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34 Fevereiro 2023 | AutoData MERCADO » TRAJETÓRIA PREÇOS NAS ALTURAS A gangorra de emprego e renda para baixo e preços para cima vemcontribuindo já há alguns anos para limitar a evolução do mercado de veículos novos no País, mas desde 2020 sucessivos e grandes aumentos, aliados a crédito caro e restrito, transformaram carros em bens inalcançá- veis para a maioria da população. “Somente em 2021 o preço médio de lista dos carros subiu 16 pontos porcen- tuais acima da inflação, depois mais 11 pontos em 2022”, observa Pagliarini, ao mostrar levantamento da Bright que re- gistra tíquete médio de compra estabili- zado em R$ 82,2 mil, em 2019, antes da pandemia, valor que aumentou para R$ 136,7 mil no ano passado. Roberto Barros, da S&P, pontua que a escalada de preços desativa parcela importante do mercado: “Há dez anos um jovem recém-formado tinha renda suficiente e acesso a crédito para com - prar seu primeiro veículo zero-quilômetro. Essa fatia de clientes era alta e hoje está muito reduzida”. Pagliarini aponta que há poucos anos grande parte dos compradores de car- ros novos no País estava em famílias com renda média mensal de cinco salários mí- nimos, o que hoje equivale a cerca de R$ 6,5 mil: “O problema é que essa parcela da população diminuiu muito”. Segundo dados do IBGE 90% dos brasileiros ganham menos de R$ 3,5 mil por mês. Estudo da Jato comprova a queda do poder relativo de compra da população ao longo da última década: em 2010 o carro mais barato do mercado, o Fiat Uno 1.0, custava R$ 22,9 mil, o que equivalia a 45 salários mínimos, de R$ 510 na época. Em 2022 o veículo mais em conta foi o Renault Kwid Zen, por R$ 66,6 mil, ou 55 salários mínimos de R$ 1 mil 212. Ou seja: omodelomais popular à venda aumentou dez salários em doze anos. Os veículos no Brasil sempre foram caros comparativamente à renda média da população e já vinham ficando cada vez mais caros antes da pandemia, prin- cipalmente por causa da adoção de mais equipamentos e tecnologia, como as telas multimídia que hoje todos querem a bor- do, ou da introdução obrigatória de novos sistemas de segurança – como foi o caso de airbags frontais e freios comABS a partir de 2014 –, bem como para atender à legis- lação de redução de emissões e aumento de eficiência energética. A evolução, de fato, foi grande, os automóveis são muito melhores do que há dez anos, mas estão bem mais inacessíveis. A escalada se intensificou no pós - -covid, quando os valores explodiram. Com demanda maior do que a oferta por causa dos problemas de fornecimento Chevrolet Onix Fiat Palio Divulgação/FCA Divulgação/GM

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