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39 AutoData | Março 2025 pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela qual o Instituto Aço Brasil solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial”, declarou a entidade em comunicado. “Ao contrário do alegado na proclamação do governo Trump, de 10 de fevereiro, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os EUA de produtos de aço oriundos de terceiros países”. SEM COTAS DESTA VEZ Em 2018 o primeiro governo Trump já havia adotado sobretaxação de 25% ao aço e de 10% ao alumínio importados, mas no mesmo ano isentou México e Canadá e concedeu cotas de isenção a alguns países, incluindo o Brasil, que permitia exportar sem tarifas volume equivalente à média das exportações de 2015 a 2017 de produtos semiacabados, e para produtos acabados o limite de isenção era 30% inferior à média no mesmo período. Em agosto de 2020, em busca da reeleição, Trump reduziu em cerca de 80% as cotas de exportação dos produtos brasileiros para os Estados Unidos. Em julho de 2022, já sob o governo de Joe Biden, todas as medidas restritivas às exportações brasileiras foram revogadas. Em seu decreto que agora retoma a sobretaxação Trump alega que países que ganharam isenções ou cotas, citando nominalmente Brasil, México e Coreia do Sul, de 2022 a 2024 aumentaram as exportações de aço aos Estados Unidos em 1,5 milhão toneladas, enquanto no mesmo período a demanda no país caiu 6,1 milhões de toneladas. Para o presidente estadunidense o aumento de importações “se deu às custas da indústria local”, que por causa das compras externas com isenções de tarifas estaria utilizando menos de 80% de sua capacidade de produção de aço, proporção que na visão do republicano é um “risco à segurança nacional”, sem levar em conta que, atualmente, as siderúrgicas instaladas no país não têm capacidade de suprir toda a demanda da indústria local. Apesar da aversão do governo Trump em negociar qualquer isenção ou exceção ao seu tarifaço, o governo brasileiro continua apostando em uma distensão: propôs a concessão de uma cota isenta da sobretaxação de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e de 680 mil toneladas de produtos derivados acabados. Integrantes da negociação avaliam que a solicitação pode ser atendida principalmente porque o Brasil é o único dos exportadores de aço e alumínio que tem déficit na balança comercial com os Estados Unidos. A alegação é que o encarecimento do aço brasileiro abrirá espaço para importações de outros países que, mesmo taxados, ainda podem produzir mais barato. Também existe a expectativa de que a indústria do país não será capaz de atender a toda a demanda, gerando mais inflação industrial e restrições à produção de diversos setores, inclusive e principalmente o automotivo, obrigando o governo do país a relaxar as tarifas ou a conceder cotas para itens não fabricados localmente. Tudo isso parece fazer sentido mas o bom senso passa longe da guerra comercial tarifária do governo Trump, com nuances que flutuam ao estilo mercurial de suas bravatas, o que torna efêmera qualquer previsão de desfecho.

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