400-2023-06

Junho 2023 | AutoData 78 ESPECIAL AUTODATA 400 » BIOCOMBUSTÍVEIS Evolução do etanol É inegável que a cana-de- açúcar é a fonte mais produtiva do já amplamente difundido etanol no País, mas ela também está progredindo. Algumas espécies como a cana-energia estão sendo cultivadas e podem produzir mais álcool por hectare plantado. Outra forma de aumentar em cerca de três vezes a produtividade da cana é o etanol de segunda geração, o E2G, ou celulósico, produzido a partir do bagaço, torta de filtro, palha e pontas que sobram do processo produtivo das usinas – estima-se que esta biomassa represente algo como dois terços do potencial energético da cana, apenas um terço vem da garapa da qual se destila o álcool de primeira geração. A Raízen – associação em partes iguais dos grupos Cosan e Shell – já opera em Piracicaba, SP, desde o ano passado, a primeira usina de E2G do mundo e vai inaugurar outras cinco nos próximos três anos: a segunda, em Guariba, SP, começa a produzir em setembro. As unidades fazem parte do plano de ter vinte biorrefinarias de E2G em operação até o fim desta década, ao custo estimado de R$ 1,2 bilhão cada uma. A empresa desenvolveu o próprio processo economicamente viável de produção de etanol celulósico e já tem planos de licenciar o uso para outros produtores. Quando estiverem operacionais as novas unidades poderão acrescentar 1,6 bilhão de litros de etanol de segunda geração à produção anual da Raízen, só com uso de bagaço e torta de filtro de suas outras usinas, sem que seja necessário plantar um pé de cana a mais. Segundo a empresa seria possível construir até quarenta plantas de E2G se não fosse necessário usar boa parte da biomassa da cana para queima com geração de vapor e eletricidade que alimentam suas unidades produtivas. Por isto já está nos planos usar outras alternativas para gerar energia, como o biogás do vinhoto que sobra da destilação da cana, e assim dedicar mais biomassa para produção de E2G. Em paralelo cresce com vigor a produção de etanol de milho, com 21 usinas operacionais que devem usar pouco mais de 10% da safra do grão, prevista para alcançar 133 milhões de toneladas, para produzir 4,3 bilhões de litros de etanol este ano, com projeção da EPE de avançar mais que o dobro a partir de 2030, para volume acima de 9 bilhões de litros/ano. Não bastasse tudo isso já há pesquisas prospectivas para produzir etanol a partir de soja, trigo, mandioca e agave. Esta última planta é perfeitamente adaptada ao semiárido do Nordeste brasileiro, requer pouca água e atualmente é utilizada só a espécie sisaleira para a produção de fibra de sisal, que utiliza apenas 4% da planta – os 96% restantes têm grande potencial para produção de etanol, biogás, fertilizante natural e ração animal. Financiado pela Shell e realizado no semiárido da Bahia por equipe do Senai Cimatec, com consultoria científica da Unicamp, o Projeto Brave, sigla de Brazilian Agave Development, prevê investimentos em uma usina piloto que começa a operar em 2024 para servir de modelo para exploração do potencial bioenergético do agave no sertão nordestino. Segundo o professor Gonçalo Pereira, que está envolvido no projeto, caso seja introduzido em grande escala no Brasil o agave tequileiro – o mesmo do qual se destila a tequila no México – o potencial de produção de etanol é ainda maior do que o da cana. De um total de 108 milhões de hectares do semiárido brasileiro, em área que hoje só se produz miséria e cabem duas Alemanha e uma Grécia, apenas 3,3 milhões de hectares plantados de agave podem produzir 30 bilhões de litros de etanol, o mesmo volume que é produzido atualmente em 4,5 milhões de hectares plantados de cana.

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