Vendas de importados recuam 12% em agosto

Ao contrário do que vê com o desempenho das vendas de veículos nacionais, com pequenas altas na comparação mês a mês, os importadores ainda experimentam retração pronunciada. Em agosto as dezoito marcas afiliadas à Abeifa, Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, negociaram 2.932 unidades importadas, quedas de 12% em relação ao volume apurado em julho e de 34,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando foram vendidos 4.463 veículos.

No acumulado do ano até agosto, o mercado absorveu 24.473 veículos, recuo de 42,6% na comparação com os mesmos oito primeiros meses de 2015, período no qual foram licenciadas 42.646 unidades.

Segundo José Luiz Gandini, presidente da Abeifa, o motivo da queda tem relação com toda a utilização de contas sem a incidência de 30 pontos porcentuais. “Apesar da queda em agosto, acreditamos que a tendência, agora com a definição da Presidência da República e a reação pelo quinto mês consecutivo da indústria brasileira, é de retomada da confiança dos consumidores brasileiros.”

O dirigente ainda reafirma em nota os planos de manter os pleitos pela extinção dos 30 pontos porcentuais no IPI, “para que possamos recuperar especificamente o setor de veículos importados. Sem alteração no Inovar-Auto não teremos condições de crescimento”.

O desempenho das associadas à Abeifa que também produzem no País – BMW, Chery, Jaguar Land Rover, Mini e Suzuki – traz pelo menos algum resultado positivo. Em agosto as vendas de veículos nacionais do grupo de marca somaram 1.257 unidades, crescimento de 14,2% em relação julho, mas ainda uma profunda queda de 78% se comparado com agosto de 2015, quando foi registrado volume de 5.704 unidades negociadas.

No acumulado do ano, as cinco associadas totalizaram 7.585 unidades emplacadas, queda de 66,8% ante as 22.813 unidades dos primeiros oito meses do ano passado, período que também não constava a participação da produção da Jaguar Land Rover.

Ao considerar somente os veículos importados, a participação das associadas à Abeifa, no total do mercado interno, é de apenas 1,64% no mês de agosto e de 1,87% no acumulado do ano. Com os volumes totais somados – importados e produção nacional -, a participação das filiadas à Abeifa no mercado interno é de 2,35% no mês de agosto e de 2,46% no acumulado do ano.

Volkswagen e Navistar criam aliança estratégica

Conforme antecipado por AutoData na segunda-feira, 5, a Volkswagen Truck & Bus e a Navistar International Corporation, fabricante de veículos comerciais sediada nos Estados Unidos, anunciaram na terça-feira, 6, a criação de uma “aliança de longo alcance que inclui acordos estruturais para cooperação estratégica em tecnologia e fornecimento e um consórcio social de vendas”.

A Volkswagen Truck & Bus vai adquirir 16,6% de participação na Navistar. A companhia alemã comprará ações comuns recém-emitidas da Navistar por US$ 15,76 cada ação, o que totalizará valor em torno de US$ 256 milhões.

Com a transação, a Volkswagen Truck & Bus, empresa que abriga as marcas MAN, Scania e Volkswagen Caminhões e Ônibus, ganhará acesso à América do Norte, mercado no qual não era representada. Em comunicado, Andreas Renschler, CEO da companhia e membro do Conselho Administrativo da Volkswagen AG, disse que colaboração mais próxima entre as marcas do grupo alemão era prioridade para o negócio e dentro do programado neste sentido. “Agora, nós estamos dando o próximo passo para nos tornarmos um campeão global na indústria de veículos comerciais. A aliança estratégica com a Navistar é um marco importante e será benéfica para ambos os lados.”

