Assim como o mercado de veículos, o setor de duas rodas vive um cenário delicado de contração nas vendas. A Honda, que detém a maior parcela do mercado nacional, prevê retração de 20% no volume comercializado este ano. Alexandre Cury, diretor comercial da Moto Honda, falou com exclusividade à Agência AutoData. Confira a seguir.
Qual a previsão de vendas da Moto Honda para este ano?
O País ainda atravessa um momento de turbulências políticas e econômicas o que dificulta estabelecermos uma perspectiva assertiva. Ainda temos um período difícil pela frente. Face ao resultado do acumulado do ano, estamos trabalhando com a perspectiva de redução de aproximadamente 20% no ano, comparado a 2015.
Qual o tamanho atual do mercado de motocicletas e quando o setor espera uma retomada do crescimento?
Segundo a Abraciclo, atualmente, temos uma frota circulante de mais de 24 milhões de motocicletas no Brasil. Somente da fábrica de motocicletas da Honda, em Manaus, que completa 40 anos de produção em novembro deste ano, já saíram mais de 20 milhões de motos. O cenário ainda apresenta incertezas, o que dificulta antecipar qualquer projeção, porém estima-se um mercado abaixo de 1 milhão de motocicletas neste ano. Seguimos acreditando no potencial do setor, na importância do veículo na sociedade e esperamos que, em breve, possamos ter uma perspectiva positiva dos negócios do País.
O mercado de motos seminovas está aquecido como o de automóveis? Isso influencia nas vendas de vocês?
Não podemos dizer que aqueceu, porém, ano a ano, tem havido uma transferência gradual de compradores de motocicletas 0 km para o mercado de usadas ou seminovas, ou seja, o consumidor continua buscando alternativas para a sua necessidade de mobilidade, seja para trabalho ou lazer. No entanto, apesar de ser mais acessível, a opção de motocicleta usada atrasa a modernização da frota, adiando a substituição de modelos mais antigos por outros com mais tecnologia, como injeção eletrônica, por exemplo, que torna a moto mais econômica e reduz o nível de emissão de gases poluentes. A expansão do sistema de freios mais modernos, como CBS e ABS, também faz parte dessa modernização e contribui para minimizar o risco de acidentes no trânsito.
Quais são os principais desafios do setor neste momento?
O mercado de motocicletas tem sofrido um processo de retração nos últimos anos devido principalmente à dificuldade de acesso ao crédito e à crise política e econômica e não pela rejeição ou falta de atratividade do produto motocicleta em si. Como mencionei anteriormente, acreditamos no potencial do mercado brasileiro e na importância da motocicleta para a nossa sociedade, principalmente do ponto de vista de mobilidade e geração de renda. Assim como muitos outros setores da economia, estamos passando por um momento de dificuldade, que já vem de alguns anos especialmente devido à escassez de crédito, mas acreditamos em uma perspectiva de retomada no médio prazo.
Vocês realizaram reposicionamento de preços nos produtos? Eles ficaram mais baratos para atrair o público?
A Honda se esforça continuamente em manter a competitividade dos preços em toda a cadeia, desde os fornecedores, passando pelos concessionários até o consumidor final. A empresa tem uma grande preocupação em oferecer produtos de alta qualidade a um preço acessível democratizando o acesso à motocicleta. Nos últimos anos, o aumento de custos oriundos da flutuação cambial e principalmente da redução de volume tem exigido esforços adicionais para impactar o mínimo possível no preço final do veículo. Nesse sentido, a união de esforços com o Consórcio Honda também tem sido uma estratégia decisiva para viabilizar a motocicleta 0 km aos nossos clientes.
A exemplo do que acontece com a indústria automotiva, vocês também estão desenvolvendo motores menores, econômicos e sustentáveis? Como está essa questão no setor?
A Honda sempre foi pioneira no desenvolvimento de inovações que levam em consideração necessidades específicas do mercado local. Exemplos disso foram o pioneirismo mundial no desenvolvimento da tecnologia flex em motocicletas, que teve como objetivo atender o potencial de oferta brasileira de biocombustível, e a aplicação do sistema CBS para motos de baixa cilindrada, com foco em ganhos de segurança no uso dos veículos de duas rodas na região. Além disso, implantamos inovações tecnológicas como injeção eletrônica para motocicletas de baixa cilindrada, abaixo de 150cc, sistemas de escape com novos catalizadores, novos motores como o 160cc, além de mapas de injeção com o objetivo de reduzir os níveis de emissões de poluentes dos veículos. No ano passado, também renovamos o line-up de motos atendendo a todos os requisitos de emissão veicular do Promot 4. No atendimento a esse rigoroso programa de controle das emissões de gases, equivalente a legislação europeia, as motocicletas Honda foram além das exigências e atingiram valores bem menores que os limites fixados pela legislação, chegando próximo da metade dos limites.
Honda e Yamanha estão conversando com objetivo de concretizar uma parceria para fabricação de scooters no Japão. Essa parceria pode chegar ao Brasil?
Estamos acompanhando essa negociação que, por enquanto, é apenas uma sinalização de intenções, mas não temos informações sobre o impacto dessa eventual parceria no mercado brasileiro.
A fábrica de Manaus precisou reduzir a mão de obra para lidar com a retração das vendas?
Após quatro anos de retração do mercado de motocicletas no País, o que reflete as restrições ao crédito, variações cambiais, inflação, além da crise econômica e política, foi necessário adaptar as áreas administrativas e fabris da empresa à realidade do setor. Nesse sentido, adotamos, no 1º quadrimestre deste ano, um Programa de Demissão Voluntária para os funcionários da Moto Honda. No momento estamos acompanhando a evolução do mercado e confiantes em uma retomada no médio prazo para que possamos retomar os nossos patamares de produção. Vale destacar que, para a Honda, os ajustes em quadro de pessoal são sempre a última alternativa, após esgotadas todas as possibilidades.
O ícone da Honda, a CG, completa 40 anos em 2016. Qual a representatividade desse produto no portfólio de vocês?
A CG é um ícone para a trajetória da Honda, para o mercado nacional de motocicletas e para milhões de brasileiros que buscaram no modelo uma solução de mobilidade mais econômica, mas sem deixar de lado a qualidade, tecnologia e sensação de liberdade de estar sobre duas rodas. São mais de 11 milhões de unidades comercializadas, o que faz da CG o veículo mais vendido do Brasil. Mesmo com mais de 20 modelos produzidos atualmente na fábrica de Manaus, ela mantém seu posto de líder absoluta no segmento com a mesma qualidade e credibilidade de quatro décadas atrás. Se hoje temos a maior fábrica de motos Honda do mundo e a liderança do mercado nacional, é também devido ao inquestionável sucesso da nossa CG.