Inovação e competitividade no supply chain

O mercado automotivo brasileiro passa por mudança radical, com previsões que apontam para a queda brutal de vendas de 20% em 2016 na comparação com 2015 e de 40% ante o pico de vendas em 2013.

Premida pelas novas demandas do consumidor e pelas regras do regime automotivo previstas no Inovar-Auto, que prevê metas de eficiência energética, de segurança veicular, e localização de conteúdo, a indústria vem reagindo com investimentos no Brasil em patamares nunca vistos anteriormente.

O resultado imediato foi, por um lado, uma capacidade instalada de até 5 milhões de veículos, e por outro, a entrada de veículos com tecnologia compatível a dos países desenvolvidos, com motores eficientes e modelos de última geração, além do segmento premium.

No cenário de demanda retraída devido à crise econômica brasileira, a cadeia automotiva amarga ociosidade acima de 50%, forçando a uma busca por novos mercados de exportação. Isso demonstra a necessidade de o Brasil rever sua estratégia de comércio exterior, visto que, até então, estava focado na demanda interna e nas regras de conteú­do local, na implicação da taxa de câmbio e nas barreiras à importação.

Ora, a busca por exportação exige competitividade, com adequação do supply chain e diferenciação tecnológica em comparação com outros players do mercado mundial.

A revisão da estratégia do supply chain na indústria automotiva brasileira é mais que necessária para sua integração na cadeia global de valor e para a exploração do diferencial em tecnologias nas quais podemos obter vantagem competitiva, por exemplo, motores a combustíveis alternativos (etanol, biodiesel, GNV) ou até mesmo em veículos elétricos e autônomos, segmentos em que a corrida tecnológica está apenas começando.

Para tanto precisamos da definição de uma nova política industrial e de tecnologia automotiva, focando no futuro posicionamento da cadeia automotiva brasileira em âmbito mundial. O que as empresas devem fazer para recuperar a competitividade local? Como atrair novos investimentos em um mercado retraído? Como viabilizar a escala para nacionalização de tecnologias futuras de mobilidade? Como estruturar uma nova política que possa apoiar essa revolução do setor automotivo brasileiro?

As repostas a essas questões e a geração de estratégias e modelos de negócio que favoreçam a aquisição no Brasil de tecnologias para a mobilidade do futuro, em cooperação com engenharia, compras e fornecedores no desenvolvimento de produtos, são o foco do Painel Supply Chain do 25º Congresso e Mostra Internacionais SAE Brasil de Tecnologia da Mobilidade, que será realizado de 25 a 27 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo.

Maurício Martins e Ugo Ibusuki, coordenadores do Painel Supply Chain do Congresso SAE Brasil 2016

Pesados e semipesados crescem mais

A venda de caminhões pesados e semipesado deve apresentar um crescimento de 20% no ano que vem. O presidente da Volvo Latin America, Wilson Lirmann, revelou que o segmento de caminhões acima de 45 toneladas deve puxar o aumento nos licenciamentos durante sua apresentação no Congresso AutoData Perspectivas 2017, na terça-feira, 18, na seda Amcham, em São Paulo. “Essa retomada deve acontecer a partir do segundo trimestre de 2017, com forte participação do agronegócio.”

Segundo o executivo. No próximo ano, o volume comercializado deve chegar a 36 mil unidades dos segmentos de semipesados e pesados. Lirmann aponta, no entanto, que setores como comércio e construção não devem contribuir para o aumento no volume de vendas de caminhões pesados em 2017. “São áreas muito ligadas à demanda que foi afetada pela queda de renda da população e pelo desemprego no país”, justifica. “Por isso, a retomada será mais lenta.”

O executivo ressaltou, ainda, que a renovação da frota de grandes empresas deve puxar o aumento nas vendas em 2017. Segundo ele, apesar de alguns clientes ainda terem frota inoperante, a maior parte deve realizar pedidos às montadoras com objetivo de reduzir o custo de manutenção. “Aquele empresário que comprou seus caminhões em 2011 tem de renovar sua frota para manter a eficiência em sua gestão. Por isso, acredito que será esse o cliente que irá ao mercado.”

