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125 AutoData | Outubro 2021 chamamos no jornalismo a reprodução ipsis litteris de respostas relevantes do entrevis- tado. Obviamente Stéfani alterou todas as aspas e incluiu outras, dando mais fluidez ao texto e compreensão àquela matéria. Após a publicação da edição Perspec- tivas 2005, em outubro de 2004, eu e Sté - fani nos divertimos com aquela situação na sala de Rogelio Golfarb, na Ford, em São Bernardo do Campo, SP. Foi quando me orientou a evitar fazer anotações ou a gravar as conversas porque “distraía o entrevistado ou o deixava pouco à vontade para falar o que precisamos, de fato, ouvir: as confidências em off”. Desde então passei a adotar a técnica com algum sucesso e muitos fracassos. Mas trago até hoje essa lição para o dia a dia. Amemória é uma das principais ferra- mentas do jornalista e Stéfani, certamente, foi um dos melhores nisso. E não se trata apenas da enorme capa- cidade para registrar aquilo que a grande maioria dos jornalistas faz no papel ou no gravador. A experiência produzindo aná- lises a partir das conversas com diversos líderes do setor automotivo desde os anos 80 conferiu uma visão ainda mais apurada a Stéfani, e uma importante identidade para AutoData, à medida em que seu trabalho era reproduzido em nossas publicações e eventos. A memória não é apenas aquilo que fica guardado namentemas, também, o apanhado do que se publica no papel ou, mais recentemente, no online, ao longo do tempo. Desde a primeira turma que se reuniu para produzir análises do setor automotivo, iniciativa pioneira no jornalismo especiali- zado no País, AutoData vem contando e registrando essa história que temna interlo - cução comos líderes amatéria-prima para realizar amissão deTransformar Informação em Conhecimento, que é a sua missão como editora. Esse primeiromomento da ausência do Stéfani me fez olhar para aquele episódio do passado e refletir sobre a longa, e por muitas vezes, desgastante jornada da pro- dução de uma notícia. Não se trata apenas de boa memória ou de um bom texto. É preciso compreender, e reconhecer, que esse processo demanda muitas habi - lidades: primeiramente não é qualquer um que está preparado para fazer perguntas relevantes para um executivo, ainda mais os presidentes, e manter a conversa em alto nível: “Tem que ter lastro”, dizia Marco A Souto Maior, outro grande jornalista e companheiro de Redação que nos deixou em 2013. Também tem que ser “bem edu - cadinho, tratar os outros com cordialidade e bom humor, sem perder a seriedade e o foco que a entrevista exige”, ensinouVicen - teAlessi, filho, o diretor de redação daquela época. Isso não é pouca coisa e muitos jornalistas não possuemesses predicados. Anotar, gravar ou guardar na cachola todos esses diálogos – muitas vezes uma reportagem temcinco, seis entrevistados – e “juntar as letrinhas”, como gosta de dizer Alessi, são obsessões dos bons jornalistas e engana-se a sociedade digital de hoje de que é algo trivial, que qualquer um pode fazer. EmAutoData essa obsessão temum só objetivo: fazer a curadoria rigorosa dos Christian astanho

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