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42 Fevereiro 2023 | AutoData TECNOLOGIA » BICOMBUSTÍVEL Mas Botelho recorda que a princípio ninguém botou fé na ideia: “Fui um ver- dadeiro marqueteiro do sistema, mas os usineiros não mostraram interesse, tinham medo de serem obrigados a produzir ál- cool a baixo preço, as montadoras tinham medo de perder mercado, enquanto o governo via mais vantagem em aproveitar os preços baixos da gasolina e assimevitar problemas. Levamos uma década para emplacar a solução”. Para Fábio Ferreira, diretor de produtos da divisão de powertrain da Bosch no Brasil, o desenvolvimento do sistema flex foi um marco histórico para a engenharia automo- tiva: “Desenvolvemos algo que emapenas três anos se tornou tecnologia dominante no mercado brasileiro. Também antecipa- mos aqui a descarbonização das emissões, que nem era o foco inicial na época, mas que ganhou importância nos últimos anos e fortaleceu a nossa engenharia”. Outro envolvido desde o princípio no projeto flex fuel no Brasil é o engenheiro italiano Gino Montanari, gerente de pes- quisa e desenvolvimento de powertrain e eletrônicos da Marelli, antiga Magneti Marelli quando pertenceu ao Grupo Fiat: “Superamos todos os desafios que tivemos pois é difícil trabalhar com dois combustíveis diferentes. O etanol hidratado temde 4% a 7% de água, precisa de auxílio para partida a frio, tem problema quando se mistura com óleo, tudo diferente da gasolina. Conseguimos desenvolver um software que deu a qualquer motor ciclo otto capacidade de funcionar com etanol ou gasolina em qualquer proporção. Hoje esta tecnologia faz parte da vida de qual - quer brasileiro que tem um carro”. AMarelli equipou comseumódulo ele - trônico bicombustível o primeiro carro flex brasileiro, oVolkswagen Gol Total Flex, lan - çado em2003, e desde então calcula já ter produzidomais de 10milhões demódulos flexfuel emsua unidade de Hortolândia, SP. Hoje a empresa fornece a décima-primei - ra geração do sistema para Volkswagen, Stellantis e Caoa Chery – para esta última é fornecido o módulo flex inclusive para os híbridos leves da marca, Tiggo 5X e 7X, que usam bateria de 48 V. A empresa, que hoje pertence ao grupo japonês Calsonic Kansei, tambémestá envolvida atualmente no desenvolvimento de carros flex na Índia. Atualmente a Bosch é omaior fornece- dor nacional de sistemas flex que produz emCampinas, SP, temdez grandes clientes no País, para os quais já forneceu mais de 13 milhões de módulos nos últimos vinte anos e está presente em 80% dos carros com algum componente preparado para operar com etanol, como o dispositivo de pré-aquecimento de injetores que dispensa o tanquinho de gasolina para partida a frio: “O FlexStart já está emsua terceira geração e já fornecemos 3 milhões de unidades desde 2009”, conta Ferreira. A subsidiária brasileira da Bosch abri- ga o centro de competência mundial para biocombustíveis da companhia, que atu - almente já fornece serviços de engenharia para a adoção da tecnologia flex emoutros países, principalmente Índia e Tailândia. Segundo Ferreira “de 80% a 90% de nos- so trabalho na divisão de powertrain está ligado no desenvolvimento da evolução do sistema flex”. O engenheiro acrescenta que a Bosch já fornece para carros bicombustível com injeção direta e que o próximo passo é o desenvolvimento de sistemas híbridos flex,

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