Vitória dupla

Das dificuldades enfrentadas pelo setor automotivo durante o ano passado ninguém discute. Mas enquanto muitos preferem encarar o período como uma etapa a ser esquecida, a General Motors deverá fazer questão de lembrar. Em 2016 a montadora só tem comemorar: além de chegar a liderança de vendas de automóveis e comercias leves no País pela segunda vez em mais de nove décadas de atuação por aqui, o Chevrolet Onix foi de longe o modelos mais vendido no Brasil.

No ano passado, o hatch da fabricante de São Caetano do Sul, SP, o mercado absorveu 153,3 mil unidades, 31,7 mil a mais que o segundo modelo mais vendido no varejo brasileiro, o Hyundai HB20, com 121,6 mil unidades negociadas. Segundo dados da Fenabrave, a GM encerrou o ano passado com fatia de 17,4% do segmento de automóveis e comerciais leves e seu modelo vencedor 34,5% na categoria de hatches pequenos.

Na vice-liderança das vendas de automóveis e comerciais leves, o Hyundai HB20 também encerrou o ano passado em posição isolada. Seu volume de negócios soma mais de 45 mil unidades a frente do terceiro colocado o Ford KA, que contabilizou 76,6 mil licenciamentos.

A Hyundai, aliás, é outra das montadoras que terá 2016 como um ano simbólico, afinal, alcançou a quarta posição das fabricantes que mais vendem carros no País ao desbancar a Ford do grupo das quatro veteranas. A montadora coreana terminou o ano passado com 197,8 mil unidades vendidas, o que representou participação de 9,96% do mercado de automóveis e comerciais leves.

O quarto automóvel mais vendido no ano passado também é um Chevrolet, o Prisma, com 66,3 mil emplacamentos. O modelo, no entanto, é outro líder da montadora no segmento de sedãs pequenos, com 23,36% de participação na categoria.
Segue de perto o Prisma em quinto lugar o Toyota Corolla, com 64,7 mil unidades negociadas em 2016. O carro, porém, é de longe o campeão na categoria de sedãs médios, com 44,2% de participação.

O Fiat Palio, modelo que até bem pouco atrás já foi figurinha fácil na cabeça da lista dos mais vendidos, encerrou o ano passado em sexto lugar do ranking, com 63,9 mil unidades vendidas, representado 18,36% da chamada categoria veículos de entrada segundo critérios da Fenabrave. Foi o segundo mais vendido atrás do Ford Ka no segmento.

Atrás do Palio, com uma diferença de 768 unidades, ficou o Renault Sandero. O mercado comprou 63,2 mil modelos no ano passado, permitindo uma participação de 14,21% no segmento de hatches pequenos ou o terceiro mais vendido da categoria.

Encerram a lista dos dez mais vendidos a picape Fiat Strada, com 59,4 mil emplacamento no ano passado ou 54,9% de participação na categoria de picapes pequenas, e o Volkswagen Gol, com 57,7 mil unidades vendidas, volume que permitiu fatia de 16,46% no segmento de veículos de entrada, o terceiro mais vendido da lista.

O décimo modelo mais vendido foi o Honda HR-V, o único SUV da lista dos dez mais. No ano passado o mercado absorveu 55,7 mil modelos da fabricante. O volume o coloca na liderança de vendas de SUVs com fatia de 18,44%.

Disputa acirrada no segmento de luxo

O mercado de veículos de luxo representado pelos grupos com produção local – BMW, Audi, Mercedes-Benz e Jaguar Land Rover – teve disputa altamente acirrada no ano passado. A BMW foi líder com 11.860 unidades e 27,2% de participação, seguida bem de perto pela Audi, com 11.600 veículos e penetração de 26,6%. Ou seja, apenas 260 unidades separaram as duas marcas no ranking dos chamados carros premium, mercado que incluindo as marcas Mini e Jaguar totalizou venda de 43.670 veículos em 2016, com queda de 29,7% em relação aos 62,1 mil de 2015.

