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7 AutoData | Agosto 2023 reforça o compromisso do Google com o Uruguai e com a América Latina e o desenvolvimento de um ecossistema tecnológico local”. Disse a empresa em uma daquelas reportagens que parecem um release de uma assessoria de imprensa. Para manter frios os servidores o Google evapora água para resfriar o ar ao redor das unidades de processamento empilhadas dentro dos data centers. A estimativa do M inistério do Meio Ambiente do Uruguai, obtida por um pesquisador por meio de uma ação judicial, é que o projeto deve consumir 7,6 milhões de litros de água por dia [7,6 mil m3] provenientes da rede pública. Seria água suficiente para 55 mil pessoas. O GOOGLE E A ÁGUA 4 “A revolta já se espalhou pelos muros de Montevidéu, segundo o jornal The Guardian. Começam a aparecer pichações com o slogan Não É Seca, É Roubo, o mesmo adotado pelo movimento Comissão em Defesa da Água e da Vida. Em resposta às críticas o Google afirmou que ainda está revendo os planos para o data center e que os números divulgados não são definitivos. E, para sermos justos, o Google não está sozinho, claro. Mais de 80% da água daquele país são usados pelas indústrias, como as plantas de celulose e as plantações de soja. Apenas 20% são usados pela população. Em junho uma nova fábrica de celulose, da empresa finlandesa UPM, abriu no país. E ela deve usar dezesseis vezes mais água do que o data center do Google: 129 milhões de litros por dia [1 milhão 290 mil m3]. Mas, de maneira diferente da UPM, o Google tem usado sua presença aqui no Cone Sul para aliviar a pegada ambiental. A Big Tech anunciou a meta, por exemplo, de descarbonizar a energia usada nos seus data centers. E como tem feito isto? Enviando aos usuários um mapinha que mostra o quão limpa é a energia usada para manter cada um dos data centers. O do Brasil é um dos que tem a maior taxa de energia limpa, mais de 87% – obviamente, à medida que nossa energia é hidrelétrica. Só perde para o do Oregon, nos Estados Unidos, que tem 89% de energia dita limpa. O GOOGLE E A ÁGUA 5 “Mas o Google vai além e sugere que cada usuário pense bem onde quer guardar seus dados e aplicações na nuvem: “Escolha uma região de baixo carbono para suas aplicações”, diz o site da empresa. Assim, qualquer empresa do mundo pode selecionar o Brasil como local para estocar seus dados adicionando em suas políticas que está sendo ambientalmente sustentável. (Isto não diz nada sobre a quantidade de água usada para resfriar as máquinas, aliás.) Ambas as iniciativas contam uma mesma história: estamos entrando na era da geopolítica do clima – e, nela, corporações podem mover-se de país para país disseminando o impacto das suas atividades econômicas em locais onde as leis ambientais são mais frouxas ou onde possam fazer melhor seu greenwashing. Já as populações – como os uruguaios que recebem água intragável – não têm para onde correr. O que está acontecendo em Montevidéu me parece ser um prenúncio do futuro que estamos costurando para nós mesmos: um futuro seco, plataformizado e injusto.” O GOOGLE E A ÁGUA 6 Aposto que nenhum de vocês, leitores, se habilitariam a um futuro descrito como este.

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