Fabricantes aceleram produção à espera das águas de março

Mesmo com os indicadores econômicos nada animadores, com o aumento do desemprego e de PIB negativo em 3,6% em 2016, as fabricantes de veículos instaladas aqui aceleraram a produção no primeiro bimestre e chegaram a 375,1 mil unidades. Esse volume representou alta de 28,1% com relação à produção no mesmo período do ano passado, que somou 292,8 mil veículos. Os dados foram divulgados na terça-feira, 7, pela Anfavea. Em fevereiro a produção chegou a 200,4 mil veículos, ante 144,2 mil unidades, elevação de 39%.

Para o presidente Antônio Megale a alta na produção é explicada pelo aumento das exportações (veja reportagem na página 10) e pela expectativa de um mercado melhor a partir de março.

“Historicamente o terceiro mês do ano é melhor em vendas e, por essa razão, as empresas já estão se preparando para atender a essa demanda”.

Com esse volume as fabricantes formaram estoque para 42 dias, que equivale a 205 mil unidades. Em janeiro o giro era de 187,7 mil veículos.

“Esse crescimento na produção é bom, mas ainda está aquém de nossa capacidade. Voltamos aos níveis de 2006. Isso não compensa a ociosidade na indústria, que chegou a 53%. Não estamos vendo uma recuperação forte antes do segundo semestre deste ano. A taxa de desemprego ainda é alta e o medo de perder o emprego faz com que o consumidor não vá às concessionárias. Para o mercado voltar a crescer é preciso que os investimentos em infraestrutura saiam do papel. Esses projetos são importantes para a roda começar a girar novamente. A melhora da economia virá com esses recursos e não com o aumento do consumo.”

Os licenciamentos, segundo os dados da Anfavea, chegaram a 282 mil e 880 unidades no primeiro bimestre, volume 6,4% menor do que o apurado em janeiro e fevereiro de 2016, quando foram vendidos 302,09 mil veículos:

“Tivemos fatores importantes que criaram impacto no desempenho de vendas, principalmente, em fevereiro. Primeiro, o carnaval caiu nos dois últimos dias de fevereiro, que são sempre os melhores dentro de um mês. Além disso tivemos os problemas de segurança no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, que também influenciaram o resultado”.

Segundo Megale a queda em fevereiro, de 7,6%, no comparativo com o mesmo período de 2016, foi maior do que o esperado: “Esperávamos o mesmo volume de fevereiro do ano passado. Se tivéssemos mais dois dias de vendas, que perdemos com o carnaval, poderíamos ter chegado a este número. Mas fatores externos foram preponderantes para essa queda”.

As fabricantes instaladas aqui tiveram, em fevereiro, média diária de vendas de 7 mil 537 veículos, ante 7 mil 727 em fevereiro de 2016.

Outro fator que trava o crescimento dos licenciamentos é o baixo volume de veículo financiados pelos bancos – em fevereiro 51,3% das vendas foram financiadas. O normal considerado pela Anfavea é 60%. Esse porcentual, de acordo com dados da Anfavea, não é alcançado desde fevereiro de 2015. Ou seja: os bancos mantêem-se muito seletivos na concessão do crédito:

“Um dado interessante é que 60% das pessoas que querem comprar um carro, e pedem financiamento, não conseguem. A postura das empresas de financiamento só mudará com a melhora da economia. Mesmo com a queda da Selic esse movimento ainda não voltou”, notou Megale. “Mas mantemos nossas projeções de aumento nas vendas de 4%, e de 11,9% na produção”.

Emprego – Com o mercado em queda e a baixa utilização da capacidade instalada, principalmente nas fabricantes de caminhões, o nível de emprego na indústria automobilística se equipara, hoje, ao que havia em 2008, observou Megale. Em fevereiro eram 121 mil 539 as pessoas empregadas pelo setor. Considerando a folha de pagamento de fevereiro de 2016 a redução observada é de 6,8% no mês passado. Na época as fabricantes empregavam 130 mil 339 funcionários.

