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Ano 32 | Setembro 2024 | Edição 414 From the Top Sebastián Beato, da Acara CONGRESSO LATINO-AMERICANO Oportunidades e desaios da região CAMINHO DOS INVESTIMENTOS Empresas dizem para onde vão os recursos INDÚSTRIA AUTOMOTIVA AVANÇA EM AÇÕES PARA REDUZIR, REUTILIZAR, RECUPERAR E RECICLAR – E O MOVER DEVE INTENSIFICAR OS PROCESSOS FAZENDO A ECONOMIA CIRCULAR TEREMOS SEMICONDUTORES Governo estimula indústria de chips

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» ÍNDICE Setembro 2024 | AutoData 10 FROM THE TOP Sebastián Beato, da Acara, conta as tendências do mercado argentino de veículos em meio a muitas instabilidades. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 86 6 92 LENTES FIM DE PAPO Os bastidores do setor automotivo. E as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca. As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. No Simea fornecedores calculam que Mover estimula o setor a investir R$ 50 bilhões Governo aprova medidas para induzir a produção nacional de semicondutores Indústria avança em processos para reduzir, reutilizar, reparar e reciclar seus recursos Cogresso LatinoAmericano debate os rumos dos mercados da região Grupo separa R$ 2 bi para produzir dois novos carros e motor em Córdoba, na Argentina Fabricante confirma dois modelos híbridos flex e R$ 5,5 bilhões para fábricas de SP Fábricas paulistas vão receber R$ 13 bilhões do programa de R$ 16 bilhões até 2028 Fábrica de Anápolis vai dobrar capacidade de produção em 2025 com aporte de R$ 1,5 bilhão INVESTIMENTOS 1 AUTOPEÇAS POLÍTICA INDUSTRIAL CHIPS NACIONAIS ECONOMIA CIRCULAR AÇÕES DOS 4 R EVENTO AUTODATA AMÉRICA LATINA INVESTIMENTO 5 STELLANTIS INVESTIMENTO 4 GM DIRECIONA INVESTIMENTO 3 VOLKSWAGEN INVESTIMENTO 2 CAOA DOBRA 40 34 24 18 54 50 48 44 Caoa Chery monta no Brasil versão atualizada do SUV chinês com preço competitivo Importador dos carros coreanos lança seu primeiro elétrico e estuda híbridos flex Fabricante de veículos pesados premia fornecedores e tem orçamento de R$ 6 bi Tabela atualizada com aportes de R$ 105,8 bi de 13 fabricantes de veículos leves Tabela atualizada de aportes de R$ 7 bilhões de cinco fabricantes de caminhões e ônibus Fabricante investe R$ 200 milhões para nacionalizar motores para a Renault BYD lança SUV elétrico mais barato para brigar com modelos nacionais a combustão LANÇAMENTO 1 TIGGO 8 PRO ESTRATÉGIA KIA ELETRIFICA PRÊMIO 1 IVECO INVESTIMENTOS PARA ONDE VÃO INVESTIMENTOS PESADOS INVESTIMENTO 6 MOTOR HORSE LANÇAMENTO 2 YUAN PRO 64 60 72 58 70 56 68 Sistemista reconhece o desempenho dos melhores fornecedores da América Latina PRÊMIO 2 BOSCH 76 78 MARCOPOLO 80 SCANIA 82 STELLANTIS 84 VWCO

» EDITORIAL AutoData | Setembro 2024 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Lucia Camargo Nunes, Nicolas Borges, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Arte sobre foto divulgação/ Renault Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Pedro Kutney, editor Esperanças circulares Em meio aos muitos atrasos que afligem a indústria nacional vez por outra surgem alguns avanços promissores. É o caso do que está estampado na capa desta AutoData: a economia circular. Por mais estranho que possa parecer chamar de avanço algo que circula para voltar ao mesmo lugar, trata-se de uma admirável evolução sustentável. A reportagem sobre economia circular desta edição trata de algo que a indústria automotiva já faz há algum tempo: reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar. Mas até há poucos anos isto era limitado a questões econômicas – ou, sendo mais direto, quando dava lucro ou evitava prejuízos. A diferença agora é que quem não adota ações consistentes para economizar recursos corre o risco de ter prejuízo muito maior, seja por danos à sua imagem, pelo pagamento de multas pelo não cumprimento de legislação ambiental ou pela simples falta e encarecimento de matérias-primas para tocar a produção em frente. É por um ou todos estes motivos que a indústria automotiva instalada no Brasil está avançando mais rápido e já coleciona bons exemplos de economia circular. Existem programas de remanufatura que há décadas economizam recursos na fabricação de novos produtos, mas também surgem inovações promissoras, como o uso de biometalurgia para extrair de resíduos industriais matérias-primas que voltam às linhas de produção, ou métodos de reparos de baterias que dão vida nova ao item mais caro e problemático dos carros elétricos. A boa notícia é que tudo isso pode evoluir ainda mais, a depender de nova regulamentação do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, que prevê estímulos ao aumento da reciclabilidade dos veículos produzidos no País. Basta não perder mais este bonde da história, como aconteceu com a indústria de semicondutores no Brasil. Aliás esta é outra boa história desta edição, que conta como o País caminha para retomar sua capacidade de produzir bens de alta tecnologia e alto valor agregado: os microchips. Com a recente aprovação de legislações de incentivo especialistas dizem que o Brasil atrairá investimentos na casa dos R$ 30 bilhões e tem tudo para produzir, usar e exportar semicondutores, sem os quais nenhum veículo pode ser produzido hoje. É mais uma esperança circular de tirar a indústria nacional do atraso tecnológico em que se meteu.