“Nós estamos felizes com a parceria com uma líder global que compartilha da nossa visão de mundo em uma aliança que garantirá múltiplos benefícios e que é consistente com a nossa estratégia de integração aberta”, disse em nota Troy Clarke, presidente e CEO da Navistar. “Em curto prazo, esta aliança beneficiará as nossas operações de compras em escopo e escala globais. Em longo prazo, a intenção é que ela aumente as opções em tecnologia que podemos oferecer aos nossos clientes, alavancando o melhor das suas empresas e permitindo que a Navistar tenha um tempo melhorado de operação. O investimento societário da Volkswagen Truck & Bus fortalecerá nossa posição de liquidez e estenderá nossa flexibilidade financeira, ao mesmo tempo em que nos alinha a um valioso parceiro estratégico.”

Na aliança também as empresas concordaram em estabelecer um consórcio de aquisições que buscará oportunidades conjuntas de fornecimento global. Nas estratégias da companhia do grupo alemão inclui ainda planos de expansão para novas regiões e a ambição de se tornar líder mundial em veículos comerciais em termos de rentabilidade, inovações e presença global.

O fechamento da transação e a operação da aliança ainda estão sujeitas a aprovações de órgãos regulatórios. O término do negócio está previsto para ocorrer entre o fim de 2016 e o começo de 2017.

Sindicato marca protesto na porta da Mercedes-Benz

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC convocou assembleia para a manhã de quinta-feira, 8, na porta da fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, SP. Os sindicalistas pretendem definir os próximos passos da mobilização contra possíveis demissões na montadora, uma vez que o PDV não teve o alcance esperado pela companhia.

“A empresa reafirmou que a meta de 1,4 mil adesões ao PDV não foi atingida e que vai concluir as demissões que ameaçava fazer”, afirmou Aroaldo Oliveira da Silva, vice-presidente do sindicato, em comunicado. “Nós estamos defendendo que o excedente pode ser administrado por meio de lay off”.

Segundo o sindicato a montadora começou a enviar telegramas de demissões na sexta-feira, 2. Procurada pela reportagem, a Mercedes-Benz não confirmou as informações e disse que o balanço do PDV ainda não foi concluído. O próprio sindicato, em seu site, afirma que a montadora estendeu o prazo de adesão ao plano até o meio-dia da quarta-feira, 7.

Acordado em 24 de agosto, o PDV oferece um valor único de R$ 100 mil a quem quiser aderir, independentemente de idade ou tempo de empresa. Caso a meta de 1,4 mil estipulada seja atingida, haverá estabilidade no emprego até dezembro do ano que vem.

Máquinas: melhor resultado do ano.

Diferentemente do vinha registrando ao longo do ano, em agosto o segmento de máquinas apresentou dois índices positivos, tanto sobre o julho quanto em relação ao mesmo mês do ano passado. Em agosto o mercado interno absorveu 4.518 unidades, altas de 12,5% na comparação com o mês anterior e de 7,5% sobre agosto 2015. Até agora, baseado nos números da Anfavea, foi o melhor resultado do ano.

“O segmento de máquinas mostra mês a mês um desempenho interessante”, observou Antonio Megale, presidente da Anfavea, durante divulgação dos resultados da indústria automotiva na terça-feira, 6. “Os níveis ainda são baixos, mas mostra um pouco a volta da confiança do agricultor, refletindo nos negócios.”

A vice-presidente da Anfavea, Ana Helena de Andrade, lembrou também que esse retorno da confiança do agricultor mencionado por Megale se mostrou durante a Expointer 2016, encerrada dia 4 de setembro em Esteio, RS. “Estive pessoalmente e vi aumento no fluxo de pessoas em relação ao ano passado, além de maior interesse do agricultor em adquirir máquinas.”

Apesar dos resultados positivos registrados no mês, ainda persiste declínio no acumulado do ano. De janeiro a agosto, as vendas de máquinas agrícolas e de construção somaram 25.591 unidades, queda de 22,1% sobre o mesmo período do ano passado.

O desempenho das exportações de máquinas também se apresentam animadoras. “A tendência é de reversão da queda”, conforme destacou Megale. Em agosto embarcaram 894 unidades, altas de 28,6% sobre o mesmo mês do ano passado e de 18,6% em relação a julho.