A Mercedes-Benz, terceira colocada, também teve desempenho bem próximo ao das marcas líderes, com a venda de 11.285 carros e fatia de 25,8%. A quarta posição foi ocupada pela Land Rover, com 6.693 veículos negociados e participação de 15,3%. Os quatro grupos que inauguraram fábricas no Brasil nos últimos dois anos foram afetados pela retração do mercado, conforme números divulgados na semana passada pela Anfavea.

O grupo que teve menor decréscimo em seus negócios foi o Jaguar Land Rover. As vendas da marca Land Rover caíram 24%, abaixo, portanto, da média de retração do mercado, enquanto as da Jaguar cresceram 113%, saltando de 373 unidades para 796. A BMW teve redução de 25,2% no total emplacado de veículos da marca e de 28% nos veículos Mini. No caso da Audi a queda foi de 33,9% e o desempenho da Mercedes-Benz foi negativo em 35,6%.

Pé direito – Apesar da retração em 2016, o BMW Group Brasil avalia ter iniciado o ano “com o pé-direito”, conforme nota da companhia divulgada na segunda-feira, 9, na qual destaca a liderança da marca no segmento premium. Nos últimos sete anos, segundo a empresa, a BMW liderou seis vezes o mercado automotivo de luxo no Brasil.

“O BMW Group investe em uma estratégia de longo prazo, com foco no crescimento sustentável de suas operações e na máxima qualidade de seus produtos, serviços e também no atendimento ao cliente. A preocupação constante com a excelência é o que impulsiona a marca em meio a um mercado tão competitivo como o segmento de automóveis premium no Brasil”, disse Helder Boavida, presidente e CEO do BMW Group Brasil.

Segundo o executivo, apesar do desafiador momento econômico no Brasil, a empresa trabalhou para ampliar as atividades da fábrica de automóveis em Araquari, SC, com a exportação do BMW X1 aos Estados Unidos e a nacionalização do BMW X4. “Mais importante que a liderança é a confiança na futura retomada do mercado como um todo e a manutenção da saúde de nosso negócio. Para 2017, a prioridade continua sendo a satisfação de nossos clientes”, disse Boavida.

Também o Grupo Jaguar Land Rover mostra-se confiante no potencial do mercado brasileiro, destacando dentre os dados positivos de 2016 a liderança da Land Rover no segmento de SUVs premium no Brasil e a retração dos seus negócios com um todo abaixo da média do mercado.

“O lançamento do Jaguar F-PACE, primeiro SUV da marca em toda a sua história e a chegada dos motores Ingenium Diesel de última geração — que equipam os modelos nacionais do Discovery Sport e do Range Rover Evoque — contribuíram para o desempenho da empresa no ano passado, com mais de 7,4 mil unidades vendidas”, comentou em nota o diretor de marketing e produto da empresa na América Latina, Gabriel Patini.

O sedã esportivo XE, apresentado aos consumidores em 2015, foi o modelo mais vendido da Jaguar no último ano. Já a Land Rover apresentou o Evoque e o Discovery Sport feitos no Brasil, conquistando 26% de participação no mercado de SUV premium. A padronização da rede de concessionários Jaguar Land Rover, que conta com 35 unidades em todas as regiões do Brasil, também foi determinante, segundo os dirigentes do grupo, para o desempenho em 2016.

Mercedes-Benz encerra 2016 na liderança de pesados

Depois de quase uma década em disputa acirrada com a sua principal rival no segmento, a Mercedes-Benz encerrou 2016 na liderança das vendas no mercado de caminhões. No ano passado os licenciamentos de veículos de carga da fabricante de São Bernardo do Campo, SP, somaram 14.962 unidades. O volume é 21,91% menor do que o registrado em 2015, quando os emplacamentos alcançaram 19.161, mas abaixo da média da queda do mercado total de 29,4%. Seu desempenho permitiu à empresa elevar sua participação no mercado para 29,6%.

Para Roberto Leoncioni, vice-presidente de vendas da companhia, procurar ficar mais próximo do cliente com o objetivo de suprir suas necessidades foi fundamental para o resultado. “Apesar de termos enfrentando o pior mercado em duas décadas, não deixamos de investir em melhorias de produtos, como também em serviços de pós-venda.”

