Itaú vê tendência a gastos e a consumo de veículos

Taxa de juros em queda e inflação controlada, fatores que marcam o panorama econômico deste ano, formam cenário favorável ao mercado de crédito, gerando uma tendência de desembolsos em 2018 e, por consequência, reflexo nas vendas de veículos. Segundo Fernando Machado Gonçalves, economista do Banco Itaú, expositor durante o segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018, o desempenho da economia em 2017 apenas correspondeu às expectativas da indústria.

“Ficou configurado, no País, ao longo deste ano, um cenário favorável para o mercado de crédito, o qual deve crescer em 2018. No entanto, para que se criem reflexos importantes na indústria automotiva, são necessárias as aprovações das reformas. O ano que vem não será melhor, sob esse aspecto, por ser um ano eleitoral.”

A perspectiva do economista é a de que a reforma trabalhista, considerada a mais urgente para que o País volte a apresentar crescimento em diversos setores, tenha o processo de aprovação finalizado em 2019. Só a partir daí será possível afirmar, de forma assertiva, como a indústria se comportará no longo prazo: “Quem quer que seja o presidente, eleito no ano que vem, deverá lidar com a reforma trabalhista para que as empresas possam ter mais previsibilidade em seus negócios”.

Ainda que Gonçalves considere que 2018 será marcado pelas eleições e como elas refletirão nos negócios torna-se uma incógnita, ele acredita que o período será marcado por cortes maiores da taxa Selic: “Hoje temos um corte de 6,5% da taxa. Os juros mais baixos que tivemos no Brasil foi 7,25%. É provável que pelo menos essa barreira seja quebrada já em 2018, o que será benéfico para a retomada dos investimentos”.

 

Foto: Maurício de Paiva

Serviços aumentarão sua fatia na receita das empresas

A indústria automotiva deve se preparar para obter receitas a partir de serviços, por meio da tecnologia, afora os ganhos oriundos dos volumes de vendas. Esta é a visão da consultoria KPMG com relação ao futuro do setor para os próximos anos, apresentada no segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018.

Ricardo Bacellar, diretor do setor automotivo da consultoria, disse que há várias formas de se obter receitas que não estão sendo aproveitadas pela indústria atualmente, e que praticar modelos de negócios baseados no mundo digital, hoje, mais do que explorar alternativas de receita é se preparar para uma realidade que está cada vez mais próxima e que definirá os protagonistas de uma nova indústria no longo prazo.

“Quem ganha dinheiro com o desenvolvimento de sistemas de infotainment hoje em dia? Muito se fala em conectividade, mas quais são as empresas que, realmente, observaram oportunidades de negócio nessa área que passa por franco crescimento.”

Sua indagação referiu-se aos serviços que oferecem navegação, conteúdo de mídia e muitas outras funções nas telas de LCD que estão cada vez mais populares em veículos de diversas categorias, até as de entrada.

Bacellar afirmou que o ponto de ruptura, para o setor automotivo, está no fato de que veículos são integradores de serviços digitais. A razão disso, ele apontou, está na mudança pela qual passou o perfil dos clientes de veículos, muito mais integrados à tecnologia. Pesquisa global da KPMG feita em 2016 apontou que o uso massivo da internet vai da compra de automóveis à maneira como o indivíduo se locomove dentro do espaço urbano.

“O potencial de receitas com serviços no setor automotivo é enorme. O crescimento no mundo todo poderá ser de 204% nos próximos cinco anos, de US$ 45,2 bilhões para US$ 137 bilhões, com o aumento da conectividade e de possibilidades de entretenimento nos projetos dos veículos. Fechamos contrato que envolve projeto de cibersegurança com uma fabricante que atua no Brasil, um trabalho que durará de quatro a cinco anos. É um começo, mas a indústria precisa prestar mais atenção a essas possibilidades.”

Bacellar disse que a tecnologia está redefinindo o desenho da indústria de forma global, que corre contra o tempo para tornar veículos cada vez mais digitais e conectados. Para o Brasil esse movimento deverá chegar em breve: “Já vemos, no Exterior, empresas formando alianças com outras que, historicamente, atuavam fora do setor automotivo. Aqui algo já acontece com relação às universidades, que participam de alguns projetos. É um começo”.

