AutoData 30 Anos

INDÚSTRIA ESTRATÉGIA 118 AutoData | Novembro | 2022 País ficou parado, estagnado. Seguindo nessa cadência ficará ainda mais dependente dos fornecedores externos. Se o plano der certo será uma espécie de correção de rota da indústria, que se acostu- mou a comprar componentes de poucos for- necedores no mundo, pagando preços mais baixos. Relatório da consultoria AutoForecast Solutions resumiu a questão: “Contar comape- nas uma fonte de fornecimento pode ajudar a aumentar a lucratividade e a estabilidade do fornecedor dessa cadeia, mas uma grave crise é capaz de causar um colapso completo do sistema”. O estremecimento da globalização, é bom que se diga, não se resume a episódios como guerras e doenças que afetamomundo todo. Há problemas localizados que comprometem o bom andamento dos negócios globais. No início do ano passado incêndio na fábrica da Renesas Technology Corporation, no Japão, prejudicou o abastecimento de semiconduto- res para o setor automotivo uma vez que a em- presa é responsável por 30% do fornecimento à indústria no mundo. A situação ficou ainda mais crítica quando um terremoto, tambémno Japão, atingiu outras três outras unidades da Renesas. Apesar dos obstáculos falar emdesglobalização é arriscado e o passadomostra isso. Depois do tsunami no Japão, em 2011, muito se falou sobre o risco de se concentrar a produção em determinados locais. O tempo passou e o assunto foi devida- mente esquecido. “Acredito que a globalização será repensada só com relação aos componentesmais estratégicos, como os semicondutores”, opina Cássio Pagliarini, da Bright Consulting. “Commodities, como aço e borracha, ficarão na mesma, porque o custo sem- pre fala mais alto.” Como se vê a globalização ainda está longe de resolver todos os desafios que estão surgindo pela frente na indústria. Há um caminho muito maior a percorrer do que o simples passo de deixar de ser globalismo para adotar uma nomen- clatura mais pomposa. 38 Maio 2022 | AutoData CADEIA DE SUPRIMENTOS » LOGÍSTICA GLOBAL E m sua posse como novo presidente da Anfavea, no início de maio, Márcio de Lima Leite afirmou que uma das prioridades de sua gestão será traba- lhar para preservar o parque nacional de fornecedores e atrair novos fabricantes de componentes ainda sem produção no Brasil, como é o caso de semicondutores e transmissões automáticas. O objetivo é tornar a indústria nacional mais competitiva e menos dependente de fornecedores instalados emoutros países, para evitar pa- ralisações de produção por falta de com- ponentes como acontece no momento. Ou seja: é uma correção de rota de uma indústria que se acostumou a dire - cionar compras de certos componentes para poucos fornecedores no mundo, em lugares onde eles são mais baratos. Essa forma de agir mostrou todos os seus riscos após a pandemia e, mais recentemente, com a guerra na Ucrânia, fatores que cau - saram sérios estremecimentos na logística global de suprimentos. O resultado prático é que hoje nenhum fabricante de veículos consegue produzir o suficiente para aten - der à demanda porque ninguém recebe componentes importados na quantidade necessária. Seria, então, o fimda globalização? Não necessariamente, segundo consultores e compradores do setor, mas é fato que como está não dá para continuar. Não há como nacionalizar tudo, mas será neces- sário, no mínimo, redistribuir a cadeia de suprimentos. Parte da necessária resposta à atual crise foi dada por Christopher Podgorski, presidente da Scania Latin America: “Vive- mos a implosão da jornada de globaliza- ção, que deixa de existir com a guerra na Ucrânia e a nova onda de contágios por covid-19 na China. Esta crise deve servir de aprendizado, soluções globais requerem redundâncias, com mais de uma fonte de fornecimento de componentes”, disse durante o Fórum AutoData de Veículos Comerciais, realizado em abril. No momento a indústria automobilís - tica de todo o mundo tenta se recuperar de problemas que foram se encadeando Por Wílson Toume Globalização em xeque Pandemia e guerra na Ucrânia deixam fabricantes de veículos sem componentes e obrigam à revisão de conceitos Maio de 2022

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