6 LENTES Setembro 2024 | AutoData FATOS QUE VOCÊ PODE NÃO TER, EXATAMENTE, NOTADO O IBGE mostrou resultados surpreendentes para a economia do Brasil no segundo trimestre do ano. O PIB cresceu 1,4% puxado pelo setor industrial, que avançou 1,8% sobre janeiro, fevereiro e março. Mais: com relação a idêntico período de 2023 a distensão chegou a 3,3%. Lembra o Meio que não havia analista de mercado que apostasse em crescimento maior do que 0,9%. De acordo com a pesquisa do IBGE depois da indústria o setor de serviços cresceu 1% e a agropecuária desandou, ou desabou, 2,3%. Outro dado importante aferido: a evolução, de 1,3%, no consumo das famílias, aquecido por um mercado de trabalho em expansão. Também cresceu o padrão dos investimentos no País, 2,1%. Isto significa que a previsão de crescimento, pelo Ministério da Fazenda, certamente já foi refeita, para cima, saindo de 2,5% para 2,8% e podendo chegar a 3%. FATOS QUE VOCÊ PODE NÃO TER, EXATAMENTE, NOTADO 2 Muitos comemoraram: a pesquisa do IBGE mostrou que o crescimento do PIB se soma ao maior consumo das famílias e à maior geração de empregos, que geram melhor qualidade de vida. Mas há os que vêem estes resultados com extrema cautela porque não estão acompanhados “de reformas estruturais, de cortes em custos públicos” e, acreditam, sem “aumento dos investimentos”, como notou o Estadão. Mas o crescimento do nível de investimentos foi perfeitamente notado pela pesquisa do IBGE. Têm medo de que crescimento do PIB cause inflação quando, no mundo inteiro, isto seria saudado com festas em praças públicas. FATOS QUE VOCÊ PODE NÃO TER, EXATAMENTE, NOTADO 3 Quando se junta os resultados da pesquisa do IBGE àqueles desenvolvidos por órgãos que buscam por indicadores econômicos, como a Austin Rating publicado pelo Poder 360, descobre-se que o crescimento do PIB do Brasil foi o segundo maior do mundo naquele período, o segundo trimestre do ano: o Peru foi o primeirão, com 2,4%. Depois ficaram Brasil, Noruega e Arábia Saudita. FATOS QUE VOCÊ PODE NÃO TER, EXATAMENTE, NOTADO 4 Pela sua importância reproduzo, aqui, partes da coluna Observatório Automotivo de Pedro Kutney, editor desta AutoData, publicado na terçafeira, 4 de setembro, pela Agência AutoData de Notícias sob o título “Rota do híbrido flex tem bifurcação perigosa”: “Diante de medições realizadas nos últimos anos por empresas e entidades setoriais parece não haver dúvidas de que a melhor solução de descarbonização das emissões veiculares, especialmente no Brasil, é a mistura da eletrificação com biocombustíveis nos carros híbridos flex, equipados com motor a combustão bicombustível que rodam com etanol ou gasolina em qualquer proporção. O problema desta rota tecnológica é Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br

7 AutoData | Setembro 2024 a abertura de uma bifurcação perigosa: o uso preferencial da gasolina em vez do etanol, o que reduz sensivelmente a vantagem ambiental do carro híbrido flex, pois cerca de 90% das emissões de CO2 do biocombustível produzido no País são reabsorvidas pelas próprias plantações de cana ou milho. Em medições divulgadas pela Unica, União da Indústria de Canade-Açúcar e Bioenergia, levando em conta o balanço quase neutro de emissões do biocombustível brasileiro, um carro abastecido com gasolina utilizada no Brasil, misturada com 27% de etanol anidro, emite 131 gramas de CO2 por quilômetro rodado, relação que se reduz a 37 gCO2/km no veículo que usa só etanol hidratado, o E100, e a apenas 29 gCO2/km no caso de um Toyota Corolla híbrido flex abastecido com etanol, que emite menos do que um carro elétrico a bateria alimentado pela matriz energética da Europa. O Brasil é, no momento, o único país do mundo que domina e pode usar a rota tecnológica dos híbridos flex, mas não utiliza incentivos suficientes para tornar o etanol a escolha de preferência da maioria dos consumidores nos postos de abastecimento. Por diferença favorável de preço, desinformação ou puro preconceito a gasolina fóssil continua a dominar os abastecimentos de veículos leves equipados com motores ciclo otto”. FATOS QUE VOCÊ PODE NÃO TER, EXATAMENTE, NOTADO 5 A coluna continua: “Atualmente existem cerca de 33 milhões de carros flex em circulação no País, que compõem quase 85% da frota nacional de veículos leves. Em 2023 eles consumiram 18,1 bilhões de litros de etanol hidratado, o E100, o que significou apenas 21% do consumo total de combustíveis para motores otto. Os 79% restantes no ano passado resultam do consumo de 46,5 bilhões de litros de gasolina C, obrigatoriamente misturada com 27,5% de etanol anidro, o que representou 12,9 bilhões de litros. A gasolina A, sem mistura com etanol, em 2023 representou 57% do consumo total da frota de 39,7 milhões de veículos leves com motores otto. Ou seja: o combustível fóssil continua a dominar a cena no único país do mundo com farta distribuição de biocombustível e com dezenas de milhões de carros que podem utilizá-lo sem problemas, incluindo aí os modelos híbridos flex atuais e futuros. É fato que a desvantagem de preço do biocombustível em relação à gasolina – em muitos casos nem tão grande – é responsável em grande medida por esta distorção, mas também existe o componente do viralatismo atávico que avalia como sendo inferior qualquer invenção ou inovação nacional. A preferência pela gasolina se dá até mesmo na meia dúzia de estados onde o etanol fica abaixo de 70% do preço da gasolina para compensar o consumo 30% maior do biocombustível – uma conta antiga que, diga-se, não acompanhou a evolução tecnológica dos motores, como os turboalimentados com injeção direta que deixam essa diferença já abaixo dos 25%, e os híbridos flex tendem a melhorar ainda mais esta relação. Segundo acompanhamento da ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, em 2023 o preço médio da gasolina no País aumentou 6,8% e o litro do etanol caiu 12,8%, mas nem assim o consumo do biocombustível aumentou, ficou estável com relação a 2022”.

