29 AutoData | Fevereiro 2024 Com esta movimentação a Argentina perdeu para o México o posto de maior mercado externo de veículos brasileiros, descendo ao segundo lugar pela primeira vez na história da indústria regional. O consumo de carros do Brasil no país vizinho, que representou 34% dos emplacamentos, em 2022, caiu para 27% em 2023, segundo dados da Acara, associação que reúne os concessionários argentinos. Na mão contrária os produtos argentinos seguem respondendo por larga maioria das importações de veículos feitas pelo Brasil, com participação de 63% e quase 220 mil unidades em 2023, um crescimento anual de 11%, mas a fatia do parceiro caiu 10 pontos com relação aos 73% de 2022. “Na Argentina o mercado interno cresceu e nossas exportações para lá caíram. Nós não perdemos competitividade, existe penetração de chineses mas não é relevante. O problema maior foi a dificuldade do país de remeter dólares e a taxação de importados, assim a produção local sustentou as vendas”, conta o presidente da Anfavea. De fato os veículos fabricados na Argentina aumentaram sua participação nas vendas domésticas de 58%, em 2022, para 67% no ano passado, conforme a Acara. Lima Leite sustenta que “o Brasil sempre será um grande fornecedor de veículos para a Argentina, vamos monitorar o que acontecerá, principalmente como será política de pagamentos em dólares [do novo governo], mas com o prognóstico de queda do mercado interno para cerca de 350 mil unidades este ano dificilmente será possível aumentar exportações para lá”. MAIS DECEPÇÕES Dois mercados que vinham apresentando ótimo desempenho para as exportações brasileiras de veículos, Chile e Colômbia foram duas grandes decepções em 2023: “Esperávamos resultados bem melhores dos dois países”, lamenta Lima Leite. “Houve mais penetração de carros chineses nesses mercados mas este não foi o principal fator: o que mais impactou nossas vendas foi a queda de cerca de 50% desses mercados”. A Colômbia se manteve como terceiro maior comprador de carros brasileiros, mas sua participação caiu de 15%, em 2022, para 8% no ano passado. As exportações para os colombianos caíram 53%, para 35,3 mil unidades. Já o Chile registrou o maior tombo, de 57%, nas compras de veículos do Brasil. Com apenas 26,8 mil unidades sua participação caiu de 13%, em 2022, quando foi o quarto maior importador de veículos brasileiros, para 6%, em 2023, quando desceu para a quinta posição. O Chile foi ultrapassado pelo pequeno Uruguai, que aumentou levemente em 4% suas importações do Brasil, para 34,8 mil veículos, e assim estabeleceu participação de 8% das exportações brasileiras em 2023, quase igual à da Colômbia. Na sexta colocação de compradores externos vem o Peru, que também teve relevante recuo de 26% nos pedidos de veículos do Brasil, para 20,1 mil unidades, e perda de 1 ponto de participação no total de exportações, para 5%. SEM COMPETITIVIDADE O mau resultado das exportações de veículos brasileiros em 2023, e a projeção de outro ano ruim em 2024, expõem a crescente falta de competitividade da indústria no País. Não é de agora que o setor automotivo nacional exporta pouco e exporta mal, com mais de 80% das vendas externas concentradas em poucos mercados de baixos volumes da mesma região. Em 2022, considerado um bom ano, a relação foi de 1,7 veículo exportado para cada um importado e agora o índice baixou a 1,1 para um, devido ao crescimento de 29% nas importações no ano passado. Pior: a maioria dos importados é de produtos de valor agregado muito mais alto do que os modelos exportados pelo Brasil. Sem solução visível adiante para melhor equacionar a balança comercial de seu setor automotivo resta ao País fomentar e proteger seu próprio mercado, pois nenhum mercado maduro quer comprar carros brasileiros e assim a saída das exportações fica cada dia mais estreita.
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