AutoData 30 Anos

90 AutoData | Novembro | 2022 Valeu a pena N os últimos trinta anos a indústria au- tomobilística no Brasil cresceu e se tornou global. Na euforia da abertura de mercado dos anos 1990, quando o setor ainda desenvolvia e produzia veículos com várias restrições tecnológicas, foi iniciada uma transformação de impacto importante, com a chegada de novas mon- tadoras e sistemistas e a adesão a novas tec- nologias. Foram atraídos bilhões em investimentos externos e o setor saltou para mais de duas dezenas de fabricantes de veículos, máquinas agrícolas e rodoviárias com fábricas no País, que giramuma cadeia de centenas de forne- cedores com produção local. Abertura de mercado, legislações de emissões como o Proconve, regras de importação, políticas tributárias e forte potencial de demanda foramos fatores que alavancaram investimentos da indústria, trazendo gran- de número de tecnologias ao País, como injeção eletrônica, o inovador flex fuel, eletrônica em todos os atuadores dos veículos, catalisadores, sistemas de seguran- ça ABS e ESC, painéis eletrônicos, direção elétrica, câmbio automático, ar-condicionado inteligente, sem contar com as inovações de materiais. Ao mesmo tempo as muitas crises que assolaram o País e algumas decisões equivo- cadas provocaram anomalias. Uma delas foi a aposta emveículos de entrada combenefícios tributários que geraram a ilusão do poder de compra e projeções de volumes potenciais de 5 milhões de unidades/ano, algo jamais alcançado. O potencial do mercado interno, aliado a incentivos governamentais, como o Inovar- -Auto, atraíramgrande número de fabricantes ARTIGO BESALIEL BOTELHO D i v u l g a ç ã o / B o s c h Besaliel Botelho é ex-CEO da Bosch América Latina e presidente da AEA, Associação de Engenharia Automotiva globais para produzir no Brasil porém sem sustentabilidade doméstica ou competitivi- dade para exportação, o que criou grande capacidade ociosa. Dentre as oportunidades de inovação a principal foi o desenvolvimento de tecnolo- gias dedicadas aos biocombustíveis. Quando desenvolvemos na Bosch o sistema flexfuel buscamos uma solução econômica para a sociedade diante das variações do preço do petróleo. Hoje, de frente para o desafio de reduzir emissões de gases de efeito estufa, aquele esforço se transformou em vantagem competitiva para o Brasil. E qual o futuro dessa nossa indústria? Con- tinuaremos fortes na produção de veículos mas a transformação tecnológica continuará e depender de inves- timentos. Os veículos elétricos leves ocupam lentamente alguns nichos no País, mas dificil- mente serão competitivos para adesão em grande esca- la. Enquanto isso a propulsão a combustão, com motores flex e sistemas híbridos cometanol, con- tinuará predominante. Para os veícu- los pesados também existem alternativas complementares ao diesel, como gás natural, biogás, biodiesel e HVO. Na Europa os motores elétricos alimen- tados por células de hidrogênio começam a abrir uma nova fase tecnológica damobilidade zero-carbono. O Brasil irá também se benefi- ciar desta alternativa graças ao potencial de produção de hidrogênio verde. O Brasil é privilegiado e conviverÉMOS, nas próximas décadas, com várias rotas tec- nológicas e com mobilidade cada vez mais descarbonizada. Isso é bom para a indústria e para a engenharia locais, para a economia e para a sociedade.

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