Implementos recuam 30,7% em nove meses

O segmento de caminhões fechou os primeiros nove meses do ano com recuou de mais de 30% nas vendas e quase 22% na produção e, tão ruim quanto, com a expectativa de que o quadro não será muito diferente no encerramento de 2016. Antonio Megale, presidente da Anfavea, vai mais adiante e diz que “sem a volta dos investimento em infraestrutura, o mercado de caminhões continuará em dificuldades”. 

Com esse quadro acumulado e antevisão do principal representante das montadoras não é de se estranhar que o setor de implementos rodoviários siga em toada até mais crítica. O total de emplacamentos de implementos rodoviários até setembro superou 47,8 mil unidades, 30,7% menos do que em igual período do ano passado, quando foram negociados 69 mil equipamentos. E 2015 registrou o pior desempenho desde 2004, com recuou 44,7% e somente 88,3 mil unidades negociadas.

O maior tombo foi verificado em 2016 está no segmento da carroceria sobre chassi, cujo recorde anual é de 2011, com mais de 131 mil equipamentos licenciados. A retração acumulado nesses produtos bateu em 36,8%, com somente 29,4 mil equipamentos licenciados, contra quase 46,5 mil em igual período do ano passado.

O mercado de reboques e semirreboques caiu substancialmente menos, mas ainda assim expressivos 18,2%. Em nove meses foram licenciados 18,5 mil produtos contra 22,5 mil no acumulado de janeiro a setembro de 2015. O melhor resultado nesse segmento foi alcançado em 2013. Naquele ano foram emplacadas 70,1 mil unidades.

As exportações, por outro lado, se não compensam nem de perto as perdas internas – até pela tímida participação histórica na pauta do setor – ao menos refletem números no azul e sugerem até futuro com número de entregas mais vigoroso. Em nove meses a indústria brasileira enviou para outros países 2,9 mil implementos, 24% acima de igual período do ano passado.

A Anfir acredita que esses números poderão ser ainda melhores após as muitas ações que a entidade, junto com a Apex-Brasil, vem desenvolvendo ao longo dos últimos meses para abrir mercados e assegurar novos negócios lá fora.

“Os resultados observados nas duas missões já realizadas mostram que os implementos rodoviários brasileiros têm mercado para conquistar”, diz Mario Rinaldi, diretor executivo da entidade.

A primeira missão foi realizada na Colômbia em junho e a segunda no Peru, em setembro. A expectativa de geração de negócios nos dois eventos é da ordem de US$ 14,6 milhões.

Curto prazo – Se nada sinaliza uma mudança repentina no fluxo dos negócios de caminhões e, por consequência direta, na indústria de implementos, Alcides Braga, presidente da Anfir, ao menos considerou acertada a decisão do Conselho Monetário Nacional, CMN, de manter em 7,5% ao ano a Taxa de Juros de Longo Prazo, TJLP, no último trimestre de 2016.

“É um bom patamar de juros para o mercado”, diz Braga. “Mas para alavancar as vendas é necessário que o BNDES amplie sua participação nos financiamentos”.

O banco de fomento do governo federal participa com 50% e 60% nos financiamentos para grandes em empresas e até 60% no caso das pequenas e médias. “O ideal seria elevar essas participações para, respectivamente, 80% e 90% e simplificar a equação de concessão de crédito”, explica Braga.

Hoje essa diferença entre os porcentuais praticados pelo BNDES e os sugeridos pelo presidente da entidade pode ser financiada com acréscimo de custo, que eleva o empréstimo a 18% ao ano, segundo cálculos da Anfir.

Na fórmula defendida pela ANFIR, com a maior participação do BNDES, o cálculo seguiria o formato tradicional e conhecido pelo mercado: TJLP, mais spread bancário, 2%, e a parte do agente financeiro, 3% . “Isso totaliza taxa anual entre 12% e 13% o que é perfeitamente viável”, diz Braga.

VW perde quase 3 pontos porcentuais de mercado

A paralisação da produção nas fábricas de automóveis e comerciais leves da Volkswagen em parte de agosto e setembro por desabastecimento de peças refletiu de maneira significativa nas vendas da montadora no mês passado.

