57 AutoData | Dezembro 2024 maior fabricante de veículos do mundo dona de catorze marcas, corporação de porte gigantesco que ele mesmo arquitetou a partir da fusão dos grupos FCA e PSA. Mas a grande fase durou só quatro anos, terminou no último 1º de dezembro quando a Stellantis, por meio de comunicado, informou que seu CEO estava deixando a empresa de forma imediata, antes da já programada sucessão, prevista para acontecer no início de 2026, “por divergências de visões” com acionistas e integrantes do conselho de administração. TEMIDO E DESPREZADO Relatos publicados pela imprensa internacional logo após a queda do CEO dão conta que Tavares era temido por seus diretores e desprezado por fornecedores e concessionários, com os quais tinha constantes embates, principalmente nos Estados Unidos, onde sua disposição de perseguição obstinada por altos lucros manteve preços altos e pátios lotados de carros de difícil negociação. Jeff Laethem, concessionário da Stellantis em Detroit, disse à Automotive News que a situação com Tavares no comando “não poderia ser pior”, devido ao crescimento dos estoques e queda nas vendas. Erik Gordon, professor na Universidade de Michigan, foi ainda mais assertivo: “Ninguém sentirá falta dele [Tavares] na América do Norte, não pelos fornecedores com quem ele brigou, não pelos concessionários com quem ele brigou, e não pelos compradores que ignoraram seus carros”. Trabalhadores na Itália e nos Estados Unidos, países ameaçados por demissões e fechamento de fábricas do grupo, também queriam ver pelas costas o agora ex-CEO: “Tavares está saindo deixando para traz uma bagunça de dolorosos layoffs [suspensão de contratos de trabalho] e veículos sobrevalorizados nos pátios dos distribuidores”, resumiu Shawn Fain, presidente do UAW, o tradicional sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva nos Estados Unidos. DO LUCRO AO PREJUÍZO Tavares sempre foi um executivo de falas francas e diretas, sem rodeios, tem posições fortes e pragmáticas a respeito das dores da indústria e ações obstinadas em busca do lucro – alguns mais sinceros o chamaram de “psicopata do desempenho”. Foram estas atitudes que deram resultados, principalmente na reestruturação da PSA e nos primeiros anos da Stellantis, justamente por isto foi classificado como gênio incontestável da gestão – e ganhou muitos prêmios de publicações europeias. Não é o primeiro e nem será o último executivo autoconfiante ou arrogante do mundo corporativo. Mas não é isto que derruba CEOs. Eles caem quando suas ações provocam prejuízo aos acionistas, o que apaga rapidamente os lucros do passado. É exatamente isto que aconteceu no último ano, o que levou a Stellantis a informar que substituiria Tavares ao fim de seu contrato, em 2026. No entanto a saída foi antecipada em mais de um ano porque os resultados financeiros da companhia estavam piores do que o esperado e o conselho de admiração julgou que o executivo estava tomando decisões de curto prazo para salvar sua reputação
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