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117 AutoData | Outubro 2021 É preciso compreender a época, tam- bém conhecida como a Década Perdida, período demercado fechado para veículos importados e para a informática estrangei- ra, de veículos nacionais que ficavam em linha de produção por vinte, 25 anos, na mesma geração, de inflação emexpansão, de movimento sindical em ascensão, da última eleição presidencial realizada de maneira indireta, da derrocada da ditadura civil-militar. Nossas fontes estavam em todas as in- flexões dos níveis das empresas, e as mais completas habitavam aquele espaço em que eram tomadas as decisões solitárias, as salas das presidências. Os presidentes, vale recordar, tinham outro matiz, umver - niz diferente: discutiammúsica, literatura, cinema e teatro com o mesmo despren- dimento que reservavam a automóveis, a caminhões, ônibus e tratores. Àquela economia engessada. Neste movimento cheio de ebulições tivemos a ideia de criar um serviço de in- formações exclusivo para o setor automo- tivo que funcionasse a partir de máquinas maravilhosas que começavama chegar ao Brasil a peso de ouro, tudo contrabando, as faxes. Era o ano 1987. E assim, pela primeira vez, começamos a beber uísque juntos e a gastar noites e madrugadas na tentativa de gestar, com Serjão e comCiro Dias Reis, o serviço iné- dito de informação a ser distribuído por meio de máquinas de fax. Fomos atro- pelados pelas consequências do Plano Funaro. Tempos depois o próprio ministro telefonou: soubera de nosso projeto tor- nado inviável e nos pedia desculpas “em nome dos melhores interesses do País”. Aquele era ministro sério. AutoData surgiu quase cinco anos de- pois quase que como consequência lógica do serviço tocado à, hoje, fornalha do fax que não deu certo. À custa de muitas concordâncias e de muita divergência completamos 29 anos de jornada de um projeto que poderia, muito bem, ter ficado prostrado no meio do caminho. Mas ele caminhou desde a rua Machado de Assis e, depois, da Casa Rosada da Saccab foi para as casas da Pas- cal e para aVerbo Divino e, por fim, pousou de volta ao mesmo quarteirão da Pascal. Nossa sociedade, que por pouco tem- po, infelizmente, incluiu Sérgio Duarte, e, de forma mais duradoura, Fred Carvalho e o irmão Márcio, até hoje, foi extrema - mente feliz ao descobrir-se como tendo a missão de Transformar a Informação em Conhecimento, axioma no qual Stéfani investiumuitos neurônios. E tivemos muito sucesso, também, ao descobrir que havia uma revolução em curso e que requeria ser explicitada, o processo de globalização pelo qual passavam as novas vidas, as atividades das pessoas no mundo. Fomos dos primeiros a tratar de en- tender a tal de globalização e Stéfani cer- tamente foi um dos maiores expoentes daquela autêntica clarificação de mentes. Foram dois, três anos em que nossa prin- cipal dedicação era decodificar virtudes e amarices da globalização e a sua aplica- ção sobre o mundo de veículos nativo. A partir desse instante, de sucesso diante de nosso público e de nossa autocrítica, sabíamos que tínhamos, definitivamente – nós, AutoData – ganho nosso lugar no panteão reservado aos especiais do jorna- lismo econômico e de negócios dedicado ao setor automotivo. Tínhamos suficiente massa crítica para nos sentirmos quase que à vontade para criar, por exemplo, o Prêmio AutoData. Tivemos anos felizes. E também anos difíceis, de rearranjos e de reacertos internos, de exercício de maior ou menor tolerância e empatia. Os feudos, os feudos! Mas nada transcendeu tanto nossas resistências como aquela passagem difí- cil de 2015 para 2016, principalmente os acontecimentos daquele inverno. Retor- namos, em pleno verão de 2017, já outros e certos da necessidade de criarmos o nosso revival, a nossa transformação. E Stéfani foi umdos artífices desse processo. Até o último instante. O que acontece agora, como diz Marco Piquini, é a falta de contemporâneos, de nossos interlocutores privilegiados.

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