Ano 33 | Novembro 2024 | Edição 416 PERS PECT I VA S 2025 SURPRESA E CAUTELA TOYOTA INICIA EXPANSÃO Fábrica de Sorocaba dobrará de tamanho A MAIOR FENATRAN Evento soma R$ 15 bi em novos negócios OS PRIMEIROS BIO-HYBRID Fiat lança Fastback e Pulse eletrificados
Entrega Sust + VW e-Delivery Paz no trânsito começa por você. Maior autonomia. Até 250 km sem necessidade de carga. + Melhor performance com maior capacidade de carga da categoria. + Conectividade RIO com monitoramento de fábrica 24h. + Acesse nosso QR Code ou www.vwco.com.br para conhecer o nosso VW e-Delivery. Volkswagen Caminhões e Ônibus Volkswagen Caminhões e Ônibus @vwcaminhoes
stentabilidade para o seu negócio. Disponibilidade de peças em qualquer lugar do país, com atendimento personalizado da melhor rede de concessionários do país. + Conforto e dirigibilidade de automóvel e robustez de caminhão que só a Volkswagen pode oferecer. + Escolher o Volkswagen e-Delivery é pensar no futuro. No futuro do seu negócio e do nosso planeta.
» ÍNDICE Novembro 2024 | AutoData 6 LENTES Os bastidores do setor automotivo. E as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 138 146 FIM DE PAPO As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. 46 FRASLE MOBILITY 56 GERDAU 64 WHB HYUNDAI NISSAN IVECO STELLANTIS SCANIA VOLKSWAGEN RENAULT MERCEDES-BENZ TOYOTA VWCO SISTEMISTAS PROJEÇÕES BMW GM IMPORTADOS MACROECONOMIA TENDÊNCIAS HONDA VOLVO MÁQUINAS 66 48 30 58 38 82 72 86 92 70 84 74 76 78 88 94 90 80 96 98 Entrevistas com os dirigentes de Anfavea, Sindipeças, Fenabrave, Anfir e Abraciclo vislumbram como será 2025 para a indústria fabricante de veículos e de autopeças, bem como o mercado de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, implementos rodoviários e motocicletas. FROM THE TOP PRESIDENTES DE ENTIDADES 10 Empresa dá início a obras para dobrar a fábrica de Sorocaba Veículos eletrificados ganham mais peso no mercado brasileiro Com picape híbrida chinesa quer conquistar o agronegócio brasileiro Atualização dos aportes de fabricantes de caminhões e ônibus Treze fabricantes de automóveis e utilitários investem R$ 106,4 bi Todos os recordes batidos com R$ 15 bi em negócios fechados Fiat lança Fastback e Pulse equipados com sistema híbrido leve TOYOTA EXPANSÃO SEMINÁRIO BRASIL ELÉTRICO LANÇAMENTO BYD SHARK INVESTIMENTOS PESADOS INVESTIMENTOS LEVES FENATRAN 2024 BONS RESULTADOS STELLANTIS BIO-HYBRID 124 116 134 114 132 100 128 Randoncorp e Tupy MWM reconhecem as melhores práticas FORNECEDORES PREMIAÇÕES 136
» EDITORIAL AutoData | Novembro 2024 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Lucia Camargo Nunes, Mário Sérgio Venditti, Nícolas Borges, Rúbia Evangelinellis, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Arte Sutthiphong Chandaeng/Shutterstock sobre foto divulgação/VW Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Pedro Kutney, editor Que venha mais um erro Ao fechar mais uma edição Perspectivas, desta vez para tentar antecipar como será 2025, percebe-se que as projeções compartilhadas nesta edição de AutoData contém um certo déjà vu. Nos últimos dois anos quase todos erraram suas previsões – felizmente para resultados bem melhores – e esperamos que cometam o mesmo erro novamente. Podemos encabeçar a lista de felizes erros pelas projeções do PIB, que aponta a intensidade do desempenho da economia e faz parte do planejamento das empresas. Com o cenário econômico há dois anos contaminado pelo mau humor atávico do mercado com o atual governo, no fim de 2022 economistas decretaram que o PIB brasileiro iria crescer não mais do que insignificante 0,5% em 2023 – mas cresceu 2,9%, ou quase seis vezes mais. História parecida no ano seguinte: projeção de expansão do PIB de 1,5% e chegamos ao fim de 2024 com o dobro disto, a 3,1%. Pois para 2025 a projeção de crescimento é de 2%, em desaceleração justificada por inflação e juros em elevação, a despeito do desemprego ter descido a 6%, o menor nível em uma década, e com renda em elevação – coisa que os diretores do Banco Central independente do governo e vassalo do mercado, sem nenhuma vergonha, sempre apontam como algo danoso ao cumprimento da meta de inflação e punem o País com a taxa de juro mais alta do mundo, com explicações para tanto que ninguém entende direito ou apenas finge entender. O pessimismo contamina as expectativas, tanto que este ano foi o mais difícil para saber das empresas suas projeções para 2025. Ninguém quer arriscar nada e a maioria endossa as projeções macroeconômicas do BC, calculadas semanalmente no Boletim Focus pela média de consultas a mais de cem empresas, predominantemente instituições financeiras. Sob pressão de evolução na legislação de emissões para veículos leves, dólar especulativamente caro e juros em alta – que mesmo com a Selic em elevação poderiam ser mais baixos na ponta do consumo se não fosse a voracidade dos bancos –, tudo levando a preços ainda maiores do que já são, a maioria das entidades e empresas do setor automotivo nacional projeta um ano de baixo crescimento, com mercado doméstico em fraca expansão de 3% a 6% – não será desta vez ainda que voltaremos ao nível dos 3 milhões de emplacamentos. Felizmente há quem enxergue o copo meio cheio, esperando que o bom embalo de 2024, um ano muito melhor do que era previsto, seja transmitido por inércia a 2025. Se o próximo ano repetir este, inclusive as projeções erradas, já terá sido bom. Em não mais do que um ano à frente veremos quem está certo.