De acordo com dados tanto da Fenabrave quanto da Anfavea, se em agosto a companhia ocupou o terceiro lugar no ranking das montadoras que mais vendem, com participação de 10,48%, em setembro a empresa caiu para a sétima colocação, com 11,7 mil automóveis e comerciais leves vendidos, o que representou fatia de 7,61%.

O resultado é sinal de que a montadora ficou com volume abaixo do adequado para atender à demanda. Segundo David Powels, em conversa com a revista AutoData há algumas semanas, a empresa colocará o pé no acelerador da produção nos últimos meses do ano, fazendo inclusive uso de hora extra, para tentar recuperar participação perdida. O plano é produzir pelo menos 50 mil unidades/mês em novembro e dezembro, contra a média anterior de 35 mil.

A fabricante, no entanto, se mantém na terceira colocação no acumulado do ano até setembro, com 178,7 mil unidades negociadas e 12,25% do mercado de automóveis e comerciais leves. Com a aceleração nas fábricas no último bimestre do ano, a fabricante que ao menos retomar participação de 14% no mercado interno, reconquistando parte do espaço perdido ao longo do ano. Segundo a montadora, desde o início de 2015 as fábricas da companhia deixaram de produzir mais de 150 mil veículos em virtude da falta de componentes fornecidos por empresas do Grupo Prevent.

Encabeçou a lista das maiores vendedoras em setembro a General Motors, ampliando inclusive sua vantagem sobre a Fiat, a segunda colocada. No mês passado o mercado absorveu 28,2 mil automóveis e comerciais leves Chevrolet, o que lhe rendeu naco de 18,24% do mercado. Em agosto, a empresa encerrou com 17,26% de participação com 30,7 mil veículos negociados.

Também no acumulado do ano a fabricante de São Caetano do Sul, SP, segue na liderança com 16,87% do mercado de automóveis e comerciais leves ou 246,1 mil veículos negociados.

Atrás da GM aparece a Fiat. Em setembro a fabricante de Betim, MG, vendeu 21,9 mil automóveis e comerciais leves, o que representou participação de 14,18%. O resultado também a mantém em segundo lugar no ranking das vendas do ano até setembro, período em que negociou 223,9 mil unidades ou fatia de 15,35%.

O terceiro lugar do ranking em setembro ficou para a Hyundai. No mês passado a empresa negociou quase 17 mil unidades, volume que representou 10,97%do mercado de automóveis e comerciais leves. De janeiro a setembro, porém, as vendas de pouco mais de 146 mil garantiram o quarto lugar e participação de 10%.

Os 16 mil automóveis e comerciais leves vendidos pela Ford em setembro permitiram à montadora garantir o quarto lugar do ranking, com fatia de 10,33% do mercado. No acumulado do ano, no entanto, a companhia com 130,9 mil unidades vendidas e participação de 8,97%, cede lugar para a Toyota, aparecendo em sexto lugar.

Tanto o resultado mensal quanto o do acumulado até setembro a Toyota preservou seu quinto lugar, com participação acima de 9% em ambos do resultado. O mercado comprou 14,3 mil unidades no mês passado, acumulando 133,9 mil automóveis e comerciais leves da marca licenciados no ano.

Completam o ranking das vendas em setembro, a Renault, em sexto lugar, com participação 7,83%, a Volkwagen, 7,61%, a Honda, fatia de 6,47%, Nissan, 4,09% e Jeep, com 2,96% do mercado de automóveis e comerciais leves.

Pequeno mais que notável

Nem todas as montadoras lamentam o mercado interno de veículos em 2016. A Hyundai Motor Brasil, uma das mais novas fabricantes a se instalar no País, comemorou nesta segunda-feira, 10, apenas quatro anos de vendas de seu primeiro veículo nacional, o HB20, com números surpreendentes.

Embora a fábrica de Piracicaba, SP, tenha sido inaugurada oficialmente no começo de novembro, já em outubro de 2012 os primeiros hatches eram faturados na rede de revendas da marca.

Desde então e até o mês passado, o modelo desenvolvido exclusivamente para o mercado brasileiro já registrou 642,9 mil unidades negociadas, contabilizada aí a versão sedã, o HB20S, lançada em abril de 2013.

