35 AutoData | Junho 2024 Os sistemistas têm esse poder: em alguns casos já são maiores do que alguns de seus clientes, empregam mais gente, faturam mais e têm número de fornecedores igual ou maior do que as montadoras finais. Por isto desempenham papel crucial na indústria automotiva global, são gigantes multinacionais que fornecem parte relevante do valor agregado de um veículo e cabe a eles grande parte da nacionalização dos produtos que saem das linhas de montagem no Brasil. Essas empresas já somam muitos anos de experiência no mercado brasileiro – algumas vieram para cá já há décadas para acompanhar seus maiores clientes, as montadoras – e têm investido na modernização de suas operações para aumentar a eficiência produtiva e atender às demandas do mercado local e global – muitas exportam parte relevante do que produzem aqui, inclusive para mercados maduros da Europa, América do Norte e Ásia. DESENVOLVIMENTO LOCAL Direta ou indiretamente os sistemistas só têm a se beneficiar no cenário atual da indústria automotiva no País, especialmente com o Mover, o Programa de Mobilidade Verde. Assim como as montadoras alguns grandes fornecedores já habilitaram projetos para receber incentivos do programa à pesquisa e desenvolvimento, exportações e a localização de componentes. É certo que se eles não investirem nada acontece, de nada adiantarão os mais de R$ 100 bilhões que os fabricantes de veículos prometem investir no Brasil no bojo do Mover. Um dos pontos favoráveis com o novo programa é o incentivo ampliado a mais níveis da cadeia automotiva. O Rota 2030, de 2018, já tinha corrigido a deficiência da política setorial anterior iniciada em 2012 pelo Inovar-Auto. Agora é possível trabalhar melhor os projetos na cadeia automotiva como um todo e não só dentro da montadora, observa Erwin Franieck, presidente do Instituto SAE4Mobility. O Rota 2030 permitiu a participação desde os pequenos e médios aos grandes fornecedores, interligando projetos Gorodenkoff/shutterstock com universidades e institutos de pesquisas tecnológicas. Essa contribuição ajudou na evolução dos componentes. Com os incentivos o Brasil passou a nacionalizar estamparia e mais eletroeletrônica, avalia Franieck: “As empresas que desenvolvem estes componentes trouxeram a base de desenvolvimento local para a eletrônica também. O Mover faz exatamente isto: incentiva a economia local e permite que os sistemistas, que são o elemento central nisto tudo, tenham condições de trazer linhas novas e tecnologias para o Brasil sem tanta penalização”. Quando cita penalizações ele se refere às taxas e às barreiras de importações de equipamentos e de alguns insumos para produção local, enquanto outros países como México, China, Coreia do Sul e Vietnã oferecem isenções e benefícios. Durante a vigência do primeiro ciclo do Rota 2030, de 2018 a 2023, Franieck aponta que houve desinteresse por nacionalização. Agora o Mover trouxe benefícios à localização e começa a se criar demanda de conteúdo local: “Essa é a grande sacada desses R$ 19 bilhões que o programa oferece [em créditos tributários para financiar projetos]. Eu acredito que a montadora vai querer usar boa parte, mas o sistemista terá mais acesso, porque um dos itens que a gente mais importa hoje no Brasil são conjuntos de direção elétrica ativa, suspensão inteligente, bomba injetora eletrônica. Isso tudo é demandado para todos os veículos e vem de fora. Com o Mover conseguirão trazer estas linhas”. Este processo, desde o Rota 2030, ajuda a indústria a mapear seus gargalos. À medida que o carro tiver vários níveis de automação, como os ADAS, sistemas avançados de assistência ao motorista. Franieck lembra que sistemas mais comuns ainda são importados, caso do câmbio automático, que hoje está em mais de 60% dos carros novos vendidos no Brasil – em passado recente este porcentual não passava de 20%. Todos são importados e existe demanda. Outra oportunidade de nacionalização é a do sistema de injeção direta de combustível.
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