6 LENTES Novembro 2024 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br TRANSPONDER Estava, já, na rua de casa, caminho de todo o dia desde 2006. A 20 metros do portão de entrada do prédio, num canto da divisa Aclimação-Cambuci, em São Paulo, debruçada sobre o Parque da Aclimação. Estava com a maquininha de apertar o botão para abrir o portão nas mãos quando o carro para – simplesmente para, estaciona, breca, trava. Acionei o freio de mão. Meu Ford Focus 2019 de última série, bonitão, até imponente no seu formato hatchback, simplesmente não respondia a nenhum comando. Coloquei o câmbio na posição Neutro e consegui chegar até o portão. Igor e Rogério, trabalhadores do condomínio, me ajudaram a colocar o carro na vaga – por sorte no nível da rua apesar de ser considerada subsolo. Não entendi nada. TRANSPONDER 2 Na concessionária CAOA Ford que utilizo arguiram a possibilidade de ser uma encrenca com a bomba de combustível, e que deveria acionar o guincho, por meio da seguradora, para levar o carro até lá. Desisti de qualquer atitude naquele dia, um fim de quarta-feira outonal depois de almoço com os integrantes do Gabinete de Velhinhos Sábios: já era muito para tomar uma atitude. Deixei tudo para o dia seguinte. Já na quinta-feira chamei o socorro mecânico garantido pela HDI. O profissional chegou, cumprimentou, olhou, perguntou pormenores da ocorrência e, boa gente, fechou com o diagnóstico do consultor da concessionária: chame o guincho e carregue o carro para lá: deve ser a bomba de combustível. Quem sabe algum problema com a qualidade do combustível? Não tinha mais o que fazer ali. TRANSPONDER 3 Claro. Obedeci ao conselho e chamei o guincho, que chegou em 40 minutos. Seu Augusto chegou como príncipe saariano com beca da Liberty. Me disse bom dia, que era uma satisfação me atender – apesar da circunstância de um carro morto na vaga da garagem. Pediu que descrevesse os fatos e me ouviu com atenção. Pediu que o levasse até a minha jóia e sentou-se ao volante. Apertou o botão do start e a resposta foi a de engrenagens internas e mais sei lá o que num barulho estranhíssimo. Seu Augusto me perguntou onde estava a chave e eu estranhei o tom de sua voz ao dizer cha-ve. Entreguei a ele. Encostou-a no botão do start e deu a partida. Eureka!!!!!! TRANSPONDER 4 Puta que os pariu!: o motor abriu como se fosse ronronar de gatinhos e estacionou no padrão da marcha lenta, 750 rpm. Sem rompantes nem sacudidelas. Simplesmente funcionou como de hábito, como aprendera desde a sua manufatura. Seu Augusto sugeriu darmos uma volta no quarteirão. E o bicho foi ganhando quilometragem como sempre, um baita motor prum baita carro. Uma perfeição. Eu já olhava para seu Augusto como mensageiro de boas notícias quando ele interrompeu minhas digressões para opinar a respeito da encrenca toda. Uma baita besteira, disse ele.
7 AutoData | Novembro 2024 Vic Alessi Salgado TRANSPONDER 5 Na verdade o carro não dispunha de uma chave. A tal chave tinha o nome de transponder, operador de três pequenos botões: abre portas, fecha portas e abre o porta-malas. O tal transponder faz o papel de intermediário com a central eletrônica do carro e – me segredou o seu Augusto –, se tiver sua bateria nos estertores simplesmente para de funcionar. Como aconteceu comigo. Síntese: nossa vida de motoristas está entregue a bicho esquisito de nome transponder que nos ferra se a bateria está no fim. E nem nos avisam. Chamem por jesus. TRANSPONDER 6 Isto pode acontecer com você. VOCÊ SABIA? O Iedi, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, informa: o Brasil cresceu trinta posições no ranking mundial do avanço da produção industrial elaborado pela Unido, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial: chegou à quadragésima posição no meio de 116 países. Isto significa uma ascensão realmente significativa a partir do septuagésimo lugar alcançado em 2023. No segundo trimestre do ano o crescimento foi de 2,9% diante do mesmo período do ano anterior, acima da média global, que chegou a 2% no acumulado do primeiro semestre. Razões: economistas creditam o resultado a combinação de fatores políticos e econômicos, tendo a indústria de bens duráveis como principal responsável por este dinamismo. Há mais: a criação de empregos com melhores salários mais o aumento do rendimento real mais a acomodação da inflação e programas públicos como o reajuste do salário-mínimo e a ampliação do Bolsa Família, como justificou Rafael Cagnin, economista chefe do Iedi. VOCÊ SABIA? 2 Na mesma comparação o México caiu 1%, o Chile 0,6%, a Colômbia 3% e a Argentina 17,1%. E Estados Unidos 0,1%, Reino Unido 0,5% e França 1,5%.