“Os ajustes se mantiveram de janeiro para cá. Há 10 mil 350 pessoas em lay off ou participando de programas como o PSE, Programa Seguro Emprego. Isso deve se manter nos próximos meses.”

Caminhões: o pior fevereiro em 23 anos.

O desempenho dos licenciamentos de caminhões, em fevereiro, foi o pior desde 1993, com 2 mil 612 unidades. Na comparação bimestral os resultados também retrocederam, ao mesmo ano, com 5 mil 559 unidades. Os dados são da Anfavea. Na comparação com fevereiro de 2016 a queda foi de 32,2% e, na bimestral, a redução foi de 32,8%.

Mesmo assim a entidade mantém a projeção de crescimento no ano, na ordem de 10%. Alguns indicadores fortalecem esta visão, como a diminuição da taxa de juros, inflação próxima ao centro da meta e a safra recorde de grãos, cuja projeção atualizada é de aproximadamente 220 milhões de toneladas. Para Antônio Megale, presidente da Anfavea, “um crescimento mais robusto para este setor virá se houver mais investimentos em infraestrutura. Isso tornará mais viável as vendas de caminhões”.

Na contramão dos resultados das vendas a produção teve alta de 3,4% no bimestre, com 9 mil 796 unidades e queda mensal de apenas 0,1% na comparação com fevereiro de 2016, com 5 mil 314 caminhões produzidos. Apesar disto a ociosidade na capacidade instalada, de 80%, é considerada “trágica” por Megale.

Com relação ao desempenho do setor por segmento, dados da Anfavea mostram que as vendas de caminhões semileves em fevereiro foram 16,9% menores na comparação com o mesmo mês do ano passado e encolheram 24,1% no bimestre. Nesta mesma ordem, em leves, a redução foi de 38,5% e 39,6%. Em semipesados de 41,4% e 34,1% e, no segmento de pesados, que abocanha a maior parte das vendas, a redução foi de 23,6% e 26,1%.

Ônibus – O setor de ônibus fechou o bimestre com redução, expressiva, de 46,2% nas vendas de chassis, com 932 unidades. Somente em fevereiro a queda foi de 38,9%, com 428 veículos vendidos. Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea, atribui o baixo desempenho à demora na liberação do programa de renovação da frota de transporte público coletivo urbano, o Refrota 17:

“Esta linha possui taxas de juros atrativas e os empresários querem aderir a ele”.

O Refrota 17 foi criado no ano passado com o objetivo de financiar 10 mil ônibus urbanos. Para isto foram destinados R$ 3 bilhões.

Vendas de máquinas agrícolas podem chegar a 4 mil unidades este mês

No primeiro bimestre do ano foram vendidas, no País, 6 mil unidades de máquinas agrícolas, 46,4% a mais do que o registrado no mesmo período de 2016. O desempenho positivo faz o setor acreditar que o desempenho, em março, possa vir a ser maior e chegar a 4 mil unidades. Caso a ideia se transforme em prática o volume vendido, no trimestre, chegará a 10 mil unidades, 20% da projeção do setor para o ano em um período no qual, historicamente, as vendas são menores.

No mês passado o mercado absorveu 3 mil 235 unidades de máquinas agrícolas, o que representou alta de 33,5% com relação ao mesmo período de 2016.

Antônio Megale, presidente da Anfavea, disse que “janeiro e fevereiro são meses em que há, geralmente, quedas nas vendas, com retomada a partir de março. Houve queda em janeiro, mas em fevereiro, mês que possui menos dias úteis, conseguimos números expressivos no setor. Isto mantém as projeções feitas, ainda que devamos esperar os impactos da infraestrutura no escoamento da produção do agronegócio”.

Megale ressaltou que em janeiro e em fevereiro as empresas já venderam cerca de 10% do programado para o ano “e estes são, teoricamente, os meses mais fracos. Mas devemos esperar antes de comemorar, pois é um setor que oscila muito ao longo do ano”.