No acumulado do ano, porém, a retração ainda persiste. Os embarques até agosto somaram 6.39 unidades, queda de 11,7% ante os oito primeiros meses de 2015.

As altas nas vendas de agosto tanto no mercado quanto nas exportações contribuíram com aumento no ritmo das fábricas. No oitavo mês do ano as linhas produziram 5.857 unidades, altas de 19% sobre julho e de 16,3% na comparação com agosto de 2015.

A queda registrada no acumulado do ano, no entanto, ainda se mostra expressiva. De janeiro a agosto foram produzidas 30.667 máquinas agrícolas e rodoviárias, queda de 24,5% na comparação com o volume produzido nos oito primeiros meses do ano passado.

Exportações crescem 19,6%

A indústria brasileira encerrou agosto com 40,2 mil veículos exportados, 11,8% abaixo do volume registrado em julho, mas 16,7% a mais do que no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos oito primeiros meses o setor embarcou 312,4 mil veículos, 19,6% a mais do que em igual período de 2015.

O desempenho ao longo de 2016 faz com que a Anfavea siga com sua previsão de que o setor encerrará o ano com mais de meio milhão de veículos exportados, ou 21,5% a mais do que o total registrado no ano passado.

Antonio Megale, presidente da Anfavea, se mostra confiante com o encaminhamento das exportações: “Os esforços para aumentar as exportações têm sido generalizados. Várias de nossas empresas associadas se mostram confiantes no incremente das vendas externas neste fim de ano”.

Se em unidades a coisa segue bem, a receita com os embarques ainda está aquém do ano passado. Mesmo com os US$ 920 milhões registrados em agosto – 13,1% a mais do que no mesmo mês do ano passado – o faturamento no acumulado de US$ 6,7 bilhões ainda representa decréscimo de 5,7% sobre 2015.

Megale, porém, recorda que essa variação negativa vem caindo – era de 8,1% no acumulado até julho, por exemplo. Também, explica o executivo, em função de ligeira mudança do perfil de produtos exportados, com crescimento de produtos de maior valor agregado, como máquinas agrícolas e rodoviárias.

Ainda que as vendas acumuladas de máquinas até agosto estejam 11,7% abaixo das registradas nos primeiros oito meses de 2015 – 6 mil contra 6,8 mil – a tendência é de crescimento dos embarques, avalia Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea.

Já em agosto foram negociadas 894 máquinas no mercado externo, 18,6% a mais do que em julho e expressivos 28,6% a mais do que no mesmo mês do ano passado. “Há uma tendência de reversão até o fim do ano. Estados Unidos e Argentina, os dois mais importantes mercados para esse setor, voltaram a comprar de forma mais significativa”.

A executiva afirma que as empresas têm trabalhado em várias frentes para aumentar os embarques, em especial em aspectos como financiamentos. “A ideia e garantir resultados mais duradouros.”

Agosto foi bom, mas poderia ter sido melhor

Apesar de os 183,9 mil automóveis, comerciais leves caminhões e chassis de ônibus comercializados no mercado brasileiro em agosto representarem o melhor mês em vendas do ano, o resultado ficou aquém do aguardado pela Anfavea. Segundo o presidente Antonio Megale, um importante evento prejudicou o desempenho do mercado.

“[O resultado] poderia ser melhor. As Olimpíadas, que foram um grande sucesso de público e ajudaram a levantar a autoestima da população, atrapalharam as vendas de veículos”.

O executivo não estimou o quanto as vendas poderiam ter alcançado, mas os Jogos Olímpicos jogaram para baixo a média diária na comparação com julho: de 8,2 mil para 8 mil unidades. De toda forma, como agosto teve um dia útil a mais, as 183,9 mil unidades comercializadas representaram um avanço de 1,4% sobre o mês anterior, embora em retração de 11,3% com relação ao mesmo mês do ano passado.

No acumulado do ano as vendas somam 1,35 milhão de unidades, volume 23,1% inferior ao dos primeiros oito meses do ano passado. “O desempenho seguem na linha para chegar ao fim do ano com queda de 19%, conforme nossas projeções”.