Fim da greve – Lirmann não repercutiu, mas a Volvo e o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba acertaram acordo para o fim da greve de nove dias na fábrica paranaense da empresa, os trabalhadores aprovaram o adiamento da data-base da categoria e inclui o INPC retroativo a setembro deste ano na data-base de 2017 com aplicação ser definida nas futuras negociações. Em troca desta postergação para o próximo ano, os metalúrgicos receberão abono líquido de R$ 5 mil e reajuste de 9,62% no vale-alimentação, subindo de R$ 419,00 para R$ 460,00.

Segundo o sindicato, está previsto, ainda, que os dias parados serão compensados com a utilização do banco de horas especial. Durante os nove dias de paralisação deixaram de  ser produzidos aproximadamente  490 veículos. A produção diária antes da paralisação estava em 35 caminhões pesados, 14 caminhões médios e cinco ônibus.

Crescimento certo

As vendas de caminhões devem crescer acima de 10% no ano que vem. Pelo menos é o que esperam executivos que participaram do segundo dia do Congresso Autodata Perspectiva 2017, realizado na terça-feira, 18, na sede da Amcham, em São Paulo. A aposta para 2017 é um aumento entre 10% a 14% no mercado total, alcançando cerca 55 mil unidades e 20% no segmento de pesados. Apesar da elevação forte, o volume não será tão expressivo em virtude da base baixa de 2016. Os licenciamentos este ano devem somar 50 mil unidades, queda de mais 28% no comparativo com 2015. Para a produção, no entanto, os executivos estimam alta acima de 20% no ano que vem.

“Há muito caminhão parado nas frotas de grandes empresas e, por isso, elas não devem fazer grandes pedidos para a renovação”, avalia o vice-presidente comercial da Iveco, Marcos Borba.

O gerente-geral de vendas e marketing da Ford Caminhões, Oswaldo Ramos, também acredita que o crescimento do mercado de caminhões será na casa dos 10% no ano que vem puxado pela retomada dos investimentos no país. “A variação na venda de pesados é sempre na casa dos dois dígitos, para cima ou para baixo. Em 2017, não será diferente, o mercado deverá atingir algo em torno de 60 mil unidades. Por isso, temos que rever muito o negócio, porque somente volume não paga a conta. O pós-venda deve ser bem explorado”, ressaltou o executivo.

Já a novata DAF espera uma alta do mercado no ano que vem entre 20% a 25%, com vendas de até 4 mil unidades no segmento de pesado. “Esse segmento tem forte atuação no agronegócio, que vem com sucessivos recordes safra após safra. Por isso, essa mensagem de otimismo”, disse Luís Gambim, diretor comercial da montadora.

Estoques – Ramos, da Ford, disse que a montadora deve fechar o ano com um giro, entre montadora e rede, em torno de 45 dias. “Começamos o ano com cerca de seis meses de estoque e, pior: com modelos antigos. Fizemos um ajuste forte em nossa produção para adequar o volume e também para melhorar a qualidade, com veículos mais atualizados, fabricação 2016/modelo 2016”, contou o executivo. “Esse é o último trimestre de ajuste nos estoques.”

Na Iveco, a situação não era tão diferente no início deste ano. A montadora já teve cinco meses de estoque na rede e em seu pátio em Sete Lagoas, MG. Agora, com os ajustes feitos na produção, esse volume foi reduzido para pouco mais de 30 dias. “Passamos por um aprendizado. A formação do estoque é feita muito mais em relação à demanda de produtos do que na estimativa de crescimento do mercado”, afirmou Borba. Já a DAF deve trabalhar com um giro de 20 dias no ano que vem.

Com o estoque alto, os preços dos veículos tiveram uma queda ao longo do ano. Agora, com os ajustes prometidos pelos executivos, haverá uma recomposição nos valores ao consumidor. “Aumentamos os preços em 4% há dois meses e devemos realizar mais um ajuste até o fim do ano. Os preços de hoje não pagam a conta”, disse Gambim, da DAF.

Ford e Iveco também devem reajustar os preços dos seus produtos este ano. Ramos, da Ford, disse que com os estoques acima do ideal as montadoras realizaram promoções ao longo de 2016 para colocar no mercado os veículos fabricados em 2015. Agora, segundo ele, é inevitável o reajuste dos preços já que os caminhões modelo 2017 têm um custo bem maior que os anteriores.

