21 AutoData | Julho 2024 O nome e tema do mais recente seminário realizado por AutoData era Revisão das Perspectivas 2024, mas o assunto que ganhou mais força e se tornou central no evento não foram exatamente os números esperados para o ano, mas um pedido de socorro ao governo: a elevação imediata do imposto de importação para proteger a indústria automotiva nacional do avanço dos carros eletrificados e componentes chineses no mercado brasileiro. Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, representante dos fabricantes de veículos instalados no Brasil, abriu o evento sem meias-palavras: revelou em primeira-mão que a entidade iniciava negociações com o governo federal para que seja antecipado o cronograma de retorno do imposto de importação para veículos eletrificados – até o fim de 2023 a alíquota estava zerada para carros elétricos e reduzida a 4% para híbridos e, em dezembro passado, foi escalonado um plano para a retomada gradual a partir deste ano, em quatro fases até chegar aos usuais 35% em julho de 2026. A declaração imediatamente extrapolou os limites do auditório do Centro Universitário Senac, em São Paulo, onde foi realizado o evento, gerando imediatas reações contrárias e comunicados dos principais interessados em continuar importando todos os carros eletrificados que conseguirem com taxação reduzida, caso da ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico, e da Abeifa, que reúne importadores. E, claro, nos dias seguintes a discussão tomou conta do noticiário sobre indústria automotiva. PROTEÇÃO JÁ A intenção da Anfavea, segundo relatou Lima Leite, é de retomar o quanto antes a alíquota de 35% – a máxima permitida pela OMC, Organização Mundial do Comércio. O objetivo é tentar frear o rápido avanço das importações de veículos elétricos e híbridos, especialmente da China, que de 2023 para 2024, aproveitando-se do imposto zerado ou reduzido, aumentou de Fotos: Christian Castanho 7% para 26% sua participação na importação de veículos para o Brasil, emplacando 51,7 mil carros no primeiro semestre, em crescimento de 449% sobre o mesmo período do ano passado. O presidente da Anfavea entende que a velocidade com a qual o imposto está voltando a ser aplicado não é suficiente para segurar o crescimento das importações de veículos eletrificados chineses, que em tese estariam tomando espaço dos veículos produzidos no País. No caso de elétricos a alíquota passou de zero para 10% em janeiro e subiu a 18% em julho, permanecendo assim nos próximos doze meses, com cota isenta de US$ 283 milhões no primeiro semestre e de US$ 226 milhões até junho de 2025. “Continuamos reféns das importações, o mercado só cresceu até agora por causa delas, que tomaram lugar da nossa produção”, afirmou Lima Leite. “Esta situação ataca a nossa competitividade, agora e no futuro. Se o Brasil quiser ter um olhar à frente, ser um grande competidor, precisamos analisar as importações com viés de preocupação. Este volume crescente hoje é um risco para nossa indústria.” O dirigente ressaltou que não se trata de uma reclamação mas de uma discussão necessária que está acontecendo no mundo todo, usando como exemplo dos Estados Unidos e da Europa, que estão criando barreiras a produtos importados da China com a alegação de concorrência desleal. O governo estadunidense já taxou em 100% as importações de carros elétricos chineses e a União Europeia estuda aplicar alíquotas de 27% até 48%, dependendo do fabricante e dos subsídios que recebe do governo chinês. A preocupação da Anfavea não envolve apenas as montadoras chinesas que que mais crescem no Brasil mas também investem na futura produção nacional, caso de GWM e BYD, mas com todas as outras empresas instaladas aqui que podem optar por trazer carros de suas fábricas na China, como Volkswagen, General Motors ou Stellantis: “As empresas buscam o lucro e se for mais vantajoso
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