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18 FROM THE TOP » DIETER BECKER, KPMG Maio 2018 | AutoData corremos o risco de virar uma Austrália. O senhor acha que este raciocínio faz sentido? AAustrália optou por reduzir a atividade industrial mas aomesmo tempo reforçar aquelas ligadas à matéria prima, princi- palmente mineração, como maneira de aumentar a renda per capita. Pode ser uma estratégia certa ou errada, mas eles têm uma estratégia. Se você observar a composição demateriais de uma bateria de veículo elétrico o Brasil é a terceira maior fonte de matérias primas para ela. Faz mais sentido se concentrar em for- necer essas matérias primas de baterias para vários países do que procurar pro- duzir um carro elétrico aqui. Qual é o cenário global para os fornece- dores dentro deste cenário futuro que o senhor coloca? Pegue o exemplo da Maxion: é uma em- presa brasileira líder no seu segmento, o de rodas. É algo muito relacionado ao aço e ao alumínio, e eles construíram algo grande a partir de um produto que não é o mais sofisticado. Todo mundo precisa de rodas, e elas precisamser pro- duzidas onde há aço e alumínio. O que quero dizer é que com relação ao futuro dos fornecedores duas coisas devem ser observadas: a primeira é como unir a indústria tradicional de autopeças ao tipo de ambiente em que ela está, com seus recursos; e a segunda é entender o que é necessário para aquele ecossis- tema e receber os novos fornecedores que devem ser adicionados para isso. Do ponto de vista tecnológico não adianta os fornecedores, aqui, buscaremprodução de sistemas de direção autônoma: me desculpe, mas isso não acontecerá. Suas análises são desconfortáveis para uma indústria conservadora como a au- tomotiva. Qual é a reação dos executivos diante de suas observações? Realmente a indústria é muito conser- vadora, mas ela não se orgulha disso. A indústria digital requer muito menos investimento e dominou nosso mun- do. Há muita frustração, que substituiu um orgulho que havia do produto, ‘veja, eu produzo um carro, como sou gran- de!’. O setor automotivo percebeu que a indústria digital tomou muito espaço e, mais ainda, que falhou do ponto de vista produtivo. Agora está procurando integrar-se a essa nova realidade. Nova- mente é sair do ponto de vista exclusivo do produto, fazer a conexão como novo mundo. Este é exatamente o problema no Brasil: o orgulho foi substituído pela frustração, vê-se um orçamento limita- do das pessoas e a renda não sobe. É um bom cenário para uma nova opor- tunidade de criar, desenvolver soluções paramobilidade, frotas, comexperiência positiva do consumidor. Se as pessoas daqui perceberem isso prevejo a volta de umdesenvolvimento positivo. Mas se continuarem presos apenas na estraté- gia do produto antevejo mais frustração no futuro. Há uma mudança tecnológica em curso, sem dúvidas, mas ela precisa ser acompanhada de uma mudança de mentalidade. Não são as novas tecnologias que jus- tamente trazemumamudança demen- talidade? Se você ficar concentrado apenas na mudança tecnológica você terá muita dificuldade. Ela precisa acompanhar a mudança de mentalidade do consumi- dor. O comportamento está mudando: nós agora consumimos entretenimento, música, eletrônicos, viagens etc. em pa- drões diferentes dos que havia no passa- do. Esse é o ponto. Não é uma questão de tecnologia, é uma questão dementa- lidade. É preciso fazer uma leitura correta da expectativa do consumidor antes de pensar na tecnologia. “É preciso fazer uma leitura correta da expectativa do consumidor antes de pensar na tecnologia”
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