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16 FROM THE TOP » JOSÉ MAURÍCIO ANDRETA JR., PRESIDENTE DA FENABRAVE Agosto 2022 | AutoData os custos caem e se os preços tendem a cair também o poder aquisitivo pode subir e aí tudo muda de novo. O mercado de veículos acima de 3 mi- lhões por ano foi uma bolha? O fato é que as montadoras erraram feio nas projeções que fizeram em 2011 [quando o mercado já passava de 3,6 milhões]. Diziam que as vendas chega- riam a 5 milhões no País em 2015 porque estavam olhando para o passado e não virama bolha que estava sendo formada, comvendas com troco e financiamentos de oitenta meses. Isso era insustentável e estourou. Olhando o que estava acon- tecendo nas minhas concessionárias anos antes eu apresentei à Anfavea um estudo meu, prevendo três cenários, de 3 milhões, 2,7 milhões ou 2,4 milhões. Ninguém acreditou no que eu disse, fechei meu laptop e me preparei para este cenário: enxuguei as despesas e segurei o caixa. A rede de distribuição de veículos no País estará preparada para um novo cenário com menos clientes e rentabi- lidade menor? Não acredito que o número de clientes venha a cair [do nível atual], mas pode, sim, haver redução de rentabilidade. O que precisamos é saber nos adaptar, enxugar. Já passamos por muitas crises montadoras não estão produzindo os carros que o consumidor quer, mas o que conseguem. Com a opinião de alguém como eu, que tem o umbigo colado no balcão da concessionária, é isso que de- terminará o que acontecerá este ano. Tenho conhecimento de concessionários que, para certos modelos, têm filas de mais de cem clientes esperando pelos carros há noventa dias, outros passam de 2 mil. Por isso não descarto que o mercado ainda pode crescer este ano: se a montadora produzir o que preciso e esses veículos ficaremprontos as vendas sobem de uma hora para outra porque nas concessionárias a demanda continua acima da oferta. Mas se nadamudar o que temos é essa projeção de estabilidade. Os juros estão subindo muito. Esse mo- vimento está puxando as vendas para baixo? Falamque falta crédito, mas se você tem cempessoas querendo comprar a prazo, consegue aprovar trinta fichas e só tem vinte veículos para entregar, então ainda não posso dizer que o problema é crédito: é a produção. Mas posso dizer que já notamos, sim, um aumento de compras à vista, de pessoas que preferem investir em um bem do que deixar o dinheiro parado no banco. Existem tambémaque- les que estão contratando planos com parcela maior no fim para decidir depois o que fazer, dependendo da situação. Mas quando a produção for normalizada como asvendas podemcrescer comesse nível de preço e juros nas alturas? O ne- gócio é sustentável comovolume atual? Nosso volume de vendas caiu barbara- mente, o que nos obriga a buscar adap- tações: se vendia cem e hoje vendo dez veículos preciso ajustar o tamanho da empresa, enxugar. Assim vamos nos adaptando à realidade do momento. Hoje existemuita pressão inflacionária no mundo todo e isso deixou os carros mais caros. Mas tudo é relativo: se a guerra na Ucrânia acabar, se a questão da covid for resolvida, se a logística podemelhorar, se “ As montadoras não produzem os carros que o consumidor quer, mas o que conseguem. Existem concessionários que têm filas de mais de cem clientes. Por isso não descarto que o mercado ainda pode crescer: se esses veículos ficarem prontos as vendas sobem de uma hora para outra.”
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