Os estoques fecharam agosto com 211,4 mil unidades, volume suficiente para abastecer 37 dias de vendas. O volume caiu com relação a julho por causa da parada na produção da Volkswagen.

“Os estoques estão razoáveis. A produção está equilibrada com a demanda interna e externa, sem necessidade de ajustes”.

A hora da virada

Encerrada a questão política com o afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer, é chegada a hora de a economia brasileira voltar aos trilhos. Essa é, ao menos, a expectativa de Antonio Megale, presidente da Anfavea, confiante no prosseguimento da agenda do novo governo e no avanço de reformas que há muito são aguardadas pelo setor, como a da previdência, a trabalhista e o ajuste fiscal.

Em entrevista coletiva à imprensa na manhã de terça-feira, 6, em São Paulo, Megale ponderou que o País perdeu muito tempo discutindo a situação politica. “Não podemos perder mais. As reformas são absolutamente indispensáveis para retornarmos aos padrões do passado”, afirmou o presidente.

“Apoiamos o ajuste fiscal, fundamental para a evolução da economia, a reforma da previdência, que é uma bomba-relógio prestes a explodir, e o avanço nas questões trabalhistas”.
Com relação à reforma trabalhista, o executivo defende o “acordado sobre o legislado”, ou seja, que os acordos firmados com sindicatos prevaleçam sobre a Lei. Além disso, espera que o PPE se torne uma política permanente e que a terceirização seja regulamentada.

Segundo Megale é hora do Brasil voltar a avançar, com o retorno dos investimentos em infraestrutura e da confiança do empresário e do consumidor. “Com a inflação controlada e o desemprego em baixa, podemos voltar a falar em crescimento do PIB. Essas reformas não são importantes apenas para a indústria automotiva, são fundamentais para o País”.

Em agosto a produção de veículos recuou 6,4% na comparação com julho e 18,4% com relação ao mesmo mês do ano passado, para 177,7 mil veículos. Essa queda, entretanto, foi puxada pela paralisação nas fábricas de uma das associadas da Anfavea – Megale não citou nominalmente, mas trata-se da Volkswagen, que colocou seus funcionários em férias coletivas por causa da batalha com o Grupo Prevent.

“Produzimos de 20 mil a 30 mil unidades a menos este mês”, afirmou o presidente da Anfavea. “Poderíamos ter fechado o mês com mais de 200 mil veículos produzidos”.

Como a situação da VW permanece indefinida, as próprias estimativas da associação para o ano podem sofrer alterações. De janeiro a agosto foram produzidos 1,38 milhão de veículos, volume 18,4% inferior ao dos primeiros oito meses de 2015. A associação projeta recuo de 5,5% na produção, para 2,3 milhões de unidades. “Esse dado, embora pontual, afeta o acumulado. Poderíamos ter números mais elevados”.

O nível de emprego, embora estável na comparação com julho, recuou 6,2% com relação a agosto do ano passado. A indústria emprega 126 mil trabalhadores, contra 134,3 mil em igual mês de 2015 – deste total, porém, 22,3 mil estão afastados de suas funções, seja por meio de PPE, licença remunerada, lay off ou férias coletivas.

Mercado de caminhões acumula queda de 30%

O desempenho do mercado de caminhões ainda se mantém como uma das maiores preocupações dos representantes da Anfavea. A falta de confiança do investidor nos últimos anos resultou em queda expressiva com prognóstico de recuperação lenta. Em agosto foram negociados 4.399 caminhões, baixas de 6,1% em relação a julho e de 24,3% ante o mesmo mês do ano passado.

No acumulado até agosto, as 34.672 unidades vendidas representaram queda de 30,1% frente ao mesmo período de 2015. “Enquanto não houver retomada dos investimentos, principalmente na infraestrutura do País, o mercado de caminhões deverá continuar patinando”, diz Antonio Megale, presidente da Anfavea, durante divulgação dos resultados da indústria automotiva na terça-feira, 6.

