AD 344
17 AutoData | Maio 2018 Mais uma vez, veja a China: qual é a so- lução global que está sendo usada ali? Nenhuma. Eles estão buscando liderar a tecnologia de carros elétricos porque não querem ser dependentes do petróleo. Isso não é uma forma de se isolar, é uma oportunidade. O senhor crê que um novo modelo de mobilidade nascido a partir de iniciativas como Uber, Cabify etc. realmentemodi- ficará a indústria? Vou descer umpouco dentro desta aná- lise: o consumidor temumorçamento, e as necessidades demobilidade precisam se encaixar dentro dele. Cada vez mais leva-se em conta o custo total de posse de um veículo. E o orçamento tem cada vez mais competidores: celulares, ser- viços de internet, streaming, músicas... Ele não aumenta, é sempre o mesmo, o que aumenta é a competição por ele. Se o consumidor entender que usar Uber em vez de ter um carro faz mais sentido dentro do seu orçamento, ele o fará. Não vejo isso como uma ameaça à indústria, pois ela será a provedora de frotas. Se o número de veículos vendidos diminuir por causa desse formato, aumentará a demanda por serviços. É preciso olhar para o ciclo completo de vida de um carro, não só para omomento da venda. De qualquer forma isso representa uma quebra de paradigma muito grande... O que não resta dúvida é que a indústria precisa se livrar da velha perspectiva do produto. Se a demanda por serviços para frotas aumentar, por que não pensar em remanufaturar carros, motores etc.? Esta- mos muito fixados em fabricar e vender carros. Se a tendência está apontando para umaumento do uso de frotas, basta mudar seu negócio para atender essas frotas e assim ganhar dinheiro com isso. Essemodelo de ‘bem, eu fabrico umcar- ro e preciso vendê-lo’ e é só isso acabou, está terminado. Está meio em moda no setor automo- tivo nacional uma observação de que onde há um paralelo com a realidade daqui, como Istambul, por exemplo? Por que não desenvolver aqui soluções de mobilidade nas quais vocês podem ser absolutamente competitivos? Para que olhar lá ao longe, para a Europa, Estados Unidos, países desenvolvidos, e competir comeles? Eu não faria isso. É uma forma diferente de pensar, mas é exatamente o que ouvimos de nossos clientes aqui. Procurem ecossistemas semelhantes aos seus e liderem as tecnologias e ne- cessidades para eles. Existe algumexemploprático já realizado disso que o senhor está falando? Estou falando sobre olhar para as cir- cunstâncias de seu mercado. Pegue o exemplo da Hyundai, que é muito bom: veio para o Brasil, com uma fábrica, e um produto localizado, o HB20. Não foi uma estratégia de entrar produzindo a linha completa. Eles estudaram o con- sumidor daqui, o ecossistema daqui. O HB20 é uma solução local. Para mim é muito importante que nos afastemos desse pensamento exclusivo em cima do produto e nos concentremos no ecossistema. Essa é uma oportunidade enorme para o Brasil, porque aqui há um ecossistema único. Podemexistir diversas ilhas de ecossistemas dentro do Brasil. Mas nós não queremos ser uma ilha! Nós queremos ser parte do todo! Tudo serão ilhas. Não haverá uma solu- ção de direção autônoma única para o mundo. Há uma enorme diferença de ser uma ilha de uma iniciativa específica e ser isolado. Eu não estou falando em isola- mento. O que estou falando é que não há e que não haverá uma solução global que funcione em todos osmercados. E se não há uma única solução preocupem- -se em desenvolver uma que funcione para você e que possa ser aplicada em mercados similares ao seu. Uma solução para cada mercado ou re- gião não representaria, na prática, uma espécie de desglobalização?
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