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Ano 32 | Outubro 2023 | Edição 404 Todos esperam por mais um ano de baixo crescimento PERS PECT I VA S 2024 NINGUÉM ARRISCA MUITO TROCA DE COMANDO NA STELLANTIS Antonio Filosa vai para a Jeep BYD TOMA POSSE EM CAMAÇARI Chinesa começa operação na Bahia

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» ÍNDICE Outubro 2023 | AutoData HYUNDAI DAF MERCEDES-BENZ STELLANTIS VWCO JAGUAR LAND ROVER IVECO RENAULT NISSAN SCANIA TOYOTA VOLVO SISTEMISTAS AMÉRICA LATINA ANÁLISE BMW GM IMPORTAÇÕES MACROECONOMIA TENDÊNCIAS HPE AUTOS HONDA VOLKSWAGEN CNH INDUSTRIAL + AGCO 72 50 30 66 58 42 100 78 112 90 120 76 86 102 82 116 122 110 106 84 118 96 94 124 FROM THE TOP ENTREVISTAS SOBRE 2024 10 Conversas com os presidentes da Anfavea, Sindipeças, Fenabrave, Anfir e Abraciclo, sobre o que indicam as projeções das entidades para o fechamento deste ano e as perspectivas para o próximo. PRÊMIO RANDONCORP INDÚSTRIA BYD NA BAHIA EXECUTIVOS TROCA NA STELLANTIS 134 128 132 Antonio Filosa deixa o comando na América do Sul para ser CEO global da Jeep. Para seu lugar a empresa recontratou Emanuele Cappellano. Grupo fabricante de carretas e autopeças reconheceu o desempenho de fornecedores em inovação, competitividade e ESG. Fabricante chinesa começa oficialmente a operar na fábrica que foi da Ford em Camaçari, onde irá produzir carros elétricos e híbridos. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 136 6 142 LENTES FIM DE PAPO Os bastidores do setor automotivo. E as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca. Frases e números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. 64 SCHAEFFLER 70 FREIOS MASTER 92 VOCKAN 108 TE CONNECTIVITY 126 VOLKSWAGEN

» EDITORIAL AutoData | Outubro 2023 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Fernando Pedroso, Lúcia Camargo Nunes, Rúbia Evangelinellis, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR e divulgação Capa Foto pryzmat/Shutterstock Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora @autodataeditora Por Pedro Kutney, editor Anão gigante Do ponto de vista global o setor automotivo brasileiro pode ser enquadrado na contraditória figuração de linguagem de um anão gigante. De um lado a produção nacional sofre de nanismo, parada em 2,2 milhões a 2,3 milhões de unidades há alguns anos, o que corresponde a menos de 3% dos 84 milhões de veículos que devem ser produzidos no mundo em 2023. Por outro lado há gigantismo no número de fabricantes, poucos países têm tantos instalados em seu território: são treze que produzem dezoito marcas de automóveis e comerciais leves, com vinte fábricas de veículos e oito de motores, além de sete de caminhões e seis de ônibus de sete montadoras focadas em veículos pesados. O consumo do sexto maior mercado de veículos do mundo – por enquanto – e exportações que mal chegam a 20% do que é produzido representam um sapato muito apertado para um pé muito grande, representado por empresas que podem construir 4 milhões de veículos por ano e mal vendem a metade disto. Mesmo assim há mais gente chegando para adicionar algo em torno de 300 mil unidades/ano à já 50% ociosa capacidade de produção nacional. Por falta de lugar melhor para ir, devido a barreiras tributárias e culturais impostas por países ricos, as chinesas GWM e BYD compraram unidades industriais no Brasil, respectivamente, da Mercedes-Benz e da Ford, que desistiram de suas operações industriais aqui. As duas prometem investir alguns bilhões de reais para produzir carros elétricos e híbridos, com toneladas de componentes importados das matrizes na China. É a chamada neoindustrialização que tarda a chegar ao parque nacional de fornecedores, este já chamado de gigante de pés de barro, que não para de pé com sua base quebradiça. Esta edição anual de perspectivas de AutoData consolida informações nas páginas a seguir que demonstram continuada e demorada estagnação da indústria automotiva brasileira. Em resumo, está muito difícil voltar a crescer para acomodar todos os volumes e interesses dos numerosos fabricantes instalados aqui. Enquanto isso falta senso de urgência na proposição da nova política industrial brasileira, da qual muito se fala e pouco se pratica. É urgente salvar o pouco de indústria que resta no PIB, sob o risco de perpetuar o País como nação de segunda classe lastreada em commodities agrícolas e minerais, onde habita um desengonçado anão gigante industrial.