Segundo Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da associação e diretor de comunicação corporativa e relação institucionais da Mercedes-Benz, com a média mensal de vendas no patamar de 4 mil unidades, o mercado de caminhões está alinhado com as estimativas da Anfavea em encerrar o ano em torno de 55 mil unidades entregues. “A combinação atual de PIB negativo, frete em baixa e taxas de juros altas para o financiamento de bens de capital é devastadora para o mercado de caminhões. As reformas prometidas pelo governo podem ajudar o ano que vem a ser um ano de crescimento.”

Nem mesmo as exportações têm contribuindo para um desempenho de vendas melhor como já vem ocorrendo nos segmentos de automóveis e comerciais leves e máquinas. Em agosto embarcaram 1.499 caminhões montados, o volume acusa uma alta de 7,5% sobre o mesmo mês do ano passado, mas ainda persiste uma queda de 4,5% no acumulado até agosto. Nos oito primeiros meses as remessas somaram 12.755 unidades contra 13.360 unidades embarcadas no mesmo período de 2015.

Como reflexo das vendas internas e externas, a produção de caminhões também registra índices negativos. Em agosto as linhas produziram 5.211 unidades, queda 1,4% em relação ao volume do mesmo mês do ano passado. No acumulado até agosto, as fábricas de caminhões produziram 41.601 unidades, baixa de 22,3% na comparação com o desempenho de um ano atrás.

Ônibus – Como o mercado de caminhões, também o de chassis de ônibus apresenta um desempenho delicado. Em agosto as vendas somaram 1.216 unidades, queda de 8,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado quando foram negociados 1.333 chassis.

No acumulado do ano até agosto, o mercado de ônibus absorveu 8.600 chassis, outra expressiva queda de 30,7% em relação às 12.416 unidades negociadas no mesmo período do ano passado.

Diferentemente das exportações de caminhões, as remessas de chassis de ônibus pelo menos pintam resultados de azul. Em agosto embarcaram 986 unidades, alta de 77,7% sobre o volume registrado em agosto de 2015, de 555 chassis. Ao longo do ano até o oitavo mês, as remessas somaram 5.890 unidades, alta de 29,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

E foram justamente as exportações de agosto que contribuíram com o crescimento da produção de chassi no mês, com alta de 22,7% para 1.464 unidades contra 1.193 chassis registrados um ano antes.

No acumulado do ano, no entanto, a queda na produção ainda persiste. De janeiro a agosto, as fábricas produziram 12.338 unidades, recuo de 27,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

O Bolt dos sedãs

Não de hoje especialistas tentam explicar o excepcional desempenho do multicampeão Usain Bolt nas pistas de atletismo. O velocista jamaicano quebrou o recorde mundial nos 100 metros rasos em 2008 e desde então segue como que passeando diante dos demais competidores, como no mês passado, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

O mercado brasileiro de veículos, digamos, também tem o seu Bolt. O Corolla passeia há muito tempo diante dos concorrentes do segmento que, a exemplo dos adversários do corredor jamaicano, também têm muitos atributos e qualificações, mas ainda assim raramente colocam em risco a soberania do sedã da Toyota, estabelecida desde que desembarcou nas ruas brasileiras e, especialmente, após o início de sua produção em Indaiatuba, SP, em 1998.

Seu desempenho de mercado impressiona também por não ter, como o jamaicano das pistas – que com 1,95 m está mais para jogador de basquete do que para corredor – , o melhor perfil para chegar a essa longeva hegemonia. Líder entre os sedãs médios em sete dos últimos dez anos, o Corolla não é – e nunca foi – o modelo do segmento com design mais arrojado, o mais barato, mais potente, não dispõe nem mesmo de tecnologias que o diferenciam da maioria dos sedãs médios – vinte modelos, segundo classificação da Fenabrave.

