Brasil atinge 1 milhão de recalls em 2017

Desde janeiro as fabricantes do País convocaram 1 milhão 70 mil 626 automóveis para recall por meio de 63 campanhas, segundo dados do Procon-SP. O problema mais recorrente foi o defeito no airbag, ocorrência que atingiu 618 mil 391 unidades no período. Sistema de combustível, elétrico, de cinto de segurança e de tração fecham o grupo dos cinco principais motivos para convocação de veículos para os reparos.

Segundo Marcelo Alves, professor do CEA-USP, o Centro de Engenharia Automotiva da Universidade de São Paulo, a situação ainda é fruto da produção defeituosa Takata, empresa que protagonizou o escândalo conhecido como “airbags mortais”, que veio a público em 2013. Como a empresa fornece para diversas marcas, os airbags defeituosos causaram o maior recall da história, com mais de 30 milhões de veículos envolvidos no mundo todo e quase três milhões no Brasil.

Recentemente, a Takata fez um acordo com a Justiça dos Estados Unidos, assumindo a culpa pelo problema e aceitando pagar multa de US$ 1 bilhão. Alves diz que cerca de dois milhões de veículos ainda circulam no País sem ter passado pelos reparos convocados pelas fabricantes, e que a situação, além de perigosa, pode levar a indenizações em casos de acidentes: “Menos da metade dos veículos afetados compareceu ao recall. As fabricantes precisam intensificar as campanhas. Caso contrário, haverá um efeito em cascata de ações à medida que vão surgindo sinistros por causa da avaria”.

No Brasil, a Toyota é a empresa com maior número de veículos com defeito no airbag. Ao todo 562 mil 968 proprietários foram convocados para reparo no sistema. A Honda vem na sequência, com 34 mil 530 unidades. Mitsubishi, com 7 mil 826 unidades, Renault, com 3 mil 820 unidades, e BMW, com 3 mil 594 unidades, fecham o grupo das cinco empresas com maior número de carros convocados por recall de airbag.

A fabricante BMW convocou na terça-feira, 30, o sétimo recall do ano por problemas que refletem no sistema de segurança. Não há ligação com a Takata. Foram verificados defeitos no revestimento do painel dianteiro nos modelos X1 sDrive18i, X1 sDrive20i GP, X1 sDrive20i X Line e X1 xDrive25i Sport, fabricados de 2 de setembro de 2016 a 13 de março de 2017. Por meio de comunicado, a empresa informou que o airbag é acondicionado no painel dianteiro e o revestimento defeituoso pode impedir a completa abertura do dispositivo. O mau funcionamento pode levar a ocorrência de danos físicos e materiais aos ocupantes do veículo e a terceiros.

Freios – A Ford também convocou na terça-feira os proprietários dos modelos Troller T4 2015 e 2016, produzidos de 26 de maio de 2014 a 27 de maio de 2016, para recall da tubulação do freio dianteiro do lado direito. Por meio de comunicado, a empresa disse que “foi detectado que, na hipótese de falha do alternador, poderá ocorrer o funcionamento irregular do motor e, em casos extremos, o seu desligamento inesperado, comprometendo as condições de dirigibilidade do veículo e aumentando o risco de colisão, com consequentes danos físicos e materiais ao condutor, passageiros e terceiros”.

A empresa informou a possibilidade de interferência na tubulação do freio dianteiro do lado direito e a abraçadeira de fixação da mangueira do intercooler do motor, o que pode resultar no desgaste da tubulação e vazamento de fluido de freio. “Nestas condições, pode haver perda da capacidade de frenagem do veículo, aumentando o risco de acidentes com possíveis danos físicos aos ocupantes do veículo e a terceiros”, informa o comunicado.

BNDES aprova R$ 4,4 bi para veículos comerciais no quadrimestre

O BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, aprovou R$ 6,7 bilhões para a Finame, linha de financiamento de bens de capital, de janeiro a abril. Esse valor representa aumento de 38% com relação ao mesmo período do ano passado.

