. Apenas em junho foram produzidos 1,8 mil chassis, crescimento de 1,4% com relação a junho de 2015. No acumulado do ano até junho, porém, a queda é de 33,4%, para 9,2 mil chassis contra os 13,8 mil produzidos no primeiro semestre do ano passado.

Emprego – O setor automotivo encerrou o primeiro semestre com 127,7 mil pessoas empregadas, recuo de 6,7% com relação ao quadro de trabalhadores do mesmo período do ano passado. Na comparação com maio, porém, apresenta leve queda de 0,2%.

O presidente da Anfavea já aponta estabilidade no emprego frente ao número de trabalhadores ao longo do primeiro semestre e lembra que também há diversas fabricantes contratando em função do desempenho das exportações.

Levantamento da Anfavea correlacionando a produção e o emprego aponta atualmente 32 mil pessoas excedentes no setor. “Até 2014 a produção era favorável para a produção”, observa Megale. “Nos dois últimos anos, no entanto, a relação emprego versus produção tornou-se um desafio para as fabricantes. É fundamental a recuperação do mercado para utilizar a mão de obra excedente e garantir os postos de trabalho.” Segundo a Anfavea hoje há 26 mil trabalhadores em regime de flexibilidade, 21,3 mil no PPE e 4,7 mil em lay off.

Venda de importados cresce em junho

Em junho as dezoito marcas afiliadas à Abeifa, Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, negociaram 2.788 unidades importadas, alta de 3,4% sobre maio. Apesar do crescimento mensal, a queda em relação ao mesmo mês do ano passado permanece acentuada, de 45,4%, quando foram vendidos 5.104 veículos. Os dados são da Abeifa, divulgados na terça-feira, 5.

No primeiro semestre do ano as vendas totalizaram 18.200 unidades licenciadas, o que representou queda de 44,6% na comparação com os mesmos seis primeiros meses do ano passado, período que registrou vendas de 32.876 veículos.

Em nota, o presidente da entidade, José Luiz Gandini, se mostrou mais confiante com um cenário melhor para o segundo semestre, com reaquecimento da indústria e tendência de queda do câmbio. “Depois de duas quedas consecutivas, em abril e em maio, o registro positivo em junho é um alento para o setor de veículos importados.”

No que diz respeito às vendas de modelos de produção local das associadas, BMW, Chery, Mini e Suzuki fecharam junho com 1.290 licenciamentos, crescimento de 4,8% em relação a maio, mas queda de 69,7% se comparado com junho de 2015. No acumulado, as quatro associadas somaram 5.227 veículos contra 11.806 unidades emplacadas no mesmo período do ano passado, retração de 55,7%. Vale pontuar, no entanto, que os licenciamentos de veículos da produção local este ano se mantiveram em crescimento.

Ao somar os volumes de vendas de importados e de produção local, a participação das marcas associadas à Abeifa no mercado doméstico é de 2,45% em junho e de 2,46% no primeiro semestre do ano.