Com uma diferença de 272 unidades licenciadas, a MAN ficou com a vice-liderança no mercado de caminhões com 13.690 veículos negociados no ano passado. O tombo em comparação com o desempenho de 2015 é de 29,95%, ocasião na qual a empresa emplacou 19.543 caminhões. O resultado proporcionou à montadora fatia de 27,08% do mercado.

O terceiro lugar do ranking de vendas, com 15,34% de participação, ficou com a Ford no encerramento de 2016 com 7.757 caminhões negociados. O resultado foi 39,98% abaixo do alcançado no mesmo período de 2015, quando a empresa negociou 12.923 unidades.

Outra forte queda nas vendas também experimentou a Volvo em 2016, na quarta posição do ranking. A montadora de Curitiba, PR, contabilizou o ano passado vendas de 5.614 caminhões contra 8.349 de um ano antes, recuo de 32,76 e fatia de 11,10% do mercado total. Vale lembrar, no entanto, que a fabricante paranaense participa somente nas categorias de semipesados e pesados.

O mesmo perfil de atuação da Volvo também possui a Scania, que encerrou o ano passado em quinto lugar no ranking de vendas com fatia 8,40% do mercado total. A montadora vendeu 4.245 caminhões em 2016, volume 18,74% menor do que o registrado no mesmo período de 2015.

Como a sexta montadora que mais vendeu no ano passado, a Iveco foi a que experimentou a maior retração nas vendas de caminhões. As 2.573 unidades emplacadas da marca significaram uma baixa de 42,72% na comparação com as vendas de 2015, de 4.492 caminhões.

A DAF, no sétimo lugar do ranking, é uma das poucas fabricantes de caminhões que registrou forte crescimento em suas vendas no ano passado, embora a base de comparação ainda mantenha baixa desde que iniciou operação industrial no País, por volta de três anos atrás. Em 2016 os emplacamentos da montadora somaram 673 unidades, 51,92% maiores do que o registrado um ano antes. Com isso a empresa encerrou o período com 1,33% de participação.

O ranking de vendas de veículos comerciais segue com a FCA que vendeu 459 unidades de picapes grandes Dodge Ram, alta de 473% em relação a 2015; a Agrale, com 197 caminhões vendidos, queda de 25,66% na comparação com os doze meses de 2015 e a International que, mesmo com a produção da fábrica de Canoas, RS, parada, conseguiu beliscar um crescimento de 8,96% nas suas vendas: de 67 unidades em 2015 para 73 no ano passado.

Ônibus – É da Mercedes-Benz também a liderança de vendas no segmento de chassi para ônibus. Na categoria, no entanto, o primeiro lugar em vendas é isolado do restante dos concorrentes. Com os 6.069 chassis entregues no ano passado, a empresa encerrou o período com 54,37% de participação no mercado. Embora o volume vendido represente um recuo de 26,46% na comparação com as 8.253 unidades negociadas um ano antes, o tombo é menor que o de 33,53% do mercado total.

O mesmo não pode dizer a MAN, na vice-liderança das vendas de chassis. Em 2016, os emplacamentos de 1.798 chassis representaram uma queda de 50,86% em relação ao desempenho de 2015, quando a empresa registrou vendas de 3.659 unidades. O resultado permitiu à companhia encerrar o período com 16,11% de participação.

A Agrale encerrou o ano passado com 14,08% de participação no terceiro posto do ranking. Suas vendas somaram 1.572 unidades, o que representou uma queda de 34,17% na comparação com o volume de um ano antes, de 2.388 chassis.

O ranking de vendas de chassis segue com a Iveco, em quarto lugar, com participação de 6,54%, Volvo (5,77%), Scania (2,62%) e International (0,11%).

Carros de entrada perdem participação

O segmento de carros de entrada, liderado pelos modelos Ford Ka, Fiat Palio e VW Gol, foi o que mais perdeu participação no mercado de zero-quilômetro no ano passado. Sua fatia na venda total de automóveis baixou 2,8 pontos porcentuais, caindo de 23,4% para 20,6%. Em contrapartida cresceram as participações dos segmentos de hatches pequenos e de SUVs, respectivamente de 23,5% para 26,3% e de 14,8% para 17,9%.