 

Foto: Maurício de Paiva

Cadeia de fornecedores preocupa sistemistas

O papel do governo é tema recorrente quando se discute o universo das autopeças brasileiras. O setor foi um dos que mais sofreu com a queda dos volumes provocada pela desaceleração do mercado de veículos. Sistemistas e toda a cadeia de fornecimento reclamam da falta de políticas públicas para a modernizar o segmento. Nem o Rota 2030, programa que definirá as regras do jogo para os próximos anos, vislumbra uma solução para os problemas enfrentados pelas empresas. Na esfera fiscal, defendem que o estado crie programa de refinanciamento de dívidas específico para o setor para que as empresas possam ganhar fôlego e, assim, manter a produção.

A queda nas vendas no mercado de automóveis e no de veículos pesados provocou mudanças importantes na estrutura das empresas de autopeças. Grosso modo, as que não sufocaram em débitos e fecharam as portas precisaram iniciar um processo de redução de capacidade produtiva. Se o estado mantiver o setor fora da pauta, executivos acreditam que haverá poucas mudanças no cenário em 2018.

Besaliel Botelho, presidente da Bosch do Brasil, disse na terça-feira, 10, durante o Congresso AutoData Perspectivas 2018, em São Paulo, que faltam interlocutores em Brasília para as questões ligadas à sobrevivência das autopeças: “Foram três anos difíceis, mas antes a cadeia já estava totalmente abandonada pelas políticas de financiamento para resolver dividas”.

Botelho, que também ocupa cargo no Sindipeças, revelou que foram feitas propostas ao governo para facilitar a vida da cadeia. Sem sucesso. Ainda que o sindicato tenha feito parte dos grupos que discutiram a nova política industrial, o Rota 2030, o executivo acredita que o programa constitui mais uma vontade das empresas do que anseios do País, uma vez que setores ligados ao setor político, como os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia, não foram ouvidos para a construção de um marco para o setor automotivo.

“O Inovar-Auto não tinha foco na cadeia, mas nas montadoras. Pensamos que o programa traria localização e volume, mas o que houve foi uma ruptura do mercado. Por isso encaramos a realidade e alguns ficaram na praia, fecharam as portas”, afirma Botelho. Ele teme que, mantidas as dificuldades que considera impeditivas ao crescimento do setor, os grandes sistemistas se depararão em 2018 com a possibilidade de importar componentes: “Se o volume aumentar repentinamente, como minha cadeia vai se comportar? Importar ou nacionalizar será um tema a ser discutido”.

Amaury Rossi, diretor de negócios da Eaton, também vê com preocupação a saúde da cadeia de fornecedores caso o mercado voltar a crescer: “O volume no nosso segmento move montanhas. Com a crise todos os pequenos fizeram a lição de casa e cortaram na carne e no osso para sobreviverem”. Rossi conta que a empresa monitora de perto seus 29 fornecedores. Muitos precisaram da nossa ajuda para seguirem no mercado. Tivemos de comprar matéria-prima, por exemplo”.

Uma ferramenta vista como fundamental para auxílio às autopeças, segundo os representantes das sistemistas, é a formulação de um programa federal de parcelamento de dívidas, o Refis. A medida foi usada pelo governo federal para aliviar a pressão fiscal sobre estados da federação que possuíam déficit fiscal alto. A ideia do segmento de autopeças é que o setor entre também na rota do programa, já que muitas empresas não possuem margem para arcar com débitos de origem fiscal e manter fluxo de caixa para manterem a produção:

“Precisamos de um Refis, sem dúvida. Precisamos de alguma forma por meio da qual a empresa possa sair das dívidas que a impedem de se alavancar. Tem que ter uma visão do governo. Pode ser por meio do Refis ou de outro tipo de suporte. Falta clareza de como o governo quer o setor no futuro. Queremos a modernização? Indústria 4.0? Precisa de alavancagem. Com o peso de divida de imposto fica difícil”, disse Botelho.

