Finalmente o processo político que travou o País nos últimos meses acabou na tarde de quarta-feira, 31. A partir de agora – acreditando ou não – temos todos a obrigação de enfrentar com vontade e esperança os caminhos que levarão ao futuro. Não temos mais alternativa de escolha e só nos resta torcer para que o percurso definido seja o correto.
Bem-vindos, portanto, aos desafios que provavelmente nos levarão novamente a trilhar, a partir de agora, os percursos de uma nova fase de desenvolvimento do nosso País. Eu, pessoalmente, acredito nisto e não posso me furtar de, neste momento importante da nossa história, que marca o definitivo afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República e a consequente efetivação no cargo do Presidente Michel Temer, deixar de desejar um “Feliz Brasil Novo” para todos.
Não tenho dúvidas que teremos um período ainda muito difícil pela frente, principalmente quando olhamos pelo prisma das empresas que trafegam em torno do setor automotivo. Será um tempo muito desafiador. Mas torço para que o novo presidente e sua equipe de governo tenham a competência necessária para recolocar o Brasil no caminho do crescimento e da evolução, tanto em termos de ordem econômica como social, de agora em diante.
Tenho certeza que não estou sozinho nesta linha de raciocínio de que poderemos estar reiniciando o caminho do desenvolvimento. São vários os economistas e empresários que, hoje, também acreditam nesta possível recuperação, não só aqui no Brasil, mas em todo o mundo.
Pode até ser simplesmente uma coincidência, mas nas últimas semanas surgiram vários indicativos concretos que mostram que podemos estar realmente iniciando uma fase de recuperação da atividade econômica brasileira.
Segundo dados divulgados recentemente pela Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, os gastos com máquinas e equipamentos cresceram no segundo trimestre deste ano. E isto mostra claramente que os investimentos podem já estar começando a voltar.
Da mesma forma, os fabricantes e revendedores de caminhões também já trabalham com a possibilidade de uma recuperação de cerca de 20% nas suas vendas no próximo ano. É verdade que as variações esperadas ainda são pequenas e se dão sobre uma base muito deprimida, mas também pode ser um sinal de que o pior realmente pode começar a ficar para trás.
São indicadores, inclusive, que certamente já vão deixando os brasileiros de todas as classes sociais mais otimistas com relação ao futuro e ao fato de que a longa e profunda crise política, econômica, social e moral que enfrentamos ao longo dos últimos dezoito meses pode realmente estar terminando. E esta retomada da confiança será fundamental nesta longa estrada que teremos que trilhar rumo ao retorno do desenvolvimento.
Com relação ao consumo, principalmente de automóveis, ainda não existem grandes indicativos de que os índices poderão voltar a crescer num curto prazo, mesmo porque, conforme também atestam vários estudos divulgados ao longo das últimas semanas, o desemprego infelizmente deverá continuar a crescer nos próximos meses e, ao mesmo tempo, a renda média do brasileiro, encolher. E as pessoas somente voltarão ao consumo quando tiverem plena confiança de que não perderão seus empregos no futuro. Isto é fato.
Anda no setor automotivo, visto em particular, uma série de desafios se colocarão à frente dos executivos e empresários que comandam as empresas de agora em diante. E as decisões precisarão ser tomadas. O primeiro deles é responder à pergunta a respeito da verdadeira vocação da indústria automobilística brasileira: seremos uma grande indústria local ou simplesmente montadores? Produziremos os veículos de forma completa no futuro, inclusive projetando-os ou simplesmente os montaremos com base em projetos globais e autopeças importadas?
Esta é uma decisão que precisa ser tomada agora e que influenciará de forma decisiva o futuro de centenas de empresas e milhares de pessoas. Ninguém questiona que temos um grande potencial como mercado automotivo e que voltaremos a frequentar uma das cinco ou seis maiores posições do ranking mundial. Todos os estudos e teorias mostram isto. O grande problema hoje é saber quando isto acontecerá.
Precisamos ser competitivos para usufruir deste potencial como produtores. E esta competitividade somente será alcançada se a indústria como um todo se modernizar, ao mesmo que se revitaliza o parque de autopeças, principalmente na camada das empresas brasileiras que trabalham nos tears 2 e 3.
Boa parte deste desafio depende do sucesso do novo governo. Isto porque a confiança que trará de volta os investimentos só ocorrerá quando a inadiável modernização das estruturas do País também começarem a aparecer.
O crescimento não é uma tarefa somente de investidores, produtores e consumidores. É também, sobretudo agora que foram ultrapassados os traumas causados pela crise política, dos governantes, dos quais o País espera as decisões corretas e tempestivas. E os próximos meses terão papel decisivo neste processo.