No ano passado as duas configurações de carroceria foram submetidas a uma primeira reestilização e ganharam traços já presentes em modelos globais da marca. Recentemente, a empresa aumentou a oferta de motores e, além dos 1.0 e 1.6 aspirados, lançou versões do HB20 com o 1.0 Turbo.

Foram emplacadas nesses quatro anos 460,4 mil unidades da versão hatch, que engloba os modelos HB20, HB20X e HB20 R spec, e 182,5 mil do sedã, conforme levantamento da Fenabrave.

Somente nos primeiro nove meses do ano foram negociadas 119,8 mil unidades – 85,9 mil hatches e 33,9 mil sedãs. Esse desempenho do modelo faz da Hyundai a marca de maior ascensão nos últimos três anos no País.

Em setembro, em particular, a marca Hyundai – somados também os produtos fabricados e importados pela CAOA Hyundai – ocupou, pela primeira vez em sua história, a segunda posição no mercado nacional de automóveis, com 16,7 mil e 12,7% de participação. Nos nove primeiros meses figura como a quarta marca mais vendida, com 146 mil automóveis e comerciais leves.  

Reforço em breve – e A fábrica de Piracicaba, com investimento inicial de US$ 700 milhões e capacidade produtiva anual de 180 mil veículos, já trabalha em mais um reforço para as vendas da marca aqui. A unidade produzirá o Creta, utilitário esportivo compacto que será oficialmente apresentado no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, no mês que vem.

O SUV, garante a montadora, foi concebido sobre a plataforma do sedã Elantra, diferente da família HB20, que deriva da base do i20, modelo não vendido no mercado brasileiro. Apesar de ser mostrado do evento paulistano, o Creta estará à venda mesmo somente no transcorrer de 2017.

Mercedes-Benz cai menos que o mercado e garante liderança

A Mercedes-Benz segue na liderança de vendas de caminhões no acumulado de janeiro a setembro. No período, a fabricante de São Bernardo do Campo, SP, somou 11,3 mil unidades vendidas, recuo de 22,9% na comparação com mesmo período do ano passado, ainda abaixo da queda do mercado de caminhões, de 30%. O volume garantiu à empresa quase 30% de participação.

Por uma diferença de 632 unidades a menos, aparece a MAN na segunda colocação com 10,6 mil caminhões vendidos de janeiro a setembro, o que lhe garantiu uma fatia de 27,46%. Diferentemente de sua maior rival, o volume negociado pela fabricante de Resende, RJ, representa uma retração de 29,7%, quase o mesmo tombo do mercado total de caminhões.

Embora siga na terceira colocação do ranking de caminhões, com participação de 15,44%, a Ford é a montadora que mais cai em relação ao mercado total. No acumulado do ano, a empresa negociou exatas 6 mil unidades, queda de 42,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Até setembro, a Volvo foi a quarta montadora que mais vendeu caminhões. Os 4.329 unidades vendidas no período representou queda de 32,34% em relação ao mesmo período do ano passado. O volume garantiu à empresa 11,14% do mercado.

Em quinto lugar segue a Scania, com 3.258 caminhões negociados nos nove primeiros meses do ano, representando 8,38% de participação. O volume registrado foi 15,88% inferior ao anotado no mesmo período de 2015.

A única montadora a anotar crescimento nas vendas é a DAF. A 492 unidades negociadas de janeiro a setembro representam alta de 57,7% sobre as 312 vendidas um ano antes. Com o volume a empresa garantiu a sétima colocação do ranking e 1,27% do mercado de caminhões.

Ônibus – Também no segmento de chassi é a Mercedes-Benz a montadora que mais vendeu no acumulado até setembro. As 5.085 unidades vendidas foram 26,06% menores do que as 6.877 unidades emplacadas no mesmo período de 2015. O volume representou 54,67% de participação.

A liderança isolada da Mercedes-Benz faz a briga do segmento ser mais acirrada entre o segundo e o terceiro lugares, ou seja, MAN e Agrale, respectivamente. Nos nove primeiros meses do ano, o mercado absorveu 1.463 chassis da fabricante de Resende queda de 51,18% em relação ao desempenho de um ano antes e, bem maior que o recuo do mercado total de ônibus, de 32,2%. O volume assegurou à montadora 15,73% de participação até setembro.

