AutoData 30 Anos

INDÚSTRIA POLÍTICA SETORIAL 86 AutoData | Novembro | 2022 “No Brasil, as coisas mudamde uma hora para outra e é pra- ticamente impossível tomar decisões de longo prazo”, colocava o dedo na ferida Philipp Schiemer, presidente da Mercedes- -Benz do Brasil, emuma direção totalmente antagônica ao que pretendia o Inovar-Auto. Para ele uma das formas de amenizar o problema era estabelecer uma agenda até 2030. “Um hori- zonte de cinco anos, como o proposto pelo Inovar-Auto, não contempla o ciclo de investimentos da indústria.” Nos gabinetes doMinistério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços estava emdiscussão, junto como setor privado, o ciclo seguinte da política automotiva, “com prazo maior de abran- gência e enfoque mais voltado à realidade”, dizia nota oficial. Parecia que as bases construídas pelo Inovar-Auto já não serviam mais: “Espera-se que a atualização do programa eli- mine os benefícios da produção local. As barreiras precisam ser desfeitas na nova política industrial”, propunha Schiemer. “Temos de importar mais para conseguir exportar. Barreiras artificiais protegem a indústria em um primeiro momento, mas o resultado é a perda de competitividade.” UMA ROTA PARA 2030 De fato a reputação do Inovar-Auto não andava nada boa. O Brasil foi condenado pela OMC, Organização Mundial do Co- mércio, por utilizar regimes que se baseiamemquatromedidas proibidas pelas regras da entidade: discriminação tributária de produtos domésticos e importados, subsídios vinculados à exi- gência de conteúdo local, subsídios à exportação e exigências relacionadas à realização de investimento estrangeiro. O castelo de cartas estava desmoronando, mas a boa notícia é que a situação poderia criar terreno fértil para reformas futu- ras necessárias. Como queria Schiemer começava a nascer um programa de longo prazo, logo chamado Rota 2030, previsto para entregar em vigor em 1º de janeiro de 2018 com duração de quinze anos, dividido em três ciclos de cinco anos. Mas que não estava livre de dificuldades. O sonho era que a indústria automotiva chegasse a 2030 com tecnologia similar à de mercados avançados, integração ativa na cadeia global de suprimentos, competitividade na produção dos principais sistemas automotivos e capacidade de desenvolvimento de projetos globais. O primeiro empecilho que surgiu era o tempo, conforme mostrou AutoData em setembro de 2017: “Para falar de 2030 Fevereiro de 2017 Setembro de 2017 Política Industrial 24 AutoData Fevereiro 2017 P or mais variadas que sejam as de- mandas em cada setor da indús- tria, há um ponto que é comum: a necessidade de se criar uma nova po- lítica industrial no Brasil, pela qual em- presas, governo, sindicatos e sociedade caminhem emummesmo sentido. Para o setor automotivo, em particular, isso é uma urgência. “Se quisermos ter uma indústria representativa em âmbito global, precisamos de base política e econômica logo”, diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil. Entram nessa lista ainda questões delicadas como reformas trabalhista e tributária, melhorias na infraestrutura e logística, estímulo às exportações e ca- pacidade de planejamento para o longo prazo. Fato é que nada disso será resolvido da noite para o dia e a situação mostra contornos dramáticos. O uso da capa- cidade instalada da indústria é o menor emvinte anos, segundo a CNI, Confede- ração Nacional da Indústria, com cerca de 66% de uso em média do parque fabril nacional. No setor automotivo, a Muito além do Inovar-Auto Michele Loureiro | redacaoad@autodata.com.br Estabilidade e previsibilidade são as palavras de ordem na construção de uma nova política industrial de longo prazo para o setor automotivo AD 330 - Inovar-Auto.indd 24 09/02/2017 11:47:02 Especial Rota 2030 20 AutoData Setembro 2017 Rota 2030, um programa que pretende “estabelecer uma visão de longo prazo, com regras claras e previsíveis, para dar segurança aos investimentos e incenti- var a competitividade da indústria au- tomotiva nacional”, segundo afirmava comunicado oficial do ministério distri - buído na ocasião. Tudo parece ótimo: o Rota 2030 será um caminho para a indústria brasileira Rota de colisão Marcos Rozen | redacao@autodata.com.br de veículos e autopeças alcançar o seu santo graal, a tão sonhada, pleiteada e nunca encontrada previsibilidade. E por um período muito razoável, de 15 anos, prazo fatiado em três ciclos de cinco anos cada. Inegavelmente as coisas pareciam muito bem estruturadas: grupos de tra- balho com a participação direta de as- sociações da indústria discutiriam seis O objetivo é preparar a indústria automotiva para os próximos 15 anos, mas o Rota 2030 ainda não chegou a consenso nem mesmo para definir como será 2018 E m abril os presidentes das três principais associações do setor automotivo brasileiro – Anfa- vea, Abeifa e Sindipeças – foram cha- mados a Brasília. A notícia parecia boa demais para ser verdade: o governo federal, por intermédio do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Ser - viços, o antigo MDIC, estava lançando ali, com toda pompa e circunstância, o AD 337 - Rota 2030.indd 20 06/09/2017 16:48:21

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