10 Novembro 2024 | AutoData 2025 no embalo de 2024 Em 2023 a Anfavea tinha previsto expansão nas vendas domésticas de veículos de 6% e o ano acabou fechando com avanço de quase 10%, com 2,3 milhões de emplacamentos. Para este ano a entidade já revisou uma vez sua projeção, que era de crescimento de 6% e passou para quase 11%, estimando 2 milhões 560 mil. A entidade está errando novamente? Errar desse jeito é bom. O mercado nos surpreendeu e tem surpreendido. O setor já acumula crescimento importante em 2024, em torno de 14% a 15%. É um avanço expressivo, mas nada que fuja muito do que estimamos. Com base no desempenho atual do mercado este impulso um pouco maior do que era esperado tem força para continuar em 2025? Continuará sim, mas tem um fator que pode puxar a variação [para baixo]: a taxa de juros, que vinha em processo de queda e começa a ter elevação. Isto pode causar algum impacto mas a nossa análise é que continuaremos em expansão consistente. Nós ainda não consolidamos a projeção mas 2025 tem força para sustentar um novo crescimento vertiginoso. Este ano as importações já cresceram mais de 35%, e a produção nacional andou de lado, avançou só 7%. O cenário de vendas em alta e produção estável permanecerá em 2025? Nós temos duas empresas [BYD e GWM] que emplacaram volumes significativos de veículos importados em 2024. E as duas produzirão no Brasil a partir do ano que vem. Então este é um sinal de que a indústria e os produtos fabricados no País tendem a crescer e que as importações tendem a ser reduzidas um pouco. Este ano as exportações registram resultado muito ruim, acumulando forte queda sobre 2023, que já tinha apresentado tombo expressivo. Qual é o problema com as vendas externas do setor? O desafio para as exportações é grande. Primeiro porque todos os principais destinos passam por quedas de vendas, então é natural que também ocorra retração nas nossas exportações. Além disto existe uma maior penetração de produtos de fora do Mercosul, principalmente asiáticos. Mas isto definitivamente não é uma sentença de morte. Mercados como Chile e Argentina devem voltar a crescer e o Brasil acompanhará. Haverá sim crescimento no próximo ano. Entrevista a Pedro Kutney Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » MÁRCIO DE LIMA LEITE, ANFAVEA Anfavea ainda não divulga suas projeções para o ano que vem mas após a boa surpresa de 2024 as primeiras estimativas apontam para novo crescimento
11 AutoData | Novembro 2024 Foto: Christian Castanho
12 Novembro 2024 | AutoData para atender o Brasil e outros mercados também. Todas as áreas devem receber recursos, menos para aumento da capacidade. Claro que algumas empresas [que estão começando a produzir no País] investirão em capacidade mas de forma geral os investimentos serão mais para [desenvolver] novos produtos, novas tecnologias, pesquisa, desenvolvimento. No fim de 2025 o Salão do Automóvel volta a ser realizado. Por que o evento não voltou antes e por qual motivo voltará? O evento nunca esteve morto na associação, mas esbarramos em dificuldades. Fizemos em 2018 e logo na sequência veio a pandemia, seguida pela crise de falta de semicondutores, então o foco estava em garantir a produção. Com o passar do tempo começamos a ter mais condições para olhar o Salão do Automóvel com a atenção necessária. É muito claro para nós que o consumidor quer e este é um espaço que os fabricantes de veículos têm de ocupar. Temos de apresentar nossos produtos para o mundo. Como aumentar as exportações se a gente não coloca os produtos na vitrine? O Salão do Automóvel é um momento de ouro para apresentarmos o que o Brasil tem, os biocombustíveis, as soluções para a mobilidade. E foi com muita alegria que a Anfavea anunciou o retorno do salão, com contrato assinado, para [abertura] dia 22 de novembro de 2025, depois entra no calendário com periodicidade a cada dois anos. O evento vai ser grande, esperamos mais de 1 milhão de pessoas no Anhembi. “ Nós ainda não consolidamos a projeção mas 2025 tem força para sustentar um novo crescimento vertiginoso.” Como ficam as importações em 2025? Produtos com origem na China continuarão a crescer? Os chineses continuarão com forte presença no Brasil, primeiro porque as empresas que importaram a maior quantidade de veículos este ano produzirão aqui [a partir de 2025], mas outras empresas estão chegando ao País. Os chineses têm excesso de capacidade e houve desaquecimento do mercado local. Como a China enfrenta barreiras na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Índia o Brasil é um destino importante. Mesmo com a recomposição do imposto de importação [sobre elétricos e híbridos] sem dúvida em 2025 ainda receberemos muitos produtos da China. Este ano foi marcado pela aprovação do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, com investimentos que a Anfavea estima em mais de R$ 130 bilhões até 2030. Para onde estes aportes vão levar a indústria? Do total de mais de R$ 130 bilhões somente em pesquisa e desenvolvimento o setor vai investir R$ 60 bilhões nos próximos cinco anos. Vamos ter novas tecnologias, com foco principal na transição energética e na descarbonização, FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » MÁRCIO DE LIMA LEITE, ANFAVEA
13 AutoData | Novembro 2024
14 Novembro 2024 | AutoData Descarbonização pauta os fornecedores Quais serão as principais tendências do mercado automotivo em 2025? O caminho da descarbonização é imprescindível. O programa Mover apoia várias iniciativas neste sentido, como o desenvolvimento de baterias, com a participação de empresas locais como WEG e Moura. Outro aspecto sem volta é o aumento da presença dos veículos chineses no País. O início da produção local da BYD e GWM deve ocorrer em 2025 e outras montadoras chinesas estão de olho no mercado brasileiro. Como a descarbonização se dá nas empresas menores da cadeia? O Sindipeças realiza esforços intensos para qualificar e inserir as pequenas e médias empresas na rota tecnológica da descarbonização. Divulgamos e auxiliamos nossos associados a utilizar incentivos para investimento em inovação, a maioria deles no âmbito do Mover, e realizamos cursos de capacitação que levam luz a este tema. Em parceria com o Senai estamos treinando as PMEs para a realização do inventário de emissões. Qual é o reflexo do Programa Mover nos fabricantes de autopeças? Sabemos que estarão disponíveis créditos financeiros da ordem de R$ 3,8 bilhões em 2025. Pelas limitações fiscais é pouco provável que o governo possa elevar este limite, porém, mantemos nosso otimismo. Note que este ano 93 fabricantes de autopeças já se habilitaram [projetos com incentivos] no Mover, enquanto no ciclo anterior, do Rota 2030, foram 55 em cinco anos. Em meio ao processo de transição à eletrificação, especialmente à hibridização, como ficará a situação dos fornecedores? As pequenas e médias empresas do setor também estão se preparando para os desafios que a eletrificação trará. Estão fazendo o dever de casa e estarão aptas a atender os rumos futuros do mercado. Basta haver a respectiva demanda por parte das montadoras, o que ainda não ocorreu. Além disto, como a frota brasileira é a sexta maior do planeta, com 47 milhões de veículos, as tecnologias atuais também continuarão presentes. Entrevista a Soraia Abreu Pedrozo FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » CLÁUDIO SAHAD, SINDIPEÇAS Presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, vislumbra caminho sem volta e trabalha para inserir empresas de autopeças na transição energética