8 LENTES Outubro 2023 | AutoData BRASIL ESTÁ INSERIDO NOS 50 MAIORES DO IGI No finzinho de setembro a CNI, Confederação Nacional da Indústria, distribuiu nota informando que, depois de doze anos, o Brasil volta a integrar o ranking consolidado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual das cinquenta economias mais inovadoras do mundo. Ocupamos, agora, no IGI, Índice Global de Inovação, a quadragésima-nona posição e somos os primeiros da América Latina. No ano passado fôramos classificados na posição 54 e tínhamos o Chile à nossa frente. É pouco para a décima maior economia do mundo e até a CNI concorda com isto. Os dez países mais bem situados no ranking são Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido, Singapura, Finlândia, Holanda, Alemanha, Dinamarca e Coreia do Sul. A posição 49 do Brasil diante de outros países da América Latina é a seguinte: Chile, 52, México, 58, Uruguai, 63, Colômbia, 66, Argentina, 73, Costa Rica, 73, Peru, 74. E com relação aos países que integram os Brics: China, 12, Índia, 40, Rússia, 51, e África do Sul, 59. ELETROMOBILIDADE REQUER POLÍTICA PRÓPRIA Sempre apoiei o álcool carburante desde que soube dele e de seus efeitos com relação aos gerados por gasolina e por óleo diesel, pela energia fóssil. Primeiro foi pelas mãos de nosso geneticista maior, Warwick Estevam Kerr, quando era diretor do INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: ele morava em Manaus em meados dos anos 1970 quando eu trabalhava na Folha de S. Paulo e me mostrou, todo orgulhoso, um Opalão dotado de motor movido a álcool ancorado na garagem de sua casa, ali na beira da floresta. Depois, neste mundo de coincidências possíveis, dez anos depois, me animou a escrever sobre o álcool um contraparente de Kerr, igualmente presbiteriano, o físico misto de músico e de chefe de cozinha e de especialista em inteligência artificial Augusto Cezar Saldiva de Aguiar, que trabalhava na Scania e que foi um dos fundadores da AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, e seu primeiro presidente. Kerr e Aguiar já nos deixaram sem verem, ao menos com clareza, o que viria depois do motor a combustão: veículos movidos a baterias elétricas. Quero acreditar que meus dois amigos teriam aplaudido a solução: vivos, estariam no centro de algum grupo de estudos. ELETROMOBILIDADE REQUER POLÍTICA PRÓPRIA 2 Mas, sabemos, o álcool carburante é a nossa jabuticaba da vez depois de ter sido enterrado três ou quatro vezes. É preciso, certamente, aproveitar esta sobrevida quase que inesperada que as encrencas ambientais oferecem porque a eletrificação plena parece que será trabalho de pelo menos uma geração cá nesta Terra Brasilis repleta de distorções sociais e na qual um cidadão, antigamente conhecido como proletário, não tem mais condições de comprar carrinho de entrada nem pra trabalhar como autônomo. O País é rico, sua elite é milhardária mas o cidadão médio passou à condição de Brasilino: vencimentos pífios, não existe financiamento decente, a distribuição de renda é vergonhosa. Mas, como disse Rogelio Golfarb, ex-presidente da Anfavea e vice-presidente da Ford para a América Latina, em evento recente, o Electric Days, não é exatamente disto que todo mundo fala hoje em dia no mundo todo: todo mundo só fala a respeito da eletromobilidade. Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br

9 AutoData | Outubro 2023 Divulgação/Caoa Chery ELETROMOBILIDADE REQUER POLÍTICA PRÓPRIA 3 Ele recorda que a eletromobilidade ainda não dispõe de esqueleto e de estrutura jurídica e de planos de política para os seus processos, virtudes fundamentais até para que se aproveite as possibilidades de negócios que virão: sem que sejam previsíveis nada feito, Golfarb adianta. E a elaboração desta política é cada vez mais urgente porque os desafios são urgentíssimos para a matriz energética limpa e diversificada e de dinâmica própria. Ele adverte que este trabalho não diz respeito a simples GT ministerial: será gerado por árdua labuta interministerial tendo o Ministério da Indústria como coordenador. E indicou que são quatro os grandes princípios de uma política oficial para a eletromobilidade. ELETROMOBILIDADE REQUER POLÍTICA PRÓPRIA 4 E a eletromobilidade requer política própria para aqueles minerais considerados críticos pelo menos até o estágio de beneficiamento. E a eletromobilidade requer política diferenciada para veículos dotados de propulsão elétrica, seus motores e baterias. E a eletromobilidade requer geração descentralizada de energia limpa. E a eletromobilidade requer conectividade, exatamente aquilo que Golfarb considera o cérebro da eletromobilidade: ele conta que até 2025 o Brasil terá déficit de 500 mil profissionais de programação de softwares. “E por que precisamos de uma política para a eletromobilidade?”, pergunta. É simples, ele conta: porque ela se confunde com política industrial na hora de induzir à inovação, porque ela também induziria a acordos com outros países, porque seria ação relevante e afirmativa de compromisso com a transição energética e... por causa dos investimentos que certamente aportarão.

10 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » MÁRCIO DE LIMA LEITE, ANFAVEA Melhor mas não muito programa de descontos do governo]. Desde julho passamos por período de bons resultados, mas [para ter certeza disso] ainda é necessário monitorar o que são realmente pedidos novos, pois ainda há vendas fechadas meses antes que só agora estão entrando nos emplacamentos. Seja como for acreditamos no crescimento, principalmente por causa da redução da taxa de juros e um ambiente mais favorável para o País. Em 2024 a indústria seguirá produzindo carros muito acima do poder de compra da média dos brasileiros? O custo do financiamento tirou o poder de compra: hoje, se for financiar um veículo, vai pagar 30% ao ano. Antes 70% das nossas vendas eram feitas a prazo e 30% à vista, e em dois anos e meio houve uma total inversão dessa proporção: 70% compram [carros] à vista e não é porque têm mais caixa: quem está comprando tem alta renda ou são pessoas jurídicas. Mudou o perfil do comprador. O que precisamos é trazer o consumidor de veículos de entrada novamente para o jogo com financiamentos acessíveis. A Anfavea também revisou para baixo a projeção de produção. Em janeiro a Entrevista a Pedro Kutney Associação dos fabricantes de veículos projeta crescimento com mercado ainda abaixo do potencial A Anfavea revisou suas projeções para este ano: o mercado de veículos leves deve crescer um pouco mais, 7,2%, para 2,1 milhões de vendas, e as de caminhões e ônibus seguem em forte queda de 11% sobre 2022. É mais um ano de baixo crescimento... O mercado brasileiro ainda está muito aquém de seu potencial. A revisão das vendas domésticas foi feita por causa da leve melhora nos emplacamentos de veículos leves. Este ano, até setembro, tivemos crescimento de 8,5% [com 1,6 milhão de emplacamentos de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus], o que aponta para um avanço gradual também para 2024. No caso de pesados a situação é distinta, aguardamos o que acontecerá com os investimentos em infraestrutura e ritmo forte do agronegócio. Então a expectativa é que 2024 será um ano melhor? Tudo indica que será melhor. Este ano começamos no primeiro semestre de forma muito tímida e só agora temos crescimento um pouco maior. Em setembro registramos a maior média diária de emplacamentos [9,9 mil/dia, só abaixo de 10,7 mil de julho por causa do Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista

11 AutoData | Outubro 2023 Divulgação/Anfavea

12 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » MÁRCIO DE LIMA LEITE, ANFAVEA “ Tudo indica que 2024 será melhor do que 2023. Acreditamos no crescimento principalmente por causa da redução da taxa de juros e de um ambiente mais favorável para o País.” previsão era de leve crescimento de 2,2% e agora este porcentual foi rebaixado em 0,1%, com 2 milhões 372 mil veículos. Para qual lado tende a ir o ritmo da indústria no ano que vem? Para este ano e 2024 o fornecimento de componentes não limita as vendas como aconteceu em 2022. O que mais influenciou a redução de produção em 2023 foi a queda acentuada das exportações. Um país como o Brasil precisa exportar mais se quiser ser um grande produtor. A Anfavea, que esperava por variação negativa de 3% nas vendas externas este ano, reprojetou esta queda para 11,8%, para apenas 420 mil unidades. Como devem se comportar as exportações em 2024? Este ano observamos quedas expressivas nos mercados dos principais países de destino. Acreditamos que o cenário deve melhorar em 2024 com menos instabilidades nesses países. A Argentina se aproxima das eleições, o que sempre afeta o mercado, e a situação deve se estabilizar no ano que vem. O México acumula dezessete meses de crescimento e deve seguir assim. Pelas quedas vistas no Chile e na Colômbia também se espera uma retomada. Portanto a tendência é de melhorar em 2024. Com quais projeções macroeconômicas a Anfavea trabalha no encerramento deste ano e para 2024? Com relação a 2023 esperamos crescimento do PIB de 3%, inflação sob controle de 4,5% a 5%, câmbio estável a R$ 5 e taxa Selic de 11,75% [no fim do ano]. Para 2024 projetamos expansão do PIB de 1,5%, inflação em torno de 4%, câmbio continua em R$ 5 e esperamos juros 8,5%, abaixo da estimativa de 9% do mercado. Os carros ficarão ainda mais caros com novas tecnologias? Os preços dos carros no Brasil receberam muitos impactos gerados pelas novas tecnologias. O processo de eletrificação também vai encarecer os produtos. Isto é natural. Mas o Brasil deverá ter uma transição mais suave porque temos o etanol, que já é uma realidade e deve suavizar a escalada de preços. A indústria automotiva brasileira leva vantagem na descarbonização? Uma grande vantagem. Biocombustíveis e minerais são riquezas que temos para encarar este momento. [Por causa dos veículos que rodam com etanol] o Brasil já tem hoje o que seria equivalente a 8 milhões de veículos elétricos em circulação. Temos uma solução pronta, um grande diferencial competitivo, seja com veículos elétricos ou eletrificados com etanol.

13 AutoData | Outubro 2023

14 Outubro 2023 | AutoData Crédito e incentivo à inovação para reagir janeiro, o que deve se intensificar em 2024, por causa da contratada queda da Selic, acreditamos que as condições de crédito melhorarão. E a seletividade dos bancos deverá ser mais branda, pois a inadimplência deve declinar. Quais os principais pontos que precisam avançar na agenda macroeconômica? Além da queda dos juros a aprovação da reforma tributária, aguardada até o fim deste ano. Também o projeto do marco de garantias, que objetiva facilitar a recuperação dos bens em casos de inadimplência pode contribuir para a queda dos spreads. E ainda a plena execução do Plano Safra e avanços do novo PAC [Plano de Aceleração do Crescimento], além de políticas públicas que eliminem entraves à competitividade e considerem o potencial da matriz energética limpa. Em meio ao processo de transição para a eletrificação como o Sindipeças enxerga que ficará a situação dos fornecedores, principalmente os de menor porte? Entrevista a Soraia Abreu Pedrozo Presidente do Sindipeças propõe caminho para evolução da cadeia de produção da indústria automotiva no País Quais os principais desafios da cadeia de suprimentos do setor para 2024? O primeiro fator para impulsionar a cadeia é o aumento de produção e vendas de veículos. A retomada dos volumes em patamar próximo de 3 milhões de unidades anuais, como em 2019, é condição sine qua non para que o setor avance. Sabemos que o retorno a este nível não chegará em 2024 mas precisamos trabalhar para que isto aconteça no futuro próximo. Será mandatório que os juros bancários sejam reduzidos. O segundo desafio é estimular o desenvolvimento tecnológico, PD&I, e a digitalização dos fornecedores. Nesse sentido o Rota 2030 tem sido de grande valia para nossas pequenas e médias empresas de autopeças e esperamos que a iniciativa permaneça com o Mobilidade Verde e Inovação. Como o Sindipeças entende que será a oferta e concessão de crédito? Considerando-se que os juros para compra de veículos vêm decrescendo desde FROM THE TOP » CLÁUDIO SAHAD, SINDIPEÇAS