Desse total, as aprovações para a compra de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas somaram R$ 4,4 bilhões no quadrimestre. A aprovação é a última etapa antes do desembolso dos recursos.

Segundo dados do BNDES, apenas em abril foram aprovados R$ 2,1 bilhões em crédito – 50% a mais do que no mesmo mês de 2016. Dos setores atendidos pela Finame, o maior destaque foi a Indústria da Transformação, que totalizou R$1,4 bilhão em empréstimos aprovados nos quatro meses deste ano. O valor é quase três vezes maior que os R$ 468,8 milhões concedidos no mesmo período do ano passado.

João Morais, economista da Tendências Consultoria, disse que o aumento no volume de financiamento aprovado pelo BNDES pode indicar indício da retomada do mercado: “Estamos começando a enxergar um esgotamento da trajetória de queda e esperamos que o segundo semestre seja positivo. A demanda interna pode se estabilizar, mas ainda é fraca. Por enquanto, não podemos alimentar o otimismo porque a queda foi muito acentuada”.

O segundo semestre costuma apresentar um cenário mais positivo. Morais diz, no entanto, ser necessário levar em conta as indefinições provocadas pela mais recente crise política, o que deve afetar o setor de veículos pesados: “Acredito que o crescimento agregado do ano irá se sustentar, principalmente para caminhões. Nossa projeção é de um aumento de 9% de emplacamentos para o ano, o que pode ser revisado para baixo com a nova crise política”.

De acordo com dados da Anfavea, os emplacamentos de caminhões de janeiro a abril foram de 13 mil 134 unidades, queda de 24,1%. Já os licenciamentos de ônibus chegaram a 2 mil 576, recuo de 29,2%.

Desembolsos – A maior parcela dos desembolsos do primeiro quadrimestre foi para a infraestrutura, que respondeu por 37% do total com R$ 7,9 bilhões liberados. O segmento de veículos pesados é favorecido quando há investimentos em obras de infraestrutura.

Morais afirma que as concessões das linhas de crédito do BNDES devem crescer de modo geral, mas levará alguns anos para alcançar os patamares anteriores. Até as funções do BNDES podem mudar por causa da crise política. Recentemente, o banco foi alvo da Operação Bullish da Polícia Federal que investiga aportes feitos pelo BNDESPar na JBS, o que culminou com a troca da presidente.

“Acredito que o BNDES se tornará um banco mais seletivo na oferta de crédito. Seu papel foi deturpado na década passada ao priorizar grandes empresas, os chamados campeões nacionais. Neste momento, o BNDES não tem dinheiro para ceder linhas de crédito e essa lacuna será gradualmente ocupada pelos bancos privados, disputando o consumidor com taxas mais competitivas”, disse.

Presidente da GM diz que crise política não afetou recuperação do mercado

Mesmo diante de mais uma turbulência política no Brasil, a General Motors não alterou sua programação de produção para este ano. Carlos Zarlenga, presidente GM Mercosul, disse, durante o Seminário AutoData Tendências de Negócios, na quarta-feira, 31, que o movimento nas concessionárias continua no mesmo ritmo que antes da “quarta-feira fatídica”. Ele se referiu ao dia 17 de maio, quando foram divulgadas gravações que envolviam o Presidente da República em escândalos de corrupção.

Zarlenga continua otimista com o crescimento do mercado: “Em maio, o aumento nas vendas deve ser de 24%. Até o dia 30 foram comercializados 184 veículos, e a expectativa é de licenciamentos de algo como 195 mil unidades. Se excluirmos a venda direta, aquela realizada pelas fabricantes, os negócios nas concessionárias estão estáveis. Ainda não foram contaminados pela crise política”.