15 AutoData | Novembro 2024 Divulgação/Sindipeças
16 Novembro 2024 | AutoData Quais novas oportunidades de negócio são geradas a partir de fontes sustentáveis de energia que começam a ganhar força no País, a exemplo do hidrogênio? O Brasil tem a matriz energética mais limpa do mundo. É uma vantagem competitiva que nenhum outro país possui. Nossa indústria estará pronta a atender ao desafio da produção do hidrogênio, sendo o único país capaz de produzi-lo a partir do etanol. Com isto superamos a necessidade de transportar hidrogênio, o que é caro e perigoso, bastará instalar reformador ao lado de uma bomba de etanol, utilizando a infraestrutura existente nos postos, como propõe projeto patrocinado por Raízen, Shell, Hytron, Senai e Toyota, no campus da USP. Como o Sindipeças entende que será a oferta e a concessão de crédito para compras automotivas no varejo em 2025? As condições tendem a ser mais apertadas. Esperamos que a Selic deva alcançar 12,25% na primeira reunião do Copom de 2025. É razoável esperar que se mantenha nesse patamar durante o primeiro semestre e que inicie novo ciclo de queda a partir do segundo, para encerrar o ano aos 11%, desde que sejam percebidos os efeitos de controle para a inflação, o que projetamos para 4%. O aumento dos juros, que se espelha em taxas maiores na ponta do consumo, deve afetar as decisões de compra dos consumidores. Além disso os bancos são cada vez mais cautelosos e passam a ser mais seletivos. Talvez a aprovação do Marco Legal das Garantias possa ajudar na liberação de crédito. Diante disso é inegável que os mercados de reposição de peças e reparação continuarão em alta. Quais os principais desafios da cadeia de suprimentos para o ano que vem e o que é necessário para solucioná-los? A nosso ver o maior desafio será a volatilidade do câmbio, caso não se alcance estabilidade da moeda. Acreditamos que as pressões recentes serão dissipadas e o dólar deverá oscilar de R$ 5,30 a R$ 5,40 em 2025, o que trará maior previsibilidade. Vale lembrar que, majoritariamente, as importações de autopeças são feitas pelas montadoras, mas há componentes não produzidos no País que os fornecedores também importam. Neste sentido, como incentivo à localização, precisamos reduzir a quantidade de ex-tarifários [redução de imposto de importação a 2% para componentes e sistemas sem produção nacional equivalente], com prazo de validade determinado às concessões. “ As pequenas e médias empresas do setor de autopeças estão se preparando para os desafios da eletrificação. Estão fazendo o dever de casa para atender os rumos futuros do mercado. Basta haver demanda por parte das montadoras, o que ainda não ocorreu. Mas as tecnologias atuais continuarão presentes.” FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » CLÁUDIO SAHAD, SINDIPEÇAS
17 AutoData | Novembro 2024
18 Novembro 2024 | AutoData Renovação de frota e acesso à base Qual a expectativa da Fenabrave para o mercado brasileiro de veículos em 2025? É possível falar em crescimento? É difícil fazer projeções no Brasil, embora nos últimos anos a Fenabrave tenha sido bastante assertiva aos fazer as suas. O que podemos dizer para 2025, sem antecipar porcentuais, é que o mercado de veículos demanda crescimento econômico, do PIB, do crédito, dos níveis de emprego e aumento da renda. Busca redução dos riscos, aumento da previsibilidade e, claro, a elevação nos índices de confiança, tanto de investidores como de consumidores. Sem isso e sem políticas permanentes para que possamos reduzir a idade média de nossa frota circulante – que no caso de automóveis supera os onze anos, para caminhões é maior de doze anos e passa dos onze para ônibus – não teremos o crescimento sustentável que precisamos. O que fazer para reduzir a idade média desta frota circulante? Investimentos em reciclagem, na inspeção veicular e a obtenção de recursos que permitirão a renovação da frota. A Fenabrave realizou, em maio deste ano, um diagnóstico para saber quais os problemas a enfrentar para atingirmos os objetivos desta renovação permanente da frota brasileira. Talvez existam muitos caminhos a seguir, mas ao menos conseguimos extrair o diagnóstico que nos apontou os gargalos e entraves a superar. O mercado de motocicletas está em expansão continuada. Quais as razões desta alta? É possível acreditar na manutenção do crescimento em 2025? As motocicletas vêm experimentando um crescimento fantástico desde a pandemia, por razões diversas. Primeiramente por terem atuado nas entregas, que permanecem como uma forte atividade econômica, assim como por representarem segurança do transporte individual. As motos também se tornaram o segundo veículo da família, muitas vezes substituindo o automóvel em função dos custos de abastecimento. Nos últimos anos a modalidade de venda direta cresceu bastante. O varejo vem perdendo espaço? Entrevista a André Barros FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » JOSÉ MAURÍCIO ANDRETA JR., FENABRAVE Para a Fenabrave o mercado brasileiro precisa de políticas permanentes para renovar a frota e alcançar o consumidor da base da pirâmide
19 AutoData | Novembro 2024 Foto: Rafael Cusato
