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7 AutoData | Novembro 2023 XORORÔ EM PÚBLICO 2 Poderia jogar os caminhões FêNêMê neste balaio pioneiro mas talvez não seja o caso. O caso, enfim, é que nestes tantos anos atrás o bloco monolítico dos fabricantes não abria espaço para discussões públicas a respeito de seus pleitos e desejos. Parece, até, que não era considerado elegante, de bom-tom, botar a corneta pra fora e reclamar de alguma coisa: tudo era resolvido com conversas em casa, qualquer coisa como “você perde agora mas recupera mais tarde”. O bom cabrito, naqueles tempos, não berrava e confiava no bom trânsito de seus iguais pelos gabinetes que importavam e ficava à espreita de boa oportunidade que chegasse para diminuir o que considerava preju. Mas os bons cabritos de hoje em dia não são mais assim: eles berram apesar de não viverem mais na primeira encosta da sua pirâmide social. XORORÔ EM PÚBLICO 3 Me diz a memória que a primeira manifestação pública de um desencontro interno no âmbito da Anfavea aconteceu em 2001, em março, tendo como causa um processo de unificação do IPI que colocou em calorosos lados contrários o então presidente José Carlos da Silveira Pinheiro Neto, que representava a General Motors, e os presidentes Herbert Demmel, da Volkswagen, e Giani Coda, da Fiat. O bate-boca veio ao conhecimento dos comuns mortais, ganhou alto de página de jornais diários. E foi o que se viu em 8 de novembro passado, na forma de página inteira em alguns jornais de circulação nacional: uma carta aberta corporativamente assinada por General Motors, Toyota e Volkswagen que prega “justiça e isonomia para todos”. Não se discute a respeitabilidade de cada uma das empresas reclamantes mas pode-se discutir, sim, a sua excelsa falta de memória. Pois as três disputaram vantagens para produzir no Brasil desde antes de seus primeiros dias aqui – senão, cada uma a seu tempo, não teriam se instalado aqui, simplesmente assim. XORORÔ EM PÚBLICO 4 O propósito da manifestação destas três grandes do sistema automotivo tupiniquim é a reforma tributária em curso no Congresso Nacional, que por enquanto mantém prorrogados até 2032 os incentivos dos regimes automotivos para o Nordeste e para o Centro-Oeste beneficiando Stellantis e Moura em Pernambuco, HPE e Caoa em Goiás e a herdeira da fábrica de Camaçari, a BYD, na Bahia. Sou dos que acham que xororôs públicos pegam mal, indicam algum tipo de inusitada fraqueza principalmente quando os argumentos esgrimidos podem, à perfeição, ser utilizados para defender as emendas em questão da reforma tributária, de números 3, 4 e 5 do seu artigo 19. XORORÔ EM PÚBLICO 5 Mas talvez o mais esquisito da história seja a posição de governadores das regiões Sudeste e Sul, que abraçam e agasalham argumentos que não são do Estado – muito ao contrário é pura conversa corporativa: o do Rio Grande do Sul diz que aqueles três artigos provocam “um desequilíbrio concorrencial”, e o do Paraná garante que “incentivam a guerra fiscal”. Cá conosco governantes não deveriam, à mercê de algum bom senso, tocar neste tipo de assunto.

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