Para ele, os indicadores econômicos sustentam essa estimativa de crescimento de 5% a 10% este ano: “A confiança do consumidor está crescendo há nove meses. Estamos quase aos níveis de 2013, antes da queda do mercado”. A expectativa da empresa é de um mercado no Brasil de 2,2 milhões de veículos vendidos.

O executivo ressaltou, no entanto, que o calendário de reformas precisa ser mantido para essa confiança se converter em compras. Para Zarlenga, a medida provisória do teto dos gastos, as reformas trabalhista e da previdência, são fundamentais para a recuperação econômica do País:

“Fizemos uma pesquisa para identificarmos qual a demanda reprimida no Brasil. Grande parte dos consumidores entrevistados disse que a decisão de compra foi adiada para 2018, mas 15% disseram que pretendem adquirir um carro neste ano. Somente isso, nos dá um crescimento interessante em 2017”. Pelo levantamento da GM a demanda reprimida no mercado brasileiro é de 2,5 milhões a três milhões de veículos levando-se em consideração os últimos três anos.

GM Mercosul – Zarlenga trabalha desde o início do ano na reorganização dos negócios da GM para o Mercosul, agrupando as operações do Brasil e da Argentina. Com isso, a empresa conseguiu ganhar em competitividade e produtividade:

“A produção nos países são complementares. Antes, com operações em separado, o negócio era artificial. O presidente da empresa em cada país trabalhava para levar projetos para sua operação, mesmo sabendo que a produção nos locais era complementar. A GM perdia velocidade na decisão de negócios”.

Agora, segundo ele, é preciso ver Brasil e Argentina como mercado único. E este mercado é de cerca de três milhões de unidades por ano: “Crescendo o que estimamos para este ano no Brasil, chegaremos a vendas de 4,5 milhões de veículos. Isso representa o terceiro maior mercado mundial. Há uma oportunidade enorme de crescimento por aqui”.

O que trava esse crescimento conjunto, de acordo com o executivo, são as decisões de cada governo. Para ele, as políticas industriais de cada país devem levar em conta o mercado do Brasil e da Argentina para assim ganhar competitividade nas exportações: “Temos que melhorar a eficiência na região. Com uma política única, os investimentos das empresas serão feitos para os dois países e não só para uma operação”.

Argentina define setores para atrair autopeças

A Argentina, o principal parceiro comercial do Brasil na América Latina, busca oportunidades para nacionalizar a produção de autopeças com forma de diminuir o custo dos veículos produzidos em seu território. Por meio da sua nova política industrial, que tem como principal meta elevar a produção de 700 mil unidades por ano para 1 milhão de veículos em 2023, o governo dará vantagens fiscais à itens considerados estratégicos como rodas, cintos de segurança, turbos, peças estampadas e fundidas.

Segundo Gonzalo Dalmasso, da consultoria argentina Abeceb, especializada no mercado automotivo, estes componentes representam a oportunidade do país retomar a competitividade perdida nesses setores por razões políticas ao longo dos últimos anos. Além disso, há uma demanda reprimida por estas partes, sendo que algumas delas não possuem um competidor local que possa abastecer as grandes sistemistas instaladas lá: “Por não haver produção local, as fabricantes acabam importando os componentes e isso eleva o preço do veículo nacional. O que o governo pretende é diminuir o custo dos veículos nacionais para que não sejam canibalizados pelos importados”.

Segundo apresentação do consultor durante o Seminário AutoData Tendências de Negócios, essa nova política trará maior competitividade ao mercado, em função da abertura do mercado argentino aos veículos importados. No entanto, diferentemente do que ocorreu com o InovarAuto, a política industrial argentina não vai sobretaxar o veículo estrangeiro em benefício do que possuir maior conteúdo nacional, mas utilizar a isenção como forma de balancear um mercado onde os importados são livres de impostos: “Não há favorecimento de um grupo específico, como o setor automotivo, mas incentivo de produção em um país onde não há mais fábricas”.