O setor espera vender, até dezembro, 49,5 mil unidades, volume que supera em 13% o volume realizado em 2016, 43,8 mil unidades. A safra de 220 milhões de toneladas é apontada pela Anfavea como o fator preponderante para o aumento esperado nas vendas este ano.

Para Ana Helena Corrêa de Andrade, vice-presidente da Anfavea e responsável pela área de máquinas agrícolas e rodoviárias, feiras agrícolas e vendas financiadas por linhas de crédito específicas para o setor agrícola manterão o crescimento ao longo de 2017:

“Em dois meses já tivemos duas grandes feiras no setor, e os agricultores estão motivados, estão buscando orçamentos para fazer aquisição de equipamentos. O campo ainda tem muito espaço para mecanização e estamos voltando a um patamar adequado para o País. É relevante observar que este retorno vem acontecendo consistentemente desde julho”.

De julho a dezembro de 2016 as vendas mensais de máquinas alcançaram 4 mil de unidades.

Exportações – Para o mercado externo foram vendidas 740 unidades em fevereiro, movimentando US$ 188 milhões. O volume de exportações no mês passado foi 45,3% maior do que o registrado em fevereiro do ano anterior.

No bimestre as vendas externas somaram 1 mil 217 unidades, alta de 27% no comparativo com o mesmo período de 2016. Em valor o acumulado das exportações de máquinas foi de US$ 331, 53 milhões.

Com as melhoras nas vendas internas e nas exportações no bimestre a produção de máquinas agrícolas chegou a 7 mil 642 unidades, aumento de 62,9% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Já em fevereiro foram fabricadas 4 mil 631 máquinas, crescimento de 52,5% com relação a fevereiro de 2016.

Burocracia e clandestinidade travam crescimento do setor de transporte por fretamento

O transporte rodoviário de passageiros por fretamento enfrenta alguns gargalos para crescer e manter equilíbrio nos negócios das cerca de 8 mil empresas que atuam neste setor. A concorrência com empresas clandestinas e burocracias geradas por regras não padronizadas são as principais queixas dos transportadores, de acordo com a pesquisa inédita realizada pela CNT, Confederação Nacional do Transporte.

O estudo ouviu 363 empresários dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Amazonas. Também foram abordados 86 representantes de empresas que deixaram de atuar no ramo, o que totalizou 449 entrevistados.

Para Bruno Batista, diretor executivo da CNT, “dada a importância deste tipo de transporte, que atende à demanda de um público que precisa se deslocar para regiões que não são abastecidas pela operação regular urbana, a pesquisa foi realizada com o objetivo de apontar os problemas e buscar melhorias”.

Das empresas ouvidas 57,8% disseram que aumentou o número de operadores de transporte clandestino e mais da metade dos entrevistados acredita que isto acontece porque a fiscalização não é eficaz para coibir esta prática. Segundo eles falta policiamento de apoio e os agentes de segurança não estão preparados para conter esta prática.

Outro empecilho para o melhor desenvolvimento da atividade, de acordo com as empresas consultadas, é a falta de padronização de normas e regulamentos. A maioria não está satisfeita com as normas aplicadas. A resolução 4 777/2015 da ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres, por exemplo, que estabelece requisitos para obtenção de autorização para fazer fretamento, é desaprovada por 67% dos operadores interestaduais e internacionais.

Na visão de Batista a simplificação das normas e a fiscalização mais acirrada para eliminar o transporte clandestino favoreceria o desempenho destas empresas: “Vale lembrar que o fretamento contribui consideravelmente para a mobilidade urbana”.

A pesquisa mostrou, também, que a falta de profissionais capacitados no mercado de trabalho é uma dificuldade para 47,1% destas empresas. O elevado custo da mão de obra é destacado por 27,9% como um dificultador.