As restrições ao crédito explicam ao menos em parte a perda de penetração dos modelos de entrada, que até 2014 eram os líderes em venda no Brasil. São os de preços mais baixos e, assim, têm como público algo os consumidores de menor poder aquisitivo, justamente os que mais dependem de financiamento para adquirir um zero-quilômetro.

De acordo com o presidente da Anfavea, Antonio Megale, o índice de compras financiadas nunca foi tão baixo como o registrado no final de 2016. As vendas à vista chegaram a responder por 53% dos negócios relativos à aquisição de carros novos, ou seja, apenas 47% dos consumidores utilizaram crédito para efetuar a compra. Tradicionalmente as vendas financiadas são maioria, representando pelo menos 60% das transações no setor.

As vendas por segmento de mercado integram balanço divulgado mensalmente pela Fenabrave, que inclui nove modelos como sendo de entrada – além dos três líderes, o VW up!, Toyota Etios, Fiat Uno, Fiat Mobi, Renault Clio e Celta (o compacto da Chevrolet saiu de linha no ano passado). Em 2016 foram emplacadas 348,6 mil unidades do segmento de entrada, resultado 29,8% inferior ao de 2015 – quando foram vendidas 498,5 mil. Queda, portanto, bem superior à da média do mercado, que foi de 20,2%.

Já o segmento de hatches pequenos, formado por onze modelos, dentre os quais Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Renault Sandero, VW Fox/CrossFox, Nissan March e Ford Fiesta, teve queda de apenas 9,2%, passando de 493,2 mil unidades emplacadas em 2015 para 447,9 mil em 2016.

Mais beneficiado ainda em 2016 foi o segmento de SUVs. Diante de um mercado com retração média de 20,2%, suas vendas praticamente se mantiveram estáveis. Foram emplacadas 302,3 mil unidades no ano passado, apenas 1,3% a menos do que as 306 mil de 2015. Isso lhe garantiu o maior ganho de participação no mercado, exatos 3,08 pontos porcentuais.

A distância do segmento de SUVs para o de veículos de entrada, que era de 8,6 pontos porcentuais em 2015, baixou para apenas 2,7 pontos no ano passado. Um dado que confirma tendência apontada por executivos do setor já há alguns anos e que justifica uma série de lançamentos de 2015 para cá, como o Honda HR-V, Jeep Renegade, Nissan Kicks e Hyundai Creta, dentre outros.

Também integram o segmento modelos como o Ford EcoSport, Toyota Hilux e Hyundai Tucson, havendo uma nova leva de lançamentos programada para este ano, dentre os quais três SUVs da Renault, incluindo duas com produção local: Kwid e Captur.

VW assina acordo com a Justiça dos Estados Unidos

A direção da Volkswagen fechou acordo com Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre o Dieselgate, como ficou conhecido o escândalo dos motores a diesel da montadora dotados de dispostivo capazes de burlar os testes de emissões.

Pelo acordo a montadora reconhece a culpa pela fraude e pagará multa US$ 4,3 bilhões. Analistas internacionais entendem que a empresa decidiu pelo consenso neste momento para se antecipar a qualquer movimento do novo governo de Donald Trump, que começa no próximo dia 20. O mercado receia que o imprevisível Trump possa adotar medidas que contrariem sobre tudo interesses de empresas estrangeiras.

O acordo com a Justiça dos Estados Unidos inclui ainda monitoramento indepedente da empresa pelos próximos três anos e surge exatamente quando a montadora trabalha para resgatar sua imagem por meio de novos produtos e tecnologias, prejudicada em 2015 com a denúncia do Dieselgate.

A Volkswagen afirma que nenhum membro ou ex-membro de seu conselho administrativo estava envolvido na trapaça e que não divulgou informações antes porque esperava chegar a um acordo negociado com as autoridades estadunidenses. A companhia concordou em gastar até US$ 17,5 bilhões nos Estados Unidos para resolver as pendências com os órgãos reguladores, proprietários e revendedores, bem como se ofereceu para recomprar quase 500 mil veículos fraudados e vendidos naquele País.