Mais ainda: a montadora também investe, proporcionalmente, muito pouco dinheiro em publicidade e nem mesmo dispõe de grande número de revendedores. Ao contrário, com pouco mais de duas centenas de pontos de venda a rede Toyota é quase três vezes menor do que a da Volkswagen ou da General Motors, apenas para ficar em marcas que dispõem de importantes competidores do Corolla, como Jetta e Cruze.

Então o porquê dessa folgada liderança, com vendas anuais que frequentemente representaram mais de 25% do segmento, algumas vezes superaram 40% e que de janeiro a julho deste ano ficaram em incontestes 46,4%, quatro vezes maiores do que a do segundo colocado? E nesses sete meses, é bom recordar, o mercado de automóveis recuou 24,7%, enquanto as vendas do Corolla chegaram a 37,8 mil licenciamentos, apenas 272 veículos a menos do que em igual período ano passado.

O modelo, que custa acima de R$ 70 mil, foi o sexto automóvel mais vendido de janeiro a julho – o concorrente mais próximo, o Honda Civic, ocupou a 32ª posição –, atrás apenas de Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Ford Ka, VW Gol, compactos que têm versões de entrada por menos da metade do preço do Corolla. Ainda assim a diferença para o quinto colocado, o Palio, foi de apenas 172 veículos licenciados.

Os motivos desse desepenho apontados por analistas, e até mesmo por profissionais de marcas concorrentes, são muitos, mas podem ser sintetizadas em eficiente engrenagem que congrega imagem de marca, produção adequada, qualidade de produto e bons serviços de pós-venda.

“O produto entrega o que promete e tem o suporte de uma rede que sabe da importância de bons serviços e que não precisa queimar o modelo com descontos, o que reflete em bom valor de revenda”, reconhece executivo de marketing de montadora que, por razão óbvia, prefere não ser identificado.

André Bittar, gerente de produto da consultoria Jato Dymanics, tem esse mesmo raciocínio. Segundo ele, a Toyota consegue produzir na medida da demanda do mercado e, simultaneamente, incutir sua cultura de qualidade nos revendedores. Essa somatória assegura “um círculo virtuoso!”, diz Bittar, que pondera que um carro com bom valor residual e que tenha liquidez é sempre mais procurado em um momento de incerteza econômica. “E isso também mantém vendas de qualidade em períodos mais difíceis, sem a necessidade de queimar preços.”

Estratégia – Com uma produção bem ajustada a montadora também pode se dar ao luxo de não depender tanto das vendas diretas, normalmente com margens bastante sacrificadas. Levantamento da Jato aponta que não mais do que 21% das vendas da marca – e olha que o Etios para locadoras fez essa média crescer um pouco no último ano – passam por esse mecanismo, enquanto, por exemplo, na Fiat superam 43% ou chegam a quase 48% na Renault. “Os estoques de Corolla na rede são de dez dias em média. A carência para o revendedor pagar o veículo sem juros é praticamente o tempo de transporte da fábrica até ele, enquanto outras montadoras concedem prazos até três vezes maiores.”

A própria gênese da rede ajudaria nesse bom entendimento da cultura da marca por parte dos concessionários, avalia Bittar. Ele lembra que a maioria das revendas surgiu para negociar produtos importados da Toyota com alto valor agregado, como a picape Hilux, o SW4 ou o próprio Corolla, e, assim, está acostumada com o perfil de clientes mais exigentes e com o chamado TSA, o Toyota Sales Way, código estipulado pela fábrica para conduta e qualidade de atendimento nas revendas.

As concessionárias trabalham dentro de padrões rígidos de atendimento. O consultor afirma, por exemplo, que autopeças são como remédios numa farmácia, “não podem ser empurradas para o consumidor”. “O negócio de peças, não é um objetivo, mas decorrência dos serviços prestados.”

Cliente satisfeito tende, na troca de seu veículo, a permanecer na mesma marca ou até com o mesmo produto. É o que acontece com o Corolla, segundo Roger Armellini, gerente geral de produto e marketing da montadora. “É o carro de maior índice de fidelização dentro de seu segmento e um dos maiores do mercado brasileiro, perde apenas para a Hilux”, acrescenta o executivo, citando a pesquisa New Car Byer, estudo compartilhado pelas fabricantes de veículos cujos índices não podem ser divulgados.