O cenário proposto pela nova política industrial argentina pode pavimentar o caminho para empresas brasileiras se instalarem lá. Segundo avaliação da Abeceb, há potencial de aumentar a participação de conteúdo local para os segmentos de rodas, peças estampadas ou fundidas, e componentes como baterias, faróis e vidros. Outros segmentos que também são considerados inexplorados pela indústria local, e que possui um maior valor agregado, são sistemas eletrônicos de bordo, controles eletrônicos e turbocompressores.

Por outro lado, há setores na Argentina onde a presença de peças produzidas localmente pode ter menos oporuntidades. É o caso de componentes para powertrain e eixos. “A indústria Argentina perdeu competitividade por não ter conseguido acompanhar a evolução tecnológica da produção. Cenários políticos anteriores fecharam estas empresas e, agora, o governo quer estimular a retomada desta produção”.

Carlos Zarlenga, presidente da General Motors do Brasil, disse na primeira apresentação deste Seminário AutoData que a nova política argentina possui equívocos que podem diminuir a competitividade nos dois países. O executivo, que é argentino, disse que ambos os lados devem criar políticas complementares. Na prática, ele sugeriu que a produção brasileira esteja concentrada em uma linha de componentes diferentes aos da Argentina:

“A grande oportunidade não é concentrar os projetos em nacionalização. Isto limita a visão de negócio. A cadeia deve pensar em investir de forma a atender aos interesses da região como um bloco. E, como está sendo conduzido o tema nos dois países, percebemos dois competidores buscando o protagonismo, quando poderiam ser parceiros.”

A política industrial automotiva, também chamado de “Plan 1 Millión”, integra o plano nacional de produção que envolve todos os setores, o qual prevê investimentos de US$ 320 milhões para pequenas e médias empresas. A primeira meta da cadeia automotiva é viabilizar a produção nacional de 750 mil unidades de veículos em 2019, chegando a 1 milhão em 2023, prazo para a criação de mais 30 mil postos de trabalho. Outra meta é exportar ao menos um terço da produção para o mercado fora do Mercosul.

Aethra espera concluir internacionalização até 2020

Depois de investir R$ 40 milhões no desenvolvimento de uma nova tecnologia de estampagem a quente, a Aethra vai expandir os horizontes até 2020. Osias Galantine, diretor comercial da empresa, disse durante o Seminário AutoData Tendências de Negócios, que a prospecção de novos negócios para a Europa e nos Estados Unidos já começou, e o aumento da capacidade de produção nesses locais acontecerá nos próximos três anos.

Segundo ele, nos Estados Unidos a demanda por utilização do processo de estampagem a quente dobrará no curto prazo: “Patenteamos o processo há três meses e agora começou as apresentações a potenciais clientes. No Brasil já fechamos contrato com duas montadoras para estampar as partes de novas plataformas que entrarão no mercado do segundo semestre de 2018, início de 2019”.

Galantine ressaltou que hoje já há uma linha na fábrica de Betim, MG, dedicada ao novo processo. “Com esses novos contratos, vamos abrir outra linha na unidade de Pouso Alegre, MG. A capacidade de produção será de cinco mil estampagens por dia em cada fábrica”. Para essa expansão, a Aethra já tem recursos garantidos. O executivo, no entanto, preferiu não informar os valores a serem investidos.

Para a expansão internacional, o executivo disse que a companhia ainda está estudando os investimentos: “Não vamos licenciar o processo. Isso já está claro. A Aethra fará os aportes necessários para iniciarmos nossa estratégia de internacionalização”.

Redução de custos – O processo desenvolvido pela Aethra entrega redução de 15% a 20% com relação aos custos da estampagem a quente tradicional: “Uma das vantagens é que não há necessidade de instalar um forno para o processo. É uma linha mais automatizada e isso aumenta a produtividade. Na verdade massificamos a estampagem a quente. Trata-se de uma vantagem, principalmente para as fabricantes instaladas no Brasil”.