COM FOCO NA DESCARBONIZAÇÃO, AS EMPRESAS BRASILEIRAS TÊM UMA OPORTUNIDADE ÚNICA DE TRANSFORMAR O SETOR AUTOMOTIVO E ABRIR NOVOS HORIZONTES DE NEGÓCIOS O FUTURO DA MOBILIDADE JÁ CHEGOU, E O BRASIL É UM DOS PROTAGONISTAS! 21 22

Informações (11) 93372 1801 seminarios@autodata.com.br www.autodata.com.br BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3 BLOCO 4 OS IMPACTOS DA DESCARBONIZAÇÃO NO SETOR AUTOMOTIVO BRASILEIRO  Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea  João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis América Latina  Ricardo Gondo, presidente da Renault  Evandro Maggio, presidente da Toyota A CHEGADA DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS NO MERCADO BRASILEIRO  Ricardo Bastos, presidente da ABVE  Diego Fernandes, COO da GWM  Alexandre Baldy, chairman da BYD  Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus da da Mercedes-Benz  Ieda Maria Alves de Oliveira, diretora executiva da Eletra  Ricardo Portolan, diretor comercial da Marcopolo  Cau Stéfani, head de pesquisa de mercado da Teads Brasil A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS COMBUSTÍVEIS NA DESCARBONIZAÇÃO AUTOMOTIVA  José Eduardo Luzzi, Coordenador-Geral do Conselho de Administração do MBCB  Christopher Podgorski CEO e presidente da Scania Latin America  Marcio Querichelli, presidente da Iveco Latin America  Fernanda Delgado, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde A NECESSÁRIA REDUÇÃO DE CO2 NA INDÚSTRIA BRASILEIRA  Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica  Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil  Marcos Antônio Bento, diretor executivo de relações institucionais da Honda do Brasil  Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan * Temário ainda não confirmado ETANOL, BIOCOMBUSTÍVEIS, HIDROGÊNIO VERDE, HÍBRIDOS FLEX E OUTRAS TECNOLOGIAS JÁ FAZEM PARTE DA REALIDADE DO PAÍS E PROMETEM REVOLUCIONAR ZinetroN/Shutterstock

10 FROM THE TOP » SEBASTIÁN BEATO, ACARA Setembro 2024 | AutoData Tango em compasso de eletrocardiograma Vender carros na Argentina pode se comparar a um tango em compasso de eletrocardiograma, com fortes picos acima e abaixo, ao ritmo de constantes desvalorizações cambiais que complicam a vida dos revendedores e seus clientes, como conta Sebastián Beato, presidente da Acara, associação que reúne, lá, os revendedores autorizados. Segundo Beato os empresários argentinos estão, digamos, supertreinados e já se acostumaram a viver um dia após o outro de muitos altos e baixos, desviando das perdas e aproveitando as oportunidades quando elas surgem, como agora que a inflação deu um pouco de trégua, o dólar sobe menos e os bancos voltaram a conceder financiamentos com juros mais palatáveis de 29% ao ano, deixando no passado recente os inviáveis 130%. Falta de dólares e restrições aduaneiras fecharam o mercado argentino aos carros importados, o topo do ranking dos mais vendidos é composto por modelos produzidos localmente, não houve invasão de veículos chineses e as importações são majoritariamente do Brasil: “Ainda não há segurança para importar carros chineses porque quando o dólar dispara eles ficam caros e saem do mercado”. Este ano o cenário começou a mudar lentamente, com aumento de importações para ampliar a oferta de modelos, mas o mercado continua pequeno, não deve ultrapassar 350 mil unidades – e deveria ser o dobro disto em condições normais. Beato indica que somente depois de o país conquistar estabilidade macroeconômica a situação melhorará: “É o que queremos que aconteça”. Nesta entrevista, concedida durante o 6º Congresso de Negócios do Setor Automotivo Latino-Americano, o presidente da Acara traçou o panorama do mercado argentino e suas perspectivas de curto prazo. Qual a situação do mercado argentino de veículos neste momento? Nós dependemos de importações e somos afetados por um gargalo cambial. Nosso mercado seria como um eletrocardiograma, porque dependemos de meses bons e ruins de vendas e da diferença cambial do peso ante o dólar. Corremos um risco com carros importados, dependendo da velocidade de rotação dos estoques [nas concessionárias], porque existe uma lacuna cambial. Hoje a cotação está em 1 mil 400 pesos por dólar e há um mês estava em 1 mil 200. Esta desvalorização cambial em curto prazo torna o relacionamento comercial muito difícil porque estou comprando um carro importado e não sei quando vou recebê-lo e também não sei quando vou vendê-lo, nem a que preço. Entrevista a Leandro Alves Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista

11 AutoData | Setembro 2024

12 FROM THE TOP » SEBASTIÁN BEATO, ACARA Setembro 2024 | AutoData mil, mas de lá para cá, com a ampliação da desvalorização cambial em 60%, hoje aquele carro vale US$ 15 mil [na conversão para pesos]. Então quando compro este carro tenho de vendê-lo o mais rápido possível porque no próximo mês não sei como vai ser a situação financeira. Se a cotação aumentar para 1 mil 500 pesos o meu carro importado [no estoque] pode valer ainda menos em dólares. Como esta volatilidade cambial influencia nas vendas de carros importados e dos nacionais, produzidos na Argentina? Há meses em que vale a pena comprar um importado e há meses em que é aconselhável comprar um nacional. Quando a desvalorização cambial é pequena os importados vendem muito bem. Quando a diferença do câmbio é muito alta o nacional vende melhor. Um exemplo: em 2023 tivemos mercado de 66% de produção nacional contra 34% de importados. Este ano, até julho, a relação se reduziu para 57% de carros nacionais e 43% de importados. Em 2023 tivemos maior dominância de modelos produzidos na Argentina porque não podíamos trazer carros de fora, tanto pela questão do dólar como por restrições aduaneiras. Mas este ano as fabricantes viram que precisam trazer mais automóveis importados para levantar a imagem da marca e oferecer uma gama mais ampla. Em alguns momentos [do ano passado] marcas na Argentina como a Fiat só vendia o Cronos [pois só produz este carro em Córdoba] e a Peugeot só vendeu o 208 [até então o único modelo argentino da marca, fabricado em El Palomar]. Já este ano as fabricantes começaram a trazer outros modelos, a maioria brasileiros. “ Hoje nosso mercado seria como um eletrocardiograma, porque dependemos de meses bons e ruins de vendas e da diferença cambial do peso ante o dólar.” Esta diferença cambial de quando o senhor compra o carro e quando ele chega na Argentina está causando prejuízo aos concessionários? Sim, muito grande. No início de 2024 a cotação do dólar oficial era de 400 pesos. Tivemos uma desvalorização e passou a valer 800 pesos. Isto significa que [neste intervalo] um carro importado praticamente passou a valer o dobro. Se eu voltar três meses o dólar era 1 mil 200, hoje está 1 mil 400, então já estamos falando de uma diferença de praticamente 20% no mesmo valor em pesos do carro importado. É assim que vivemos dia após dia. Com estas enormes diferenças cambiais como os concessionários argentinos fazem para rodar o estoque de carros? Quando recebemos um carro importado em que a diferença cambial ficou muito grande aparecem os bônus das montadoras e o desconto da concessionária de 7% a 8%, porque precisamos vender rápido, pois no mês que vem podemos perder dinheiro [na conversão em dólares]. Vamos dar um exemplo: em março compramos um Peugeot 208 por US$ 20