A Agrale segue de perto a MAN, com 1.273 chassis licenciados no acumulado do ano, volume que acusa baixa de 31,9% em relação aos 1.870 chassis emplacados no mesmo período de 2015. O desempenho da fabricante de Caxias do Sul, RS, até aqui garantiu fatia de 13,69% do mercado.

Completa do ranking a Iveco, 7,02% de participação, a Volvo, 6,13%, Scania, 2,33% e a International, com apenas 0,13% do mercado.

Greve dos bancos prejudica venda de motos

As vendas de motocicletas no varejo atingiram apenas 66,8 mil unidades em setembro, com retração de 12,6% na comparação com agosto. Quando foram negociadas 76,4 mil unidades. No acumulado dos primeiros nove meses do ano a queda chega a 27,1%, com 687,3 mil emplacamentos contra os 942,6 mil de idêntico período de 2015.

Os dados foram divulgados na sexta-feira, 7, pela Abraciclo e indicam o pior desempenho do setor desde 2003. Segundo o presidente da entidade, Marcos Fermaniam, a greve dos bancos, que se estendeu por mais de 30 dias, contribuiu para a desaceleração do mercado. A média diária ficou em 3.182 unidades em setembro, a queda de 4,3% em relação à do mês anterior.

A estimativa é de que pelo menos 4 mil vendas foram perdidas por causa do movimento trabalhista:

“A paralisação dos bancários atrapalhou os consorciados a darem lances e também impediu a liberação de CDC, Crédito Direto ao Consumidor. Acreditamos que se não fosse isso teríamos pelo menos repetido a média diária de vendas de agosto, o que indicaria a estabilidade que havíamos previsto a partir de setembro”.

Apesar da greve, o presidente da Abraciclo admite que o mercado ainda segue em compasso de espera, no aguardo que as medidas prometidas para a retomada da economia sejam efetivamente colocadas em prática. De qualquer forma, acredita que haja pelo menos estabilidade neste último trimestre do ano.

Acompanhando a desaceleração do mercado interno, a produção recuou 13,3% em setembro com relação a agosto, com, respectivamente, 80,5 mil e 92,8 mil motos produzidas. Nos nove primeiros meses de 2016 saíram das linhas de montagem apenas 712,9 mil motos, expressivo decréscimo de 31% frente a mais de 1 milhão unidades registradas no mesmo período do ano passado.

Também as exportações do setor estão menores este ano do que 2015. As vendas externas somaram 43,7 mil motos até setembro, 4,7% a menos do que nos nove primeiros meses do ano passado.

As motos brasileiras são exportadas principalmente para a Argentina e também lá, lembra Fermaniam, registra declínio com relação a 2015.

Nova associada – A Abraciclo passa a ter uma nova associada, a Ducati, contando agora com quatorze afiliadas entre fabricantes de motocicletas, ciclomotores e bicicletas.

Antonino Labate, presidente da Ducati do Brasil, disse durante o encontro promovido pela Abraciclo que será importante para a marca fazer parte da principal entidade do setor: “Nos ajudará a enfrentar este momento delicado da economia brasileira e dará força para traçarmos, juntos, uma trajetória bastante sólida para a marca Ducati aqui no Brasil”.

Manufatura enxuta para excelência operacional

Nos últimos 10 anos, montadoras e autopeças fizeram investimentos extremamente altos para modernizar os seus processos de fabricação no Brasil e, por consequência, os seus produtos. Muitos conceitos foram desenvolvidos e aplicados com foco na manufatura enxuta. Essa evolução é notória, embora, na comparação com o Exterior, algumas melhorias ainda sejam necessárias.

Dentro do processo, que contempla desde a matéria-prima até o produto da montadora, a manufatura enxuta pode ser entendida como caminho para a excelência operacional. Na busca pela qualidade total, a excelência operacional talvez seja o princípio. Qualidade nada mais é do que consequência de produção enxuta com excelência operacional.