15 AutoData | Outubro 2023 Divulgação/Sindipeças

16 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » CLÁUDIO SAHAD, SINDIPEÇAS O Sindipeças, como difusor de informações para sua base de associados, participa ativamente das discussões sobre este tema e almeja ser fonte de inspiração e estímulo para a transformação. Entendo que no Brasil o processo de eletrificação será mais lento, em virtude dos biocombustíveis e da tecnologia flex. Isto dará mais tempo para que os fornecedores se preparem. Cada empresa, porém, fará suas escolhas, conforme demanda e capacidade de investimento em inovação. De nossa parte mostramos os caminhos possíveis e oferecemos o programa Inova Sindipeças e os cursos do Instituto Sindipeças de Educação Corporativa. A indústria local tem condições de fornecer sistemas para as novas tecnologias de mobilidade, especialmente veículos elétricos? Ou seguirá sendo polo produtor do motor a combustão? As duas coisas. Essa revolução que se anuncia para o setor pode beneficiar e reposicionar a indústria automotiva brasileira mundialmente. Podemos atender, e bem, as duas diretrizes. Ou seja: podemos ser um hub para motores flex e avançar nas novas rotas tecnológicas, como no hidrogênio verde a partir do etanol para alimentação de motores elétricos com células de combustível. Destaco que o Brasil é o único país que já superou o problema do transporte de hidrogênio, que poderá ser produzido no próprio posto, ao lado da bomba de etanol. Mas somos mais audaciosos e objetivamos produzi-lo no veículo, a partir de tanque abastecido com etanol. Outra oportunidade é desenvolver etanol a partir do agave, que pode levar à independência na produção a muitas regiões secas, passando a ser potenciais clientes da tecnologia flex Como ficam os investimentos em novos motores a combustão mais eficientes se as matrizes no Exterior estão voltando atenções e recursos aos elétricos? É justamente pelo desinteresse de Estados Unidos e Europa nos motores e veículos a combustão que surge a oportunidade para que o Brasil se torne centro produtor e exportador, principalmente para América Latina, África e Ásia. O Brasil tem potencial para atrair linhas de produção de motores a combustão e servir ao mercado internacional. Para estar mais bem preparadas para a transição as empresas de autopeças devem ampliar sua fatia de exportação? Com certeza. Nossa vocação para ser o principal player regional é inquestionável. Com a reforma tributária e ajustes nas relações de comércio temos tudo para assumir este protagonismo. Dados recentes mostram nossa liderança na América do Sul, temos importantes relações com o México e alcançamos os mercados dos Estados Unidos e do Canadá. “ Podemos ser um hub para motor flex e avançar em novas rotas tecnológicas, como hidrogênio verde a partir do etanol para alimentar motor elétrico com célula de combustível.”

17 AutoData | Outubro 2023

18 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » JOSÉ MAURÍCIO ANDRETA JR, FENABRAVE Atacar a base para aumentar a escala Na separação por segmentos como deverá ser o desempenho do mercado de veículos leves? Em automóveis e comerciais leves a nossa expectativa é de continuidade de crescimento, mas com foco no carro de entrada. E é onde podemos ganhar mais escala: trazer de volta a base da pirâmide [de consumo], fazer este consumidor voltar a comprar o veículo zero- -quilômetro. Vamos renovando a frota com carros que poluem menos. E os comerciais pesados? No segmento de caminhões tivemos este ano o problema do Euro 6, da transição de tecnologia. Os produtos ficaram mais caros e, antevendo isto, tivemos antecipação de compras no ano passado. Basta notar que, este ano, a venda de implementos rodoviários cresceu enquanto a de caminhões caiu. Por quê? Porque no ano passado todo mundo trocou de caminhão, que estava mais barato, e este ano foram substituir o implemento. Para o ano que vem a expectativa é de retorno de crescimento de vendas de caminhões e manutenção dos volumes de implementos. Para os ônibus a expectativa é de renovação de frota, com troca por modelos mais limpos como os elétricos, a hidrogênio. E tem também o programa do governo Caminho da Escola, cujas entregas vão começar em 2024. E qual o cenário para motocicletas? O desempenho é bom nos últimos anos e o segmento deverá continuar assim por algum tempo. É um veículo que tem a degradação mais rápida, o que já dá Entrevista a André Barros Presidente da entidade que reúne distribuidores de veículos mantém otimismo para o mercado em 2024 Qual é a expectativa da Fenabrave para o mercado brasileiro de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em 2023? E em 2024, é possível pensar em crescimento? Para 2023 elevamos, agora em outubro, as nossas projeções feitas no início deste ano, que indicavam empate com o ano passado. Passamos a acreditar em crescimento de 5,6% sobre 2022, para 2 milhões 222 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Agora, pensando em 2024, a expectativa que tenho é positiva, sou otimista. Acredito que agora o mercado começará a reagir de forma constante e consistente, por isso 2024 deverá ser melhor do que 2023, e que seja o início de um novo crescimento sustentável para o setor.