13 AutoData | Setembro 2024 Chama a atenção que dentre os dez veículos mais vendidos na Argentina não há nenhum chinês... Os importadores ainda não têm confiança para trazer carros chineses. Existem algumas marcas à venda mas nenhuma tem fábrica aqui e os volumes são muito baixos, porque quando o dólar dispara eles ficam caros e saem do mercado. Mas já esperando por mais estabilidade cambial no ano que vem acreditamos que os chineses virão com mais força assim como estão entrando em grande escala no Brasil, o que causa preocupação para a indústria nacional e seus empregos. Podemos dizer então que este ano, devido à situação do mercado no processo de lenta recuperação econômica da Argentina, os veículos produzidos na região seguirão dominando as vendas? Sim, porque são os que transmitem confiança ao mercado. Não existe volume para importados e praticamente todos os carros nas primeiras posições no ranking são nacionais. Eu acredito que aos poucos voltaremos a importar O senhor diz que a maioria dos carros importados vendidos na Argentina este ano é brasileira. E como estão as importações de marcas da China, da Coréia e do Japão? Estamos começando e bem mais lentos do que vocês que abriram as fronteiras, enquanto nós na Argentina, em 2022 e 2023, tínhamos falta de divisas e fechamos as importações, então não tínhamos produtos importados. Hoje já estão aparecendo os carros chineses. Que tipos de carros o argentino está comprando atualmente? Em julho os dois campeões de vendas foram o Fiat Cronos e o Peugeot 208, que são nacionais, porque o dólar passou de 1 mil 200 para 1 mil 400 pesos, então um cliente que tinha dólares guardados fecha o câmbio, ganha mais pesos e compra o carro nacional. Como disse, quando a desvalorização cambial é grande convém comprar o automóvel feito aqui, e quando o hiato é pequeno vale mais a pena o importado. Por isto neste momento os modelos argentinos ocupam os primeiros lugares do ranking de vendas. “ Em 2022 e 2023 tínhamos falta de divisas e fechamos as importações, então não tínhamos produtos importados. No ano passado 66% das vendas foram de veículos produzidos na Argentina, este ano, até julho, a relação se reduziu para 57%, porque os fabricantes precisam trazer mais importados para levantar a imagem e oferecer uma gama mais ampla.”

14 FROM THE TOP » SEBASTIÁN BEATO, ACARA Setembro 2024 | AutoData mais porque os fabricantes precisam ampliar a gama e os bancos estão fconcedendo mais financiamentos, mas este passo é lento, ainda temos medo do que pode acontecer. Como as empresas fabricantes de veículos instaladas na Argentina estão atuando diante da chegada de mais carros importados? Continuamos com a tendência de vender mais carros nacionais, mas para que as marcas ampliem a oferta e sua gama de produtos não resta outra alternativa senão trazer mais modelos importados, para atender os clientes. Vamos novamente ao exemplo da Fiat que no ano passado só oferecia o Cronos fabricado na Argentina e nem todos os clientes querem só este carro, existem outras necessidades, então a Fiat é obrigada a importar carros do Brasil e exportar o Cronos para lá, para haver trocas e o revendedor poder oferecer uma gama de modelos para as diferentes necessidades que cada mercado pede. Recentemente foi lançado aqui no Brasil o Peugeot 2008 que é fabricado na Argentina. Sempre que isto acontece aumentam as possibilidades de negócios nos dois países? Claro, com isso você, no Brasil, amplia a gama Peugeot com um veículo da Argentina. O contrário também acontece. Por exemplo: o Renault Kardian, que vem do Brasil, abre a possibilidade de oferecer um veículo que não existia na Argentina, e o concessionário tem a possibilidade de buscar um novo cliente que quer um Kardian, que antes não tinha. Porém é um modelo que vem em dólares e se a desvalorização acelera fica muito caro para o argentino. Mas para quem tem dólares guardados fica mais barato. Como está o ânimo dos clientes na Argentina? Existe dinheiro no mercado para comprar bens mais caros? O mercado argentino é muito volátil. Todo mês dependemos de como está se ajustando a situação financeira do país e o hiato cambial. Exemplo: em junho registramos 27 mil emplacamento e em julho o número subiu para 42 mil. A mudança é muito abrupta de um mês para o outro. Mas aconteceu porque os bancos tinham dinheiro excedente, reduziram as taxas e concederam mais financiamentos com boas condições. Então o mercado anda de acordo com estas oportunidades que aparecem. Qual é a situação econômica das pessoas? Elas têm emprego e rendimento para aprovar um financiamento? Sim, hoje eles têm a possibilidade de conseguir crédito, pois não existe mais “ Os importadores ainda não têm confiança para trazer carros chineses. Existem algumas marcas à venda mas nenhuma tem fábrica aqui e os volumes são muito baixos, porque quando o dólar dispara eles ficam caros e saem do mercado.”