São quatro os pilares que proporcionam excelência operacional ao processo produtivo. Um deles são as tecnologias utilizadas no desenvolvimento de produtos. Precisam apresentar projetos inovadores, contribuir com o meio ambiente e a reciclagem, favorecer a mobilidade, ter cada vez mais conectividade e buscar alternativas para a eficiência energética e tudo interligado aos requisitos dos clientes e consumidores.

O outro pilar envolve os serviços como vendas, pós-vendas e reparação. Dentro deste pilar há o atendimento ao cliente, a assistência técnica e a reposição de produtos. Esses três pontos podem pensados de forma robusta para garantir agilidade e melhorar a satisfação do cliente. A imagem e a qualidade da marca estão diretamente ligadas neste pilar. Pesquisas, mídias sociais e marketing também fazem parte.

O capital humano, que engloba tanto o engenheiro de projeto e o operário na linha de produção quanto o profissional de reparação no centro automotivo, é o terceiro pilar da excelência operacional. Pessoas necessitam de capacitação para gerar produtos com qualidade. Além disto, precisam estar preparadas para a responsabilidade social, ambiental e código de ética.

Por fim, tem a manufatura, que deve ter processos que apresentem eficácia, robustez e produtividade. De nada adianta ter super equipamentos se a empresa não é produtiva com aqueles equipamentos. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio. Automação, conceitos Lean e aspectos logísticos, entre outros, também são fundamentais para que os produtos saiam com qualidade.

Quando estes quatro pilares são bem trabalhados, ainda é possível reduzir desperdícios. A manufatura enxuta ataca fortemente os desperdícios, que são associados ao custo da não qualidade. Os desperdícios devem ser analisados como indicador de desempenho porque essa avaliação permite perceber o quanto o processo é robusto e enxuto.

Formados os quatro pilares, deve-se ir ao encontro dos objetivos estratégicos da empresa, que estão relacionados a ser competitivo, aumentar participação no mercado e buscar lucro. Se todos os pilares forem trabalhados com qualidade, os objetivos estratégicos provavelmente sejam alcançados com maior facilidade pela empresa.

Mas é importante destacar que a qualidade não é um produto, mas uma consequência, assim ela deve ser pensada em toda e qualquer ação. Precisa ser encontrada nas pessoas, tecnologias, serviços e processos de manufatura. A soma desses pilares gera a qualidade total, que permite a cadeia ser dinâmica e produtiva. Melhor para o cliente!

Ingo Pelikan é presidente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva

Venda de seminovos cresce 23,2% no ano

O mercado de veículos seminovos, com até três anos de uso, continua em alta no comparativo com 2015. Foram comercializadas de janeiro a setembro 3,6 milhões de unidades, resultado 23,2% superior ao registrado no mesmo período de 2015, quando os emplacamentos totalizaram 2,93 milhões.

As vendas de seminovos em setembro atingiram 428 mil unidades, registrando recuo de 9,7% comm relação a agosto, quando somaram 474,3 mil veículos, mas crescimento de 17,5% no comparativo com as 364,7 mil de idêntico mês de 2015.

O balanço foi divulgado pela Fenauto, Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotivos, na quinta-feira, 6, abrangendo veículos leves e pesados, além de motos. Os automóveis e comerciais leves respondem por cerca de 75% dos vendas totais de usados, enquanto as motos têm fatia de 20% e os demais veículos 5%.

Considerando o mercado como um todo, seminovos e mais os chamados velhinhos, as vendas de usados contabilizaram 9,8 milhões de unidades nos primeiros nove meses deste ano, com pequena queda de 1,9% em relação às 9,98 milhões negociadas no mesmo período de 2015. Automóveis e comerciais leves atingiram venda de 7,3 milhões de unidades usadas no ano, enquanto veículos pesados emplacaram 253,4 mil unidades e motocicletas pouco mais de 2 milhões.

No comparativo de setembro com agosto, o mercado de usados recuou 10,1% – 1,13 milhão de unidades no mês passado ante total de 1,26 milhão em agosto. Se considerada a média por dia útil, no entanto, a retração foi de apenas 1,5% – 54 mil unidades em setembro contra 54,9 mil em agosto –, o que sinaliza uma estabilidade do mercado, segundo o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos.

