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119 AutoData | Outubro 2021 estavam correndo perfeitamente, em to- dos os sentidos. Até que pelos alto-falantes notada- mente audíveis uma doce voz feminina anuncia: “Próximo: Aparício de Siqueira Stéfani”. A encarregada de organizar a fila era da patrocinadora e chamava os interes - sados pelo nome colhido no RG na entrada – e ela, naturalmente, desconhecia a lei sagrada da proibição do uso do Aparício, ainda mais em público. Gelado olhei para a mesa ao lado, onde estavam o próprio Stéfani e o Vinícius, que como excelente RP correu atabalhoado para impedir que a chamada se repetisse. Não a tempo de todos ali, e não eram poucos, ouvirem no- vamente: “Próximo da lista: senhor Aparício de Siqueira Stéfani”. Um importante executivo, que também não me lembro exatamente quem, mas lembro que era importante, se dirigiu ao Stéfani: “Acho que é a sua vez, não?”. Ele fez, elegante e silenciosamente, que não entendeu e que não era com ele. Aparí- cio, eu? Nos poucos minutos que se passaram meu pânico se diluiu lentamente: nada mais soou dos alto-falantes – Vinícius fi - nalmente conseguiu avisar amoça, pensei, enquanto meu suspiro aliviado coincidiu com o instante em que as caixas de som agora quase berraram: “Última chama - da para APARÍCIO DE SIQUEIRA STÉFA- NI!!!”. Ele, mais uma vez, não se abalou. Era como se fosse seletivamente surdo. Prosseguiu tomando seu uísque com os demais, como se absolutamente nada tivesse acontecido. Cheguei à Editora na manhã seguinte pronto para limpar as gavetas, mas as ho - ras e dias se passaram e nada. Nenhum comentário a respeito. Até que percebi que, para me demitir – ainda que, hoje, acredite que ele não o faria por essa razão específica – Stéfani teria que admitir para mim e para a Editora inteira que realmente não gostava de seu prenome. E isso não combinava com a sua personalidade. En- tão a coisa ficou dessa forma: ele sabia que nós sabíamos e nós sabíamos que ele sabia. E, assim, nos respeitávamos. eu, é claro, também jamais o tenha cha - mado desta forma. Essa espécie de acordo de cavalheiros silencioso era um espelho perfeito de sua personalidade: ele sabia que nós sabíamos e nós sabíamos que ele sabia. E, assim, nos respeitávamos. Mas foi por causa do Aparício, o nome, que certa vez tive certeza de que seria demitido. Foi lá por 2008, quando saí temporariamente da Redação para cui- dar dos eventos da Editora, ao lado de Vinícius Romero, hoje na Audi. Nosso pri - meiro teste foi um encontro informal com executivos graúdos do setor automotivo no Autódromo de Interlagos, onde uma patrocinadora oferecia aos convidados uma volta na pista emumFerrari, no banco do passageiro. Enquanto isso todos con- versavam, comiam e bebiam. E as coisas

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