 

Foto: Maurício de Paiva

PSA e CAOA apostam que luz à frente é o fim do túnel

O crescimento parece inevitável para a indústria automotiva em 2018 e algumas empresas falam em crescimento acima de dois dígitos e outras esperam aumento menos expressivo – mas ninguém mais falou em queda para automóveis e comerciais leves durante o segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018. Fabrício Biondo, diretor de marketing e produto do Grupo PSA, faz parte do grupo mais otimista: “Estamos terminando o ano com boas notícias e começaremos o ano que vem com o pé direito. Acredito que o crescimento será de dois dígitos”.

Ele recordou que 2018 será um ano político – e não será fácil, pois no Brasil tudo pode acontecer – mas pontuou todo o cenário que levará o mercado a crescer:

“O risco de o cenário mudar por causa da política existe, pois o Brasil é uma bola de cristal, mas acredito que o setor está se desprendendo da política e que não será afetado pelas instabilidades pré-eleições. Existem também outros fatores que poderão levar o mercado ao espiral de crescimento, como a previsão de crescimento do PIB, a queda da taxa de juros e da inflação. É necessário lembrar que a base de crescimento ainda é pequena e que o volume de anos como 2012 e 2013 demorará a voltar”.

Durante o painel de automóveis o executivo da PSA dividiu o palco com o presidente da CAOA montadora, Mauro Correia, que também acredita no crescimento para o ano que vem mas com menos otimismo:

“Esperamos crescimento de 5% a 6% para o ano que vem, com volume de carros vendidos perto de 2,5 milhões, talvez um pouco mais. Estamos um pouco mais cautelosos por causa das eleições”.

Os motivos que fazem a CAOA esperar um crescimento são os mesmos citados pela PSA, acrescentada a taxa de câmbio favorável.

Para encarrar o mercado em crescimento cada empresa adotou planos diferentes. A CAOA renovou grande parte da sua rede, reformando concessionárias e abrindo novos pontos de venda, com doze novas em 2016 e 2017, chegando a um total de 126 lojas. A empresa também trouxe novos modelos para o Brasil, como o New Tucson e o New Elantra, e preparou sua área de pós-vendas para melhor atender aos clientes. E essas mudanças já começaram a refletir na participação de mercado da empresa, que encerrou o ano passado com 0,58% e já está com 1,07% no acumulado do ano.

A ação da PSA também apostou na renovação da sua rede de concessionárias, reformando algumas e abrindo 28 novas lojas Peugeot de 2015 a setembro de 2017, chegando a 106 pontos de vendas, e na modernização do sistema de pós-vendas, com novos programas de atendimento. Com relação aos novos produtos o plano da PSA é um pouco diferente, mirando o mercado de comerciais leves com o lançamento dos furgões Expert e Jumpy, a renovação da Partner e a chegada do Boxer e do Berlingo.

Para 2019 Fabricio Biondo acredita em mercado de 3 milhões de veículos vendidos, mas…: “Para o mercado chegar a esse volume é necessário que a geração de emprego cresça muito e que outras condições favoráveis continuem”.

 

Foto: Maurício de Paiva

Reação em ônibus só no ano que vem

As vendas de ônibus no mercado brasileiro devem fechar o ano com números similares aos de 2016, quando foram comercializadas 11,2 mil unidades. Por isso Gilberto Vardânega, diretor comercial de ônibus da Volvo, classificou 2017 como “um ano perdido”. Já para 2018 executivos do setor que participaram do segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018 esperam resultados de 10% a 15% superiores.

Apesar da expectativa de crescimento de dois dígitos os participantes do painel, Gustavo Serizawa, gerente de marketing da Iveco Bus na América Latina, Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, e Jorge Carrer, gerente executivo de vendas de ônibus da MAN, concordam com Vadânega, da Volvo. Para eles o mercado demonstra sinais de recuperação mas ainda está longe do ideal, como disse Serizawa: “Podemos até crescer dois dígitos no ano que vem, mas a base é muito fraca”.

