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121 AutoData | Outubro 2021 origem ancestral ele manteve um relacio- namento de afetividade com a empresa e com alguns de seus executivos. E eu me divertia, quando, após as entrevistas, ele imitava o sotaque italiano de alguns deles. Ainda na fase de lançamento da linha 147 tomou posse o executivo Alberto Fava como diretor de vendas e marketing da Fiat. Fava, um jovial executivo italiano que exercera importantes cargos na Itália e nos Estados Unidos, solicitou-me para apresentá-lo aos principais jornalistas au- tomotivos da época e, obviamente, Stéfani estava na lista dos selecionados. Bastou um primeiro encontro para que Fava se impressionasse como nível de co- nhecimento e a facilidade de diálogo com Stéfani. E tornou-se frequente ambos se encontrarem para café, almoço ou jantar, oportunidade para trocarem informações sobre o mercado automotivo nos âmbitos doméstico e mundial, além de divagarem sobre jornalismo e comunicação empre- sarial. Tamanha era a admiração e o respeito que Fava tinha por Stéfani que, numdeter - minado dia, após uma entrevista, ele disse a mime a um repórter da Gazeta Mercantil, apontando para um telefone vermelho da sala dele, no prédio da avenida Paulista: “Amigos, este telefone, quando tocar, se não for o Enio ou o Stéfani, será alguém que discou equivocadamente”. Claro que, posteriormente, outros jornalistas tiveram acesso àquela linha e que, tempos depois, passamos a chamá-lo de “o telefone da imprensa”. Fato interessante acontecia com uma certa frequência. Um de meus clientes, quando da realização de uma coletiva, só queria iniciar a entrevista, para meu desespero, “quando o Stéfani chegar”. E o Stéfani se atrasava, sempre. Além de indústria automotiva ele gos- tava muito de aviação. Como a Mecânica de Comunicação assessorava a Trans- brasil, agendei um almoço dele com o comandante Omar Fontana, na área VIP da empresa, defronte ao aeroporto de Congonhas. O papo durou umas quatro horas, mas, pelo entusiasmo de ambos, poderia ter sido o dobro. Ao se despedirem prometeram se reencontrar para continuar a prosa. Não lembro se Stéfani preparou alguma matéria sobre as conversas. Impactado pelo passamento do Sté- fani Luís Pasquotto, ex-executivo lider da Cummins Latin America, me telefonou lamentando o fato e para rememorar seu relacionamento mútuo, além de admirar a combinação da inteligência, memória e cavalheirismo do jornalista, dentro de princípios éticos. E lembrou que ao visitar a sede deAutoData, numdeterminado dia, em companhia do presidente da Cummins Brasil, Ricardo Chuai, após uma rápida entrevista gravada em vídeo, iniciaram uma longa conversa com Stéfani sobre mercados e tecnologias de motores, que durou, junto a comes e bebes, cerca de cinco horas, madrugada adentro. Sem chegarem a uma conclusão... Também o agora consultor Yoshio Kawakami revelou ter tido uma grande amizade com Stéfani à época em que foi presidente da Volvo Construction Equi- pament e também ex-diretor da Cum- mins Brasil. Destacou que essa amizade se fortaleceu quando foi procurado por Stéfani para avaliar seu ponto de vista em quem e no quê AutoData, ao nascer, de- veria mirar. Conselho de Yoshio: “Foquem nas atividades econômicas e tecnológicas das indústrias do setor e nas pessoas que as dirigem. Nenhuma publicação do seg - mento está fazendo isso”. Stéfani e demais sócios seguiram o conselho: sucesso! O Champollion ainda teria outros ca - sos pra contar mas não possui suficiente memória prodigiosa, além da beleza dos textos do saudoso amigo Stéfani, persona- gemque centenas de líderes empresariais, do Brasil e do Exterior, representantes de governo, colegas de trabalho, amigos e sua família, ao longo de sua vida, sou- beram reconhecer, admirar, respeitar e lamentar a perda de um dos mais com- petentes, queridos, discretos e éticos jor- nalistas que este País já teve. Por sua grandeza obrigado por ter exis- tido em nossas vidas, querido Stéfani.

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