“Apesar dessa variação negativa de um mês contra o outro, o acumulado deste ano já se aproxima do total comercializado no ano passado e, com isso, nossa expectativa para 2016 é a de atingir resultado bem próximo ao de 2015”, complementa Santos.

Segundo Antonio Megale, o presidente da Anfavea, a soma de veículos novos com seminovos, aqueles com até três anos de uso, já indica resultado positivo no acumulado deste ano: “Até agosto o comparativo com o ano passado era negativo. Mas considerando a venda de 0 Km e seminovos nos primeiros nove meses vemos agora um crescimento de 1,7%, o que mostra que o desejo do brasileiro de adquirir um veículo se mantém”.

CDC para veículos teve melhor mês em agosto

Se em setembro, em decorrência da greve dos bancários, as vendas financiadas tiveram uma de suas menores participações no volume de veículos negociados, como aponta a Anfavea, agosto foi o melhor mês de 2016 para o mercado de crédito de veículos no Brasil. Associadas da Anef, a Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras da Anef, liberaram cerca de R$ 7,2 bilhões no mês pelo CDC, Crédito Direto ao Consumidor, 9,1% a mais do que em julho e 1% acima do que no mesmo mês do ano passado.

O montante é expressivo. Até então março figurava como o mês de maior liberação de recursos para financiamento de veículos: R$ 6,6 bilhões. Em agosto, aponta levantamento da entidade, foram aprovados R$ 6,3 bilhões para as pessoas físicas – alta de 8,9% em relação ao mês anterior –, e R$ 896 milhões para as jurídicas, 10,6% a mais que em julho.

Gilson Carvalho, presidente da entidade, porém, ainda não enxerga um quadro totalmente positivo, apesar do resultado de agosto: “O momento ainda é de cautela. As pessoas têm medo de contrair uma dívida e não conseguir quitá-la. É preciso que elas recuperem a confiança e renda, além de voltar a ter crédito. Enquanto o consumidor não recuperar seu poder de compra, via aumento do nível de emprego e menor taxa de inflação, não solicitará um crédito de maior valor”.

Diante do comportamento do mercado até agosto, a Anef refez suas projeções para o ano. Estima agora que o volume de recursos totais concedidos ao longo do ano recuará 15,8%, de R$ 92 bilhões em 2015 para R$ 77,5 bilhões, e que o saldo de financiamento não ultrapassará R$ 155,7 bilhões, queda de 15% na comparação com R$ 183,2 bilhões do ano passado.

Até agosto os recursos liberados para o CDC ficaram em R$ 51,5 bilhões, queda de 14,8%. As pessoas físicas encontraram mais dificuldades para a aprovação do crédito, com recuo de 15,5% do montante liberado, para R$ 45,7 bilhões. A verba para as pessoas físicas foi 8% menor no período, R$ 5,8 bilhões.

O quadro foi ainda mais difícil na carteira de leasing. O volume liberado no acumulado do ano foi de R$ 1,4 bilhão, 30,4% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Somente em agosto as operações chegaram a R$ 152 milhões, 7,8% a mais do que em julho, mas com expressiva queda de 50,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Rumo a um novo ciclo

Depois de dois anos seguidos de grandes quedas nas vendas, que não estavam no radar de qualquer empresa e derrubaram a produção do setor praticamente pela metade, as projeções para 2017 naturalmente chegam cercadas de condicionantes e com muitas variações.

No centro das projeções e de comum entre elas há a quase certeza de que neste ano, ao contrário do que aconteceu no passado, o fundo do poço já foi, enfim, alcançado. E que, assim, está efetivamente aberta a possibilidade de alguma estabilidade e, na sequência, o início de um novo ciclo de retomada.

Tal raciocínio apoia-se no fato de que desde abril a média diária de vendas se manteve em torno de 8 mil unidades. Com exceção de setembro, em princípio por razões especificas do mês paralisação da produção da Volkswagen em decorrência da falta de componentes e greve bancária.

Se mantida no último trimestre essa média de 8 mil unidades diárias, o setor encerrará este ano com cerca de 2 milhões de veículos comercializados, queda de 20% em relação a 2015. Será, assim, o segundo ano consecutivo com decréscimo na faixa dos 20% e o quarto ano seguido de retração. Um desastre de bom tamanho quando comparado aos 3,8 milhões de veículos emplacados em 2012. Com ênfase particular na área de caminhões, cujas vendas neste ano não deverão ir além de 55 mil unidades, apenas um terço dos 168 mil que chegaram a ser vendidos em 2011.

