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122 Outubro 2021 | AutoData HOMENAGEM A S STÉFANI » ARTIGO A primeira arremetida a gente nunca esquece. Ainda mais quando ao seu lado estão sentados o dono do avião, o falecido comandante Amaro Rolim, fundador da TAM, o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Matos, há tempos voando em outros planos, e o jornalista S Stéfani, que recentemente também nos deixou. Isso aconteceu há um bom tempo. Matusalém ainda era um menino e eu um jovem repórter escalado para cobrir a primeira viagem, no Brasil, do Fokker 200, um turbo-hélice importado da Holanda pela TAM. Início dos anos 80. Eu não entendia nada de aviação. Na verdade fui pautado pelo meu editor, Ro- land Marinho Sierra, da Folha de S. Pau - lo, para ir nesse voo inaugural porque o todo poderoso, na época, ministro Delfim Neto, também estaria a bordo. Valeria uma entrevista. Mas o ministro não apareceu. Mesmo assim preferi embarcar no passeio para Ribeirão Preto a voltar para a redação e encarar uma nova pauta. Quem sabe daria tempo até para um chope no famoso Pinguim. Na ida as autoridades foram no Fokker e os jornalistas, atrás, em um Bandeirante. Na volta a situação se inverteu. Ao lado do comandante Rolim e do ministro da Aeronáutica lá viemos nós para São Paulo de avião novo. Não deu tempo para o chope no Pin - guim, mas a viagem foi divertida. Menos no finzinho, quando 1 minuto antes de Por José Luiz Teixeira A primeira arremetida pousar levei um susto daqueles! Olhando pela janelinha vi que bem antes de chegar a São Paulo o piloto já havia baixado o trem de pouso, o que, para mim, não era comum. Fiquei atento, imaginando se ele estaria familiarizado com todos os botões da nova aeronave. Algum tempo depois começaram a aparecer os prédios da cidade de São Paulo, a avenida Marginal do rio Pinheiros, meu bairro, e, por fim, o Shopping Ibira - puera, que fica ao lado do aeroporto de Congonhas. Apertei o cinto e me preparei para a aterrissagem, que já começara. Nisso Stéfani, ex-colega da Cásper Líbero, sentado atrás de mim, bateu no meu om- bro e falou baixinho: “Zé, avisa o piloto que é para baixar o trem de pouso, e não para recolher”. Olhei de novo pela janelinha e vi, aterrorizado, aqueles pneus subindo de volta para dentro do avião. Confesso: por uns segundos fiz menção de procu - rar a aeromoça para avisá-la do engano do piloto. Imediatamente, porém, senti o avião acelerando e subindo novamente. Foi preciso arremeter, contou em seguida o comandante Rolim, pois um avião da Vasp ainda taxiava na pista no momento da nossa aterrissagem. Aprendi naquele dia o que significava arremeter. Já em terra suspirei aliviado e sorrindo com Stéfani pela sua pegadinha. Jamais ficaria irritado com a brincadeira daquele sujeito querido por todos, tran- quilo, simpático, excelente profissional, supereducado e com um bom humor refinado e memorável. Arquivo Pessoal José Luiz Teixeira é jornalista aposentado. Trabalhou em vários órgãos de imprensa como Folha de S. Paulo e a extinta Folha da Tarde, no qual assinava a coluna de política Clips.

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