De acordo com ele o número ideal de vendas anual varia de 18 mil a 22 mil unidades.

Desafios – Para aumentar as vendas os executivos listaram uma série de desafios que precisam ser superados. Um deles é a recuperação do poder de investimento das empresas de transporte de passageiros urbanos, que dependem do valor da tarifa para tornar as operações saudáveis. Segundo Barbosa, da Mercedes-Benz, “há um enorme desequilíbrio econômico e financeiro nos contratos de concessão que precisam ser resolvidos, e isso é obrigação do poder público”.

Carrer, da MAN, resgatou a ideia de que existe demanda reprimida na compra de ônibus por causa do aumento de custos operacionais que não foram repassados para a tarifa: “A troca de tecnologia para Euro 5, a inflação que chegou próxima de 10%, e outros fatores tornaram a operação mais cara, enquanto as tarifas foram congeladas”.

Outros desafios são a redução da taxa de desemprego, que atingiu índice acima de 12%, a instabilidade política e a falta de crédito. Para Carrer “existe um ciclo vicioso complicado, que afeta o sistema como um todo”.

No entanto o cenário é mais positivo do que negativo, na opinião dos executivos, uma vez que o panorama macroeconômico esboça sinas de retomada. Segundo Barbosa, da Mercedes-Benz, a lista conta com itens como crescimento do PIB, inflação sob controle, redução da taxa Selic, amadurecimento do Refrota, licitação dos contratos de concessão de São Paulo, renovação do mercado de ônibus rodoviários e consolidação do mercado escolar.

Mercado ideal – Se realmente os números de 2018 se concretizarem os executivos acreditam que em cinco, seis anos o mercado de ônibus no Brasil volte a patamar sustentável, que para Iveco, Mercedes-Benz e Volvo é de 20 mil veículos por ano, em média.

Um pouco mais otimista, Carrer, da MAN, acredita que o mercado pode chegar a 25 mil veículos por ano, em média: “Até temos espaço para 30 mil, porém 25 mil é um número razoável para nós”.

Para todos, no entanto, o importante é que o mercado reaja e volte a crescer de forma sustentável, sem artifícios que provoquem explosões repentinas de vendas.

Refrota – Lançado no final do ano passado como forma de ampliar as vendas de ônibus a linha de crédito Refrota, da Caixa Econômica Federal, não surtiu os efeitos desejados no início do ano. Com severas críticas ao operador financeiro os executivos das montadoras a vêem, agora, como uma solução.

Barbosa, da Mercedes-Benz, lembrou que no início do ano a taxa Selic era de 13% ao ano e que, “por inexperiência da Caixa no setor de transportes, o Refrota demorou para surtir efeito”.

Mais, acrescentou Vadânega, da Volvo: “Além disso o contexto negativo também influenciou”.

 

Foto: Maurício de Paiva

Toyota: investimentos no País não devem parar por aqui.

Há quinze dias a Toyota revelou dois importantes planos de investimento no Brasil: R$ 600 milhões dedicados à unidade de Porto Feliz, SP, para saltar a capacidade de produção de motores ali de 108 mil para 174 mil/ano, e mais R$ 1 bilhão para produzir o Yaris em Sorocaba, também SP, dividindo linha com o Etios.

 

Dificilmente, porém, os aportes da fabricante no País vão parar por aí. Foi o que deixou transparecer em sua apresentação o vice-presidente executivo da Toyota no País, Miguel Fonseca, palestrante do segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018, a terça-feira, 10, no Hotel Transamérica, em São Paulo.

 

O executivo afirmou que a produção do Yaris em Sorocaba não representará, automaticamente, um expressivo aumento do volume de produção da planta, como seria natural imaginar-se. “Os volumes da planta crescerão um pouco, mas derivados de melhoria contínua e produtividade, e não como uma ação estrutural. Este cenário tem ligação com um outro conjunto futuro de decisões, que não podemos comentar agora.”

