As dificuldades de crédito que surgiram nos últimos dois anos decorrentes da intensa desaceleração econômica fizeram com que o consórcio assumisse papel importante na renovação da frota de caminhões. Somado a isto há o hábito crescente, dos transportadores, de planejar a compra, o que favorece a escolha dessa modalidade de pagamento.
De acordo com Paulo Roberto Rossi, presidente-executivo da ABAC, a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios, “em 2016 o segmento de consórcios para veículos pesados também sentiu os impactos da crise, mas esta junção de elementos fez com que o número de participantes ativos não diminuísse na comparação de dezembro de 2016 com o mesmo mês de 2015. Mantivemos a estabilidade com tímido crescimento”.
Em dezembro do ano passado existiam 280,5 mil participantes ativos neste segmento, contra 278 mil em dezembro de 2015. A ABAC registrou retração de 6,8% no volume de novas cotas, percentual, porém, considerado baixo pelo presidente. Foram 51,1 mil novas cotas no acumulado de janeiro a dezembro de 2016 e 54,8 mil no ano anterior.
A perspectiva da ABAC é que em 2017 o desempenho desta modalidade de financiamento seja algo muito parecido com aquele registrado em 2016:
“A redução da taxa Selic para 13%, a inflação controlada e o aumento da confiança do consumidor começam a desenhar um cenário mais positivo”, acredita o presidente da associação. Há, também, a previsão de safra recorde, de mais de 200 milhões de toneladas de grãos, que movimentará novos negócios.
A diretora geral do Consórcio Scania, Suzana Soncin Gazola, também acredita que o cenário econômico mais claro é importante para perspectivas de demanda aquecida.
“No caso do Consórcio Scania temos um trabalho de inovação e fidelização com os nossos clientes que aumenta nossa expectativa de crescimento.”
Suzana espera que em 2017 haja acréscimo de 10% no volume de cotas ativas e 8% em ticket médio no Consórcio Scania: “Em 2016 não tivemos aumento no volume de cotas, mas crescemos no valor do ticket médio, que era de R$ 378 mil em 2015 e passou para R$ 427 mil no ano passado”.
Para ela isto reflete a mudança de perfil do consumidor:
“Antigamente eram muitos transportadores autônomos, mas quando grandes frotistas perceberam que o PSI Finame poderia acabar começaram a analisar o consórcio como ferramenta aliada para a renovação da frota”.
Outro movimento percebido pelo Consórcio Scania é a utilização da carta de crédito para quitar financiamentos.
Além do cenário econômico “as ações para atender sob medida às necessidades dos clientes têm garantido a fidelização e aumento da procura pelo Consórcio Scania”, que completa 35 anos de existência em 2017: “No fim do ano passado começamos a realizar assembleias dentro da fábrica para nos aproximarmos mais do cliente, e isto tem surtido efeito”.
Um outro exemplo de que o consórcio está na mira dos transportadores é o recente anúncio da MAN Latin America sobre o crescimento de 110% em 2016 nas vendas de cotas por meio das suas maiores administradoras de consórcio, a BR Qualy e a Maggi. Foram vendidas 2 mil 178 cotas no período.
Carlos Rocca, gerente de operações comerciais e pedidos especiais de caminhões da MAN, diz que o consórcio deverá seguir em alta nos próximos anos: “É um reflexo do amadurecimento do mercado consumidor, que passou a enxergar no produto uma importante forma de planejamento para ampliação e renovação da frota”.
Com a modalidade em evidência marcas que não ofereciam esta opção de pagamento a prazo estão aderindo à tendência. Este é o caso da Abrafor, a Associação Brasileira dos Distribuidores Ford Caminhões que acaba de assinar contrato com o Consórcio Nacional Unifisa para o lançamento de um novo consórcio de caminhões no País. O Redefor Consórcio de Caminhões terá como objetivo possibilitar às empresas associadas atenderem as necessidades dos clientes e do mercado com um mecanismo dirigido a autônomos e empresários do setor de transporte rodoviário de cargas.
Paulo Matias, presidente da Abrafor, diz que “decidimos criar o consórcio após a análise e a observação do comportamento e das necessidades dos transportadores frente às dificuldades econômicas que o País vivencia”.
De acordo com ele isto cria boas perspectivas de vendas futuras para os distribuidores Ford e o cliente passará a contar com mais alternativas para aquisição de um caminhão.