Para 2015 executivos do setor projetavam queda não superior a 5% e para este ano empate técnico com o anterior, talvez até algum pequeno crescimento. Daí a prudência desta vez na hora de fazer novas estimativas. De forma geral, tanto para automóveis quando para caminhões e ônibus, as projeções indicam equilíbrio até o final deste ano, início da retomada em 2017 e, a partir de 2018, abertura de um novo ciclo de crescimento constante e mais acentuado.

O que muda de empresa para empresa, de entidade para entidade, é a graduação de como esta retomada se dará e, por decorrência, de quanto tempo será necessário para que o Brasil volte a estar entre os cinco maiores mercados do mundo.
Não há mais consenso nem mesmo sobre o real tamanho do mercado brasileiro de automóveis e de veículos comerciais. A partir da baixa relação carro por habitante, bem menor que a da Argentina e do México, por exemplo, há a certeza de que é grande a possibilidade de crescimento em relação aos números que estão sendo registrados neste ano. Mas qual seria, hoje, o porte efetivo deste mercado?

Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, crava 3 milhões de automóveis e 100 mil caminhões por ano em 2019 ou mais provavelmente 2020. O mercado automotivo real seria, então, cerca de 20% abaixo do recorde de 2012, mas mais de 50% acima do deste ano.

Ritmo da retomada projetada por Assumpção Jr: 5% de crescimento em 2017 e, a partir daí, cerca de 10% a 15% ao ano. Nos caminhões, em particular, que registram queda mais acentuada, os dois dígitos de crescimento chegariam já em 2017.

Barry Engle, presidente da General Motors na América do Sul, é mais otimista. Projeta 2,15 milhões neste ano e 2,4 milhões em 2017, de maneira a abrir o caminho para, em cinco anos, chegar a 3,4 milhões.

Na outra ponta, Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, é mais conservador: estima alta de 3% dos leves em 2017, seguida de 5% em 2018, 4% em 2019 e 3% nos dois anos seguintes. Nos caminhões, cuja base está muito baixa, o crescimento em 2017 seria, nas contas da Fenabrave, de 8% e, na sequência, ano a ano, 9%, 10%, 9% e 5%.

Leticia Costa, da Prada Consultoria, fica no meio termo. A exemplo do Sindipeças também prefere apostar em crescimento de apenas um dígito no período de 2018 em diante. “Mas um dígito alto, já bem perto de dois dígitos”, especifica. Em compensação, para 2017 projeta algo abaixo de 5%, “bem próximo de zero”.

A Anfavea, tal como sempre faz, deixa sua projeção oficial mais para o final do ano. Mas Antonio Megale, presidente da entidade não esconde que também considera que o pior já ficou para trás e que, em princípio, 2017 deverá marcar o início da retomada. Crescimento ainda de um dígito. “Mas um dígito parrudo”, aposta.

Para os caminhões, em particular, Megale concorda com as projeções feitas pelos principais executivos das montadoras: crescimento de dois dígitos muito provavelmente já a partir de 2017. “A base, neste caso, está muito baixa”, justifica.

O que derrubou o mercado em 2016, concordam os executivos, foi mais a instabilidade política e a consequente insegurança dos consumidores em relação ao futuro. O quadro político agora, porém, está mais bem definido e há a expectativa de um nova política econômica e, sobretudo, de que as reformas estruturais – fiscal, previdenciária e trabalhista, sobretudo – estão a caminho.

Permanecem dúvidas em relação ao tempo que o novo governo consumirá até conseguir a maioria para a aprovação de novas legislações nestas áreas, tidas como fundamentais para tirar o País da recessão.

O setor automotivo que agora já se anima a projetar um novo ciclo de crescimento apresenta pontos de fragilidade que, se não forem convenientemente resolvidos, podem comprometer a retomada mais acentuada da produção.