Segundo Galantine, o novo processo deve aumentar em quatro vezes com a busca pela redução de peso e mais segurança dos veículos no Brasil: “Com a estampagem a quente pode-se usar materiais mais resistentes, que é uma demanda das novas legislações automotivas, principalmente no quesito segurança. A demanda por aqui é crescente”.

Inovação: saída para o setor reverter a crise no Brasil.

Após quatro anos de queda, o mercado automotivo esboça uma estabilização em 2017, com uma recuperação gradual. As vendas de veículos devem apresentar crescimento de 0,4% enquanto que a produção deve aumentar 12% neste ano. Em meio a este cenário de incertezas políticas e econômicas, três fatores têm movimentado o setor automotivo. De acordo com Fernando Trujillo, diretor da IHS Brasil, são: a mudança no perfil do consumidor, o aumento da competitividade nas montadoras e a nova legislação.

Trujillo, disse, durante o Seminário AutoData Tendências de Negócios, que as fabricantes já estão atentas ás mudanças do cliente, que já está mais exigente com itens de tecnologia e conforto. Segundo ele, os novos consumidores são formados pela Geração Z, que reúne pessoas de até dezenove anos e corresponde a 20% da população brasileira. Essa geração tem forte familiaridade com conectividade e consciência ambiental. Mais de um terço deles acredita que o maior problema é o alto custo de manter um automóvel.

“As fabricantes estão começando a se preocupar com mobilidade e não focar apenas na produção de veículos. A General Motors, por exemplo, está testando um modelo de carro compartilhado na sua fábrica em São Caetano do Sul.”

Outro ponto destacado por Trujillo é a competitividade no mercado brasileiro. As montadoras asiáticas como Toyota, Honda e Hyundai, apostam em lançamentos como os modelos SUV, cuja procura tem aumentado. Já as tradicionais Fiat, GM e Volkswagen só irão lançar os modelos SUV em seu portfolio em 2019.

Essa estratégia das asiáticas fez com que as suas fábricas trabalhassem com um nível de ocupação adequado para o mercado atual. Já as fabricantes tradicionais estão trabalhando com altas taxas de ociosidade. A taxa de ociosidade da unidade da Fiat em Betim, MG, por exemplo, é de 60% enquanto que a taxa nas fábricas das montadoras asiáticas é de 30%. Para tentar reverter esse quadro, a Fiat lançou na quarta-feira, dia 31, o modelo Fiat Argo.

A renovação da frota também tem mexido com o mercado. Segundo Trujillo, na nova política industrial do setor, o Rota 2030, o governo brasileiro deve aumentar os índices de eficiência energética dos veículos produzidos aqui: “O Inovar-Auto, a política atual, já prevê veículos mais eficientes. No Rota 2030 e deverá conter novas ações, além daquelas ligadas à eficiência energética”.

Demanda do setor automotivo movimenta cadeia de TI

A tecnologia vem ganhando espaço no setor automotivo não apenas no fornecimento de sistemas para veículos, mas também nos processos de fabricação. Utilizando modelos inovadores, empresas vêm reduzindo o tempo de produção e as perdas decorrentes dela. E os resultados têm criado um movimento de renovação nas linhas de montagem, fato que tem atraído, por outro lado, a atenção das companhias de TI.

Michael Ketterer, diretor industrial da fabricante de motores MWM, disse no Seminário AutoData Tendências de Negócios, na quarta-feira, 31, que de 2013 para cá houve grande evolução nos processos de montagem: “Novas práticas que adotamos, como a manufatura Lean, surtiram efeito no desenho da nossa mais nova linha em conjunto com tecnologias aplicadas”.

