A joint-venture formada por Qualcomm, a taiwanesa ASE e o BNDES comercializará, em 2018, seus chips no País. A estratégia é realizar uma espécie de teste do produto no mercado local e aproximá-lo de potenciais clientes, principalmente sistemistas e montadoras, antes que a fábrica anunciada fique pronta.
Enquanto buscam terreno para iniciar a prtodução brasileira na região de Campinas, empreendimento que custará US$ 200 milhões, as empresas articulam o negócio para acelerar a importação e a operação comercial de semicondutores no País. Até ano que vem a ASE ficará responsável por trazer de Taiwan os semicondutores encapsulados, enquanto que a Qualcomm fará a arquitetura do chip, ou seja, a inserção das aplicações para as quais ele é destinado na indústria. Uma delas, por exemplo, é permitir a conectividade em veículos.
Para Marcos Lacerda, vice-presidente de vendas da Qualcomm para América Latina, a empresa visualiza oportunidades de negócios com as montadoras que atuam aqui, ainda que a conectividade não esteja em todos os modelos produzidos no Brasil.
“Nos Estados Unidos atendemos a General Motors por meio de sistemistas que fornecem módulos e sistemas que permitem a conexão dos carros. No Brasil esperamos ter essa mesma proximidade com a indústria para desenvolver o mercado.”
O processo de encapsulamento, quando são construídos os circuitos elétricos dentro de uma pequena placa de silício, é feito no País apenas por duas empresas, que há anos chamam a atenção do governo federal no sentido de nacionalizar este tipo de tecnologia. A esperança é a de que, uma vez produzidos aqui em larga escala, os produtos eletrônicos cheguem mais baratos ao consumidor e o País diminua a dependência da sua importação.
A joint-venture chega ao Brasil em um momento em que a indústria global discute o desenvolvimento e a massificação dos veículos conectados e autônomos. Assim como a Qualcomm outras empresas de tecnologia formam parcerias no setor automotivo em busca de novas oportunidades de negócios.
A Intel, gigante dos microprocessadores, anunciou na terça-feira, 4, o maior negócio já realizado no mercado de tecnologia para veículos autônomos: a compra da Mobileye, especialista em sistemas que tornam veículos autônomos, por US$ 15,3 bilhões. No Salão de Genebra deste ano, por exemplo, as fabricantes de veículos apresentaram ao mercado modelos cuja principal característica é a conectividade, como o novo Volvo XC60.
Hoje, no País, atuam na fabricação de semicondutores a Unitec, em Minas Gerais, a Smart Technologies, em São Paulo, e a HT Micron, no Rio Grande do Sul. Esta última, inaugurada em 2014, foi a primeira tentativa público-privada de investimento na produção nacional de semicondutores. Ela também é uma joint-venture que conta com a participação de capital asiático e incentivo governamental, cujo controle é feito pela sul-coreana Hana Micron e pela Parit Participações, do Finep, que é uma empresa pública de fomento à inovação. À época investiram US$ 200 milhões em uma fábrica em São Leopoldo, na região do Vale dos Sinos.
Parceira da Qualcomm no Brasil a ASE foi fundada em 1984 e atende principalmente ao mercado asiático de semicondutores. Em 2016 obteve receita líquida de US$ 8,8 bilhões, queda de 2,9% com relação à de 2015, e está listada na bolsa de valores de Nova York. São 65 mil funcionários espalhados por países como China, Coreia do Sul, Japão, Malásia, Cingapura e Estados Unidos. Não possui escritórios na América Latina.