Os principais fabricantes de tintas sentiram em 2016 dois anos seguidos de fortes quedas do setor automotivo brasileiro e agora relatam diminuições na produção, esforços para driblar a alta do dólar e ociosidade. Mas esse quadro pode começar a mudar já no ano que vem.
“Esperamos uma parada desse movimento de queda no segundo trimestre de 2017 e, no terceiro, aumento de produção da indústria automobilística”, diz Fernando Capeloza, gerente de negócios de Specialty Coatings da AkzoNobel.
Após análises de mercado e conversas com clientes, a PPG estima crescimento de 3% e 5% de produção no ano que vem. “Mas a retomada plena de produção só virá com queda do desemprego e redução das taxas de juros”, pondera Luiz Fernando Mioto, gerente geral do segmento automotivo da PPG para a América do Sul.
Até que esse novo cenário surja a estratégia da indústria de tintas tem sido investir em produtos mais econômicos, melhorar processos de pintura nas montadoras, direcionar esforços em outros mercados e, em alguns casos, até eliminar operações. A PPG, por exemplo, contabiliza crescimento em outros setores, como o de revestimentos para embalagens.
Mioto avalia também que investimentos passados permitiram que a empresa mantivesse ou até conquistasse projetos, mesmo em ano de crise. “A nova planta de resinas em Sumaré (inaugurada em 2015 com investimento de cerca de R$ 100 milhões) garantiu novas tecnologias e negócios, como o da Jeep em Pernambuco”, recorda Mioto, que cita ainda contratos com a BMW, em Araquari, SC, e Mercedes-Benz, em Iracemápolis, SP.
“Foram investimentos que ajudaram substituir as importações e proporcionam uma tecnologia muito superior. Mas, com certeza, os volumes poderiam ser maiores se o mercado estivesse aquecido.”
Outra forma de reagir da indústria de tintas tem sido lançar ou divulgar com mais ênfase os produtos com melhor custo-benefício ao cliente. A Basf tem apostado muito no CathoGuard 800, um eCoat aplicado como a primeira camada na carroceria para protegê-la da corrosão. “O consumo por metro quadrado é menor do que em um eCoat tradicional e tem melhoria no processo, que gera economia em consumo de água e tratamento de resíduos. É uma boa alternativa para ajudar no combate à crise”, afirma o diretor de tintas automotivas da empresa, Marcos Fernandes.
Além do fornecimento OEM o mercado de repintura é cada vez mais representativo para o setor e fonte crescente de receitas. O gerente de negócios Vehicle Refinishes para América do Sul da AkzoNobel, Sergio Munhoz, lembra que a frota circulante no País segue aumentando e que o comportamento de consumo mudou:
“O brasileiro está adquirindo automóveis novos em uma menor frequência e investe mais na manutenção do seu bem. O mercado de repintura automotiva não caiu, continua estável, e em alguns momentos apresentou até discreto crescimento”.
Já Mateus Aquino, diretor da divisão automotiva da Axalta na América do Sul, vê a incorporação de tecnologias como fundamentais para a superação das dificuldades atuais e manutenção da competitividade.
A empresa lançou mão, por exemplo, da 3-Wet, pela qual se elimina uma etapa de cura do processo produtivo, e EcoConcept, que permite reduzir uma das camadas de aplicação de tinta e também de cura.
De 2014 a 2017 a Axalta encaminha programa de investimentos de US$ 32 milhões na fábrica de tintas à base de água em Guarulhos, SP. Aquino assegura que os planos não foram alterados com a crise e que o desenvolvimento de produtos e serviços não parou.
A Sherwin-Williams tem investido também em produtos com alto nível de sólidos, tanto que concluiu a construção de laboratório de desenvolvimento em Ribeirão Pires, SP. “É exclusivo para o mercado automotivo e atenderá toda a América do Sul”, afirma Cássia Galvão, diretora de marketing.
Outra fonte de receita para a companhia neste ano de crise é parceria com concessionárias de veículos. O Programa ESR, Express Scratch Repair, auxilia as revendas a oferecerem serviço de repintura expressa aos clientes, com a reparação feita em 40 minutos. “Temos resultados comprovados de aumento de receita e retornos superiores a 50% com os parceiros”, diz Galvão.
A alocação de equipes dentro das montadoras é outro exemplo de fonte de novos negócios. Aquino, da Axalta, vê o serviço como vantagem competitiva para o cliente devido ao controle dos processos, custos e qualidade. A AkzoNobel também segue essa trilha. Criou até centro de aplicação que entrou em operação no segundo semestre de 2015, em São Bernardo do Campo, SP. A intenção é reproduzir os processos dos clientes e assim oferecer opções sob medida.