 

Outro ponto que demonstrou nas entrelinhas as intenções Toyota está nos volumes projetados pela empresa para o ano que vem: mercado total crescendo 11%, para 2,5 milhões, produção em alta de 10%, para 2,8 milhões, e exportações avançando 8%, a 805 mil unidades. Porém para a Toyota do Brasil, isoladamente, os índices esperados são mais modestos: elevação de 7,1% em vendas ao mercado interno, para 203,6 mil, produção 7,4% além, a 205,9 mil, e exportações avançando 7,3%, para 53,1 mil. A razão é uma só: “Já estamos no limite da capacidade”.

 

Como se não bastasse Fonseca forneceu à plateia mais duas pistas importantes. A primeira é que a Toyota vê seu segmento de maior volume de vendas atualmente no País, os sedãs médios, perdendo participação daqui por diante em nosso mercado, de 6,5% em 2016 para 5,5% em 2018 e 4,8% em 2020. Ao mesmo tempo se recuperam os compactos de entrada, de 8,8% em 2016 para 11,9% em 2020, e disparam na preferência – adivinhe só?Acertou! – os SUVs compactos, faixa na qual a montadora não atua aqui no momento, de 10% em 2016 para 14,9% em 2020.

 

A segunda é que a fabricante entende como um fator irreversível do mercado brasileiro o aumento da participação das vendas diretas no bolo total, em salto representativo de 25% em 2013 para 41% em 2017. “Entendemos essa alteração como tendência do mercado brasileiro, ligada a elementos como gestão e redução de risco, e deve assim permanecer”. Segundo Fonseca a participação Toyota neste segmento ainda é modesta, mesmo com evolução de 15% em 2013 para 21% em 2017, e dessa forma “procuraremos ferramentas para participar de forma equilibrada deste segmento de mercado. Vamos procurar nossas soluções”.

 

Por fim, o executivo reforçou a importância que a fabricante dá aos elétricos: sua projeção para as vendas deste segmento no País é de 3,5 mil unidades, das quais 3,1 mil seriam do Prius, em elevação de 18%. “No momento não conseguimos atender os pedidos pelo modelo, que não tem oferta de pronta entrega”, revelou.

 

Fonseca crê que a eletrificação chegará com maior força também ao Brasil, atingindo níveis mais representativos “em breve prazo” e com tecnologia adaptada à realidade local, como híbridos flex. Globalmente a empresa trabalha com meta de reduzir em 90% as emissões de CO2 de seus modelos no período 2010 a 2050.

 

Foto: Maurício de Paiva

Mercedes-Benz projeta alta de 20% nas vendas de caminhões

A Mercedes-Benz projeta um crescimento de 20% no mercado de caminhões em 2018. De acordo com Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da empresa, a expectativa traz fôlego para o setor: “Há tempos não víamos com bons olhos o futuro próximo”, disse o executivo em palestra no Congresso AutoData Perspectivas.

“Os negócios estão se desprendendo da política e isso está se tornando uma realidade para o mercado de caminhões. Os grandes operadores logísticos estão pensando mais em crescer do que no próximo escândalo político.” A taxa de juros baixa e com tendência de queda, a previsão de crescimento do PIB acima de 2% e os cenários político e econômico mais favoráveis, segundo Leoncini, também ajudarão na recuperação do mercado.

Segundo o executivo, existe uma falta de vontade para levar adiante a renovação de frota. “Para iniciar a fiscalização de caminhões em mau estado não serão necessários grandes investimentos. Não precisa mexer no bolso de ninguém. É só começar a controlar o tráfego dos caminhões com mais de 30 anos para encontrar problemas de frenagem, iluminação e emissões.” Segundo Leoncini, essa fiscalização levaria a uma renovação de frota necessária, já que estes caminhões têm alto custo para circular. São 3,1 milhões de caminhões acima de 20 anos rodando no Brasil.

O modelo de negócios também deve mudar no futuro, se desprendendo um pouco do Finame: “Em alguns países, o transportador não quer ser dono da frota. Ele quer o caminhão para realizar o transporte e depois devolver para a empresa dona do veículo. Acredito que esse modelo virá para o Brasil. O agronegócio deve ser o primeiro a operar nesse modelo”.