O executivo afirmou que atualmente a linha de produção da MWM possui 350 tipos diferentes de configurações de um motor: “Seria impossível imaginar este tipo de manufatura anos atrás, mas o nível tecnológico exigido pelos clientes fez com que este salto de inovação fosse trazido para nossa fábrica, em São Paulo. Hoje produzimos mais com apenas uma fábrica, e com menos funcionários”.

Este nível de customização aplicado na linha da MWM é um dos pilares da chamada Indústria 4.0. Carlos Wagner, presidente da empresa de tecnologia Sintel, disse que as demandas do cliente final hoje estão moldando os processos produtivos nos países onde a nova indústria já é uma realidade ou está em estágio avançado: “A tecnologia da informação ganhou um novo papel dentro da indústria. Ela é a ponte entre o que o mercado demanda e a produção”.

Daniel Coppini, diretor da Siemens, contou que na Europa empresas de diversos setores têm apostado na comunicação inversa, ou seja, quando o consumidor requer um produto de acordo com suas preferências e a empresa deve ajustar sua produção para atendê-lo. Para criar este cenário, muitas recorreram à indústria de tecnologia em busca de ferramentas que permitam a digitalização de seus processos.

A própria Siemens passou por uma mudança estrutural por causa deste novo rumo que o setor automotivo se direciona. Se antes 40% de seu faturamento vinha da produção de equipamentos de telecomunicações, Coppini diz que a balança dos negócios da companhia hoje pende mais para serviços voltados à área digital: “Hoje os terminais representam uma parcela muito pequena dos nossos negócios, que está mais voltado aos serviços dentro de empresas que estão modernizando suas fábricas”.

Usados caem na graça do consumidor

Tecnologia e conforto são itens essenciais para o consumidor antes de fechar negócio. Por causa da crise econômica, o cliente está preferindo comprar um carro usado ao invés de um novo, pelo mesmo preço. Em 2016, foram vendidos 2 milhões de automóveis novos e 10 milhões de usados, o que corresponde, em média, um novo para cinco usados. Só no primeiro trimestre, essa relação aumentou de um para seis.

Rogério de Freitas Monteiro, diretor geral da Consultoria IPSOS, disse, durante o Seminário AutoData Tendências de Negócios, na quarta-feira, 31, que os usados ganharam ainda mais força em 2016 com as oportunidades de pós-venda: “O consumidor está preferindo o usado até porque o prazo de garantia aumentou para cinco anos”.

Carros mais conectados e mais contáveis também são considerados na decisão de compra de veículos novos. Por causa disso, conforme ele, as fabricantes estão deixando de investir nos carros populares sem opcionais para apostar em automóveis do segmento premium. Prova disso é o Argo, lançado pela Fiat nesta quarta-feira, 31, e o Polo, que será lançado pela Volkswagen no segundo semestre: “O consumidor está mais exigente, preferindo veículos que já tenham opcionais e tecnologia. Algumas montadoras demoraram para perceber isso e estão investindo neste segmento”.

Segundo ele, o brasileiro é bastante receptivo às inovações tecnológicas. Em uma pesquisa realizada pela IPSOS, 69% estão dispostos a comprar um veículo elétrico. E 52% demonstraram interesse em condução autônoma.

Vale lembrar que o brasileiro também é um dos mais presentes nas redes sociais. Em razão disso, algumas fabricantes têm investido no relacionamento digital com o cliente. “A tecnologia encurtou a distância com o consumidor. A fidelidade à marca vem diminuindo e hoje o consumidor busca atenção, rapidez e bom atendimento”.

Mercado crescente – Para ele, a venda de veículos no País é influenciada pelo índice de compra do consumidor: “Vivemos uma recuperação pequena, mas consistente. Nossa estimativa é que as vendas voltem a ultrapassar três milhões de unidades em 2021”.

O Brasil ainda tem bastante espaço para o crescimento do setor automotivo. Enquanto que nos Estados Unidos, o índice de motorização é de dois habitantes para um veículo, por aqui a taxa é de cinco habitantes para um veículo.

