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17 AutoData | Outubro 2024 aplicar os benefícios que existem para explorar e exportar minérios na produção de materiais estratégicos aqui, e exportar produtos, não o minério. Esta indústria de base é fundamental para fazer alguém decidir trazer uma planta global para o Brasil. Se temos aqui matérias-primas mais baratas do mundo temos a vantagem de produzir no País e exportar. O senhor trabalhou mais de três décadas na engenharia da Bosch no Brasil e participou do desenvolvimento do carro flex, desde 1994, quase dez anos antes da tecnologia se tornar dominante em mais de 80% dos veículos vendidos no País. Como avalia a evolução do carro flex e qual é o futuro da tecnologia? O flex é sucesso porque foi pensado para o para o usuário final, não para o fabricante de veículos ou para o produtor de etanol. A aprovação do flex foi difícil, demorou dez anos até [que fosse regulamentado] uma medida provisória, em dezembro de 2002. Era uma corrida que ninguém sabia o por que de estar correndo. A visão das multinacionais era de que seria um voo de galinha, mas o povo brasileiro comprou a ideia. No fim quem não tinha um carro flex não conseguia vender. Com os anos o flex evoluiu muito, os motores se tornaram mais flexíveis, têm comando variável [de válvulas], turbo de pressão variável, sistema de gerenciamento de detonação, partida a frio com sistema de aquecimento. Agora esta evolução continua com o híbrido flex. Faz todo sentido replicar a mesma flexibilidade de sucesso para veículos a diesel também, colocando nos postos bombas de biodiesel 100% para abastecer modelos preparados para isto. O carro elétrico a bateria é um opositor ou é um aliado do etanol? A tecnologia híbrida flex é a aposta ideal para o Brasil? O etanol é uma ponte para todas as variantes. O álcool foi adotado para diminuir a importação de petróleo e hoje o Brasil é quase autossustentável graças à complementação com o etanol. Na eletrificação acho que é a mesma coisa. Como tenho o etanol para fazer a descarbonização o próprio biocombustível vai permitir a entrada da eletrificação sem prejudicar ninguém. O Brasil não precisará passar pelos problemas que foram criados com a eletrificação: aceleraram demais e aí não tem recarga para todos. Nós faremos esta transição em velocidade que, eu acho, será a melhor experiência do mundo. Como pensador da engenharia automotiva, que há 42 anos é professor de técnicos em mecatrônica e já formou muitos engenheiros na prática, o setor está formando os profissionais qualificados de que precisa para seguir adiante? Esta é a minha maior preocupação. O desejo dos jovens hoje é trabalhar no mundo virtual, poucos têm interesse em fazer uma carreira industrial. Nas minhas aulas eu tento desafiar os jovens a aceitar o desafio de buscar por uma carreira como a minha. O Brasil do futuro depende do jovem que hoje está na escola e ele precisa entender que o mundo precisa de pessoas que queiram dar continuidade à evolução da tecnologia. Tecnologia é vida, sem ela não conseguiríamos viver com a densidade populacional que temos. A carreira na indústria é importante para esta evolução. Minha luta é essa, mas acho que não ganhei ainda.

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