Os desafios globais para resolver os enormes problemas da mobilidade em um cenário de 6 bilhões de pessoas vivendo em cidades em 2050 não são poucos. E também não há uma única resposta que possa conduzir os trabalhos que já começaram, pelo menos na Bosch, a gigante sistemista alemã, que pretende oferecer soluções em todas as áreas: da eletrificação aos veículos autônomos, do transporte individual aos veículos comerciais. A visão do futuro, ou melhor, os produtos e serviços que conduzirão a companhia nos próximos anos, foram apresentados no pequeno vilarejo de Bad Mergenthein, Alemanha, em convenção que reuniu profissionais de dezessete países durante três dias até a sexta-feira, 7.
Os números que sustentam as ações estratégicas da Bosch são igualmente grandiosos diante do tamanho dos desafios. A empresa destina anualmente 9,5% do seu faturamento para pesquisa e desenvolvimento de produtos, serviços e novas tecnologias. Algo em torno de € 7 bilhões.
Boa parte dos esforços está concentrado nas soluções para resolver ou amenizar o caos urbano que se avizinha – ou já é realidade em muitos pontos do planeta. Como disse Rolf Bulander, chairman da unidade de mobilidade da Robert Bosch:
“As grandes metrópoles estão sofrendo com congestionamento, poluição e falta de estacionamento. Assim, no longo prazo, nossas prioridades são evitar, coordenar e melhorar o fluxo do tráfego”.
A ideia central é proporcionar uma variedade de soluções para qualquer pessoa se deslocar do ponto A para o ponto B. Vamos, a cada dia, dirigir menos nossos veículos, segundo a Bosch. E, se isso for realmente necessário, que seja feito da forma mais limpa e eficiente possível. Além disso uma prioridade é procurar evitar ao máximo o estresse que essa operação, a de dirigir, pode causar nas pessoas.
Veículos conectados, autônomos, elétricos, seja um caminhão ou uma scooter, todos eles utilizarão os produtos e serviços que a Bosch vem pesquisando e desenvolvendo: “O tráfego aumentará três vezes em 2050. Por isso estamos repensando a mobilidade neste momento”.
Algumas ações já estão literalmente nas ruas. Como as 1,6 mil scooters elétricas disponíveis em sistema de compartilhamento em Paris, França, e em Berlin, aqui na Alemanha. Mas este é um projeto de proporção insignificante comparado com o potencial desses veículos no mercado asiático. A Bosch calcula que são vendidos, somente na China, 200 milhões de veículos de duas rodas por ano. Isso sem contabilizar o que acontece na Índia, outro país superpopuloso e que utiliza muito motos e quetais. Bulander acredita que “o segmento de scooters elétricas pode crescer 100% por vários anos”.
Apesar do hábito consumista recentemente adquirido principalmente pelos chineses, a Bosch espera que o compartilhamento de veículos, no caso as scooters elétricas, possa ter um futuro promissor por lá.
Aliás, o mercado asiático parece ter grande importância nos negócios da Bosch. Alguns investimentos serão direcionados para a região, bem como produtos e serviços específicos, além de um projeto de cidade inteligente que está sendo desenvolvido a partir de Tianjin, China.
Segurança – A tecnologia autônoma é outro campo em que a Bosch está mergulhada de cabeça. São diversas soluções que podem ser aplicadas individualmente, mas que combinadas prometem reduzir drasticamente o grande número de acidentes: “São 1,2 milhão de acidentes fatais por ano no mundo. Nove em dez acidentes são causados por falha humana. Nossas pesquisas em acidentes mostram que podemos reduzir significativamente esses números preocupantes”.
Durante o evento, no campo de provas da Bosch, algum resultado dessa preocupação foi demonstrado em um Tesla Model S com tecnologia autônoma composta por diversos sensores, câmeras e sistemas inteligentes avançados. Rodando na pista com alguns obstáculos a Bosch demonstrou como essa tecnologia poderá, de fato, tomar todas as decisões em qualquer situação no tráfego urbano ou nas estradas.
“A capacidade de interpretar as situações no trânsito vão requerer uma grande capacidade de processamento”, observou Bulander. “Estamos avançando rápido nessa área para, em breve, termos um carro inteligente nas ruas.”
Mas os desafios nessa área são enormes. Por isso o “em breve” a que Rolf Bulander se refere, não será tão breve assim. A Bosch trabalha em parceria com a Mercedes-Benz para lançar um carro autônomo com essa tecnologia em 2022.