19 AutoData | Outubro 2023 Foto: Rafael Cusato

20 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » JOSÉ MAURÍCIO ANDRETA JR, FENABRAVE uma alavancada no volume. Temos aumento do delivery, das vendas pela internet, são modelos de negócios em que as entregas são feitas por motocicleta. Além disso muita gente vem adotando a moto como o segundo veículo da família. Então vejo um futuro muito promissor. O senhor acredita que há espaço no mercado brasileiro para o consumidor continuar pagando os atuais preços dos automóveis, cujo tíquete médio em 2023 está na casa dos R$ 140 mil? Para termos mais escala será preciso baixar os preços dos veículos da base. O carro de R$ 70 mil precisa passar a custar R$ 60 mil, e assim por diante. Pelos nossos estudos ao fazer estas reduções de preço poderíamos acrescentar de 350 mil a 500 mil automóveis por ano no mercado, porque o consumidor deixaria de trocar o seu usado por um usado mais novo e voltaria a buscar o zero-quilômetro. Quais os principais pontos da agenda macroeconômica do Brasil que precisam avançar em 2024 para melhorar os resultados da indústria automotiva? Taxa de juros, aprovação de crédito, prazos de pagamentos mais extensos e aumento do poder aquisitivo da população. Todos esses itens trazem um cenário perfeito para aumentar o volume de automóveis. E tem um fator psicológico na aprovação da reforma tributária, que ajudaria a desencadear todo o resto. Como a Fenabrave entende que será a oferta e a concessão de crédito para financiar compras automotivas no varejo em 2024? O crédito é dado a quem consegue pagar. Hoje para retomar o bem a financeira demora um, dois anos, e isso é perda paga por quem tem as contas em dia, porque entra no custo do financiamento. Se conseguirmos aprovar o projeto da retomada do bem mais rápida teremos mais liberação de crédito. Aí o banco, com a inadimplência menor, reduz a taxa de juros, estica o prazo e a parcela volta a caber no bolso do consumidor. Como está a interlocução do setor varejista com o governo? Quais os principais pleitos e desejos que a Fenabrave tem atualmente? A Fenabrave hoje tem total liberdade e acesso ao MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços]. O governo nos tem ouvido, sabemos que nem sempre é possível fazer tudo o que gostaríamos, mas temos uma interlocução boa. A MP 1 175 mostrou que o projeto que apresentamos é viável, pode ser adotado no longo prazo e não aumenta os gastos do governo. E resolve o que estamos querendo resolver: trazer o consumidor de volta ao mercado de zero-quilômetro, reduzir a poluição com veículos novos e aumentar a escala da indústria. “ Para termos mais escala será preciso baixar os preços dos veículos da base. O carro de R$ 70 mil precisa passar a custar R$ 60 mil, e assim por diante.”

21 AutoData | Outubro 2023 Um portfólio de soluções para o mercado automotivo. Vote no Grupo ABG no Prêmio Autodata. VOTE NO PRÊMIO AUTODATA Day by day we make it happen. O Grupo ABG tem forte presença no mercado automotivo. Com um portfólio diversificado de marcas e produtos, possui unidades de negócios que desenvolvem soluções e produzem rodas automotivas leves e pesadas, peças estampadas e conjuntos soldados, estruturas de bancos automotivos, peças técnicas em alumínio injetado usinadas, componentes para powertrain, assim como fundição e usinagem de componentes em latão. Visite o site e saiba mais: www.abgbrasil.com

22 Outubro 2023 | AutoData Crescimento nos pesados, estabilidade nos leves Quanto ao desempenho das associadas da entidade quais os cenários para 2023 e 2024? O segmento de reboques e semirreboques deverá ser responsável pelo crescimento da indústria de implementos rodoviários em 2023. O setor crescerá porque temos uma conjunção favorável de fatores que deverá dar suporte a este crescimento. O resultado do PIB no segundo trimestre do ano, que mostrou, segundo o IBGE, variação positiva de 0,9%, foi uma boa surpresa e revela que a economia está dando sinais de recuperação. Assim projetamos para 2023 produção total de 150 mil unidades, com vendas internas de 145 mil unidades, sendo 85 mil da linha pesada [carretas] e 60 mil da linha leve [carrocerias sobre chassis]. As exportações serão de aproximadamente 5,3 mil unidades. Ainda assim estamos longe de atingir nossa capacidade instalada, que é de 215 mil implementos/ano. Para o ano que vem estamos alinhando os números internamente, entretanto notamos que deve haver retomada mais forte do mercado de caminhões. Ainda é cedo para dizer mas, quem sabe, poderemos pela primeira vez ultrapassar a casa dos três dígitos na linha pesada [acima de 100 mil unidades], com a linha leve se mantendo estável. Mas só divulgaremos esses números após a última reunião da Anfir, em 8 de dezembro. Quais os fatores que impulsionarão os negócios de implementos em 2024? 2024 é ano de Fenatran, a maior feira de logística da América Latina. Tradicionalmente é um evento impulsionador de vendas para o nosso setor e por isto Entrevista a Leandro Alves Demanda reaquecida para caminhões em 2024 poderá levar venda de carretas quebrar a barreira de 100 mil Como a Anfir avalia o cenário macroeconômico para este ano e, principalmente, para 2024? Temos analisado as projeções divulgadas pelas autoridades monetárias e pensamos que o PIB em 2023 pode crescer de 2,5% a 3%. Em 2024 poderá ser de 1,5%. A taxa de câmbio deverá encerrar o ano em R$ 4,95 e poderá subir a R$ 5 em 2024. Já a Selic, considerando o posicionamento recente do Copom do Banco Central, temos a perspectiva de que chegue a 11,75% ao fim de 2023. Em 2024 continuará o processo de redução da taxa básica, levando-a até o fim do ano para algo em torno de 10%. A inflação deve ser de 3,25% em 2023 e de 3% em 2024. FROM THE TOP » JOSÉ CARLOS SPRÍCIGO, ANFIR

