AutoData 30 Anos

131 2022 | Novembro | AutoData Ou seja, é um contrassenso. O processo de produção de automóveis zero-emissão despeja uma quantidade absurda de poluentes na atmosfera. Para se ter ideia: na China o con- sumo de eletricidade na fabricação é obtida a partir das usinas a carvão, uma matriz suja e poluidora. “É imperativo discutir o necessário incremento de geração de eletricidade para abastecer o crescimento da chamada frota zero-emissão. Segundo alguns cálculos seriamnecessários 3,6 vezes mais capacidade de fornecimento de energia do que existe atualmente, considerando a venda de 50 milhões de unidades/ano de veículos livres de CO2 só no cano de escapa- mento”, refletia AutoData. As projeções de vendas de carros elétricos exigem soluções rápidas. Segundo o Boston Consulting Group nos próximos três anos cairá de quase 80% para 36% a participação dos au- tomóveis equipados commotorização a gasolina ou diesel na Europa. Na China os índices são similares. O presidente da ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico, Adalberto Maluf, bate na tecla de que o Brasil poderia estar bem mais adiantado na eletrificação, com a criação de uma política nacional demobilidade elétrica: “É importante ter ferramentas que apoiem a descarbonização, como a redução de IPI para veículos importados de baixíssima emissão”. Mas já há alguns incentivos: veículos 100% elétricos são isentos de imposto de importação – de 35% para os modelos equipados unicamente com motor a combustão – e para os híbridos a alíquota é reduzida a 4%. Com isso existematualmen- te disponíveis no mercado brasileiro mais de duas dezenas de veículos elétricos e híbridos. Ainda que os preços sejammuito altos e os volumes pequenos, a fatia deste mercado está cres- cendo de forma acelerada no País: saiu de 1,7% das vendas em 2021 e no acumulado de janeiro a setembro de 2022 chega a quase 2,5%. É pouco mas avança. Uma coisa parece certa: a transição energética está em curso e o desenvolvimento de automóveis 100% elétricos é um caminho sem retorno. Na Europa, principalmente, mui- tos países já definiram datas para encerrar a produção e as vendas de carros commotor a combustão a partir de 2030. O futuro está logo à frente. Resta saber de que modo a cadeia automotiva desejará chegar lá. Da maneira mais rápida pos- sível – e isso pode acarretar algumas implicações – ou com paradas estratégicas. Agosto de 2022 48 Agosto 2022 | AutoData MEIO AMBIENTE » DESCARBONIZAÇÃO A rota para a descarbonização da mobilidade em veículos é assunto em quase todos os fóruns gover- namentais, empresariais e da so- ciedade civil. No Instagram, no LinkedIn, no Parlamento Europeu, na China ou nos Estados Unidos, no board de empresas, nas cadeias industriais e nomercado finan - ceiro global a eletrificação automotiva tem sido apresentada como solução prioritária para um problema que, de fato, nem é exclusivo dos veículos. Enquanto o foco no transporte limpo sobre rodas toma conta dos discursos nos países desenvolvidos que apontam, sem- pre, para a eletrificação, é difícil determinar Por Leandro Alves, com Pedro Kutney Labirinto da eletrificação A indústria nacional tem de correr atrás da evolução para continuar relevante no jogo automotivo global. O difícil é definir qual caminho seguir. o caminho mais eficiente e racional para a necessária redução de emissões veicula- res de CO2 na atmosfera, que contribuirá para evitar a catástrofe climática que o aquecimento global traz ao planeta, com eventos extremos que já estão aconte- cendo em todas as partes – como na Eu- ropa que, neste verão, está literalmente pegando fogo, registrando recordes de temperaturas e clima de deserto. No ambiente da indústria automotiva nacional o foco exagerado na eletrificação – ou simplesmente a falta de qualquer foco – atrapalha a definição da rota que o País deve tomar nessa transformação global que trará mudanças radicais para

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