Perfil do setor – Nos últimos oito anos o número de empresas de fretamento passou de 4,8 mil para mais de 8 mil, o que demonstra aumento de 68,8%, de acordo com a Rais, relação anual de informações sociais do Ministério do Trabalho. Mas, apesar do aumento do volume de empresas, a crise econômica dos dois últimos anos levou à queda da demanda de passageiros. A conclusão surgiu depois de a CNT entrevistar 86 empresários que deixaram de atuar no segmento. Destes 51,2% desistiram do negócio principalmente por causa da redução da demanda. 31,4% também apontaram a baixa remuneração como motivo e 24,4% alegaram o excesso de burocracia.

De acordo com as empresas entrevistadas o bom desempenho econômico é fundamental para os empresários. 91,1% afirmaram que a atual crise teve impacto negativo na atividade e, desses, 79,2% disseram que foi elevado.

O de veículos, um dos segmentos mais ociosos em SP

Mesmo apresentando aumento de 17,1% na produção de veículos em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2016, as fabricantes instaladas no Estado de São Paulo operaram abaixo de sua capacidade produtiva. Aqui, região que abriga a maior quantidade das fábricas no País, 28 no total, o de veículos é o segundo setor industrial que menos utilizou sua capacidade instalada no mês, ficando atrás apenas do segmento de bebidas, segundo o Indicador de Nível de Atividade da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

O indicador da Fiesp aponta que a indústria de veículos do Estado obteve, em janeiro, índice 66,15 de capacidade instalada que vai até 100. Vale comparar: em janeiro de 2013, quando foram produzidas quase 293 mil unidades, o índice obtido foi 86,34. O desempenho foi creditado, pela Fiesp à “crise da economia brasileira que se abateu sobre a indústria automobilística”. Na comparação com janeiro 2016, porém, o índice deste ano apresentou alta de 3,7 pontos porcentuais.

O levantamento feito pela Fiesp no período insere o setor no bloco das indústrias paulistas que mais sentiram os efeitos da retração na economia. Além dele os setores de borracha, produtos químicos, máquinas e equipamentos e produção de metal também foram os que usaram menos sua capacidade instalada.

Antônio Jorge Martins, especialista em gestão de empresas da cadeia automotiva da Fundação Getúlio Vargas, FGV-SP, diz que o cenário é reflexo da queda do número de veículos licenciados no País, que gerou cortes de funcionários e ajustes de produção. Segundo dados da Anfavea as fabricantes de veículos de todo o País terminaram 2016 com 104 mil 412 empregados, 9 mil 924 funcionários a menos do que em 2015.

Apesar disso, no entanto, o especialista acredita que a tendência é a de que não haja mais quedas em 2017 e que a utilização da capacidade instalada aumente ao longo do ano.

“Já ocorreram períodos de queda acentuada no setor, mas nada além dos níveis que vemos hoje. As empresas, para 2017, planejam reajustar aos poucos suas produções para atender a uma branda retomada na demanda por veículos, e isso se reflete nos índices mensais da indústria como um todo.”

Vendas caíram 1,6% em 2016

As empresas fabricantes de pneus venderam no ano passado 70,7 milhões de unidades, o que representou queda de 1,6% diante das 71,9 milhões de unidades comercializadas em 2015. Segundo a Anip, associação que reúne as fabricantes no Brasil, a queda na produção de veículos, que chegou a 2 milhões 170 mil unidades em 2016, foi o motivo principal para esse recuo.

Segundo a Anip no ano passado as vendas para as fabricantes de veículos totalizaram 12,8 milhões de pneus, queda de 9,2% no comparativo com o ano anterior, quando as encomendas chegaram a 14,1 milhões de unidades. O que compensou o declínio expressivo das vendas foram as exportações. As vendas externas de pneus cresceram 7,7%, chegando a 13,1 milhões de unidades ante 12,1 milhões de pneus exportados em 2015.

O maior mercado para a Anip é o de reposição. No ano passado as fabricantes destinaram 44,8 milhões de pneus para as revendas e as lojas independentes, queda de 1,8%. Em 2015 as vendas para a reposição chegaram a 45,6 milhões de unidades.

