Um dos objetivos da ousada visão da Bosch para resolver muitos dos problemas da mobilidade é tornar o tráfego mais inteligente e, portanto, fluído. Em um cenário de caos urbano já presente na vida de milhões de pessoas todos os dias – e que tende a piorar com as projeções de que 70% da população passará a viver em cidades em 2050 –, as tecnologias autônomas surgem como grandes aliadas à eficiência.
A Bosch trabalha no desenvolvimento de diversas iniciativas que contribuirão para reduzir o trânsito no futuro por meio da tecnologia embarcada. Do projeto Vision X, que aponta o futuro dos veículos comerciais em alguns anos à cabine HMI, do inglês Human Machine Interface, que demonstra como será a interação das pessoas nos automóveis. Quase tudo será autônomo, conectado e, nas soluções mais avançadas, utilizará inteligência artificial.
Mas antes de tudo isso ficar disponível para os consumidores alguns desafios devem ser superados. Um deles é a capacidade de processamento do gigantesco volume de informações necessário para todas as tecnologias atuarem de forma eficiente. E o outro é a segurança dos sistemas eletrônicos contra ataques que podem sequestrar remotamente um veículo.
Dirk Hoheisel, do board da Bosch, disse, durante a conferência sobre mobilidade que a sistemista promoveu em sua pista de testes em Boxberg, Alemanha, que a segurança é um dos grandes desafios da tecnologia autônoma e até há pouco tempo os sistemas automotivos não eram construídos com essa preocupação: “Essa não era uma especialidade da indústria automotiva. Por isso estamos adquirindo empresas que dominam esse conhecimento e vão contribuir para tornar os veículos autônomos totalmente seguros para seus usuários”.
Em teoria hoje é possível um hacker quebrar a segurança dos sistemas automotivos e assumir o controle de um automóvel. Alguns fabricantes já realizaram testes comprovando a vulnerabilidade dos sistemas eletrônicos e conectados.
Para a Bosch, as novas tecnologias que estão chegando aos veículos deverão ter um nível de segurança semelhante ao dos bancos, o setor mais avançado nesse particular: “Temos a confiança que a próxima geração da tecnologia autônoma terá um nível alto de segurança. Mesmo assim hoje é difícil dizer que não será inviolável”.
Como anda – Durante o evento um Tesla Model S estava equipado com a tecnologia Bosch que transforma o veículo em um autônomo nível 4 – capaz de identificar obstáculos em movimento e agir para evitar acidentes.
De acordo com a empresa foram 1,4 mil horas de trabalho para incluir 50 novos componentes da Bosch no veículo como sensores ultrassônicos, câmeras estéreo e uma série de sensores de média e longa distância, conectados em 1,3 mil metros de cabos e 400 braçadeiras.
Para começar a utilizar o veículo o sistema tem que validar a retina e o rosto do motorista cadastrado. Esse sistema monitora o tempo todo o comportamento do motorista e em caso de falta de atenção à estrada por um longo período ele estaciona o veículo, solicitando que a pessoa à frente do volante fique atenta pois, a qualquer momento, pode ser requisitada a tomar os comandos.
Na pista uma moto se aproxima em alta velocidade e o sistema calcula com antecedência uma possível colisão de rota. É emitido um alerta e depois o veículo freia, esperando a moto cruzar o seu caminho. Curvas são moleza para serem vencidas pela tecnologia. Mas o volante girando sozinho realmente ainda é uma novidade que assusta os ocupantes. Será que vai dar conta de fazer a manobra?
Mesmo em um ambiente controlado e com todo o mapeamento feito com antecedência pelos sensores e radares, a tecnologia autônoma desarma em certo momento. Tudo bem, o motorista atento assume o controle e pode, logo em seguida, apertar os dois botões no próprio volante para transferir a condução novamente à nova tecnologia.
Hoheisel esclarece que os carros autônomos precisam de treinamento: “São três elementos-chave: conhecimento profundo do ambiente em que transita – cidade, estrada, presença e comportamento dos pedestres ou dos caminhões, por exemplo. Mapas completos, com detalhamento de pontos de perigo, buracos, velocidade permitida, tudo isso em alta definição. E os diversos sensores que equipam esse veículo para que a condução autônoma seja eficiente”.
A Bosch investe € 300 milhões em inteligência artificial este ano. O objetivo desse aporte é aumentar rapidamente a capacidade de processamento de informações dos autônomos. “A nova tecnologia tem captar e interpretar todas as informações ao seu redor. Porque o maior problema é o comportamento dos outros no trânsito. Os sistemas autônomos precisam de experiência para poder agir com eficiência.”
Dados alarmantes evidenciam o enorme benefício que a condução autônoma poderá trazer para a segurança e, principalmente, fluidez do tráfego:
– A condução autônoma pode representar uma economia de tempo de 95 horas a cada ano a partir de 2025
– A condução autônoma melhora o fluxo de tráfego, permitindo que até 80% mais veículos atravessem um cruzamento controlado por semáforo
– A condução autônoma poderia economizar 400 mil toneladas de CO2 por ano na Alemanha, China e nos Estados Unidos em 2025