Leoncini também destacou que as exportações poderão mudar sua rota. Em vez de cruzar o Atlântico, uma saída pelo Pacífico seria mais barata para negociar com o mercado chinês: “No atual modelo de exportações, não conseguimos ser muito competitivos na China”. De acordo com o executivo, para levar adiante a ideia seria necessário negociar com os países sul-americanos com saída para o Pacífico.

 

Foto: Maurício de Paiva

Montadoras desengavetam projetos, aponta Sindipeças

Para o Sindipeças, associação que representa os fabricantes de autopeças no País, 2018 tem tudo para ser positivo. A entidade projeta alta de 6% no faturamento em reais, para R$ 79,6 bilhões, e de 3,8% em dólares, para US$ 24,6 bilhões. Em outros indicadores também se espera elevação, como de 34,8% no investimento em reais e de 32,2% em dólares, além de 5% a mais na geração de emprego do segmento. Os números foram apresentados por Flávio Del Soldato, conselheiro do Sindipeças, durante palestra que abriu o segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018, no Hotel Transamérica, em São Paulo, na terça-feira, 10.

Para ele as montadoras estão “desengavetando projetos”. Um ótimo exemplo disso, considerou, foi o anúncio de investimento de R$ 2,4 bilhões da Mercedes-Benz, ocorrido na segunda-feira, 9.

Outro fator positivo revelado pelo Sindipeças no evento foi o índice de utilização da capacidade instalada nas empresas de autopeças, que em agosto chegou a 67%, melhor registro deste ano. Como comparação em maio do ano passado o índice foi 48%, ou seja, menos da metade da capacidade total.

O Sindipeças estima que a produção nacional de autoveículos retomará volume de 3 milhões de unidades em 2021, após altas crescentes de 6% em 2018 e 4% em 2019, 2020 e 2021. Em 2022 chegaríamos a 3,1 milhões de unidades produzidas aqui. Del Soldato lembrou que será “uma longa jornada, coisa de oito anos, para voltarmos aos índices pré-crise. Mas é boa notícia, de qualquer forma”.

Ele acredita, ainda, que no ano que vem aumentará o déficit da balança comercial de autopeças, de US$ 5,9 bilhões projetados para 2017 para US$ 7,6 bilhões, 28,5% além: “Se o mercado cresce temos que trazer mais peças de fora, especialmente para os lançamentos”.

O dirigente ainda apresentou pesquisa interna em que a grande maioria dos entrevistados, 70%, considera que o Rota 2030 será melhor do que o Inovar-Auto, sob o ponto de vista de cada uma das próprias empresas ouvidas – participaram 63 empresas associadas, pequenas, médias e grandes, que representaram 26% do faturamento do segmento no ano passado.

A pesquisa ainda apontou que 20% consideram que o Rota 2030 não será nem melhor nem pior do que o Inovar-Auto, enquanto nenhum entrevistado afirmou acreditar que será pior. Ainda na pesquisa 34,9% indicaram que o Inovar-Auto foi indiferente – nem positivo nem negativo – para suas operações, enquanto que para 30,1% foi parcialmente positivo e para 20,6% foi parcialmente negativo. Durante sua apresentação Del Soldato considerou que a rastreabilidade, um dos principais fatores de controle para o conteúdo local, teve resultado “pífio”.

Em sua palestra ele afirmou que o atual entendimento do Ministério da Fazenda é o de que a noventena para o Rota 2030 é desnecessária, ainda que não seja essa uma posição oficial, frisou. Com isso o programa, em tese, não estaria atrasado. Del Soldato confirmou que não há previsão de qualquer espécie de controle para conteúdo local de autopeças, um dos pontos questionados pela OMC dentro do Inovar-Auto:

“Essa discussão de conteúdo local ficou para trás. Não dá para falar em competitividade se há uma obrigação legal de comprar peças em um ambiente pouco competitivo. O campeonato agora é outro”.

O conselheiro do Sindipeças finalizou sua apresentação abordando as negociações do Mercosul com a União Europeia. Para ele um acordo está “muito próximo” e deve, sim, ser considerado nos planos futuros das empresas do segmento instaladas no Brasil.