No fim de semana passado, horas antes da abertura do Salão de Detroit, Oliver Schmidt, alto executivo da Volkswagen nos Estados Unidos entre 2014 e 2015, foi preso pelo FBI em Miami, quando voltava de férias. O executivo alemão é acusado de ter ciência da adoção do software secreto. Fontes asseguram que promotores se preparam para pedir a prisão de mais executivos da montadora nos Estados Unidos.

Recorde – Apesar de toda essa confusão, o Grupo Volkswagen, que inclui doze marcas de automóveis e comerciais leves, registrou vendas recordes em 2016, com 10,3 milhões de veículos em todo o mundo. O crescimento de mercados como os da China e da Europa compensaram recuos da montadora no Brasil e nos Estados Unidos e permitiram avanço global de 3,8% sobre o ano anterior. Com esse volume a montadora deve ser confirmada como a maior fabricante do mundo no ano passado, à frente da Toyota.

TMD transfere área administrativa para Salto este mês

A TMD Friction do Brasil, tradicional fabricante de pastilhas e lonas de freio com a marca Cobreq, está finalizando o investimento de R$ 142 milhões em sua nova fábrica em Salto, SP, o maior aporte já feito pelo grupo japonês Nisshinbo, ao qual pertence, fora do continente asiático.

De acordo com Edilson Jaquetto, diretor geral de negócios OE da TMD, até o final deste mês deverá ser transferida toda a área administrativa para Salto, assim como a produção de pastilhas de freio destinadas às montadoras:

“A transferência total das operações acontecerá até setembro e em outubro teremos a inauguração oficial da fábrica de Salto”.

Do lançamento da pedra fundamental, em maio de 2014, até hoje, 95% das obras já foram concluídas. A transferência da produção de Indaiatuba para Salto, municípios do Interior paulista distantes apenas 15 km um do outro, está sendo feita de forma gradativa e ao seu final a unidade antiga será desativada.

Dos 82 mil m² de área total e 18 mil m² de área construída que tem em Indaiatuba, onde opera desde 1975, a TMD Friction passará a operar em espaço de 100 mil m², dos quais 32 mil m² em construção. Antes em área urbana, agora poderá expandir mais suas operações por estar em um distrito industrial.

Apesar das dificuldades econômicas enfrentadas hoje no Brasil, Jaquetto diz que agora, com maior capacidade instalada e possibilidade de melhor atender o cliente, a empresa vê espaço para crescer até dois dígitos em alguns segmentos nos quais atua localmente.

Indústria projeta alta de apenas 4% nas vendas internas

Após queda de 20,2% em 2016 sobre 2017, as vendas internas de veículos deverão crescer apenas 4% este ano, ficando em torno de 2 milhões 133 mil unidade antes as 2 milhões 50 mil do ano passado. As projeções do setor automotivo foram divulgadas na quinta-feira, 5, pelo presidente da Anfavea, Antonio Megale, que prevê altas maiores tanto na produção como nas exportações, de 11,9% e 7,2%, respectivamente.

Ao divulgar os números Megale reconheceu que a instabilidade que ainda persiste na área política e também na econômica fez com que ele revisasse para baixo a expectativa de alta para o mercado interno em 2017. Há três meses Megale havia falado em crescimento de “um dígito parrudo”, ou seja, algo mais próximo a 10%: “Ainda temos um ambiente político e macroeconômico instável, o que fragiliza o mercado. Não vemos possibilidade de recuperação neste primeiro trimestre”.

A indústria está mais otimista com relação às exportações, projetando o embarque de 558 mil unidades este ano, o que favorecerá a produção do setor. Se concretizadas as projeções da Anfavea, as montadoras vão produzir em 2017 perto de 2 milhões 413 mil veículos, superando em 11,9% o total de 2 milhões 157 mil unidades fabricadas em 2016.

