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14 FROM THE TOP » DIETER BECKER, KPMG Maio 2018 | AutoData pessoas reconhecem a volta do cresci- mento, e isso as deixa feliz, mas ainda não veem o que vai acontecer à frente. Uma eventual aprovação do Rota 2030, assim, seria fundamental para o futuro da nossa indústria? Hoje falamos muito, dentro da indústria automotiva global, sobre o ecossistema completo. A integração de indústria au- tomotiva com a de logística, de seguros, finanças, infraestrutura, serviços... Estados Unidos, Europa eChina estão começando a construir esse ecossistema. É tudo so- bre amobilidade. Nas conversas que tive aqui no Brasil percebi como seria bom se houvesse uma iniciativa que cruzas- se essas áreas, mostrando que estamos olhando para alémda indústria automoti- va em si. O Rota 2030 traz umplano para a indústria, mas onde está o plano para a logística, para a infraestrutura, para o transporte público? Essa discussão está acontecendo em outros mercados. Estudo mundial da KPMG mostrou que as novas tecnologias de propulsão serão umgrande focoda indústrianospróximos cinco anos. O senhor vê risco do Brasil ficar isolado, globalmente falando, por não contar com um plano de produção destas tecnologias neste período? O que o estudo mostra é que não há uma resposta única, cada mercado terá a sua realidade. Temos que ter cuidado: a discussão não é sobre como será o papel do Brasil se a tecnologia de célula de combustível avançar, mas sim qual é o segmento que o Brasil vai atender, o custo disso, o que serve aqui. Se alguém disser que ‘emdez anos teremos 70% do mercado brasileiro formado por veículos elétricos’ você responderá que isso é irre- al, porque o custo de umveículo elétrico não é adequado aqui. O que o mercado realmente precisa, aqui, na Argentina, no Mercosul, em partes da África? Por que o Brasil não pensa em que tipo de tecnologia esses mercados precisam? Vocês estão bem desenvolvidos com biocombustíveis, o que é muito bom. O senhor então não acredita na produ- ção destas novas tecnologias aqui em nenhum cenário futuro? Certamente o segmentomais necessário aqui será o de médios para pequenos, pois a realidade domercado precisa estar ligada à renda das pessoas. Lembram-se do Tata Nano? O preço dele era por volta de € 3,8 mil, mas ele foi um fracasso porque a rendamédia na Índia é ao redor de € 1,3 mil, ou seja, ele ainda era caro para aquele mercado. Vocês têm que pensar: elétricos e células de combustí- vel representam a estratégia certa para este mercado? Qual é a infraestrutura que existe para isso? Para que aplicar seus investimentos nesta direção, em lugar da combustão interna, mesmo que combinada comhíbridos?Adireção certa aqui não é para os elétricos. O Brasil tem o etanol, um biocombustível, e usá-lo para conseguir uma pegada ecológica é excelente. Por que não promover isso em vez de seguir a trilha dos elétricos, que dependemessencialmente de uma infraestrutura própria? Mas a indústria automotiva trabalha a partir de um ponto de vista global... Vamos falar de outra forma: você precisa ter um produto atrativo para o seu mer- cado. E quando digo isso não me refiro só à experiência do usuário: é preciso construir uma solução completa. Qual é a solução para uma cidade como São Pau- lo, para um País enorme como o Brasil? Por que não criar suas próprias soluções, aproveitar o conhecimento que vocês têm do mercado e aproveitar-se dele, adaptar-se? Acredito que vocês estão se concentrando muito na competição “A direção certa aqui não é para os elétricos. O Brasil tem o etanol e deve usar isso.”

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