23 AutoData | Outubro 2023 Divulgação/Mercedes-Benz

24 Outubro 2023 | AutoData fundamental para melhorar a oferta de crédito. Mas por si só a concessão de crédito não age sobre o mercado. Temos todas as outras variáveis já citadas, como PIB, agronegócio, infraestrutura, renovação de frota, PAC, redução de riscos de inadimplência e menor endividamento, tudo isso contribui para o setor. E, com estas variáveis sendo positivas, o crédito naturalmente acompanha. É importante que haja uma teia macroeconômica em direção ao crescimento criando condições para as empresas terem sustentação para buscar crédito. Quais os principais pontos da agenda macroeconômica do País que precisam avançar em 2024 para que a indústria automotiva em geral e o seu segmento em particular obtenham melhores resultados? É fundamental termos uma agenda positiva e clara que mostre um projeto de desenvolvimento para o Brasil. A indústria e demais setores da economia, como o agronegócio, tem respondido aos mais variados desafios que se apresentaram ao longo dos anos. Mas necessitamos que o governo federal abrace algumas causas importantes para o crescimento sustentável do Brasil como a simplificação tributária, com redução da cumulatividade, ampliação do acesso à educação profissional e tecnológica de qualidade, atualização e ampliação da infraestrutura logística, reorganização da matriz energética para diminuir o custo da energia e o risco do desabastecimento, adoção da reforma administrativa para modernizar e agilizar a prestação de serviços do Estado. Esses são alguns pontos que, na minha opinião, merecem atenção. “ 2024 é ano de Fenatran, maior feira de logística da América Latina, um evento impulsionador de vendas. Entendemos também que há um direcionamento de redução gradativa dos juros.” podemos dizer que nossa expectativa é boa. Entendemos que também há um direcionamento na política econômica do governo de redução gradativa dos juros. Estas ações devem continuar em 2024, o que poderá beneficiar o acesso ao crédito e facilitar a aquisição de equipamentos. Outro aspecto importante é que o mercado de caminhões deve voltar muito forte após o primeiro ano de vendas dos veículos com motorização Euro 6. Todo este movimento alicerçará o crescimento, a produção e a comercialização dos implementos dos nossos associados e por isto acreditamos num 2024 muito positivo para o setor. Na esfera governamental os investimentos anunciados para o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, poderão representar mais um impulso aos negócios. Como a entidade entende que será a oferta e a concessão de crédito em 2024? Há um movimento bastante claro na direção da redução da taxa Selic, o que pode representar crédito um pouco mais acessível. Importante também acompanhar a redução da inadimplência, fator FROM THE TOP » JOSÉ CARLOS SPRÍCIGO, ANFIR

25 AutoData | Outubro 2023

26 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » MARCO ANTONIO BENTO, ABRACICLO Expansão sustentável em duas rodas próximos meses, contudo o setor mostra expansão sustentável e a tendência é que mantenha esse ritmo, ainda que fatores políticos e socioeconômicos possam nos afetar. Quais os principais desafios da indústria nacional em 2024? Estamos enfrentando um cenário global recessivo e de incertezas políticas e econômicas. Internamente, por enquanto, os sinais são positivos, com a queda das taxas de juros e da inflação. Instabilidades políticas e econômicas na América do Sul, principalmente de mercados estratégicos para o Brasil como Argentina, Colômbia e Equador, também podem influenciar nas exportações. O senhor avalia que o crédito ficará menos restrito no ano que vem? O quanto isto ajuda o setor de duas rodas? A redução da taxa de juros pode impactar positivamente o consumidor que deseja adquirir uma motocicleta zero- -quilômetro. É importante destacar que as vendas financiadas têm diminuído sua participação nos últimos anos. Segundo dados da Anef, Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras, em 2019 44% das vendas eram realizadas por meio de financiamento, CDC. Esta modalidade representou 35% no primeiro semestre de 2023. Já o consórcio, responsável por 23% das vendas em 2019, hoje representa 35%. Quais serão as tendências do segmento de duas rodas em 2024: ESG, motos menos poluentes, avanço das motos elétricas? A adoção de práticas ESG ganha cada Entrevista a Caio Bednarski Indústria de motocicletas celebra crescimento conquistado em 2023 e espera por continuidade em 2024 Qual a projeção da Abraciclo para a indústria de duas rodas em 2023 e 2024? Para 2023 as projeções da Abraciclo são de produção total de 1 milhão 560 mil unidades, alta de 10,4% na comparação com o ano passado, vendas de 1 milhão 511 mil motocicletas, crescimento de 10,9% ante 2022, exportação de 49 mil unidades, retração de 11,5% com relação ao ano anterior. O segmento apresenta crescimento constante e consolidado, mas continuamos atentos aos cenários macroeconômicos nacional e internacional que podem afetar a indústria. Para 2024 ainda estamos trabalhando em uma projeção mais assertiva nos