Desemprego chega a 14 milhões de pessoas até abril

O desemprego ficou em 13,6% da população economicamente ativa do País no período de fevereiro a abril, com o número de pessoas à procura de trabalho chegando a catorze milhões. Essa foi a maior taxa de desocupação e o maior contingente de pessoas sem emprego para um trimestre desde o início da série, em 2012. Os dados fazem parte da PNAD Contínua, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE.

De novembro do ano passado a janeiro de 2017, a taxa era de 12,6%, com 12,9 milhões de desempregados. Já no trimestre de fevereiro a abril de 2016, quando o índice foi de 11,2%, eram 11,4 milhões de pessoas sem trabalho. Este é o 29º período consecutivo de aumento da taxa.

A boa notícia é o aumento do emprego formal na indústria, de 1,8% com relação ao trimestre que findou em janeiro. Agora são 11,5 milhões de trabalhadores registrado em carteira no setor industrial.

Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, disse que: “esse aumento tem especial importância quando se observa que a indústria estava há dois anos registrando perdas seguidas no seu contingente, totalizando, desde 2015, cerca de 1,8 milhão de empregados a menos”.

Ocupação – A população ocupada, que representa os trabalhadores com carteira assinada, os prestadores de serviços e aqueles que estão na informalidade, foi de 89,2 milhões de pessoas no trimestre terminado em abril, queda de 1,5% na comparação com o trimestre fevereiro a abril de 2016. Isto representa 1,4 milhão a menos de pessoas trabalhando.

O número de empregados com carteira assinada, de 33,3 milhões, também caiu nas duas comparações: queda de 1,7%, ou 572 mil pessoas a menos, ante o trimestre novembro-janeiro e recuo de 2,6%, ou 1,2 milhão de empregados, na comparação com o trimestre fevereiro-abril de 2016. Esse é o menor contingente de trabalhadores de carteira assinada desde o início da pesquisa, em 2012.

O quanto a FCA espera do Fiat Argo?

O novo Fiat Argo, sucessor do Punto, já chega às concessionárias com a tarefa de recolocar os negócios da FCA, Fiat Chrysler Automobiles, no Brasil no patamar que a empresa, digamos, percebe que é o seu: no topo. É mais uma oportunidade de colocar à prova a reconhecida capacidade, maestria Fiat de produzir e vender, com sucesso, carros compactos.

O lançamento foi realizado com festa para quase novecentos concessionários, personalidades e jornalistas na noite da terça-feira, 30, nos salões do Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. E prosseguiu, com trabalho, durante a quarta-feira, 31: apresentação técnica e dois roteiros de test-drive.

O Argo, que dispõe de três versões e de sete ofertas quando se mesclam motorização e transmissões diferentes – motores 1.0, 1.3 e 1.8 e câmbios manual, automatizado e automático – pretende ter, em projeção quase modesta, pelo menos 6 mil felizes compradores por mês. E já estaria começando a cumprir sua carreira projetada de fazer a FCA vir a ser a líder no segmento de veículos hatches compactos, com a ajuda de 3,5 mil Uno, mais 3,5 mil Mobi e de 2 mil Palio. No fim do mês somariam pelo menos 15 mil unidades.

Os designers da FCA, como Arthur Fassbender, dizem que o Argo é “a evolução do design Latino América com inspiração italiana”. Traz, sim, soluções bonitas mas não me aprazam hatches que não se mostrem mergulhando no asfalto. Em outras palavras: considero muito conservadora a sua linha de cintura, alta e paralela ao solo. Para me animar, contudo, existe o interior, a cabine, toda elegante, confortável – são 2 mil 806 litros de área, com porta-malas de 300 litros –, com direito a central multimídia de 7 polegadas com touchscreen, Uconnect, compatível com Apple CarPlay e Android Auto.