Já a produção de pneus no País, de acordo com dados da Anip, recuou 1,1% no ano passado, chegando a 67,9 milhões de unidades. Em 2015 foram produzidos, aqui, 68,6 milhões de pneus. Segundo comunicado da Anip a queda foi reflexo das vendas menores também para o mercado de reposição e para as fabricantes de veículos.

Por mercado as vendas de pneus para motos foram as que mais caíram no ano passado. Os dados da Anip mostram que em 2016 as fabricantes comercializaram 13 milhões 458 mil unidades, e que no ano anterior o volume foi de cerca de 15 milhões de pneus. A queda neste mercado foi de 10,7%.

As vendas de pneus de carga, no ano passado, alcançaram 7 milhões 223 mil unidades, volume estável no comparativo com 2015. Já as vendas destinados para o segmento de veículos de passeio caíram 1,6%, passando de 38 milhões 930 mil para 38 milhões 314 mil pneus.

Nasce a segunda força da Europa

O Grupo PSA concluiu as negociações com a General Motors para adquirir os controles da Opel e da Vauxhall e da GM Financial Europe. O valor total da operação foi de € 2,2 bilhões. O BNP Paribas será o parceiro e oresponsável pelo braço financeiro. PSA e BNP pagaram € 900 milhões pela financeira em divisão de 50% das cotas para cada. Já o Grupo PSA será o detentor das operações automotivas da empresa estadunidense na Europa. Só a aquisião da Opel/Vauxhall ficou em € 1,3 bilhão.

Com a compra da Opel/Vauxhall, que alcançou faturamento de € 17,7 bilhões em 2016, o Grupo PSA passará a ser a segunda maior fabricante europeia, atrás da Volkswagen. Considerando somente o mercado europeu a PSA terá 17% de market share, com a adição de coisa de 1 milhão de unidades ao seu volume de 2 milhões de veículos na região.

“Estamos orgulhosos de unir forças com a Opel/Vauxhall”, disse Carlos Tavares, presidente do conselho de administração da PSA. “E profundamente empenhados em continuar a desenvolver a empresa e a acelerar seu crescimento.”

A conclusão da aquisição deverá ser aprovada pelos envolvidos nessa operação até o fim do ano. A partir daí a PSA passa a ter o controle de 28 fábricas na Europa – atualmente são dezessete as unidades administradas pelo grupo. Com o controle dessas empresas o Grupo PSA entrará para o clube das dez maiores fabricantes globais – saltará da décima-primeira posição para a nona.

A transação permitirá economias de escala substanciais e sinergias em compras, manufatura e pesquisa e desenvolvimento. Está prevista economia de anual de € 1,7 bilhão até 2026, da qual uma parte significativa deverá ser entregue até 2020, acelerando o crescimento da operação na Europa. Pelo comunicado das fabricantes a estimativa é que a margem operacional de 2% seja alcançada até 2020, e 6% até 2026 pela Opel/Vauxhall, e assim gerar fluxo de caixa operacional positivo até 2020.

Para a GM o negócio é mais um passo importante na estratégia de redirecionar os esforços nas operações mais rentáveis da companhia. Em comunicado Mary T. Barra, presidente e CEO da GM, disse que “estamos reformulando a empresa e oferecendo resultados consistentes e recordes para nossos acionistas por meio da alocação de capital para os investimentos de maior retorno em nosso negócio automotivo central e em novas tecnologias, que nos permitem liderar o futuro da mobilidade”.

Carlos Tavares reafirmou que a PSA respeitará toda a história da Opel/Vauxhall e que a gestão da nova companhia será feita considerando sua cultura: “Tendo já criado produtos em conjunto para o mercado europeu, sabemos que a Opel/Vauxhall é o parceiro certo. Vemos isso como uma extensão natural do nosso relacionamento e estamos ansiosos para levá-lo para o próximo nível”.

GM Europa e PSA já mantêm parceria no desenvolvimento de motores e novas tecnologias.