Fabricantes de motores esperam vendas até 10% maior em 2017

As fabricantes de motores esperam uma ligeira melhora na produção em 2017, as previsões variam de 5% a 10% de evolução em relação aos resultados de 2016. Representantes das empresas Cummins, FPT e MWM participaram de painel no Congresso AutoData Perspectivas 2017, realizado na sede da Amcham, Câmara Americana de Comércio, em São Paulo, na terça-feira, 18.

Na Cummins a produção deste ano deve somar 29 mil motores e subir para 32 mil no ano que vem. “Temos uma capacidade de 110 mil motores se funcionarmos com três turnos. Estamos aproveitando o momento para trabalhar na nacionalização de motores”, diz Luís Pasquotto, presidente da companhia.

Na MWM a previsão é fabricar 40 mil motores em 2016, ante uma capacidade instalada de 100 mil. “Trabalhamos com um turno nesse momento e esperamos que o mercado de reposição colabore para resultados 6% melhores em 2017”, diz Thomas Püschel, diretor de vendas e marketing da empresa.

Na FPT a capacidade ociosa é a menor dentre as concorrentes e a previsão é encerrar o ano com 37 mil motores, diante uma capacidade de 70 mil. “Nossa expectativa é que o mercado cresça dois dígitos com base nas medias econômicas que estão em andamento”, afirma Marco Aurélio Rangel, presidente da FPT.

Além da gradual retomada na venda de veículos de passeios e comerciais, as três companhias apostam no segmento fora de estrada para alavancar os números. Com a mudança de legislação e a obrigatoriedade do MAR-1 em parte da produção de motores a partir de 2017, o mercado deve ficar aquecido. A FPT investiu US$ 24 milhões no desenvolvimento de novas tecnologias e 48 homologações para atender à nova legislação. “Esperamos que o segmento off-road responda por 40% das nossas vendas”, diz o presidente da FPT.

Dente as empresas há um consenso de que o segmento agrícola terá forte recuperação e demandará muitos motores. Mas nichos como o de energia também ganham destaque. “Há uma demanda de 25 mil geradores por ano na América do Sul. Isso é maior que o mercado de ônibus e de construção”, exemplifica Rangel.

Para a Cummins os segmentos marítimo e de mineração também merecem destaque. “Sempre olhamos além do mercado fora de estrada, mas neste cenário, novas opções são fundamentais e estamos capacitando a rede para focar nisso”, diz Pasquotto.

Atenção externa – As exportações também estão na mira das fabricantes de motores. Para a MWM uma das vantagens é de que novos mercados externos não são incentivados apenas em períodos de crise. “Temos uma cultura de exportação e fazemos isso independentemente do nível do mercado doméstico. Neste momento estamos desenvolvendo novos destinos, como África do Sul, Ucrânia e Rússia”, diz Püschel. Atualmente a empresa exporta motores, componentes e peças de reposição para 45 países.

O assunto redução de custos também foi pauta das fabricantes de motores. Cada uma delas tem exemplos de inciativas tomadas nos últimos dois anos. Na MWM, por exemplo, a manufatura Lean foi reforçada. Enquanto isso, a Cummins internalizou operações para aproveitar o espaço da fábrica de Guarulhos, SP, e passou a monitorar mais de perto os custos indiretos, como a logística. “Desenvolvemos a habilidade de melhorar processos e isso continua, mesmo quando a crise acabar”, encerrou Pasquotto.

General Motors, a mais otimista

Enquanto o Sindipeças projeta alta de 2,7% nas vendas de veículos em 2017, a Fenabrave aposta em 5% e a Anfavea fala em avanço de até 9%, a General Motors aparece com a previsão mais otimista do Congresso AutoData Perspectivas 2017, realizado na sede da Amcham, em São Paulo, na terça-feira, 18. Barry Engle, presidente da GM na América do Sul, estima avanço de 12% a 14% do mercado. “Esperamos uma melhora já no último trimestre deste ano e acreditamos que 2017 retomará o patamar de 2,4 milhões de veículos”, diz.

