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6 LENTES Março 2023 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br Acervo DOZE PRESIDENTES EM 70 ANOS Fazer 70 anos produzindo sem interrupção num País de população pobre como o nosso é para ser comemorado. Mais ainda quando alguns conheceram, e ainda se lembram, das condições que eram oferecidas àquela novidade que eram veículos Made in Brazil. Há, ainda, poucos pioneiros disponíveis para relatar o que significava ir e vir de São Bernardo nos anos 50 do século 20: uma ligação telefônica para São Paulo podia demorar um dia inteiro, ir para São Bernardo também, dependendo da quantidade de chuva. Muitas vezes, por causa de água e barro, era conveniente dormir na própria sala de trabalho à espera de um dia seguinte mais camarada. Havia, ainda, a questão acessória de que ninguém, por aqui, sabia fazer automóveis e outra ainda mais confusa: chamar a indústria de autopeças incipiente era ter, por ela, um respeito reverencial, até então dedicada a suprir prateleiras do mercado de reposição de veículos basicamente originários de empresas estadunidenses e dos pequenos ingleses. Foram anos de combate com armas curtas até que a forja da experiência-e- erro fez abrir cortinas de um certo otimismo com relação ao futuro. Fomos levados a acreditar que veículos e motores faziam, realmente, parte de nosso DNA, que também éramos do ramo das manufaturas mais complexas. DOZE PRESIDENTES EM 70 ANOS 2 Falo dos 70 anos de Brasil que a Volkswagen comemora este mês e que são objeto de extensíssima reportagem nesta mesma edição, a partir da página 40. Só conheci o chefão Schultz-Wenk, o primeiro presidente aqui, por fotos e de ouvir falar. Harald Uller Gessner, que se aposentou na Karmann mas começou carreira de vendas no Brasil na Volkswagen, dizia que Schultz-Wenk era genial, mas era alemão, disciplinado ao extremo. Nunca compreendi a definição de Gessner mas a verdade é que além de tudo ainda foi o responsável pela existência da fábrica Anchieta, que ao longo dos anos tornou-se maior do que pelo menos a metade dos municípios brasileiros da época, com templos, padaria, semáforos e estruturado serviço de agiotagem interna, reprimido pela empresa mas vicejante para milhares de funcionários apertados no orçamento. Gessner foi sucedido por Rudolph Leiding doze anos depois, exatamente o Leiding da Brasília e dos esportivos SP 1 e 2. Depois dele chegou a lenda Wolfgang Sauer, vindo da Bosch, que exportou Fusca para a Nigéria e Passat quatro portas para o Iraque. Que dizia para o kaiser da Fazenda da época, o professor Delfim Neto, aquilo que a indústria queria dizer. Homem fascinante, de alto it pessoal, amante das coisas boas da vida, completadas por cognac e charutos, Sauer foi o primeiro executivo da indústria de veículos a ser confundido com a própria indústria de veículos. Sauer

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