De acordo com Megale, o setor não atingiu a meta fixada para 2016, a de produzir quase 2,3 milhões de veículos no ano, por causa principalmente dos problemas que a Volkswagen teve com um grupo de fornecedores. Após romper o contrato, a montadora teve de paralisar suas linhas de montagem por mais de um mês, deixando de fabricar mais de 100 mil veículos em todo o processo.

Os melhores meses em produção para a indústria automobilística no ano passado foram novembro em dezembro, com respectivamente 216,3 mil e 200,9 mil unidades. “A queda no mês passado com relação ao anterior deve-se exclusivamente à decisão da maioria das montadoras de conceder férias coletivas na virada do ano, o que reduziu o número de dias de produção em dezembro”, explicou Megale.

Com a forte queda do mercado interno nos últimos dois anos, e o consequente reflexo na oferta de produtos, a indústria encerrou 2016 com capacidade média ociosa de 52%. Especificamente no caso dos caminhões a ociosidade chegou a 75%. O nível de emprego caiu 76,1% no ano, baixando de um efetivo de 129,6 mil trabalhadores em janeiro para 121,2 mil em dezembro.

Com cerca de 9 mil empregados ainda em regime de PPE, Programa de Proteção ao Emprego, o presidente da Anfavea preferiu na arriscar projeções quanto ao quadro de funcionários do setor este ano. Ao longo de 2016 a redução do número de funcionário foi gradual e constante, sendo que apenas em dezembro foram fechadas 2,1 mil vagas.

Setor fechou o ano com os menores estoques desde 2009

Além do bom desempenho das vendas internas em dezembro, a indústria automotiva brasileira teve outro bom motivo para comemorações após 31 de dezembro: os estoques de veículos estão para lá de ajustados e nunca estiveram tão baixos nos últimos quatro anos.

As redes de revendedores e os pátios das fábricas abrigavam no primeiro dia deste ano 176,2 mil veículos – quase 75% nas concessionárias – , suficientes para 26 dias de comercialização, caso mantido o ritmo diário de dezembro de cerca de 9, 3 mil veículos emplacados. É o menor estoque em dias desde dezembro de 2012 e o menor volume desde o longínquo setembro de 2009, ou seja, há mais de sete anos.

Antonio Megale, presidente da Anfavea, diz que esses números refletem os esforços das montadoras, pressionadas pelas vendas em baixa ao longo dos últimos meses, para reduzir estoques ao longo de 2016 e, obviamente, o bom desempenho de negócios no último bimestre.

Dezembro registrou nada menos do que 204,3 mil veículos emplacados, foi o melhor resultado mensal de 2016 e 14,7% supeiror ao de novembro, dono da segunda melhor marca do ano passado. Vendas mensais acima de 200 mil veículos não aocnteciam desde dezembro de 2015, quando foram licenciados 227,8 mil veículos.

O mercado interno brasileiro de 2016, que na média recuou 20,2% na comparação com o ano anterior, registrou queda em todos os segmentos. Um, em especial, sofreu bem mais: o de veículos pesados.
Enquanto os negócios de automóveis e comerciais leves encolheram 19,8% em doze meses, as vendas de caminhões caíram 29,4%, para 71,7 mil unidades, e as de ônibus somaram somente 11,2 mil, 33,5% a menos do que em 2015.

O segmento que menos caiu foi o de máquinas agrícolas e rodoviárias. Na média, recuaram apenas 4,8%, para 42,8 mil equipamentos. Em dezembro, por exemplo, foram negociadas 4,1 mil máquinas, 84% a mais do que em igual mês do ano passado e 14,8% acima do resultado de novembro.

Os números do segmento poderiam ser até melhores, avalia Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea, caso o primeiuro semestre de 2016 registrasse desempenho mais vigoroso, algo que aconteceu em a partir de junho, quando a média mensal ficou acima de 4 mil equipamentos – bateu em 4,8 mil unidades em setembro e outubro, os dois melhores meses do ano.

Venda de importados despenca 40,2% em 2016

As vendas de veículos importados pelas dezoito marcas associadas da Abeifa, Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, somaram apenas 35,8 mil unidades em 2016, com expressiva queda de 40,2% em relação às 59,9 mil emplacadas em 2015.