27 AutoData | Outubro 2023 Divulgação/Abraciclo

28 Outubro 2023 | AutoData FROM THE TOP » MARCO ANTONIO BENTO, ABRACICLO vez mais espaço na estratégia das fabricantes associadas. Estamos atentos e adotamos em nossa produção processos capazes de aliar altos níveis de qualidade, tecnologia e produtividade, respeitando o meio ambiente. Para nós, que produzimos na Zona Franca de Manaus, a sustentabilidade tem ainda mais relevância, devendo permear toda a cadeia produtiva. Sob o ponto de vista do produto, nossas fabricantes estão sempre realizando investimentos para a melhoria dos níveis de controle de emissão de gases. O Brasil é hoje referência internacional quando se fala em emissões veiculares. Com relação aos modelos elétricos, que respondem por 0,6% dos emplacamentos, acreditamos que eles complementarão de forma natural a oferta de produtos. Quais principais pontos da agenda macroeconômica do País precisam avançar em 2024 para que a indústria de duas rodas obtenha melhores resultados? Internamente o primeiro ponto é assegurar uma reforma tributária que mantenha a competitividade da Zona Franca de Manaus. Ela trará segurança jurídica, fundamental para a atração de novos investimentos, desenvolvimento socioeconômico regional e a preservação ambiental. Sob o ponto de vista econômico o consumidor brasileiro também precisa ter confiança e renda para consumir. Para isto entendemos ser necessário ter a inflação controlada, continuar a reduzir as taxas de juros e de desemprego, assegurando o aumento do poder de compra. Por fim nosso desafio também é fortalecer o comércio na América Latina. O Brasil é hoje o maior polo produtor de duas rodas fora do eixo asiático e apresenta grande potencial para atender às demandas do mercado latino-americano. Mas precisamos evoluir os acordos comerciais e adotar uma harmonização regulatória. Existe esperança de mais harmonia regulatória na América do Sul em 2024, para ganhar força nas exportações? Apenas o Brasil está na fase 5 do Promot. Colômbia e Argentina, que são dois dos principais mercados de exportação de nossos produtos, ainda comercializam motocicletas que atendem ao Promot M3. Já Paraguai e Uruguai ainda aceitam motocicletas que não atendem a nenhuma fase do programa de emissões. Infelizmente, neste cenário, no qual cada país tem sua própria regra, o produto brasileiro passa a ser menos competitivo porque apresenta maior nível tecnológico, não conseguindo competir com produtos importados da Ásia. É importante harmonizar as regras na região, como acontece na Europa. Este tema já foi levado ao conhecimento das autoridades brasileiras, para que seja debatido no âmbito do Mercosul. “O segmento de motos apresenta expansão sustentável e a tendência é de que mantenha esse ritmo, mas estamos atentos aos fatores políticos e socioeconômicos que podem nos afetar.”

29 AutoData | Outubro 2023

30 Outubro 2023 | AutoData PERSPECTIVAS 2024 » TENDÊNCIAS O ano de 2023 tem sido desafiador para o setor automotivo. Tudo parecia que voltaria aos eixos após a crise de oferta causada pela falta de semicondutores. Mas após acertar o ritmo de produção veio a retração da demanda, esmagada por altas taxas de juros e por restrição de crédito, em combinação com a aceleração dos preços dos carros, que extrapolaram muito o poder de compra médio dos brasileiros. Ao mesmo tempo as empresas do setor estão em compasso de espera para planejar o que fazer diante das novas diretrizes do Promovi, o Programa Mobilidade Verde e Inovação, novo nome da segunda fase do Rota 2030. A dúvida é como serão taxados os veículos eletrificados e também como e quando a reforma tributária em Por Lucia Camargo Nunes As forças que movem o setor Avanço da eletrificação, desafios para os híbridos flex, soberania dos SUVs e expectativas para o Promovi e a reforma tributária projetam um novo ano com mais otimismo do que turbulências finalização no Congresso afetará o segmento automotivo. Todas essas medidas terão repercussões no próximo ano e nos novos ciclos de investimentos. ELETRIFICAÇÃO A GALOPE Uma coisa é certa: veículos eletrificados já dominam boa parte das novidades no Brasil: de sessenta lançamentos de automóveis e comerciais leves de janeiro até outubro, incluindo carros novos, reestilizações e novos motores ou transmissões, contando nacionais e importados, 31 deles têm sistemas de propulsão elétricos ou híbridos leves, convencionais ou plug-in. Se considerar apenas os 100% elétricos já foram doze lançados este ano. E a tendência é de ampliação desses números.

31 AutoData | Outubro 2023 Não à toa os veículos eletrificados acumularam, até setembro, 57,5 mil unidades comercializadas no País, crescimento de 31,3% sobre a soma dos primeiros nove meses de 2022. Considerando só os EVs, 100% a bateria, eles representam 7,7 mil unidades vendidas no período, enquanto que em todo 2022 foram 8,4 mil. Todos os especialistas consultados são uníssonos: em 2024 os eletrificados vêm com tudo, mesmo com o esperado aumento do imposto de importação. “O crescimento dos eletrificados será constante. Neste momento são poucas as opções de eletrificados fabricados no Brasil: Toyota, Caoa Chery e Land Rover têm modelos montados aqui com propulsão mild hybrid [híbrido leve] ou full hybrid [híbrido fechado]”, opina Cássio Pagliarini, diretor de estratégia da Bright Consulting. “O aumento do imposto de importação tem a função de proteger a produção brasileira destes veículos, mas deve ser aplicado de uma forma bastante gradativa para não impedir a comercialização e o crescimento.” Um estudo da Bright indica que, em 2030, os 100% elétricos chegarão a 10% do mercado brasileiro, enquanto hoje têm apenas 0,5%. A consultoria também projeta que, em nível global, os elétricos puros chegarão a quase 44% do total dos mercados mais evoluídos em seis anos. Flávio Padovan, sócio fundador na Padovan Consulting e integrante do conselho consultivo da Bright Consulting, observa U2M Brand/Shutterstock Divulgação/BYD que os elétricos têm suas restrições no Brasil, principalmente com a infraestrutura de recarga, enquanto os híbridos não encontram essa barreira e custam menos: “Hoje os híbridos representam 3,5% do mercado, mas avançarão rapidamente e chegarão a mais de 30% em 2027 no Brasil”. Francisco Mendes, diretor da consultoria que leva seu nome, diz que a pressão das fabricantes para barrar a entrada das chinesas é grande e não só no Brasil: “Creio que as marcas que já têm ou anunciaram fábrica no País devem ser preservadas”. Embora no Brasil o crescimento deva ser muito mais gradual do que ocorre nos países desenvolvidos o País conta com vantagens competitivas, como cita Francisco Alberto Tripodi Neto, sócio-diretor da Pieracciani: “Temos matriz de geração de energia elétrica muito sustentável, composta por hidroelétricas, extensão forte de geração eólica e solar, o que resultaria em emissões de carbono da fonte de energia até a roda do VE praticamente nulas”. Mas ele pondera que “a infraestrutura de carregamento das baterias, que cresce principalmente nas maiores cidades, tem alcance menor ao longo de rodovias e cidades, o que é um fator limitante, pelo menos no curto e médio prazo”. CENÁRIO DE ACORDO COM TAXAÇÃO Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics do Brasil, não acredita que todos

