A safra 2016/2017 é geralmente apontada como estopim da retomada do crescimento na indústria que atende à cadeia produtiva do agronegócio, que fechou o ano passado com faturamento 21% menor com relação ao do ano anterior, com R$ 86 milhões. Mais do que aumentar as vendas de máquinas e equipamentos em 10,7%, como projeta o setor para 2017, a safra deve provocar no mercado um movimento de aquisições e costura de alianças estratégicas.
No campo das alianças estratégicas especialistas apontam o momento atual como favorável para negócios de empresas que atuam na oferta de equipamentos para infraestrutura e fertilizantes. Para Fernando Alves Meira, sócio do Pinheiro Neto Advogados e coordenador da área empresarial do escritório, as empresas que atuam nestes dois segmentos saíram da crise mais capitalizadas pelo fato de seus maiores nomes serem multinacionais e, por isso, hoje observam opções de compra e parceria no mercado com vistas aos próximos anos.
“Ao contrário das empresas que atuam no segmento sucroalcooleiro, bastante atingido pela crise econômica e pelos escândalos na Petrobras, as empresas que produzem máquinas ou qualquer tipo de equipamento buscam investir em oportunidades de expandirem seus portfólios.”
Exemplo recente deste movimento foi a compra de 35% da brasileira Kepler Weber pela AGCO, que possui em seu portfólio tanto marcas de máquinas agrícolas, como Massey Fergusson e Valtra, quanto outras que atuam em segmentos específicos da cadeia, como é o caso da GSI, de silos de estocagem de grãos, área na qual atua a Kepler Weber.
Com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo a Kepler Weber vem tentando se reestabelecer no mercado após registrar, no terceiro semestre de 2016, faturamento de R$ 120,9 milhões, 40% a menos do que o registrado no mesmo período de 2015. A dívida líquida, até setembro do ano passado, estava em R$ 70,4 milhões. A AGCO, por sua vez, tem na América do Sul os seus melhores resultados operacionais, como mostra o balanço do quarto trimestre de 2016: alta nas vendas de 63,6%, US$ 308 bilhões ante US$188,3 bilhões. No acumulado do ano as vendas foram 4,3% maiores quando comparadas às de 2015: US$ 2 bilhões 94 milhões.
França Júnior, consultor especialista em agronegócio, destaca a sinergia das empresas e a estratégia de expansão da AGCO para fora da porteira:
“A Kepler hoje detém 55% do mercado de armazenagem, mas encontra dificuldades para crescer em meio a um ambiente de retomada. A AGCO, por sua vez, enxergou uma oportunidade de sinergia fortalecendo sua participação em armazenagem, diversificando seu portfólio. Assim, pode atender em mais de uma frente em demandas futuras”.
Outro fator que motivou o negócio, segundo o consultor, é o déficit de armazenagem que existe no País, e o negócio junto à AGCO pode fazer a Kepler Weber dispor de mais poder de investimento para expandir sua capacidade. Atualmente o Brasil conta com 17,7 mil armazéns cadastrados na Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, resultando em uma capacidade de 152 milhões de toneladas. Com a projeção da entidade de safra, este ano, de 215,3 milhões de toneladas, 63,3 milhões de toneladas não terão lugar para ser estocadas antes do consumo doméstico ou de ser destinada à exportação.