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6 LENTES Fevereiro 2023 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br FUNÇÃO SOCIAL DO FGTS NA LATA DO LIXO 1 Agora, em janeiro, a Agência Câmara de Notícias divulgou que, se aprovado no Parlamento e sancionado pelo presidente da República, projeto de lei permitirá que o trabalhador troque a casa, bem de raiz, por automóvel, novo ou usado, dentro do espírito da coisa do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que é FGTS e que já foi Fugats. Um certo deputado federal de nome Pedro Lucas Fernandes teve a coragem de elaborar a proposta para “aquecer a economia e a criação de postos de trabalho”. Sensibilidade social certamente não faz parte da formação do deputado, que propõe a troca daquilo que seria o valor de décadas de contribuição para a aposentadoria por agrado ao mercado. Por um carro. FUNÇÃO SOCIAL DO FGTS NA LATA DO LIXO Mudar as relações de trabalho naquele Brasil de 1964, nos seus primeiros meses, no começo da ditadura que foi até 1985, era um compromisso dos militares golpistas com empresários. Principalmente queriam estes o fim do estatuto da estabilidade ao trabalhador ao se completarem dez anos de serviços para a mesma empresa. Claro que conseguiram, com a propaganda do governo cantando que viria, assim, um tempo em que o trabalhador não seria mais um vagabundo compromissado apenas com os primeiros dez anos de sua vida profissional. Armaram um sistema pelo qual os valores depositados em conta especial em nome de cada trabalhador corresponderiam, em dinheiro, na hora da aposentadoria, 35 anos depois, àquilo que receberia sob o estatuto da estabilidade – receberiam uma bolada e seriam felizes. Claro que ninguém combinou com os russos, na forma de inflação e de muitos planos econômicos. Aquela grana somente estaria disponível antes da aposentadoria no caso de o trabalhador ser demitido sem justa causa ou se comprasse casa própria, um bem de raiz – e isto fez a festa da classe média ascendente e das construtoras. E a bufunfa da aposentadoria tornou-se cimento, areia e tijolos e cerâmica e tinta e ferragens e louça sanitária. A GRANDE IMPRENSA OLHOU PRO OUTRO LADO A ideia da Oxfam, fundada em Oxford, Inglaterra, em 1942, por gente que se preocupava com pobreza, desigualdade e injustiça, foi aproveitar o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, em janeiro, para divulgar o resultado de seu relatório anual. A Confederação Oxfam implica vinte organizações filiadas em mais de noventa países. Mas quais as revelações do seu relatório? Ah, claro: diz que a parcela 1% mais rica do mundo abocanhou quase que 66% de toda a riqueza gerada no mundo nos dois anos anteriores – coisa de US$ 43 trilhões, ou seis vezes mais dinheiro que 90% da população global obteve no mesmo período, coisa de 7 bilhões de habitantes. As notas a respeito, na grande imprensa, foram discretíssimas, e nenhum jornalão concedeu algum editorial ao assunto. A GRANDE IMPRENSA OLHOU PRO OUTRO LADO 2 E as companhias do setor do transporte, onde se inserem produtores de veículos e de autopeças e o pessoal das concessionárias, naturalmente, também ignoram o assunto. É compreensível, pois não devem dispor de analistas socioeconômicos, e políticos, que lhe digam, com franqueza, que miséria, desigualdade e injustiça jogam contra os seus interesses.
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