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16 FROM THE TOP » SEBASTIÁN BEATO, ACARA Setembro 2024 | AutoData tanta pressão sobre o setor financeiro. Antes a relação taxa-renda para poder fazer um empréstimo era inviável. Mas hoje é do interesse dos bancos emprestar esse dinheiro e assumir o risco. É por isto que hoje temos financiamentos de até 80% do valor do carro. Existe condições de sustentar este crescimento ou foi só um suspiro? Projetamos um mercado melhor principalmente porque as taxas de juros dos financiamentos caíram muito: em janeiro eram de 130% a 140% [ao ano], hoje falamos de 29%. Ou seja, em sete meses a situação mudou de forma impressionante. Estimamos que as taxas de juros seguirão caindo e os financiamentos bancários crescerão mais porque os bancos terão liquidez e as fabricantes continuarão oferecendo planos de financiamentos no segundo semestre. A Argentina tem cerca de 50 milhões de habitantes e 14 milhões deles teriam condições de adquirir um veículo novo, mas estamos falando neste momento de uma projeção anual de vendas de apenas 350 mil unidades em 2024. Em um mercado tão pequeno vemos que as pessoas só compram quando aparece alguma oportunidade. Dos 350 mil carros que devemos vender [este ano] uma grande porcentagem é para clientes que comprarão porque enxergaram uma boa oportunidade de comprar barato ou conseguiram um bom financiamento, mas não creio que tivessem necessidade de comprar. Como o cliente se comporta diante das muitas variações cambiais que acontecem na Argentina? “ Nos últimos dez anos, por causa das crises, calculamos que deixamos de vender 1,3 milhão de carros na Argentina. Dos 350 mil carros que devemos vender [este ano] uma grande porcentagem é para clientes que comprarão porque enxergaram uma boa oportunidade de comprar barato ou conseguiram um bom financiamento, mas não creio que tivessem necessidade de comprar.” Vamos vivendo o dia-a-dia, acompanhando as variações. Em outubro de 2023 o dólar paralelo valia 1 mil pesos e o oficial 350. Em dezembro este dólar oficial passou a valer 800 pesos. O produto importado passou a valer o dobro e deixou de ser vendido porque os salários não aumentaram duas vezes mais. São mudanças de mercado que encaramos e, como tudo na vida, a gente se acostuma. O cliente está se acostumando e sabe que praticamente toda semana o preço pode subir ou descer. É difícil mas estamos nos acostumando. Hoje todo argentino, todos os dias, pergunta a quanto fechou o dólar paralelo porque o carro nacional pode custar menos dólares do que economizaram.

17 AutoData | Setembro 2024 A projeção de vendas para 2024 na Argentina ainda pode mudar para melhor? Considerando este momento, quando se lançam carros novos fabricados aqui na Argentina, como é o caso agora do Peugeot 2008, as vendas podem crescer um pouco e alguns fabricantes já falam de 370 mil unidades este ano, mas nossa estimativa segue sendo de 350 mil veículos leves [automóveis e utilitários]. Esperamos que seja mais mas estamos mantendo cautela. Nossa projeção total sobe para 370 mil quando se adicionam os pesados [caminhões e ônibus]. Se este número se confirma ficaríamos 17% abaixo de 2023. Com certeza o mercado este ano ainda será menor do que o do ano passado porque começamos com janeiro, fevereiro e março muito ruins, foi quando tivemos a desvalorização cambial, o mercado desacelerou. Chegará um momento em que o ano vai encolhendo e não teremos mais meses para poder recuperar. Os concessionários argentinos, no cenário atual, conseguem continuar com o negócio e ter lucratividade? Vamos mês a mês. Para nós 2023 foi mais rentável: por causa da falta de carros tínhamos clientes. Hoje temos mais carros e não temos os clientes. A Argentina está preparada para consumir 650 mil carros por ano mas projetamos apenas 350 mil em 2024. Neste cenário de encolhimento do mercado e da rentabilidade qual é a situação financeira das concessionárias? Empresários deixam o negócio? Acho que não deixarão porque ser empresário automobilístico é muito importante na Argentina. Temos uma rede muito grande no país todo. É um setor muito importante porque só as concessionárias geram 75 mil empregos diretos – se contarmos os indiretos chegamos a 250 mil. Hoje temos desempenho financeiro ruim, mas no ano passado nos saímos bem. Somos uma comunidade empresarial otimista que calcula que no próximo ano teremos um mercado melhor. Já enfrentarmos muitos desafios, nos últimos dez anos, por causa das crises, calculamos que deixamos de vender 1,3 milhão de carros, o que significa que temos a possibilidade de recuperar esse mercado. Também é necessário pontuar que, hoje, este empresário está em vários setores, não ficou só com veículos. A situação financeira da Argentina levou os concessionários a procurar outros negócios. Por tudo que passamos e por tudo que vivemos nós estamos supertreinados. O que precisa acontecer para tornar o negócio das concessionárias viável novamente na Argentina? A aplicação de um programa de estabilização macroeconômica. É o que queremos que aconteça. Isto nos permitirá ter bons preços e uma taxa de financiamento razoável. Hoje nosso mercado passa por uma transição com inflação alta, vendemos pouco e os juros estavam muito altos. Esperamos ter mais estabilidade em 2025, que já começamos a ver em 2024. As taxas de juros e a inflação estão caindo muito na Argentina e isto nos leva a um cenário, em um curto espaço de tempo, de mercado estável e mais saudável do que temos agora.