Para o executivo, há evidências que fazem acreditar que a retomada seja de dois dígitos. “A confiança do consumidor chegou ao nível mais baixo neste ano e nos últimos meses tem mostrado recuperação. Além disso, as medidas econômicas do governo devem surtir efeito em breve”, avalia.

Engle afirma ainda que dados como a idade média da frota, que tem a maior fatia no segmento de seis a dez anos, e a taxa baixa de motorização são fatores que podem contribuir para o crescimento do mercado. “Nos Estados Unidos, há 800 carros para cada 1 mil pessoas. No Brasil, essa taxa é de 200 para 1 mil. Há muito potencial”, diz. Além disso, ele aposta no contexto histórico para justificar a previsão. “Nas últimas três décadas, o mercado cresceu em média 5% ao ano. Isso se viu em pouquíssimos mercados pelo mundo”, afirma.

A GM trabalha com a previsão de mercado de 3,4 milhões de unidades em cinco anos e 4,2 milhões em dez anos. “É possível que isso aconteça ainda antes, afinal o Brasil tem a volatilidade como uma das principais características e isso pode impulsionar saltos maiores. O segredo é saber navegar nesse cenário.”

A receita da montadora estadunidense para trafegar nesse mercado instável consiste em quatro frentes: manter os investimentos, renovar a linha de produtos, apostar em novas tecnologias e conter os custos. “De 2013 a 2019 investiremos R$ 13 bilhões no Brasil. Até o fim do ano vamos renovar grande parte da linha de produtos, fomos os primeiros a trazer tecnologias como o One Star ao País e vivemos em busca de corte de custos junto aos nossos parceiros”, resume o executivo.

Exportações – No período de 2010 a 2015, 95% das exportações de veículos tiveram como destino a Argentina e grande parte do restante ficou alocada na América do Sul. Engle disse ainda que em muitos casos a GM precisa trazer veículos da China, Índia, Tailândia, Estados Unidos e México para abastecer países vizinhos do Brasil. “Por incrível que pareça é mais barato fabricar e transportar carro do outro lado do mundo e trazer para a América do Sul, mesmo tendo o Brasil com 50% de capacidade ociosa”, afirma.

Além dos custos trabalhistas mais altos, questões como produtividade e logística também prejudicam a conta. Engle afirmou que no Brasil demora-se cerca de 50% a mais para produzir um veículo. “Já os custos logísticos representam 11,5% do PIB, enquanto nos Estados Unidos essa relação é de apenas 7,9%.”

O executivo contou que no início do ano, quando o dólar estava a R$ 4, a GM iniciou um projeto para exportar para Colômbia, Peru e Chile. “Com o câmbio atual isso já não está mais atrativo. Precisamos encontrar formas de nos tornarmos mais independentes do câmbio.”

Ketter defende novos acordos bilaterais na região

Sem arriscar índice de crescimento para o mercado interno no próximo ano, o presidente da FCA, Fiat Chrysler Automobiles, Stefan Ketter, aproveitou o Congresso AutoData Perspectivas 2017 para falar da importância de o setor ampliar seus negócios com outros países, dedicando pelo menos 20% de sua capacidade para as exportações.

Em palestra na terça-feira, 18, ele defendeu a necessidade de o Brasil ampliar o número de acordos bilaterais automotivos, principalmente com países da América do Sul. “Chile e Peru, só para citar alguns exemplos, têm acordos com países do outro lado do mundo e não com o Brasil. Temos de ter mais acordos desse tipo”, destacou.

Ketter disse ter convicção de que o mercado interno não cairá mais, mas preferiu não arriscar números para 2017: “As medidas políticas virão e os primeiros sinais são bons. Mas ainda faltam fundamentos para fazer projeções mais concretas. O importante no momento é planejar com o pé no chão, ser o mais conservador possível. Até porque podemos errar nos chutes”.

Para ele, 2016 já é passado. “Precisamos pensar no médio prazo agora, em 2019, 2020. O setor passa por um processo de ruptura e temos de pensar em novos modelos de negócio. E para construir temos de destruir algumas coisas.” Ketter defendeu a união do setor em busca de maior competitividade, alegando que “é preciso todos remar no mesmo sentido”.

