Como forma de reduzir custos e aumentar a sinergia com a operação da Neobus, recentemente incorporada ao grupo, a Marcopolo desativará sua unidade Planalto, em Caxias do Sul, RS, que completa 60 anos em 2017. A confirmação foi dada por Francisco Gomes Neto, CEO da fabricante de carrocerias de ônibus, na terça-feira, 9, durante teleconferência para apresentação dos seus resultados no primeiro trimestre do ano para analistas de mercado.
Gomes Neto disse que, após a integralização plena da Neobus à Marcopolo, a empresa ficou com três fábricas em Caxias do Sul, situação que será alterada com a concentração de atividades em duas: “Ainda não temos os números finais desta mudança, mas seu impacto será grande na redução dos custos fixos. Estamos em fase avançada dos estudos”.
A unidade Planalto concentra a produção de micro-ônibus e dos modelos Volare. Embora Gomes Neto não tenha dito como e quando se dará a desativação da operação, informações oficiais indicam que a montagem dos veículos Volare será feita em uma linha na fábrica da Neobus. A área estaria desocupada e em condições de receber a produção hoje concentrada na unidade Planalto. Fundada em 1957 a fábrica da Volare tem 38 mil m² de área construída sobre terreno de 48 mil m² e emprega em torno de 1 mil colaboradores, que deverão ser mantidos no grupo.
Com a integração total da Neobus à Marcopolo a diretoria se debruça agora em estratégias para definir ações de mercado. Gomes Neto anunciou que haverá mexida na situação das marcas no mercado, visando a reduzir a sobreposição de produtos. Assim a Marcopolo terá conceito premium, enquanto a Neobus atuará em mercado mais popular, sem que os ônibus percam qualidade, enfatizou o CEO. Além disso haverá forte trabalho em torno de sinergias nas áreas administrativa e de produção.
Pedidos em carteira – Gomes Neto também anunciou que a empresa está com carteira de pedidos que assegura produção pelos próximos noventa dias na unidade de Ana Rech, a maioria de modelos rodoviários e boa parte para clientes no Exterior. Este segmento tende a continuar em alta em razão da vigência, a partir do segundo semestre, de nova lei de acessibilidade, que exige incorporação de elevador para cadeirantes em todos os novos veículos rodoviários. Também contribui para o momento, segundo o CEO, a necessidade de recompor a frota, pois os volumes comercializados nos anos anteriores foram muito baixos: “Estamos animados com a venda de rodoviários, que será superior aos volumes de 2016”.
Com relação aos urbanos o executivo disse que há dificuldades maiores em razão das indefinições nos reajustes das tarifas do transporte coletivo urbano. Ele lembrou que algumas cidades concederam aumentos, enquanto outras, como o Rio de Janeiro, RJ, mercado importante para a companhia, estão postergando a decisão.
Gomes Neto acredita que o Refrota, programa anunciado pelo governo federal para o financiamento de ônibus, pode ajudar.
Quadro sofre nova baixa e preços são reajustados
Mesmo com aumento de produção e vendas no primeiro trimestre sobre igual período do ano passado a Marcopolo manteve medidas de contenção de custos, que incluiu o afastamento de trezentas pessoas, a maioria mão de obra indireta, o que resultou em impacto total de R$ 28 milhões no período. De acordo com José Antonio Valiatti, CFO e diretor de relações com investidores, o ajuste foi feito para adequar o quadro ao mercado atual, seguindo estratégia adotada nos últimos três anos. O CEO Francisco Gomes Neto definiu que, embora os resultados tenham sido melhores, o trimestre foi ainda difícil. Ele acredita que os dois próximos períodos deverão ter situação mais favorável.
Valiatti também confirmou que a Marcopolo adotou política para recuperação dos preços e está conseguindo resultados, mas aquém dos esperados. Segundo ele as margens seguem apertadas, em especial nos urbanos. Mesmo com aumento de 29,5% na receita líquida, para R$ 554,6 milhões, o lucro líquido cedeu 63,6%, para R$ 3,2 milhões, com margem de 0,6%. No primeiro trimestre de 2016, a margem foi de 2,1%.
Receita externa eleva participação
O mercado externo foi, mais uma vez, o responsável pelo cenário mais favorável nos números da Marcopolo. Das 2 mil 10 unidades vendidas, 1 mil 195 foram para clientes no Exterior e 815 ficaram no Brasil. A partir do Brasil foram exportados 579 ônibus, alta de 104,6%. As operações em outros países entregaram 615 unidades, crescimento de 113,9%. Destaque para a fábrica do México, com evolução de 246%, resultado do novo acordo firmado, no ano passado, com a sócia Mercedes-Benz, que permite o encarroçamento de outras marcas de chassis. Também contribuiu a variação da moeda mexicana. O CEO Francisco Gomes Neto, no entanto, estima recuo nos próximos meses, mas tem convicção de resultado positivo no ano.
Ele tem visão semelhante para as operações localizadas na África do Sul, Argentina, Austrália, China e Índia. Para a Colômbia a projeção é de estabilidade e, no caso do Egito, reafirmou o desejo da empresa de reduzir sua participação como sócia.
Da receita líquida total o mercado interno participou com R$ 149,8 milhões, queda de 22,2%. As exportações somaram R$ 203,8 milhões, alta de 107%. As unidades da África, Austrália, China e México totalizaram R$ 201 milhões – a do México participou com 50% deste total, aumento de 263%.
No mercado interno, sem incluir os modelos Volare, a Marcopolo elevou sua participação para 46,8%, com destaque para os modelos rodoviários e micro-ônibus, que tiveram elevações de 16 e 35 pontos porcentuais, respectivamente. Pelos dados da Anfir, Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, a produção total foi de 2 mil 434 unidades, das quais 1 mil 68 seguiram para o Exterior.