Agronegócio tem segunda grande feira do ano

Depois do resultado positivo do Show Rural Coopavel, primeira grande exposição do agronegócio realizada neste ano no Brasil, o setor se volta para a Expodireto, que começa segunda-feira, 6, e vai até o dia 10, na cidade gaúcha de Não-Me-Toque. Após as dificuldades que marcaram a edição de 2015, em razão da ausência das grandes montadoras, a feira de Cascavel, PR, movimentou em torno de R$ 2 bilhões no período de 6 a 10 de fevereiro. Segundo a organização, o evento recebeu perto de 253,1 mil visitantes, que tiveram contato com produtos e serviços expostos por 520 marcas. “As expectativas foram superadas”, resumiu Dilvo Grolli, presidente da Coopavel.

A 18ª Expodireto Cotrijal terá a participação de 530 expositores que ocuparão 84 hectares do parque de exposições. Com o slogan Negócios que inspiram o amanhã, a feira espera atrair 250 mil pessoas, dentre elas representantes de mais de 70 países dos cinco continentes. O número, se consolidado, será 20% superior ao registrado em 2016. “Temos a expectativa de uma feira voltada à inovação e propostas para a evolução do trabalho no campo. Neste ano, concluímos rapidamente a comercialização dos espaços e há empresas esperando uma oportunidade para as próximas edições”, disse Nei César Mânica, presidente da Cotrijal.

No ano passado, os negócios somaram perto de R$ 1,6 bilhão, volume 28% inferior ao evento de 2015. Para este ano, a expectativa é de crescer 15%, totalizando perto de R$ 1,8 bilhão em máquinas e equipamentos. “A partir do segundo semestre de 2016, o setor voltou a melhorar sensivelmente. E iniciamos o ano muito bem. Outra boa notícia é que o setor de máquinas parou de desempregar e, mesmo que timidamente, voltou a empregar”.

De acordo com Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul, o otimismo do setor está amparado em um conjunto de fatores. Define o ano como o de recuperação. “Podemos chegar a 220 milhões de toneladas de grãos nesta safra. Os preços das commodities também estão bons e temos a promessa de que não faltará dinheiro para os financiamentos do Moderfrota. O quadro político mais estável também influencia, pois o produtor se sente mais seguro para investir e aumentar a produtividade”.

Confiança – O sentimento de confiança das lideranças do setor do agronegócio se estende aos principais fabricantes de máquinas e equipamentos, que anunciam série de lançamentos na Expodireto. Edson Martins, diretor comercial da Agrale, revela perspectiva de crescimento no volume de vendas nesta edição. “Em função do clima e do preço das commodities agrícolas, temos boas expectativas. Temos ainda como base o bom desempenho das vendas no evento no ano passado e a alta do mercado neste início de 2017”.

A montadora com sede em Caxias do Sul, RS, apresentará vasto portfólio de produtos desenvolvidos para agricultura, com destaque para os tratores da linha 500. O trator 540 cabinado, com 40 cv de potência, é o único modelo no mercado nesta categoria com cabine original de fábrica. Outro destaque é a transmissão, totalmente sincronizada e com inversor de marchas de série. Também estará exposto o novo caminhão da marca, o modelo A8700, além de motores, grupos geradores e empilhadeiras da marca Lintec.

Uma das novidades da Case IH será a nova plantadeira Easy Riser 3200 e os novos modelos de tratores e colheitadeiras homologados pelo Proconve-MAR 1 – regra que estabelece limites de emissões para os motores de novos equipamentos agrícolas e de construção. “Mesmo com a retração da economia brasileira, a Case IH não parou de investir em seu portfólio. E com os sinais positivos para 2017 preparou uma série de novidades e lançamentos”, disse César Di Luca, diretor comercial da empresa para o Brasil.

A New Holland mostrará como uma das novidades a nova versão da linha de colheitadeiras TC. Ela chega mais potente com o novo motor eletrônico MAR-1/Tier 3, alinhado com a legislação sobre emissão de gases poluentes. A montadora assegura que a TC tem aumento de até 22% na potência, com redução no consumo de combustível. “Vamos mostrar o que temos de mais moderno e inovador, pois estamos otimistas com o desempenho no evento e com a retomada da economia do Brasil”, afirmou Rafael Miotto, vice-presidente da fabricante para a América Latina.