 

Foto: Maurício de Paiva

O otimismo dos concessionários

As vendas internas de veículos de passeio e comerciais leves, no ano que vem, devem apresentar crescimento de 8% a 10%, de acordo com a Fenabrave. A projeção foi divulgada pelo vice-presidente Gláucio José Geara, durante o primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018. Segundo Geara essa projeção deve se concretizar se não houver, mais, nenhum percalço na economia por causa da crise política.

 

“Os problemas políticos se descolaram da economia e temos que seguir com nossas vidas.”

 

Geara também apresentou as expectativas da Fenabrave para este ano, com números também positivos, apesar de serem ainda bastante distantes dos atingidos em 2012. Para veículos de passeio a Fenabrave estima vendas de 1 milhão 869 mil unidades, crescimento de 10,7% sobre 2016, e retração de 40% sobre 2012. Em comerciais leves o resultado deve ficar em 313 mil unidades, 5,3% a mais do que em 2016 e 41,2% inferior a 2012.

 

No segmento de caminhões as vendas deverão chegar a 49 mil unidades, retração de 2% sobre 2016, e as vendas de ônibus devem ficar em 14 mil veículos, aumento de 8% com relação a 2016.

 

Geara disse que “o mercado de caminhões voltou ao que era há dezoito anos, e o de ônibus retroagiu 22 anos”.

 

Para aumentar as vendas, Geara colocou o dedo na mesma ferida: maior problema ainda é o crédito: “De cada dez fichas enviadas para as financeiras apenas duas são aprovadas. E quando o assunto é motocicleta somente uma vai para a frente”.

 

Uma solução para este entrave é, segundo Geara, a adoção do cadastro positivo, pois “com isso o spread cai”. Outras condições para o aumento das vendas são, segundo Geara, a modernização da lei de desburocratização da retomada do bem: “Em outros países do mundo a retomada se dá em 2 horas”.

 

Debate – Os demais participantes do debate, Luiz Eduardo Guião, presidente da Assobrav, Carlos Spochiado, presidente da Abrac, e João Batista Saadi, presidente da Assobens, concordaram com Geara. Guião, da Assobrav, pontuou que as taxas de juros devem cair mais: “Todos os sinais são positivos. O fundo do poço já passou”.

 

E ainda disse que os concessionários fizeram a lição de casa e reduziram custos, cuidaram do caixa e tornaram as operações enxutas.

 

Além disso Guião conta com novidades na forma de novos produtos para reforçar as vendas no ano que vem: “Na Volkswagen contaremos com diversos novos produtos, a partir do novo Polo lançado no mês passado, e um novo SUV, o T-Cross, que chega no fim do ano”.

 

Carlos Spochiado, presidente da Abrac, destacou o esforço da marca Chevrolet na venda de serviços durante os anos de crise: “Focamos na qualidade do pós-vendas com sistema Premium de atendimento”.

 

E para atrair novos clientes e negócios Spochiado realçou o lançamento do Equinox, SUV premium que chega ao mercado ainda este ano, com motor 2.0 turbo de 262 cv “e preço bastante competitivo, R$ 149 mil 990”.

 

No segmento de caminhões e ônibus João Batista Saadi, presidente da Assobens, listou diversos fatores que justificam crescimento do mercado em 20% para 2018. O primeiro é a safra 2017-2018, que deverá chegar aos 250 milhões de toneladas – “Há dez anos a safra foi de 130 milhões de toneladas”.

 

Ele recordou que o Brasil conta com frota de 1,1 milhão de caminhões e que, se houver renovação de apenas 7% em 2018, isso representará vendas de mais de 70 mil unidades: “Faz três anos que os clientes não estão comprando e, assim, aposto muito em um mercado de pelo menos 65 mil unidades no ano que vem”.

 

Consumo – A tecnologia tem mudado as características de consumo da população, e compras online, veículos conectados e autônomos também foram tema de debate dos concessionários. Guião, da Assobrav, disse a entidade prepara missão técnica para o Vale do Silício, Califórnia, com todos os concessionários Volkswagen: “O objetivo é fazer uma imersão tecnológica para a rede ficar mais conectada”.