Se os sistemistas, todos financeiramente amparados por grande grupos globais, conseguiram compensar a queda das encomendas das montadoras com o aumento das exportações e da reposição, os fornecedores de autopeças dos níveis 2 e 3, espremidos entre a queda da demanda e a falta de crédito bancário, certamente terão muita dificuldade para bancar o aumento de capital de giro sem o qual não há como promover qualquer aumento da produção.

É esse segmento que congrega a maior parte das 58 empresas filiadas ao Sindipeças que estão em recuperação judicial. “Muitos fornecedores não têm dinheiro nem interesse em investir, o que é preocupante”, afirma David Powels, presidente da Volkswagen. “Sem resolver a situação dos Tier 2 e 3, teremos muito dificuldade para qualquer aumento da produção”, complementa Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil.

Era para ser mais

Setembro não trouxe a aguardada primavera para a indústria automotiva brasileira. Ao contrário, com 170,8 mil unidades fabricadas, o mês prorrogou o já longo inverno das montadoras e gerou até mais uma pequena nuvem cinza. O resultado mensal foi 3,9% inferior ao de agosto e 2,2% abaixo do alcançado em setembro do ano passado, aponta levantamento da Anfavea. É o menor número para o mês desde 2003, quando saíram das linhas de montagem 155 mil unidades.

A produção acumulada ao longo dos nove primeiros meses do ano, com isso, ficou em 1,55 milhão de veículos, 18,5% inferior a de igual período de 2015 e fez com que o presidente da entidade, Antonio Megale, colocasse em dúvida, pela primeira vez, sua própria projeção, divulgada em junho, de que o Brasil fabricará 2,296 milhões de veículos durante 2016 – o que já configuraria queda de 5,5% sobre o ano passado.

“Ainda preferimos manter nossas projeções, mas, para ser transparente, há, sim, risco de ficarmos aquém desse volume”, disse o executivo em sua apresentação durante divulgação do desempenho do setor na quinta-feira, 6, em São Paulo.

Setembro foi o quarto pior mês do ano –, supera apenas as produções registradas em janeiro e fevereiro, historicamente meses de linhas de montagem em ritmo mais lento, e a de abril por apenas 1 mil unidades.

Megale, contudo, acredita que o resultado de setembro é pontual, não indica necessariamente uma nova tendência declinante e aponta a interrupção da produção nas fábricas da Volkswagen por falta de peças como fator determinante do volume. Pelo contrário, o executivo fala até em ritmo bem mais forte neste último trimestre, com eventual produção acima de 200 mil unidades em alguns dos três meses.

Um bom termômetro de que os ares poderão ser outros, no entender do presidente da Anfavea, é a drástica queda do número de trabalhadores em regime de lay-off ou enquadrados no PPE, Programa de Proteção ao Empregos. Se em agosto o contingente superava 22,3 mil pessoas, em setembro reunia pouco mais de 7,3 mil – 5,3 mil deles dentro do PPE.

É certo, reconhece o presidente da entidade, que uma parte dessa redução se deveu às adesões aos programas de demissões voluntárias e algumas demissões no período – o quadro total caiu 1,1% e encerrou setembro com 124,6 mil pessoas. Megale, porém, destaca que a retirada de funcionários do PPE sugere que as fabricantes de veículos já vislumbram produção mais aquecida nos próximos meses.

Se a produção não teve seus melhores dias no mês, com dois dias úteis a menos as vendas também não animaram o setor. Foram emplacados no mês passado 160 mil veículos, 13% abaixo de agosto e 20,1% a menos que em setembro de 2015. Nos nove primeiros meses, o mercado interno ficou em 1,508 milhão, recuo de 22,8 %, segundo a Anfavea.

Neste caso, além da falta de produtos da linha Volkswagen – cujas vendas ficaram abaixo de 12 mil veículos, queda de 50% com relação a agosto e apenas a 7ª colocação no ranking de automóveis e comerciais leves –, a justificativa para a queda estaria ainda na greve dos bancários, que dificultou a aprovação de financiamentos. Somente 51,9% das vendas foram financiadas em setembro, um dos menores índices registrados pela entidade.

Apesar disso, os estoques se mantiveram estabilizados e fecharam o mês com 212,5 mil veículos nos pátios das fabricantes e a grande maioria, 160,4 mil, nas redes de concessionárias.