20 Novembro 2024 | AutoData De forma alguma! Primeiramente acho importante esclarecer que o que muitos chamam de vendas diretas são, na verdade, faturamento direto: ou seja, envolvem o concessionário, que acaba tendo trabalho ainda maior do que na venda de varejo simples, pois casos como PCD, produtores rurais, taxistas e outros demandam documentação e serviços maiores e levam mais tempo e trabalho, enquanto a montadora simplesmente emite a nota fiscal. O faturamento direto vem se mantendo em patamares equilibrados nos últimos anos, sofrendo leve oscilação porcentual em um mês ou outro, mas mantendo equilíbrio no acumulado dos anos. Qual é a visão da Fenabrave para a oferta de crédito para veículos em 2025? Os efeitos do Marco das Garantias já foram contabilizados pelos bancos? O Marco das Garantias é um importante estimulador de crédito, pois os bancos têm a segurança de, em caso de inadimplência, reaver o bem em curto espaço de tempo. Apesar de ser um dos elementos importantes ao crédito não é o único: existem fatores como a geração de emprego e renda, a confiança e previsibilidade atreladas a um crescimento econômico sustentado por uma política fiscal disciplinada com relação aos gastos públicos, a implantação da reforma tributária, dentre outros temas que estão sendo avaliados pelo governo e pelo Congresso. Os preços dos carros brasileiros cabem no bolso do consumidor? Como fazer para reduzir o preço do zero-quilômetro e atrair mais clientes para o mercado? Durante a minha gestão na Fenabrave, que se encerra no fim deste ano, elaboramos e apresentamos ao governo uma sugestão de programa que permitiria o desenvolvimento de um carro com preço mais acessível, abrangendo mais camadas da população. Seria algo permanente, atrelado à política industrial, e que poderia ser adotado de acordo com o interesse de cada montadora. Esse plano não prosperou mas, quem sabe, a partir do diagnóstico que fizemos, possamos voltar a discutir o assunto, que agora ficará a cargo do meu sucessor, Arcélio Júnior. O que o senhor acredita que precisa ser feito na agenda econômica brasileira para melhorar os negócios do setor automotivo? Um programa permanente de renovação de frota, para todos os segmentos automotivos. Isso estimulará o setor, a economia, gerará empregos, riquezas, reduzirá o número de acidentes e mortes, além de promover a desejada e necessária descarbonização do nosso País. “ O mercado de veículos demanda crescimento econômico, do PIB, crédito, níveis de emprego e aumento de renda, confiança e um programa de renovação de frota. Sem isso não teremos crescimento sustentável.” FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » JOSÉ MAURÍCIO ANDRETA JR., FENABRAVE
21 AutoData | Novembro 2024 POLIMEROS USINAGEM PARTS STEEL RODAS PWT O Grupo ABG oferece ao mercado automotivo uma gama completa de soluções e produtos, adequados à necessidade de cada cliente. Sempre com agilidade, excelência e sustentabilidade, nós fazemos acontecer. Day by day we make it happen DIA A DIA NÓS FAZEMOS ACONTECER
22 Novembro 2024 | AutoData Bom resultado para ser mantido em 2025 Os resultados esperados para 2024 estão de acordo com a projeção do ano passado, quando falavam em superar 100 mil unidades em implementos pesados? Nossa indústria trabalha com pequeno estoque. Geralmente produzimos sob demanda. Este ano acho que produziremos um pouco mais do que nos anos anteriores. Devemos fechar em torno de 170 mil implementos. Mas não atingiremos resultado tão esperado nos pesados [semirreboques]. Por outro lado o setor de bens de consumo este ano foi bom. O furgão voltou com tudo. O pessoal está empregado, então consome. A grande virtude está no emprego, na geração de renda. O Brasil está batendo recorde de menor desemprego, números que nunca tivemos. Em 2025 isto continuará contribuindo com o nosso setor. Hoje o Bolsa Família tem valores mais relevantes. Quer girar a economia, põe o dinheiro na mão de quem precisa, porque quem já tem recursos ganha mais dinheiro e só fica aumentando sua poupança. Nesse contexto projetamos fechar 2024 com 150 mil implementos negociados, 60 mil da linha leve [carrocerias sobre chassis] e 90 mil da linha pesada [carretas]. Qual o desempenho esperado de 2025? Em 2025 a produção total deve ser em torno de 165 mil, um pouco menor por causa dos reflexos de alguns acontecimentos recentes, como as queimadas nas plantações de cana-de-açúcar. Se não houver chuva, para que a cana possa brotar rapidamente, teremos uma queda significativa [na safra]. Por isto acreditamos em vendas de 155 mil implementos no mercado interno e exportação de 3 mil unidades. Será um crescimento marginal, de 3,3%, mas temos algumas verticais e talvez a mais importante seria a retomada do basculante, para chegar perto dos 100 mil unidades produzidas, o que seria uma surpresa muito grande. Estamos cautelosos e trabalhamos com um resultado de 90 mil no segmento de implementos pesados. Nos implementos leves acreditamos na continuidade do crescimento. Este ano foi importante para os implementos frigorificados Entrevista a Leandro Alves FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » JOSÉ CARLOS SPRÍCIGO, ANFIR Produção de implementos deve cair mas bom desempenho no aumento do consumo podem elevar as vendas em 3%, diz a Anfir
23 AutoData | Novembro 2024 Divulgação/Anfir
24 Novembro 2024 | AutoData porque houve muita movimentação de alimentos. E isto deve continuar ainda num ritmo bom ano que vem. Como a Anfir avalia os números da macroeconomia brasileira? Esperamos por um [avanço do] PIB um pouco menor no ano que vem. Acreditávamos até pouco tempo que poderia repetir o crescimento de 3% que deve se consolidar em 2024, mas agora notamos que a pressão na taxa de juros, com um aumento na taxa básica ainda este ano, pode prejudicar e desestimular um pouco os investimentos. Com isto cai o consumo, cai também o crescimento industrial. Nós apostamos no PIB 2,4% maior para 2025. Além da Selic qual outro fator para esta redução do crescimento econômico? A Selic fará sofrer bastante. Devemos levar até junho de 2025 uma taxa de 12,5%. É claramente uma pressão para conter e colocar a inflação nos eixos. Acreditamos que a inflação caia e fique de 3,96% a 4%, por causa da Selic alta, com o IPCA totalmente controlado a partir de julho. Neste cenário o câmbio pode criar impactos nos negócios. Não tem quem acerte a relação real e dólar porque são muitas as variáveis. No Brasil tem muita gente pessimista falando em R$ 6 [por dólar], ou até acima de R$ 6. Não pensamos assim. Acho que haverá um recuo no segundo semestre para patamares melhores. Estou acreditando no câmbio de R$ 5,40 o ano que vem, com a Selic terminando seu ciclo de alta e estabilizando em 11% no fim de 2025. No ano que vem haverá investimentos no setor de implementos? O quanto é necessário investir em produção e aumento de capacidade? Como o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, pode contribuir para incentivar o setor? Hoje nossa capacidade de produção gira em torno de 200 mil implementos/ ano. Então ainda temos ociosidade fabril