 

Segundo ele a rede VW estará preparada para elétricos e autônomos.

 

No caso da Abrac Spochiado contou que está contratando consultoria para avaliar as mudanças nas características de consumo pois tem a convicção de que “a rede vai mudar muito”. Lembrou-se do programa OnStar, da Chevrolet, que abriu diversos canais de comunicação da montadora com o consumidor e ampliou a conectividade dos veículos com os smartphones.

 

Tema polêmico do mundo dos distribuidores as vendas diretas não são, na opinião dos participantes do painel, um problema para as concessionárias: “O ponto final da entrega do veículo é a concessionária”, afirmou Gláucio José Geara, vice-presidente da Fenabrave, ao dizer que cada marca tem uma convenção com seus representantes a respeito.

 

Na opinião de Guião, da Assobrav, “as novas montadoras fizeram convenções de marca mais modernas com suas redes, e as mais antigas precisam se atualizar”. Já Saadi, da Assobens, acredita que “a Lei Ferrari é perfeita para a distribuição”.

 

Com a modernização dos veículos, eletrificação e automação as vendas de peças e serviços tendem a reduzir. Porém, na visão dos concessionários, como Guião, da Assobrav, isso não será um problema: “A visão de antigamente já não é a mesma. Antes vendíamos automóveis e o resto era um mal necessário, mas agora é um bom negócio”.

 

Spochiado, da Abrac, concordou: “Pós-vendas é tão importante quanto a venda de 0 KM. Hoje é o que salva”.

Foto: Maurício de Paiva

Mercado retoma do fundo do poço, acredita FCA

 

Para o Grupo FCA o setor automotivo não tinha mais para onde cair e, agora, começa a ver a luz no fim do túnel, relatou o seu COO, chief operations officer na América Latina, Davide Mele, durante o primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2018: “Chegamos ao fundo do poço e começamos um processo discreto de recuperação”.

 

Para encerrar a retração do mercado e voltar a crescer ele indicou algumas mudanças:

 

“A economia se mostra blindada com relação aos escândalos políticos, se desprendendo um pouco desse cenário. As medidas tomadas pelo governo também estão ajudando o mercado”.

 

A expectativa da FCA para o mercado automotivo deste ano é de 2,2 milhões de unidades vendidas, com mais crescimento para 2018: “O mercado poderá chegar a 2,5 milhões de automóveis vendidos no ano que vem, mas precisamos de equilíbrio político e econômico para que isso aconteça”.

 

Segundo Mele mesmo durante a crise o setor ficou mais competitivo e um dos responsáveis por isso foi o Inovar-Auto, que trouxe mais investimentos e aumentou o nível de qualidade e de tecnologias embarcadas nos veículos nacionais. Dentro deste cenário de crise Mele destacou os investimentos da empresa: “O grupo FCA investiu R$ 21,9 bilhões de 2012 a 2017 no Brasil”.

 

O investimento ao longo de cinco anos foi voltado para diversas áreas, como o desenvolvimento de veículos importantes para a FCA no País, como os Jeep Renegade e Compass, produzidos em Goiana, PE, aumentando a participação do grupo no segmento de SUVs, a picape Toro, que inaugurou um segmento inédito, o Argo, lançamento mais importante da empresa este ano, e o Mobi, que briga no segmento dos hatches de entrada.

 

Mele ainda prometeu duas novidades para o mercado brasileiro nos próximos seis meses: “Esse ciclo de novos modelos será encerrado nos próximos seis meses, com dois lançamentos em dois segmentos diferentes”.

 

Parte desse investimento também foi usado na modernização das fábricas da FCA no Brasil, como a de Betim, MG, que foi atualizada para produzir o Argo, aproximando-se mais da indústria 4.0 e recebendo uma nova cabine de pintura, com 105 m de extensão. A fábrica da Jeep foi desenvolvida para ser uma das mais modernas do grupo, com mais de setecentos robôs participando da produção.

Foto: Maurício de Paiva