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6 LENTES Junho 2023 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br LIÇÕES AO PÉ DE UMA LAREIRA DECADENTE Faz muitos anos, lá antigamente, mais de quatrocentas edições de AutoData atrás, empresários do setor de veículos, quase sempre do segmento de autopeças e de concessionárias, mais executivos de empresas fabricantes de veículos, inclusive seus presidentes, não temiam assumir a posição de figuras públicas. Figuras comoWolfgang Sauer, que governou a Volkswagen do Brasil de 1973 a 1993, e como André Beer, vice-rei da General Motors por quase quarenta anos, eram uma espécie de arroz doce de função nas editorias de Economia de jornais e revistas: tinham presença diária e semanal naquelas páginas e – o melhor de tudo – respondiam sobre qualquer assunto, desde a absurda inflação do chuchu, inventada pelo ministro Mário Henrique Simonsen em 1977, até o ansiado processo de abertura democrática que permitiria colocar nos trilhos os rumos da economia do País, em favor principalmente da população de baixa renda, chamada de os pobres, e das liberdades democráticas com a volta de eleições diretas e uma nova Constituição. Este mesmo processo, de exposição pública, parece ter desaparecido hoje em dia dos horizontes jornalísticos, com as assessorias escondendo seus fregueses de jornalistas ávidos por fazer perguntas, até aquelas incômodas. Tudo isto parece ter sido substituído por um tipo de gente doida para se fazer passar por jornalistas e que atende pelo glamour influencers, como se isto quisesse representar alguma coisa séria. Talvez os haja, así como las brujas. Mas influenciar pessoas, já dizia Dale Carnegie, não tem nada a ver com a missão de testemunha ocular da história, posição ocupada por jornalistas profissionais. LIÇÕES AO PÉ DE UMA LAREIRA DECADENTE 2 Isto tudo me veio à mente depois de contabilizar ninguém de importância do setor de veículos expondo pontos de vistas a respeito de assuntos fora de sua área específica de atuação durante semanas. Ou seja: durante muitos dias jornalistas não recorreram ao conhecimento e à experiência de empresários e de executivos do setor automotivo nem para perguntar a respeito da rediviva inflação do chuchu. Dedicaram-se, apenas, à prosopopeia do carro popular. Não se arriscaram a perguntar nem sobre Nicolas Maduro, o presidente da Venezuela. E, aposto, temos gente com estas capacitações de análise no setor de veículos – assim como já as tivemos no passado. Os presidentes das Quatro Grandes, Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen, secundados pelos de Mercedes-Benz, Scania e Volvo, tinham opiniões multifacetadas tanto sobre os grandes problemas da humanidade como sobre o preço em vigor do pãozinho francês. E até a respeito da inflação do chuchu. E conheci dirigentes de empresas newcomers que não ficavam atrás: suas experiências de vida, vividas da Turquia a Taiwan, revelavam uma curiosidade espiritual pelos fatos como se muitos deles fossem jornalistas preocupados com a vaca sagrada da ilha de Guernsey. Talvez fossem eles profissionais preparados para ser mais cidadãos do mundo do que reles apuradores de lucro. E pensei neles, naqueles todos que perderam tempo transmitindo um pouco a mais de conhecimento para jovens repórteres como nós. LIÇÕES AO PÉ DE UMA LAREIRA DECADENTE 3 Tive, então, uma pequena intuição ao ler, na conceituada Consortium News, artigo de Ashik Siddique, analista de pesquisa do projeto Prioridades Nacionais do Instituto para Estudos Políticos e especialista na análise do orçamento federal dos Estados Unidos e dos gastos militares. Ele se propõe

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