Carros híbridos e elétricos serão realidade até 2025 no Brasil, aponta KPMG

Uma pesquisa global realizada pela consultoria KPMG com executivos brasileiros da indústria automotiva mostrou que, apesar de o País ainda estar aquém no desenvolvimento de veículos com novas matrizes energéticas em comparação com outras nações, 69% dos pesquisados acreditam que os carros híbridos, em 2025, já estarão mais inseridos no mercado brasileiro. Quanto ao veículo autônomo, 73% dos executivos afirmaram que veremos nas ruas pelo País carros com essa tecnologia nos próximos oito anos.

Para Ricardo Bacellar, diretor da KPMG, os brasileiros estão abertos às inovações tecnológicas e transformações no modelo de negócio nos próximos anos: “isso é facilmente percebido ao analisar o grande número de respostas positivas frente a temas como conectividade e digitalização e criação de valor por meio do big data”.

O levantamento mostrou que a visão dos brasileiros é diferente dos quase 1 mil executivos pesquisados em 42 países onde apenas 37% acreditam que os automóveis autônomos é uma tendência a ser consolidada e 50% consideram os veículos movidos a bateria como tendência número um.

Por enquanto a produção de veículos elétricos híbridos ou a bateria ainda são realidade distante para a produção em escala e consumo de massa por ser uma tecnologia cara e que exige mudanças na infraestrutura. De acordo com dados da ABVE, associação Brasileira do Veículo Elétrico, em 2016 foram vendidos 1 mil 91 automóveis elétricos e híbridos no País.

Luiz Carlos Mello, diretor do CEA, Centro de Estudos Automotivos, diz: “para que híbridos e elétricos tornem-se realidade para consumo em massa será necessário resolver questões como o custo de produção destes veículos que reflete no preço final do consumidor”.

No que diz respeito ao veículo autônomo, o consultor acredita que esta mudança impacta também na cultura dos brasileiros e também de motoristas de outros países. “O condutor vai precisar se desligar do ato de dirigir e de ter o controle físico do veículo. Para isto terá que sentir confiança.”

Para Ricardo Takahira, da comissão técnica de veículos elétricos e híbridos da SAE Brasil, esta visão de futuro dos executivos está baseada no fato de que a implantação desta matriz energética é um caminho sem volta e lá fora já está se consolidando devido às exigências de regulamentos de eficiência energética e emissões. “O grande desafio do Brasil será como baratear os custos para produzir estes veículos a um preço mais acessível.”

De acordo com ele, será preciso também políticas governamentais e industriais eficientes para que híbridos e elétricos se tornem uma realidade “A nova fase do Inovar –Auto poderá ser um estímulo para a viabilização de projetos.”

Mais um porão no fundo do poço?

É até difícil de acreditar. Mas os resultados das vendas de veículos em fevereiro mostram que, mais uma vez, tal como aconteceu no começo do ano passado, o fundo do poço do setor automotivo, que todos imaginavam já ter sido alcançado no ano passado, pode ter mais um porão escondido embaixo dele.

Em fevereiro, conforme os dados divulgados quarta-feira pela Fenabrave, os 135,6 mil veículos comercializados representaram queda de 7,59% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 7,84% em comparação com janeiro. Foi o menor volume mensal desde abril de 2006.

A queda em relação a janeiro era previsível em razão do menor número de dias uteis em fevereiro. No entanto, a redução em comparação ao segundo mês do ano passado surpreendeu já que, em 2016, o carnaval também aconteceu em fevereiro, o que praticamente equiparou o numero de dias de vendas.

Forma-se, assim, no cenário algo preocupante: depois de dois anos seguidos com quedas pronunciadas de vendas que cortaram o volume comercializado pelo setor praticamente pela metade, este ano começa com nova queda nas vendas. E deixa a mostra, assim, a efetiva possiblidade de existência de um novo porão escondido abaixo daquele piso que todos tinham, em dezembro, como sendo o fundo do poço.