“Infelizmente não conseguimos sequer atingir o total de 39 mil unidades projetado em janeiro de 2016”, lamentou José Luiz Gandini, presidente da Abeifa. “É que além da instabilidade politico/econômica do País, estamos contingenciados pela alíquota extraordinária de 30 pontos porcentuais no IPI e limitados à cota com teto máximo de 4.800 unidades/ano sem a sobretaxa.”

Gandini diz que caso permaneça essa política restritiva ao setor de importados, as vendas este ano se limitarão a 25 mil unidades, ou seja, elas ficarão restritas às cotas pré-definidas para as associadas da entidade. As marcas representadas pela Abeifa venderam 3,3 mil veículos importados em dezembro, registrando crescimento de 25,9% em relação a novembro, quando foram comercializadas 2,6 mil unidades.

“Poderíamos até ter obtido um resultado melhor no mês passado se as marcas de volumes mais significativos já não tivessem estourado a cota antes”, comentou Gandini. “Por isso, volto a insistir na necessidade de o governo acabar com os 30 pontos porcentuais a mais de IPI ou ao menos liberar as cotas não utilizadas por algumas marcas em 2016 para as que atingiram seus limites”

Produção local – Balanço específico das associadas da Abeifa que têm produção nacional – BMW, Chery, Land Rover, Mini e Suzuki – indicam a venda de 1 mil 473 veículos em dezembro, 29,4% a mais do que em novembro. No acumulado do ano as cinco marcas emplacaram 12,3 mil unidades.

Ao considerar somente os veículos importados, a participação das associadas da Abeifa no total do mercado interno é de apenas 1,68% no mês de dezembro e de 1,80% no acumulado do ano. Com os totais somados – importados e produção nacional –, a participação das empresas representadas pela Abeifa no mercado interno é de 2,42% tanto no mês de dezembro como no acumulado do ano.

Exportações superaram estimativas da Anfavea

As exportações de veículos no acumulado nos doze meses do ano passado alcançaram 520,2 mil unidades, o volume representa crescimento de 24,7% sobre o mesmo período de 2015, quando foram exportados 417,3 mil veículos. O resultado é três pontos porcentuais acima do que projetou a Anfavea para as remessas de 2016, de alta de 21,5% com 507 mil unidades embarcadas.

Os embarques de dezembro do ano passado também foram os melhores da história para o mês: as 62,9 mil unidades exportadas acusaram altas de 11% sobre novembro e de 36,1% na comparação com dezembro de 2015, quando saíram do País 46,2 mil veículos. O volume do mês passado só superado pelo registrado em agosto de 2013, quando as exportações de veículos somaram 64,1 mil unidades.

Segundo Antonio Megale, presidente da Anfavea, as exportações cresceram de uma maneira geral em diversos mercados da América do Sul e Central, mas especialmente Colômbia e Chile. “A Argentina sem dúvida ainda é nosso principal parceiro comercial, das 520 mil unidades exportadas, 380 mil foram para o país vizinho. Vale lembrar que nos próximos meses, o acordo do Brasil com a Colômbia deverá ser internalizado, o que deve ajudar ainda mais no crescimento dos volumes.”

Todos os segmentos de veículos experimentaram altas nas exportações. No ano passado embarcaram 489 mil automóveis e comerciais leves, crescimento de 25,7% sobre o mesmo período do de 2015. No caso de caminhões as exportações somaram 21,4 mil, volume 2,3% superior ao de 2015. Na mesma base de comparação, a maior alta foi a de ônibus, de 33,2%, com 9,7 mil unidades embarcadas.

Em valores o setor também registrou resultados positivos no âmbito das exportações. A soma de janeiro a dezembro foi de US$ 10,6 bilhões, alta de 1,6% sobre o mesmo período de 2015. Somente de dezembro a indústria faturou US$ 928,8 milhões, valor 13,8% superior ao de dezembro de 2015, quando anotou US$ 816 milhões com as exportações.