Fassbender falou em emoções e surpresas, e em classicismo dinâmico para enfrentar os rivais Chevrolet Onix e Hyundai HB20, considerados seus adversários diretos. Deve ser o resultado de se colocar estilo, tecnologia, conforto, desempenho, esportividade e segurança no cadinho da inventividade: de lá sairia o Argo, de acordo com o comunicado da FCA – seria “uma experiência premium dentro da categoria”.

O carro tem, assim, toda aquela sopa de letrinhas vinculada à segurança: ESC, de controle eletrônico de estabilidade, TC, de controle de tração, hill holder, para partida em rampas. Dispõe de airbags laterais dianteiros, câmara de ré e sensores de estacionamento. O sistema Start&Stop é de série, e as versões não dotadas de câmbio manual, de cinco velocidades, têm paddle shafts, e portas são destravadas e a ignição é acionada por telecomando.

O câmbio automático tem seis marchas e o automatizado, GSR, de cinco marchas, equipa uma versão Drive do Argo dotada de motor 1.3.

E qualidade é o único item que o presidente Stefan Ketter não discute com sua equipe da FCA: tem que ser de primeiro mundo, à prova de tolerâncias.

Versões, preços – Por enquanto a família Argo é composta pelas versões Drive 1.0, 1.3 e 1.3 GSR, sempre com motores Firefly, sendo que o 1.0 é o de três cilindros e 77 cv e o 1.3 de 109 cv, Precision 1.8 e Precision 1.8 AT6 e HGT 1.8 e HGT 1.8 AT6, sendo que os 1.8 são os motores E.torQ Evo VIS, que desenvolvem 139 cv.

Seus preços respectivos são R$ 46,8 mil, R$ 53,9 mil, R$ 58,9 mil, R$ 61,8 mil, R$ 67,8 mil, R$ 64,6 mil e R$ 70,6 mil.

Ketter foca etanol

Imaginemos que hoje seja 1º de abril e nos déssemos ao luxo de liberdades poéticas. Eu escreveria assim: “Em entrevista durante o lançamento de novo hatch compacto, o Fiat Argo, o presidente da FCA, Stefan Ketter, declarou-se adepto do bolivarianismo. Disse, também, que não apoia eleições nem diretas nem indiretas mas, sim, a manutenção do atual governo”. Sorriam e sintam-se aliviados. Ketter, na verdade, deu cores vivas ao que considera “oportunidade única” que tem o Brasil de ser o país líder da América Latina e disse esperar que a estabilidade, política e econômica, do País seja alcançada muito rapidamente.

A liderança ocorreria em função das mudanças geopolíticas que ocorrem na região e na disposição – para ele absoluta necessidade – interna por reformas estruturais a partir da agenda em curso.

Ele destacou, particularmente, o programa Rota 2030, aquele que pretende organizar o setor automotivo nos próximos anos e dar, às empresas, algum quinhão de previsibilidade.

“Tem sido um trabalho muito complexo, e uma verdadeira vitória, pois os CEOs das companhias fabricantes instaladas no País pela primeira vez na história se envolveram pessoalmente no processo. Para concluírem, por exemplo, que o etanol, a parte sustentável de nossa matriz energética, é uma incrível vantagem competitiva. Ou seja: a agenda etanol tem extrema importância para a integração nacional.”

É claro que, nesse caso, Stefan Ketter está de olho na notável evolução potencial dos veículos elétricos e híbridos por aqui e em toda a região.

Também com referência ao Rota 2030 ele recordou o índice de nacionalização do próprio motivo da festa, o Argo – cerca de 93% –, para enfatizar o trabalho dos CEOs com referência à absoluta necessidade de atenção à rede de indústrias fornecedoras, para quem, acredita, “é importante enviarmos uma mensagem de escala de produção”.

Ketter confirmou o investimento, “relevante”, de R$ 1,5 bilhão no projeto do novo carro e na reforma das bases fabris em Betim, MG, onde é produzido.