Afinal, tanto em janeiro quanto em fevereiro as vendas ficaram abaixo das realizadas no mesmo período do ano passado. Em termos concretos, o primeiro bimestre deste ano fechou com 282,8 mil unidades comercializadas, 6,36% menos do que o registrado nos dois primeiros meses de 2016.

Trata-se de forte indicativo que a relativa melhora do quadro econômico – inflação no rumo do centro da meta, reduções seguidas na taxa Selic, perspectiva de uma safra recorde e liberação para retirada imediata de parte do dinheiro retido no FGTS – não está conseguindo convencer muitos dos consumidores em potencial de automóveis, caminhões e ônibus de que precisam comprar agora um veículo novo.

Vale lembrar que o mercado automotivo tem uma característica que o torna diferente de todos os demais bens de consumo: quem compra um veículo zero quilometro na grande maioria das vezes já é proprietário de um usado com poucos anos de uso cujo valor vai ser utilizado como parte do pagamento.

Na prática, assim, caso resolva adiar a compra do veículo novo, o máximo de penalidade que recairá sobre este consumidor será a de ter de rodar mais algum tempo com seu usado o que, hoje em dia, com a gradativa melhora da qualidade dos produtos, não chega a representar grandes problemas.

Além disso, em razão do preço elevado, a compra de um veículo zero quilômetro na maior parte das vezes envolve uma operação de financiamento de 36 meses, no caso dos automóveis, ou pelo menos o dobro disso, em se tratando de caminhões ou ônibus. E só se dispõe a assumir um financiamento deste tipo quem tiver um mínimo de certeza de que terá receita durante todo o período para arcar com as parcelas.

Ou seja, ao menor sinal de dúvida, é normal e natural que os consumidores, por mais que desejem um veículo novo, adiem o fechamento do negócio. E não é preciso muito mais do que isso para fazer com que o setor automotivo desemboque em resultados negativos como os que foram registrados em janeiro e fevereiro.

A compra não precisa nem ser cancelada. Basta ser adiada. E todos têm hoje bons e concretos motivos para adiar a compra: são mais de 12 milhões de desempregados, extrema seletividade dos bancos e juros elevados.

Em se tratando de automóveis, por sinal, esta questão do desemprego acentuado é particularmente importante. Quase todos os consumidores em potencial têm, hoje, na família ou no círculo de amigos, uma ou mais pessoas desempregadas. Não é hora, portanto, para ostentações. E, convenhamos, o que pode ser mais ostentativo do que chegar de carro novo na festa de aniversário do sobrinho? Melhor evitar.

No caso das empresas não é muito diferente. Não são poucas as que estão, hoje, cortando pessoal ou negociando redução de jornada e de salários. Não se trata, portanto, de um bom momento para renovar a frota de carros dos gerentes e diretores ou, no caso das transportadoras, de atualizar a geração dos caminhões ou ônibus.

A tudo isso se soma, ainda, com especial destaque, o conturbado quadro político federal que não permite que se consiga projetar, com um mínimo de certeza, como estará a cada nova semana o equilíbrio de forças.

Como sem isso não há como se projetar, também, os rumos da economia, empresários e empregados tendem a se proteger. O que, no nosso caso, significa, como foi dito, no mínimo adiar a compra de veículos novos.

Delfin Neto, o eterno ministro do Planejamento, da Fazenda e da Agricultura, economista com trânsito entre gregos e troianos, costuma dizer, com boa dose da sua conhecida ironia, que o problema de Brasília está no lago Paranoá, do qual emanaria um gás que, quando respirado, impediria os habitantes da cidade de conseguir enxergar a realidade na qual o País esta mergulhado, por mais dura e difícil que ela seja. “Só quando se sai da cidade é que se recupera a capacidade de ver o que acontece, de fato, no mundo real”, diz ele.

Que tal, então, cobrir o lago Paranoá? Pode ser um bom começo.