18 Setembro 2024 | AutoData EVENTO AUTODATA » NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA LATINO-AMERICANA Ainda que seja contraintuitivo os veículos brasileiros têm presença tímida nos mercados da América Latina. À exceção da Argentina, com o qual há intercâmbio consistente de veículos e peças, os demais países da região estão abastecidos por veículos asiáticos, com grande crescimento dos chineses nos últimos anos. Há, portanto, oportunidades para o Brasil expandir sua presença, ou voltar a aumentá-la, em que pese o difícil desafio de superar a atávica falta de competitiviRedação AutoData Muitos desafios e algumas oportunidades na América Latina Mercado regional, veículos chineses e exportações brasileiras foram os temas centrais do 6º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana dade internacional do País até mesmo em sua vizinhança. O desempenho dos mercados da América Latina e das exportações brasileiras foram os temas centrais debatidos no 6º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana, realizado por AutoData de 19 a 23 de agosto. Logo no painel de abertura, com a presença de representantes do MDIC, Anfavea e Sindipeças, foi levantada a necessidade de se criar uma política perene de exportações

19 AutoData | Setembro 2024 nos moldes do Inovar-Auto, Rota 2030 e Mover, que seja um projeto de Estado, que atravesse governos. POLÍTICA DE ESTADO Margarete Gandini, diretora do Departamento de Desenvolvimento da Indústria de Alta-Média Complexidade Tecnológica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o MDIC, disse que o órgão conduzirá reuniões para discutir a questão: “É necessário mudar o pensamento. Não só exportar quando tiver veículo sobrando no pátio nem olhar para América do Sul apenas como mercado. Temos de ver a região como bloco com potencial para sermos representativos e poder voltar a participar das decisões das matrizes globais”. De acordo com a diretora o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, tem recebido elogios porque foi construído a muitas mãos, incluídas as do Sindipeças e da Anfavea: “Precisamos, governo e iniciativa privada, construir soluções para exportar, como uma política do setor”.

20 Setembro 2024 | AutoData EVENTO AUTODATA » NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA LATINO-AMERICANA Para Gandini mais importante do que o ritmo é a direção, pois é fundamental neste processo não haver a descontinuidade do projeto político. Ela acredita que uma estrutura produtiva não se muda em quatro anos porém é preciso deixar os marcos legais dos planos de pé para que, em um passo posterior, sejam criadas políticas de Estado: “Foi o que o setor automotivo conseguiu, desde 2012, passando pelo Inovar-Auto, Rota 2030 e agora o Mover”. A representante do MDIC avalia que o setor conseguiu estabelecer um plano de desenvolvimento doméstico que precisa ser estendido para o comércio exterior: “A política automotiva, que é política de Estado, perpassou diferentes governos e continuou operando. O mesmo precisamos fazer para o viés de exportação. Para colocar na produção brasileira a determinação de que uma parte será exportada”. FALTA CONVERGÊNCIA REGIONAL Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, que reúne os fabricantes estabelecidos no Brasil, afirmou que seria importante para o setor a convergência regulatória. Hoje cada país tem suas leis, regras e exigências, o que torna mais complexo o processo produtivo para atender as vendas externas: “Temos de ter produtos que atendam a todos esses países e o governo precisa buscar isto por meio de acordo, a fim de facilitar o fluxo”. Outro ponto ressaltado pelo presidente da Anfavea é a necessidade do trabalho diplomático de comunicação a fim de esclarecer dúvidas e contribuir para que o Brasil conquiste licitações, uma vez que a indústria local tem qualidade para exportar embora esbarre na falta de competitividade. “Temos um risco que já começou a ser percebido: ao vender a esses países serão comercializados produtos brasileiros ou de outros países onde os mesmos fabricantes estão instalados? Porque o que valerá, no fim das contas, será o padrão de competitividade”, pondera Lima Leite. “A montadora poderá vender desde o Brasil ou do México, da Índia, da China. Por isto não adianta só ter foco na exportação mas ter uma base de custo para alcançar estes mercados. Caso contrário fecharemos vendas que serão abastecidas por operações da mesma marca baseadas em outros países, combatendo de frente o custo Brasil.” O presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, concorda com Lima Leite: o Brasil tem produtos de qualidade para exportar, que não requerem nenhum tipo de incremento tecnológico. E lembrou que a ociosidade do setor supera os 40%: “Se para preenchê-la sabemos que o mercado

21 AutoData | Setembro 2024 interno não é suficiente então precisamos expandir as exportações e equilibrar a balança comercial que está ficando historicamente deficitária devido ao aumento desenfreado das importações”. ARGENTINA RESPIRA Principal destino das exportações do Brasil a Argentina começa a dar sinais de recuperação e de retomada na sua economia. Andrés Civetta, analista de economia e negócios da consultoria Abeceb, disse que as primeiras medidas de choque do novo governo já estão produzindo bons dividendos, como a redução da inflação mensal, de 13% em novembro para 3,8% em julho, e o fato de as reservas internacionais líquidas do país crescerem de US$ 11 bilhões negativos para US$ 8 bilhões. A atividade econômica, porém, só deverá voltar a crescer em 2025, com projeção de 4,5% de alta. No segundo trimestre deste ano houve retração de 5%, recessão ainda maior do que a queda de 1,2% no último trimestre de 2023, e a previsão é que o ano termine com diminuição de 3,3%. As projeções da consultoria para este ano indicam que haverá setores crescendo na Argentina já este ano, com destaque para petróleo e gás, mineração, agronegócio e economia do conhecimento. Já a área automotiva está no balaio das que ainda cairão em 2024, com baixa prevista de 24,7%, e que deverão retomar desempenho melhor somente em 2025, com alta estimada em 10,5%. Aprofundando os números: o mercado argentino, que fechou o ano anterior com produção de 636 mil unidades, deve atingir apenas 480 mil em 2024 e subir para 532 mil no ano que vem. Vale ressaltar que o recorde foi conquistado em 2017, com mais de 800 mil veículos produzidos. O consultor prevê que, da mesma forma que as vendas internas as exportações cairão 18,1% este ano, recuperando-se em 2025 com um avanço de 12,4%. Neste caso a queda deve-se especialmente à retração forte de alguns mercados médios da região, como Chile, Colômbia, Equador e Peru, compensada em parte pelo aquecimento no Brasil. COLÔMBIA SEM FORÇA Já o panorama do mercado de veículos na Colômbia é dos mais peculiares: apesar de o país ser o segundo maior em habitantes na América do Sul – 51,8 milhões, segundo dados de 2022 –, o total de veículos vendidos em 2023 foi de apenas 187 mil unidades, 30% a menos do que no ano anterior. Cerca da metade das vendas previstas para a Argentina, que tem população menor, com 46,2 milhões de habitantes.