que não demanda investimentos [em ampliação]. Os investimentos que todas as empresas estão fazendo são em melhorias tecnológicas, em aumento de produtividade e até, às vezes, para suprir a falta de mão de obra especializada, cada vez maior no País. Acho que é nisto que devemos continuar investindo. O governo traz o impacto da mobilidade verde, vem ao encontro do que a nossa indústria vem fazendo, oferecer melhores condições ao nosso operador logístico. Mas este ano o recurso do governo acabou muito rápido. Então temos que ver o quanto estará disponível pelo Mover. Porque é claro que isto aí impulsiona todos os processos de inovação dentro da cadeia industrial, como um recorde de empresas de autopeças se credenciando no Mover, bem diferente da Lei do Bem anteriormente. “ A grande virtude está no emprego, na geração de renda. O Brasil está batendo recorde de menor desemprego. Em 2025 isto continuará contribuindo com o nosso setor.” FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » JOSÉ CARLOS SPRÍCIGO, ANFIR
25 AutoData | Novembro 2024 ESPAÇO E ESTILO COMO VOCÊ NUNCA VIU PAZ NO TRÂNSITO COMEÇA POR VOCÊ. A PARTIR DE Condição válida para o novo Citroën Basalt Feel 1.0. MT ano/modelo 24/25, no valor à vista de R$ 89.990. Sujeito à aprovação de crédito. Não estão inclusos os preços dos acessórios adicionais, documentação, manutenção ou qualquer outro produto ou serviço ofertado pelo concessionário. 3 anos de garantia nos termos dos respectivos manuais. Consulte o prazo de entrega e os preços das revisões. Promoção válida de 02/10/2024 a 31/10/2024 ou enquanto durarem os estoques. Condição exclusiva para venda online, pessoa física, não contemplando outras modalidades de vendas. Imagem meramente ilustrativa. Consulte condições e preços praticados pela sua região no site www.citroen.com.br/ofertas.html e/ou uma concessionária CITROËN participante. Para mais informações, entre em contato com a Central de Relacionamento: 0800 011 8088. Paz no trânsito começa por você. R$89.990,00
26 Novembro 2024 | AutoData Motos de volta aos 2 milhões Quais são as principais tendências do mercado de motos em 2025? Acreditamos que o segmento deve manter tendência de alta, consequência dos atributos da motocicleta, como economia, mobilidade urbana e utilização profissional, cada vez mais presente nas cidades. Se continuarmos no ritmo atual a indústria poderá voltar ao patamar de 2 milhões de unidades produzidas em breve. Porém, para isto, as empresas terão de investir na ampliação da capacidade. Quais segmentos devem puxar o possível aumento das vendas em 2025? Os modelos de baixa cilindrada, que representam 80% do mercado, continuarão com maior demanda, pois são utilizados pelas pessoas que acabaram de tirar a sua CNH e por profissionais nos serviços de entrega. Há hoje também clara tendência de aumento da procura por motos de média cilindrada. Nos primeiros nove meses deste ano este segmento registrou o maior crescimento, acima de 22%. Este é um movimento natural do consumidor, que opta por modelos com mais recursos tecnológicos e maior desempenho, passando a utilizar a motocicleta também para lazer e viagens. Como será a oferta e a concessão de crédito para compras no varejo em 2025? A expansão do crédito favorece o mercado como um todo, pois permite que mais brasileiros realizem o sonho de adquirir uma moto zero-quilômetro. Por isto a necessidade da estabilidade econômica que, por meio dos juros e inflação sob controle, assegura crédito mais acessível. Importante destacar que o consórcio continua a ser uma modalidade importante para o segmento, sendo responsável por um terço das vendas nacionais. Haverá novos anúncios de motocicletas elétricas produzidas em Manaus? Nossas associadas estão sempre atentas às tendências do mercado e trabalhando para atender o desejo dos consumidores. Sempre dissemos que o caminho do setor é a busca pela descarbonização, independente da tecnologia utilizada. Como exemplo podemos destacar a motorização flex fuel, capaz Entrevista a Caio Bednarski FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » MARCO ANTONIO BENTO, ABRACICLO Expectativa da Abraciclo é de que a demanda registre mais um ano de expansão
27 AutoData | Novembro 2024 Divulgação/Abraciclo
28 Novembro 2024 | AutoData de rodar tanto com gasolina como com etanol, e que já está presente em 65% da produção nacional de motos. Uma tecnologia 100% brasileira e que acaba de ser lançada também em um mercado externo importante como o da Índia. Acreditamos que os modelos elétricos complementarão de forma natural a ampla oferta de produtos disponíveis no Brasil. Porém lançamentos futuros dependerão dos planos individuais de cada fabricante. Com as ações que foram adotadas para encarar a seca no Amazonas em 2024 a indústria de duas rodas sofreu menos do que em 2023. Em 2025 o plano será aplicado mais uma vez? Sim, foi um projeto bem-sucedido e que deverá ser seguido e aperfeiçoado. Foi um plano de contingência setorial, que incluiu a revisão de fluxos logísticos e a antecipação de estoques de matérias- -primas e da produção. Destaco também as importantes ações realizadas pelos governos federal e estadual, como medidas de desburocratização e dragagens que permitiram a melhoria da infraestrutura local. Reforma tributária e imposto seletivo: como a indústria de motos está trabalhando com essas novas regras para o mercado nacional? A Abraciclo e suas associadas trabalham para manutenção da competitividade e das garantias constitucionais da ZFM, Zona Franca de Manaus. É importante deixar claro que quem ganha com a isenção do IPI, imposto sobre produtos industrializados, é o consumidor. Este benefício não é para a indústria, e sim para o consumidor final, que passa a ter acesso a um produto mais competitivo. Quais são as projeções macroeconômicas da Abraciclo para o fechamento de 2024 e 2025? Apesar da recente volatilidade do dólar a expectativa do segmento é de que o cenário de elevação do PIB se concretize, assim como as demais medidas macroeconômicas que contribuem diretamente para o aumento da confiança no ambiente de negócios. Isto é fundamental para o consumidor se sentir mais seguro para investir em um bem de maior valor agregado. Nós trabalhamos com os dados do Boletim Focus, do Banco Central, que [no início de novembro] projetava crescimento do PIB de 3,1% em 2024 e 1,93% em 2025, câmbio de R$ 5,50 e R$ 5,43, Selic fechando este ano em 11,75% e 11,25% no próximo ano, e IPCA de 4,59% e 4%. Quais as projeções para a indústria de duas rodas no fechamento de 2024? Prevemos encerrar o ano com produção de 1 milhão 720 mil motos, com vendas domésticas de varejo de 1 milhão 810 mil e exportação de 35 mil unidades. “ Se continuarmos no ritmo atual a indústria poderá voltar ao patamar de 2 milhões de unidades produzidas. Porém, para isto, as empresas terão de investir na ampliação da capacidade.” FROM THE TOP PERSPECTIVAS 2025 » MARCO ANTONIO BENTO, ABRACICLO