Na sua avaliação, o governo tem que dar a regulamentação de longo prazo para que o setor possa definir investimentos, mas é a indústria que tem de agir, se fortalecer e ser competente em tecnologia e custos. “Temos de resolver a nossa parte.”

O presidente da FCA defendeu ainda a reindustrialização da cadeia de fornecedores, dizendo que as montadoras precisam capacitar as empresas de autopeças para exportarem mais. “Precisamos confiar mais no setor e nos próprios brasileiros”, comentou o executivo, citando o Polo Automotivo Jeep, construído em 30 meses em Goiana, PE, e hoje o complexo mais moderno da FCA no mundo, como exemplo de empreendimento de sucesso no País.

O executivo lembrou ainda que a fábrica da Jeep e seu parque de fornecedores empregam hoje 10 mil funcionários, dos quais 95% são nordestinos, com idade média na faixa de 27 anos. “Muitos não acreditavam que teríamos condições de em apenas 18 meses lançar três modelos produzidos em Pernambuco. E está tudo dentro do planejado. Como proposto, faremos desse polo uma base exportadora.”

Consenso no crescimento de 5% no mercado de leves

O próximo ano terá um pequeno alento nas vendas de automóveis e comerciais leves no Brasil. O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr., estima um aumento de 5% nos licenciamentos no ano que vem. A volta da confiança do consumidor, que já começa dar sinais de melhora, será o vai impulsionar a ida do consumidor às concessionárias.

“É um bom número, apesar de ainda ser um porcentual abaixo da queda deste ano. A hemorragia foi estancada. O mercado retomará o crescimento, principalmente, com a melhora do ambiente macroeconômico, com a Selic em queda. Isso levará o consumidor ás lojas”, destacou Assumpção Jr. durante painel em que participou no segundo dia do Congresso Autodada Perspectiva 2016, realizado na terça-feira, 18, na sede Amcham, Câmara Americana de Comércio, em São Paulo.

Com um crescimento de 5%, as vendas de automóveis e comerciais leves devem atingir cerca de 2,1 milhões de unidades em 2017. Para este ano, a previsão da federação que reúne o setor de distribuição de veículos é de um mercado de 1,99 milhões de veículos leves. Segundo ele, o desempenho ruim das vendas em setembro não devem comprometer os números para 2016. “As vendas diárias de outubro voltaram à média do ano, em torno de 7,6 mil carros. Além disso, as montadoras lançam modelos e isso deve atrair o consumidor”, revelou o presidente da Fenabrave.

Agora, chegar ao patamar de 3 milhões de veículos comercializados, de acordo com Assumpção Jr., ainda demora um pouco. Para ele, somente a partir de 2020, o Brasil poderá retomar o mercado de quatro anos atrás.

Já em caminhões, o representante da distribuição é mais cauteloso. Segundo ele, haverá um aumento “simbólico” entre 6% a 8% no ano que vem nas vendas de pesados. “O que move o mercado de caminhões é o crescimento do PIB. As previsões do próprio governo para o ano que vem é de 1,7% de aumento e isso pode impulsionar as vendas. Continuando nessa toada, as fábricas podem reduzir, aos poucos, a ociosidade e os estoques que hoje ainda são altos”, ressaltou o dirigente.

O presidente da Anef, Gilson Carvalho, em consenso com Assumpção Jr., também acredita que as vendas de automóveis e comerciais leves devem crescer 5% em 2017. “O ambiente macroeconômico já dá sinais de melhora e isso estimula a concessão de crédito”, justifica Carvalho.

No segmento de caminhões, o representante da Anef mais uma vez concorda com o presidente da Fenabrave e aposta em crescimento do mercado, mas que não deve ultrapassar os 10% no próximo ano. “O volume caiu muito este ano. Além disso, há uma frota parada nas grandes transportadoras que foi adquirida quando a taxa de financiamento era muito atrativa. Esse cliente não deve ir às compras”, ressaltou o presidente da Anef. “Agora, aquele que precisa renovar a sua frota espera a estabilidade nas regras do financiamento. Não é a taxa extremamente baixa que vai atraí-lo. Um Finame com TJLP já é suficiente.”