Fórmula – O Corolla está em sua décima geração – lançada aqui em 2014 – e, diz Armellini, é produto que resulta de aperfeiçoamentos de décadas. “Creio que a Toyota encontrou o melhor equilíbrio entre preço, conforto, confiabilidade do produto e de todo sistema de vendas e pós-vendas, custo de manutenção e valor de revenda”, interpreta Armellini, que, há apenas dois anos na montadora, não disfarça o entusiasmo com a eficiência de toda essa engrenagem e com o desempenho mercadológico do sedã.

Armellini projeta que o Corolla deve repetir, em 2016, as vendas do ano passado, algo em torno de 67 mil veículos. E, enquanto em modelos da concorrência preponderam as versões de entrada como as mais vendidas, no Corolla a XEI, intermediária, responde 60% e outros 10% ficam por conta da Altis, a topo de gama.

A GLI, de entrada, detém em média não mais do que 30% a 35% dos licenciamentos, com boa parcela negociada com taxistas e pessoas portadoras de deficiências físicas. Para frotista, quase nada. “Vendemos alguma coisa para as locadoras apenas para não perder amizade”, brinca Armellini

Base local
A Toyota segue revitalizando sua fábrica de São Bernardo do Campo, SP. A empresa acaba de inaugurar no complexo seu primeiro centro de pesquisa aplicada no Brasil. O projeto consumiu R$ 46 milhões nessa primeira fase e já conta com cem colaboradores. Uma segunda etapa exigirá outros R$ 19 milhões. É o quarto empreendimento do gênero fora do Japão. Os três primeiros foram instalados nos Estados Unidos, Europa e Tailândia. Nele serão desenvolvidos, inicialmente, produtos e pesquisas para o mercado brasileiro. A cerimônia de inauguração mereceu até mesmo a presença do chairman da Toyota Motor Corporation, Takeshi Uchiyamada.

BMW X4 tem o maior preço entre os nacionais

Ao entrar na linha de montagem de Araquari, SC, na semana passada, o BMW X4 tornou-se o automóvel produzido no Brasil com o maior preço de tabela oferecido ao consumidor local. Sexto modelo a sair da fábrica catarinense, o X4 xDrive28i X Line com motor 2 litros a gasolina sai por R$ 299.950, sem alteração com relação à versão importada.

O X4 seguirá como nacional mais caro até entrar em linha os Range Rover Sport, cuja versão de entrada SE parte de R$ 422 mil – mesmo se houver um forte desconto, o que não costuma ocorrer com os modelos nacionalizados, dificilmente ficará com preço inferior ao do X4.
Antes do modelo da BMW era outro Land Rover que detinha o título de nacional mais caro: o Range Rover Evoque, desde junho produzido na fábrica de Itatiaia, RJ. A versão mais completa, HSE Dynamic, sai por R$ 273,8 mil.

Os preços considerados pela reportagem são os anunciados pelas próprias montadoras. A chegada de fabricantes premium ao País, capitaneada pela própria BMW em outubro de 2014, mexeu com a configuração dos modelos mais caros produzidos no Brasil: antes delas o Chevrolet Trailblazer, hoje vendido por R$ 161.290, detinha este título.

Na semana passada a Mercedes-Benz colocou em produção outro modelo valioso. De Iracemápolis, no Interior de São Paulo, passou a sair o utilitário esportivo GLA, que na versão Enduro custa R$ 178,9 mil. Porém não é o MB nacional mais caro: o C200 Avantgarde sai por R$ 180,9 mil.

Na tabela da Audi, outra montadora premium com fábrica no Brasil, o modelo topo de linha produzido em São José dos Pinhais, PR, é o Q3 Ambiente com motor 1.4 TFSI, cujo preço pedido nas concessionárias é R$ 153.990.