29 AutoData | Novembro 2024
30 Novembro 2024 | AutoData PERSPECTIVAS 2025 » TENDÊNCIAS Por Lucia Camargo Nunes A era dos híbridos nacionais Mobilidade sustentável, com veículos híbridos e biocombustíveis, novas regulamentações e conectividade nortearão os rumos a indústria automotiva em 2025 Enquanto o Brasil se prepara para uma nova onda de inovações no setor automotivo em 2025 e nos próximos anos, até a primeira quinzena de novembro uma importante incógnita ainda pairava sobre a velocidade dos investimentos e o desenvolvimento de tecnologias: a expectativa sobre regulamentações que ainda faltavam ser definidas no Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, incluindo metas de emissões, adoção de sistemas de segurança e exigências de reciclabilidade. Mesmo sem estas diretrizes claras a Anfavea, que reúne os fabricantes de veículos, antecipa que o próximo ano será um marco significativo no lançamento de carros eletrificados, com destaque para híbridos que utilizam biocombustíveis, ou os híbridos flex. Henry Joseph Jr., diretor de sustentabilidade e parcerias estratégicas e institucionais da entidade, ressalta a importância de uma introdução antecipada desses modelos ao mercado num Divulgação/Fiat
31 AutoData | Novembro 2024 momento em que a pressão por eficiência e redução de emissões se intensifica. Com metas ambiciosas de diminuição de emissões de carbono a serem cumpridas até 2030 a indústria automotiva nacional enfrenta um desafio crucial: adaptar-se rapidamente a um futuro no qual a eletrificação e a conectividade serão fundamentais para a sustentabilidade e aceitação dos novos veículos. EMISSÕES E ETANOL NO FOCO Joseph Jr. destaca que, a partir de 2027, as empresas devem cumprir novas metas de eficiência baseadas na média de modelos vendidos nos doze meses anteriores. Para atender a estes objetivos, já nos próximos meses, serão lançados novos veículos híbridos que não necessitam de pontos de recarga, combinados com o uso de biocombustíveis em seus motores térmicos. Nesse sentido algo que não depende do Mover já está definido: a partir de 2025 a nova fase do Proconve L8, para veículos leves, exigirá níveis de emissões de poluentes mais restritivos com base na média de vendas anuais das fabricantes. Modelos com emissões mais altas precisarão ser compensados por outros que emitem menos, o que pode ser alcançado com veículos eletrificados, como os híbridos flex. Haverá também melhorias na eficiência dos sistemas de tratamento de emissões LanaElcova/shutterstock e aumento gradativo do teor de etanol na gasolina, para a faixa mínima de 22% a 27% podendo chegar a 35%, conforme estabelece a Lei do Combustível do Futuro promulgada em outubro. O programa Renovabio também ganha tração para incentivar o consumo de etanol, oferecendo créditos de carbono aos produtores: “É um meio de remunerar o produtor sem que ele dependa somente do valor da venda do produto e torne o preço mais competitivo. Sabemos que o consumidor vai muito pelo preço. À medida que há que esse diferencial para o etanol ele começará a ser mais utilizado”, avalia Joseph Jr. Uma possível redução de água no etanol hidratado, hoje em torno de 7%, poderia aumentar a eficiência dos veículos que usam o biocombustível em 2% a 3%, o que também incentivaria o uso na comparação com a gasolina. No entanto este é um tema complexo devido às diferenças tributárias e à necessidade de investimentos por parte dos produtores, como relata o diretor da Anfavea: “Esta discussão já se arrasta há algum tempo. No fim todo mundo poderia ganhar, porque se o consumidor ganha com uma melhor eficiência na nossa visão os produtores de etanol também ganhariam porque a logística de distribuição ficaria mais simples, poderia ser uma distribuição única”. INOVAÇÃO SEM SER JABUTICABA Gábor Deák, diretor de tecnologia do Sindipeças, destaca que é necessário compreender os níveis de emissões no Brasil para definir soluções de mitigação, apontando uma transição para modelos híbridos: “Precisamos entender a médio e longo prazo quais são as alternativas. A posição do Sindipeças é bastante eclética”. O Brasil tem frota circulante de 47 milhões de veículos, sendo que 94% deles são automóveis e utilitários leves e a maioria deste contingente, mais de 80%, é de modelos flex bicombustível etanol- -gasolina, que em tese emitem menos. Os demais quase 2,6 milhões são modelos comerciais pesados, caminhões e
32 Novembro 2024 | AutoData PERSPECTIVAS 2025 » TENDÊNCIAS ônibus que, apesar da menor representatividade no total, de 6%, têm impacto ambiental significativo com seus motores diesel, que estão vagarosamente ganhando alternativas aplicadas aos zero-quilômetro com biodiesel – de mistura obrigatória a 15% em 2025 que chegará a 20% até 2030 – gás natural ou biometano, diesel verde HVO, hidrogênio e eletrificação. Deák alerta para a falta de inspeção nos veículos mais antigos, enfatizando que, embora novos veículos sejam mais limpos, é preciso considerar a idade média avançada da frota circulante, de quase onze anos: “Todos os veículos novos, em média, nascem cada vez mais limpos, mas não estamos olhando os sexagenários”. Ele acredita que a legislação atual oferece alternativas viáveis e que o País deve se preparar para o futuro, avançando na pesquisa e desenvolvimento de novas alternativas, citando iniciativas de empresas como a Toyota, em testes com veículo elétrico a hidrogênio extraído do etanol. Deák reforça que o Brasil tem potencial para se tornar uma fonte de inovação, propondo que não existe uma solução única, mas que a combinação de diferentes alternativas é essencial para o sucesso: “Outros países estão começando a copiar o nosso modelo. Se isso se perpetuar não seremos vistos como jabuticaba, mas como fonte de inovação, de alternativas que são adequadas. Se nossas soluções não são universais elas são adequadas para muitas regiões do mundo. E não há uma única solução. O caminho precisa ser combinando todas as alternativas para ter sucesso”. Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, avalia que o Brasil seguirá uma pegada de eletrificação diferente com relação ao cenário global, que avançou em direção ao carro 100% elétrico e decretou o fim do motor a combustão: “Deram um pulo maior do que as pernas”. Cardamone destaca que o País tem alternativas limpas mais viáveis e incentivos para adotá-las, como os do Rota 2030 e Mover. Cardamone pondera: “Teremos que eletrificar devagar para que o mercado possa consumir este carro e atender à Freepik
