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59 AutoData | Abril 2022 extraído do biocombustível de cana. Por isso a Volkswagen incluiu em seu plano de investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil no período 2022-2026 a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis, a ser inaugurado em setembro dentro da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP. A empresa também já estabeleceu convênios com Unicamp, USP, Raizen e Shell para desenvolver pesquisas com etanol e sistemas veiculares associados. “Sempre que se apresentam estraté - gias globais só ouvimos falar de Europa, China e Estados Unidos”, observa Di Si. “Como ficam, então, as outras regiões, como Brasil ou Índia, onde não há condi - ções nem incentivos para eletrificar a frota tão rapidamente? Nós temos aqui essa alternativa: o etanol de cana é o combus- tível do futuro, com redução de emissões de CO2 até maior do que um elétrico na Europa.” O argumento é reforçado pelo enge - nheiro Palásio, da Bosch: “De nada adian - tará descarbonizar a Europa e os Estados Unidos comelétricos como se omundo se resumisse a isso. Há outras oportunidades e outras regiões com menor capacidade de investimento que podem adotar as so- luções de bioeletrificação que estamos desenvolvendo no Brasil, com grandes benefícios”. Já existem, também, países commer - cados relevantes interessados em adotar a tecnologia bicombustível etanol-gasolina, fator considerado fundamental para glo - balizar o biocombustível e torná-lo uma commodity com preços internacionais. O foco exclusivo no etanol só para o Brasil é perigoso, pois pode transformar o País em uma ilha que usa tecnologia ine - ficiente. Di Si, da Volkswagen, calcula que “se continuarmos a desenvolver motores flex só para um mercado de menos de 2 milhões de veículos por ano perderemos relevância no mundo. Mas se projetarmos, aqui, propulsores que rodam com etanol em conjunto com propulsão elétrica isso nos coloca em um mercado global po- tencial de 11 milhões de unidades/ano considerando só as vendas daVolkswagen no mundo hoje”. A Índia tem condições de aumentar suas plantações de cana e até agora exibe o maior potencial de expandir o uso do biocombustível. O governo indiano isentou o etanol de impostos e preparou legisla- ção para tornar obrigatória a adoção de motores flex no país, hoje o quarto maior importador de gasolina do mundo, que gera 73% de sua energia elétrica em usi - nas a carvão, onde de nada adiantaria ter carros elétricos alimentados por fontes altamente poluentes. Avizinha Argentina, que já produz car - ros flex exportados para o Brasil, também ensaia aumentar o uso de etanol, lá pro - duzido a partir do milho e hoje usado em mistura de 12% na gasolina. Com essa expansão para o mundo o sistema flex tende a ganhar protagonismo, transformando a tecnologia-jabuticaba brasileira em alternativa global. João Irineu Medeiros, da Stellantis Divulgação/Stellantis

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