22 Setembro 2024 | AutoData EVENTO AUTODATA » NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA LATINO-AMERICANA Apesar dos números tímidos para o tamanho do país o especialista estima que de 50% a 55% das vendas sejam de veículos produzidos no Brasil, “mas existe uma preocupação com o fim do acordo comercial bilateral”. De acordo com Civetta o governo justificou tal movimento pela intenção de fomentar a produção local de automóveis: “A questão é que isso não condiz com a realidade”, lembrando que hoje somente a Renault tem fábrica em operação no país e a General Motors, recentemente, encerrou suas atividades. CHINESES DOMINAM O MÉXICO Mesmo sendo o sétimo produtor mundial de veículos o México tem hoje 65% de seu mercado interno de automóveis e comerciais leves formado por modelos importados. Deste total o Mercosul ocupou em 2023 uma fatia de 14,4%, bem atrás dos 30,3% da China. Trata-se de uma inversão com relação a 2005, quando o bloco liderava as importações dos mexicanos, com 34,2% do total, segundo números apresentados por Guillermo Rosales, presidente da Amda, Asociación Mexicana de Distribuidores de Automotores. A soma das exportações de Brasil e Argentina para o México foi de 248 mil veículos em 2005. Depois de dezoito anos o Mercosul mandou para lá apenas 130 mil unidades. A participação brasileira é bem maior do que a da Argentina: de 14,4% do Mercosul em 2023 o Brasil representou 13,3% das importações. O papel de liderança dos veículos chineses nas importações mexicanas acontece mesmo com apenas uma marca do país asiático no Top 10 local, a MG, que pertence ao Grupo SAIC, exatamente na décima posição. Rosales entende que este fenômeno se dá pelo fato de várias marcas tradicionais do mundo ocidental, que inclusive fabricam há muito tempo no México, trazerem carros que fazem na China para diversificar suas linhas de produtos no país, uma vez que cerca de 90% da produção mexicana é de veículos de maior valor agregado, destinados a Estados Unidos e Canadá. “De cada dez veículos da General Motors vendidos no mercado mexicano, sete são chineses”, exemplifica. “São modelos que atendem melhor ao poder aquisitivo da nossa população.” De acordo com Rosales a China está demonstrando sua competitividade não apenas no preço dos carros mas também com relação ao nível de equipamentos e às motorizações com diferentes níveis de eletrificação, incluindo híbridos convencionais e plug-in e os 100% elétricos, “sem falar da

23 AutoData | Setembro 2024 presença forte de produtos de outros países asiáticos, como Japão, Índia e Tailândia”. Estes países representaram respectivamente 9,1%, 8,5% e 6,5% das importações mexicanas em 2023. CHINA TAMBÉM DOMINA CHILE A participação dos veículos produzidos no Brasil no Chile, que não tem indústria automotiva, oscila de 9% a 11%, dentro de um mercado de cerca de 330 mil unidades por ano, segundo Diego Mendoza Benavente, secretário geral da Anac, Asociación Nacional Automotriz do Chile. Assim como ocorre na maioria dos países da América Latina a maior participação nas vendas é de veículos produzidos na China: chegou a 39% em 2024. O secretário afirmou que esta é a maior fatia de mercado já conquistada por um país no mercado chileno e que apenas nos anos 1990 houve algo parecido, quando o Japão também tinha fatia próxima dos 40%. MERCADOS ENFRAQUECIDOS Juros altos e baixa rentabilidade: este é um ponto em comum dos países latino- -americanos, embora existam diferenças, segundo o Martín Bresciani, presidente da Aladda e da Cavem, que respectivamente representam o setor de distribuição de veículos da América Latina e do Chile. Além da Argentina outros países da região passam por dificuldades: “Brasil e México são praticamente os únicos países crescendo de modo significativo, enquanto Chile e Colômbia, por exemplo, estão sofrendo muito”. O Uruguai tem um mercado bem menor, mas é outro país com viés de baixa. Desde a pandemia o crédito automotivo tem apresentado juros altos demais de maneira geral na região, com exceção do México, que tem estabilidade maior neste sentido. Segundo Bresciani a crescente inadimplência, como a vista no Chile, é um dos fatores que vem complicando a oferta de financiamentos. Ele ainda destacou a capacidade de gerar lucro com a venda de veículos como um desafio atual: “No passado a rentabilidade vinha na maior parte dos veículos, mas com o tempo ela passou a ser dividida em mais camadas”. Por isto há um trabalho bem maior a ser feito para diversificar fontes de receitas, como venda de financiamentos, carros usados, peças de reposição, seguros e serviços de funilaria e pintura:“Não se pode deixar nenhuma dessas áreas esquecidas: todas as verticais do negócio precisam gerar renda”. [Com reportagem de Caio Bednarski, Nicolas Borges e Soraia Abreu Pedrozo]

24 Setembro 2024 | AutoData INDÚSTRIA » ECONOMIA CIRCULAR Arte sobre fotoDivulgação/Caoa A economia circular, com seus princípios fundamentais baseados nos quatro R, de redução, reutilização, recuperação e reciclagem, ganha cada vez mais força no setor automotivo, que até por questões econômicas já utilizava estes instrumentos em seus ciclos produtivos mas agora incorporam o tema às suas culturas corporativas dentro das políticas de ESG, de gestão socioambiental. A indústria automotiva, tradicionalmente associada a altos índices de consumo de recursos naturais e de geração de resíduos, busca não só ampliar as metas de sustentabilidade e neutralidade de carbono mas, também, atender à ainda desconhecida regulamentação do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, que deve incentivar e obrigar ao aumento da reciclabilidade de seus produtos. Deverá ser uma continuação do que muitas montadoras e seus fornecedores já fazem ao desenvolver componentes e veículos mais duráveis e reparáveis, com programas que prolongam a vida útil de certos componentes. Tomando como base os 4R são práticas cada vez mais comuns envolvendo Por Lucia Camargo Nunes Circulando para reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar A indústria ainda aguarda a regulamentação sobre reciclabilidade do Mover, mas fabricantes de veículos e de autopeças já constroem um ecossistema que se antecipa aos avanços da economia circular logística reversa, reparo, reuso e reciclagem. Materiais como plástico, metal e vidro podem ser reutilizados na fabricação de novos produtos. Além disso há uma ampla aplicação de materiais renováveis, como fibras naturais e plásticos biodegradáveis. A remanufatura com a restauração de dispositivos usados como alternadores, motores de partida, amortecedores e turbocompressores está em franco crescimento no setor automotivo: empresas já criaram linhas de produção e divisões comerciais para isto, o que ajuda a reduzir a necessidade de produzir novos compo-