Setor de autopeças deve crescer 2,7% em 2017

Enquanto a Anfavea estima um mercado de até 9% maior em 2017, o Sindipeças é mais cauteloso e prevê um incremento de 2,7% nas vendas do setor para o próximo ano. Segundo Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, a estimativa sofre revisões a cada três meses. “A construção do índice se dá com base nas conversas com os participantes do sindicato, que têm contato direto com as montadoras. Torço para que estejamos errados e o mercado se recupere de forma mais rápida”, disse o executivo, durante sua apresentação no segundo dia Congresso AutoData
Perspectivas 2017, realizado na sede da Amcham, Câmara Americana de Comércio, em São Paulo, na terça-feira, 18.

Ioschpe prevê que até janeiro de 2017 o setor tenha algum mês positivo de vendas, em relação a 2015. “Com base nas encomendas, acreditamos que estamos perto do início de uma recuperação”, afirma.

Enquanto os resultados positivos não começam a aparecer, o setor de autopeças contabiliza suas perdas. Se em 2013 o faturamento do setor foi de R$ 80 bilhões, neste ano a previsão é de chegar a R$ 63 bilhões. “Prevemos uma retração de 4,5% em relação a 2015. Mas se considerarmos a inflação dos últimos três anos, o faturamento do setor praticamente caiu pela metade”, contabiliza o presidente.

O volume de empregos também acompanhou a tendência de queda. Nos últimos dois anos, 36 mil pessoas perderam os empregos nas autopeças do País por conta de uma capacidade ociosa na casa de 50%. “Estamos com 164 mil colaboradores, mas com os lay-offs e as férias coletivas em andamento, é como se 145 mil estivessem trabalhando. Para o ano que vem prevemos estabilidade no emprego e aumento na produtividade”, diz o executivo.

O nível de investimento do setor também arrefeceu. A estimativa é que as empresas filiadas ao Sindipeças invistam por volta de R$ 1,5 bilhão ao longo de 2016. “Este valor é 50% menor do que o verificado em 2014. Apesar de não ser o volume desejado, mostra a resiliência das empresas”, afirma. “O setor vive um momento sem precedentes e muitas empresas estão ficando pelo caminho, especialmente tiers 2 e 3”, diz Ioschpe.

Novo modelo – Segundo o presidente do Sindipeças, apesar do cenário desafiador, já é possível vislumbrar dias melhores. Para ele, a definição de um novo regimento para o setor automotivo deve acontecer no primeiro trimestre de 2017. “O Inovar-Auto expira no fim do ano que vem e já há uma série de discussões em andamento para substituir esse programa. Acredito que esse modelo expirou. O que vem pela frente será diferente”, avalia.

Ioschpe aproveitou o congresso para revelar alguns pormenores do novo programa. Segundo ele, entidades como Anfavea, Sindipeças e Fenabrave fazem parte da discussão, comandada pelo governo federal. “A espinha dorsal já está desenhada e não será mais um regime que privilegia a questão da tributação”, conta. Segundo ele, quatro frentes serão contempladas: segurança, conectividade, emissões e eficiência energética. “Independentemente da origem do veículo, esses critérios terão de ser atendidos. O objetivo é que os veículos vendidos aqui acompanhem a tecnologia global.”

O novo regimento deve ter duração de dez anos, com revisão depois dos primeiros cinco anos. “Essa será uma das ferramentas para trazer a previsibilidade que o setor automotivo tanto almeja.”

Greve na Volvo completa 11 dias

Em greve desde a quarta-feira, 5, os funcionários da fábrica da Volvo em Curitiba, PR, realizam nova assembleia na segunda-feira, 17, para decidir sobre a continuidade ou não do movimento. Os trabalhadores decidiram paralisar suas atividades há 11 dias em função da decisão da Volvo de conceder reajuste anual equivalente a 50% do INPC. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba insiste em repasse de 100% da inflação, enquanto a montadora alega que o momento não comporta essa concessão.

De acordo com nota emitida na sexta-feira, 14, o Grupo Volvo América Latina lamenta a decisão do sindicato de insistir na paralisação, alegando que a correção de 50% do INPC é condizente com o difícil cenário do setor de transporte e da economia brasileira no momento. Informa, inclusive, que a empresa ofereceu como proposta alternativa a concessão de um abono salarial de R$ 5 mil agora e a incorporação dos 50% do INPC deste ano nos salários dos funcionários em setembro de 2017.

