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Junho 2023 | AutoData Divulgação/Fiat “A grande dúvida é se o motorista autô- nomo que usa este caminhão com mais de vinte anos tem condições financeiras para trocá-lo por um modelo novo. Eu creio que o programa conseguirá benefi - ciar alguns caminhoneiros, mas será que no fim o resultado terá a magnitude que o governo imagina? Não podemos esquecer que ainda temos o problema da limitação de crédito”. Cássio Pagliarini, da Bright, concorda que as medidas contribuirão para renovar a frota de caminhões e ônibus, mas enxerga dificuldades no caminho: “A intenção é boa mas será preciso superar as dificuldades de implementação. Por exemplo: as em- presas responsáveis por dar a destinação adequada aos veículos velhos e providen- ciar a baixa no chassi estão capacitadas para esta tarefa? É preciso saber se os envolvidos no processo serão capazes de executar tudo a contento. Os valores são bons, e o que complica é a habilitação dos envolvidos”. Vale lembrar que o segmento de ca- minhões e ônibus está muito impacta- do com a entrada em vigor, este ano, da nova fase da legislação de emissões para veículos pesados, o Proconve P8, com adoção de motorização Euro 6 que tornou os veículos de 15% a 30% mais caros, provocando forte queda nas ven- das. Portanto o preço do modelo zero- -quilômetro ficou ainda mais distante do antigo, praticamente inviabilizando a compra mesmo com o desconto. DEPOIS TEM MAIS? “Quando acabarem os recursos o go- verno pode dizer ‘temos mais R$ 500 mi- lhões’ e estender o programa; talvez seja uma estratégia de soltar os incentivos a conta-gotas para se manter em evidên- cia com uma medida positiva, mas não há como saber agora”, afirma Pagliarini. “Mas também não creio que o mercado consiga seguir no mesmo ritmo após o fim dos descontos.” Ele recorda: “Vamos lembrar que quan- do houve a crise internacional provocada pela quebra do banco Lehmann Brothers nos Estados Unidos, em 2008, o governo brasileiro promoveu a desoneração de IPI, medida que era para durar durante umano e acabou valendo por quase três”. Já Milad Kalume Neto, da Jato, não aposta na extensão dos incentivos: “Pode até ser que providenciem uma sobrevida ao plano mas, de acordo com o próprio ministro Fernando Haddad [da Fazenda] o teto é este: então não tem como pror- rogar. Outro fator é que o programa ter- minará, teoricamente, em um momento no qual devemos ter taxa de juros mais baixa – pelo menos é esta a expectativa do governo. Se isto se confirmar a ten - dência é de que o mercado volte a andar por si só”. Márcio de Lima Leite, da Anfavea, tem opinião similar: “É uma medida pontual. O governo sempre ressaltou que tem restri- ções orçamentárias e a tendência é que os juros comecem a cair e se desenhe um cenáriomelhor para o setor”. Mas o dirigente não descarta a prorrogação dos benefí- cios e avalia que o incentivo psicológico também é importante: “Isto acaba conta- minando positivamente o consumidor, dan- do maior destaque a este segmento que estava com dificuldades. O legado ficará”. É importante lembrar também que os descontos concedidos pelos fabricantes serão transformados em créditos tribu- tários, que as empresas poderão utilizar para saldar impostos futuramente. Este 36 ESPECIAL AUTODATA 400 » MERCADO

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