25 AutoData | Setembro 2024 Carro desmontado: 85% de partes reaproveitáveis e 10% de materiais recicláveis. nentes e, consequentemente, o consumo de matérias-primas. A degradação ambiental, a perda de biodiversidade, a emissão de gases poluentes e de efeito estufa que promovem o agravamento das mudanças climáticas colocam um ponto final não muito distante na economia linear, aquela com a qual todos estamos bem mais acostumados que coloca em uma fila insustentável a extração de recursos naturais, a transformação de matérias-primas em produtos, a venda, consumo e descarte – um caminho reto e sem retorno que agora precisa voltar ao começo, ser retornável. Assim a economia circular torna-se um modelo de desenvolvimento baseado em reaproveitamento e redução do desperdício, com o objetivo de reduzir a extração de recursos naturais, evitar resíduos, deter a poluição e promover o uso consciente. TEMA ESTRATÉGICO A Anfavea, entidade que reúne os fabricantes de veículos instalados no Brasil, está tão envolvida com o tema da economia circular que criou uma nova diretoria, como descreve Igor Calvet, seu diretor executivo: “Com o Mover, dentro do tratado criado pelo programa sobre inventário de carbono, está a reciclabilidade, que se preocupa com todo o ciclo de vida do produto desde o nascimento de partes e peças até sua destinação final, seja por sucateamento ou por qualquer outra atividade”. Segundo Calvet o programa em si não deu, até o momento, nenhuma diretriz adicional para além do que está na própria lei que criou o Mover. A reciclabilidade e a economia circular são variáveis cada vez mais importantes para a competitividade da indústria, “mas nós, simplesmente, não temos nenhuma visão de como esta discussão será tratada pelo governo”. Para tratar do tema com mais foco a Anfavea escalou o capacitado e competente, além de veterano, Henry Joseph Júnior, que era o diretor técnico da entidade e que assumiu a recém-criada diretoria de sustentabilidade e de parcerias estratégicas Divulgação/Cefet-MG Divulgação/Porto e institucionais. A ideia é concentrar nesta nova área as discussões e negociações de assuntos de competitividade que estão na fronteira do conhecimento, incluindo a reciclabilidade, que ganha importância central para a sustentação dos negócios do setor. Calvet justifica: “A visão da Anfavea está muito amparada no fato de que as novas tecnologias de propulsão serão seguidas, cada vez mais, por aparatos regulatórios, [que definirão] pegada de carbono, [ciclo de vida] do berço ao túmulo, reciclagem para a reciclabilidade. Estas questões não serão apenas fatores de competitividade da nossa indústria: serão, de alguma maneira, barreiras técnicas. O reflexo disto não é só no mercado interno, mas como a gente acessará outros mercados a partir destes parâmetros”. A entidade pretende se antecipar nesta discussão de competitividade verde e o papel de Joseph Júnior será dedicado aos estudos e às negociações técnicas com o governo com relação à economia circular.

26 Setembro 2024 | AutoData INDÚSTRIA » ECONOMIA CIRCULAR Roberto Braun, diretor de comunicação da Toyota do Brasil e presidente da Fundação Toyota, avalia que o Mover poderá colaborar com as metas de descarbonização da empresa em iniciativas de economia circular, mas pondera que objetivos e benefícios ainda não são conhecidos: “No que se refere à reciclabilidade entendemos ser uma diretriz positiva que pode alinhar toda a cadeia produtiva às metas de sustentabilidade. No entanto as especificações de como a reciclabilidade será operacionalizada ainda estão em discussão”. SETOR JÁ É REFERÊNCIA A reciclabilidade dialoga de forma estreita com a circularidade. Ao menos neste R da economia circular o setor automotivo já tem inúmeras iniciativas para reaproveitamento de materiais do próprio processo produtivo e reciclagem de partes e componentes. Neste sentido a indústria automotiva já é uma referência no País. Fabricio Soler, sócio na S2F Partners e consultor da ONU para temas de economia circular, indica que a tendência é de intensificação dos processos circulares no setor: “As normas internacionais ISO que regulamentam a economia circular, a estratégia nacional de economia circular aprovada por decreto e o Mover formam um conjunto de três marcos regulatórios que impulsionarão a reciclagem de partes e peças na indústria automotiva e potencializará o retorno de materiais que são objeto de logística reversa”. Baterias, óleo lubrificante e pneus, dentre outros, já estão inseridos há bom tempo em programas de logística reversa e o que se espera no médio prazo é construir uma agenda de circularidade para os próprios automóveis, que hoje não são retornáveis. Para Soler um dos principais desafios para impulsionar essa circularidade na indústria é a ausência de financiamento e tratamento tributário adequado para reduzir a poluição e os resíduos. “Outro ponto sensível dentro da gestão de resíduos são os mecanismos de controle e de rastreabilidade para dar segurança em todas as etapas de coleta, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final ambientalmente adequada”, observa o consultor. “A rastreabilidade é um pressuposto para consolidar e criar referência para a melhoria contínua do desempenho desta indústria.” JANELA DE OPORTUNIDADE O Programa Mover abre uma janela de oportunidade para empresas que se anteciparam ao movimento de circularidade. Uma delas é a Octa, uma plataforma que conecta quem está querendo desmanchar um veículo com quem está querendo comprar suas partes. Os clientes vão desde seguradoras e locadoras até frotas de transporte e prestadores de serviços com pequenas frotas. Arthur Rufino, fundador e CEO da Octa, conta que a clientela está crescendo: “TamArthur Rufino, da Octa: intermediação de montadoras com desmontadoras. Motor remanufaturado: certificado como novo. Divulgação/Cummins Divulgação/Octa

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