33 AutoData | Novembro 2024 Eficiência operacional, inovação e sustentabilidade Compromissos da Usiminas com clientes, comunidades e com o fortalecimento da Indústria Nacional
34 Novembro 2024 | AutoData PERSPECTIVAS 2025 » TENDÊNCIAS legislação. São dois aspectos: o consumidor e a capacidade de eletrificar dentro das plataformas existentes no Brasil. Sem dizer que não temos uma infraestrutura avançada e o governo não colocará dinheiro nisto”. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA DE EMISSÃO O consultor independente Milad Kalume Neto estima uma redução de 50% nas emissões de carbono dos veículos novos até 2030 em comparação a 2011, com gasto energético caindo da média de 2,07 MJ/km para 1,03 MJ/km. Este índice está alinhado com as metas a serem regulamentadas do Mover, que dá continuidade ao Rota 2030, iniciado em 2018. Em conjunto com o Mover o Proconve L8, vigente a partir de 2025, adota reduções de emissões cada vez mais restritivas em três etapas, a primeira até 2027, a segunda até 2029 e a terceira finalizando em 2031. O programa obrigará os fabricantes a colocar à venda modelos cada vez mais limpos, retirando de linha os equipados com motores mais antigos. Uma das consequências desta legislação é a adoção crescente de eletrificação, sem o que não será possível enquadrar a frota vendida dentro dos limites impostos pelo L8. Com isto já a partir do segundo semestre de 2025 haverá aumento no número de veículos eletrificados, especialmente os mild hybrids, modelos com eletrificação leve que dominarão o mercado até 2035. Marcus Ayres, CEO da Sensa Partners, concorda que a legislação empurra o Brasil para a dominância dos veículos híbridos, com investimentos paralelos em produção de baterias e restrição de motores térmicos tradicionais: “As pressões regulatórias do Proconve L8 fazem com que o mix de ofertas das montadoras se mova mais para algum nível de hibridização. Será virtualmente impossível atender aos níveis de emissões do L8 com motores tradicionais a combustão. A eletrificação, assim, é uma tendência tecnológica e deve continuar”. Com as novas regras alguns motores conhecidos como o 1.4 Ecotec Turbo da GM e o 1.6 THP Peugeot Citroën devem ser descontinuados, e modelos Fiat que ainda usam o motor Fire 1.0 e 1.4 incorporarão o Firefly 1.0 e 1.3, mais eficientes. A demanda do consumidor por melhores eficiências no gasto com combustível é esperada, especialmente com o aumento da oferta de híbridos, observa Ayres: “O brasileiro não verá mais consumos de combustível do nível 10 ou 11 quilômetro por litro como algo vantajoso. O aumento da oferta de veículos híbridos, mesmo leves, fará o consumidor naturalmente olhar para os carros e demandar uma eficiência melhor para todos os segmentos”. Ricardo Roa, líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, também prevê para 2025 um aumento significativo na hibridização de modelos, com transição gradativa de híbridos leves para híbridos plug-in, especialmente com o início da produção de montadoras chinesas no País que prometem fazer aqui somente veículos híbridos e elétricos. Já endossado pela legislação que criou o Mover a medição das emissões dos veículos no Brasil evoluirá do tanque à roda para do poço à roda e, futuramente, do berço ao túmulo, beneficiando assim biocombustíveis como o etanol, que tem suas emissões neutralizadas no ciclo completo de produção, distribuição e uso. Alfonso Abrami, sócio-diretor da consultoria Pieracciani, avalia que as rotas de descarbonização adotadas pelo Brasil ampliam o leque de opções: “O programa Mover permitirá a avaliação do carbono desde a geração até o descarte, influenciando as escolhas tecnológicas, especialmente para fabricantes de autopeças, o que pode fortalecer a rede de fornecedores”. Para Abrami o cenário abre a oportunidade para desenvolver motores 100% movidos a biocombustíveis, especialmente etanol: “A Stellantis prepara o lançamento de veículos 100% etanol”, ele revela, com desenvolvimento para aumentar a eficiência. “Existem já muitos estudos e testes do etanol com 1% de água em vez dos atuais 7% ou 8%, o que melhoraria muito seu rendimento”.
35 AutoData | Novembro 2024 MAIS SEGURANÇA Além da descarbonização crescente e obrigatória outra tendência para os próximos anos é a adoção de mais tecnologia a bordo, o que inclui de direção autônoma, conectividade 5G e sistemas ativos de segurança veicular obrigatórias a partir de 2025. Roa projeta aumento gradual das exigências de sistemas de segurança, passando do uso de 65% de uma lista dispositivos para 75% em 2023, aumentando 5 pontos porcentuais anualmente até 2026. Para Paulo Cardamone, da Bright, pelo menos dez tecnologias dos sistemas avançados de assistência ao motorista, os ADAS, devem ser integradas ao Mover. Na visão de David Wong, diretor da área automotiva Corporate Transformation da Alvarez & Marsal, a segurança continuará a evoluir nos veículos vendidos no Brasil, mas dependerá de seu impacto no custo final do produto devido à alta dependência em tecnologias que ainda são importadas: “À medida que a localização aumenta estas terão a aplicação no produto acelerada”. Para Ayres, da Sensa Partners, conectividade e automação já se tornaram uma expectativa básica na lista de desejos do consumidor, que coloca em sua lista de requisitos mínimos carros equipados com sistemas avançados de assistência ao motorista, os ADAS: “O carro se tornou um computador, um celular sobre rodas, e o usuário exige isso. Ele quer entrar no carro e o celular já estar conectado, a experiência dele a bordo é uma extensão natural da conectividade que já tinha fora do veículo. A automação também é um conforto que a partir de um certo ponto vira costume”. MAIS RECICLAGEM NO HORIZONTE No aspecto de reciclabilidade o setor se concentrará em usar materiais com o maior grau possível de reaproveitamento, para atender metas de reciclagem de aproximadamente 50% estabelecidas pelo Mover, com dificuldades nesse processo, como ressalta Kalume Neto: “Ao longo dos anos uma lista de materiais altamente recicláveis será a base no processo de construção de novos projetos, elevando-se paulatinamente o potencial de reciclagem de um veículo. Entretanto não deixo de considerar que este será um grande desafio da indústria”. metamorworks/shutterstock
www.autodata.com.brRkJQdWJsaXNoZXIy NjI0NzM=