“A interrupção da produção de veículos ocorre justamente num dos piores momentos da indústria automotiva brasileira e numa das mais acentuadas crises econômicas enfrentadas pelo País”, destaca a Volvo na nota divulgada na sexta-feira, 14. “É também um dos piores momentos já enfrentados pela Volvo desde que a empresa se estabeleceu no Brasil no final dos anos 70.”

A montadora alega que atualmente opera com uma capacidade ociosa de 70%, tendo acumulado queda de 70% nas vendas de caminhões nos últimos dois anos. A empresa possui ainda um excedente de funcionários, que estão em casa, devido à queda na produção e nas vendas.

“Esta paralisação do sindicato é inaceitável em um momento de queda acentuada de mercado e uma situação complicadíssima para a empresa. Está claro que a posição do sindicato não reflete a posição dos funcionários. Os mensalistas estão trabalhando e grande parte dos horistas também entrou para trabalhar, apesar da insistência do sindicato em barrar a entrada dos funcionários na fábrica”, afirma Carlos Morassutti, vice-presidente de RH e Assuntos Corporativos do Grupo Volvo América Latina.

O executivo reforça ainda que “quando o mercado está em alta e a Volvo atinge os seus resultados comerciais, sempre compartilha os ganhos com os funcionários”.  Nos últimos 10 anos, a empresa concedeu aos funcionários um aumento real acumulado de 40%. A fabricante também pagou a PLR, Participação de Lucros e Resultados, mais alta do Brasil, num valor de R$ 30 mil em dois anos seguidos.

Além disso, segundo a nota oficial da empresa, o nível salarial e o pacote de benefícios aos trabalhadores são maiores que a média do mercado, com um valor mínimo de R$ 3 mil considerando o valor do vale alimentação.

Na tentativa de solucionar o impasse, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba solicitou nesta semana uma audiência entre as partes no TRT-PR, Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Até a sexta-feira, 14, não havia posicionamento do órgão sobre o pleito, por isso a convocação de uma assembleia para as 7h da segunda-feira, 17.

“Nada disso estaria acontecendo se a Volvo tivesse aplicado os 100% da reposição da inflação, que é o básico nos acordos da categoria”, disse na sexta-feira, 14,

De acordo com o sindicato, a fábrica da Volvo emprega cerca de 3,2 mil trabalhadores, sendo 1,8 mil do chão de fábrica. Ainda segundo a entidade, a produção diária antes da paralisação estava em 35 caminhões pesados, 12 caminhões médios e 5 ônibus. A montadora também possui um centro de distribuições em São José dos Pinhais, PR, com cerca de 180 metalúrgicos. 

Geely lançará nova marca de veículos

O mundo automotivo aguarda o dia 20 de outubro com curiosidade. Na próxima quinta-feira a chinesa Geely, dona também da Volvo Cars há seis anos, lançará a Lynk & Co, uma marca de automóveis totalmente nova. O site oficial da empresa não tem nenhuma informação objetiva, além da própria data. Predominam nele apenas sequência de cenas urbanas, de pessoas em transportes públicos ou andandando de bicicletas.

As interpetações a respeito do que virá a ser a Link, assim, são muitas. Alguns, em decorrência do pouco que sugere o site, apostam que terá ênfase em produtos e serviços dedicados aos grandes centros, como veículos de emissão zero.

Outros falam que os modelos da nova marca terão a missão de brigar com produtos médios no mercado chinês, deixando os modelos da Volvo e da própria Geely responsáveis por outros segmentos. Da gama da Link inicial constaria um SUV e um sedã.

Agências internacionais asseguram, porém, que os veículos da nova marca deverão ser lançados incialmente na China já no ano que vem, em rede já constituída da Geely, e na sequência na Europa e Estados Unidos.

O primeiro Link utilizaria a plataforma do Complexo Modular Arquitetura, CMA, desenvolvida por uma subsidiária da Geely em conjunto com a Volvo, e sua produção demandaria até uma fábrica exclusiva na China, deo nde seria exportado.