32 Outubro 2023 | AutoData PERSPECTIVAS 2024 » TENDÊNCIAS os importados serão taxados de forma igual em 35% e por isto trabalha com três cenários. Num primeiro, caso sigam sem alteração, os eletrificados teriam aumento representativo de participação de mercado ano a ano, saindo dos atuais 4,9% para os 10% até o fim de 2026. Numa situação de taxação moderada os eletrificados teriam aumento ano a ano com maior representatividade dos veículos nacionais e participação de 10% em aproximadamente quatro anos, até 2028. Por fim, com tarifa de importação de 35% para todos, Milad indica que os eletrificados teriam crescimento dependente do desenvolvimento dos veículos com produção nacional e os importados estariam bem limitados e chegariam a 10% do mercado por volta de 2030. Denys Cabral, head de inovação da Becomex, acredita que as vendas de eletrificados dependem das ações do governo: “Caso seja um aumento gradual do imposto de importação, e não uma mudança abrupta para 35%, acredito que o impacto não será tão relevante. Com a entrada de novos modelos eletrificados fabricados no Brasil nos próximos anos a tendência seria de termos uma recuperação das vendas”. MAIS HÍBRIDOS FLEX NO FORNO Stellantis, Volkswagen e Renault já anunciaram que em breve se juntarão à Toyota e terão seus modelos híbridos com motores a combustão flex, bicombustível etanol-gasolina. Tripodi aponta que “provavelmente teremos lançamentos de veículos híbridos flex já em 2024. Todas as montadoras presentes aqui possuem esta tecnologia e estão atentas ao rápido crescimento dos híbridos, como o Toyota Corolla sedã e SUV”. Em um País com vasta experiência em produzir, distribuir e usar biocombustíveis a tecnologia híbrida flex é uma alternativa muito viável para o mercado, até porque não está condicionada à infraestrutura de recarga das baterias. O híbrido flex, para Tripodi, tende a ser um dos caminhos viáveis para desenvolvimentos futuros e poderia se tornar carbono neutro com o uso exclusivo de etanol como combustível. “Os investimentos têm relação direta com escala”, pontua Padovan. “Enquanto o Brasil anda de lado com um mercado de 2 milhões de unidades a China soma 25 milhões, os Estados Unidos vendem 14 milhões e a União Europeia chega a 13 milhões. No mundo são 80 milhões Divulgação/Stellantis

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34 Outubro 2023 | AutoData PERSPECTIVAS 2024 » TENDÊNCIAS ao ano. O mercado brasileiro chegou a 3,8 milhões veículos e com um número muito menor de marcas do que temos hoje. Com 2 milhões de carros, os investimentos ficam muito comprometidos. E nada indica que as coisas melhorarão no curto prazo. Este é o maior problema do Brasil hoje.” A transição do híbrido flex não é tarefa fácil, avalia Mendes. Para ele as necessidades de adaptação tecnológica das fábricas e o estabelecimento da cadeia de suprimentos retarda o processo: “Os investimentos nesta área estão concentrados nos maiores mercados, China, Europa e Estados Unidos. O Brasil perdeu relevância no cenário automotivo internacional. Ainda assim as iniciativas neste sentido devem começar ainda em 2024”. EVOLUÇÃO DO ETANOL Para Cássio Pagliarini o Brasil tem a sorte de possuir os biocombustíveis, em especial o etanol, que permite uma regeneração do gás carbônico gerado na combustão: “São veículos menos caros do que os totalmente elétricos e com mais autonomia. É voz corrente que os mild hybrid flex e híbridos flex terão grande impulso com lançamentos previstos por Stellantis, Volkswagen e Renault. Algumas delas até fizeram apresentações de rotas tecnológicas em desenvolvimento”. Na mesma linha Padovan propõe a adoção de regras claras para o etanol porque a palavra de ordem, hoje, é descarbonização das emissões dos veículos: “As tecnologias já estão aí e para a frente teremos a evolução dos híbridos e depois a célula de combustível. Os veículos flex com o etanol são a melhor solução que o Brasil tem na direção da descarbonização. A saída é desenhar uma política de incentivo ao etanol para as indústrias investirem em tecnologia de híbridos com biocombustível. É uma coisa inteligente de se fazer em vez de investir em elétricos, porque o Brasil demorará para montar a infraestrutura adequada e a população para ter poder aquisitivo para adquirir esses veículos”. Para Tripodi Neto, da Pieracciani, todas as tecnologias estão sendo consideradas para desenvolvimento em caminhos paralelos: “A única certeza é que os motores movidos a gasolina e diesel estão já com os dias contados”. Será uma busca intensa de soluções e prazos factíveis na grande maioria dos países. Divulgação/Petrobras

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36 Outubro 2023 | AutoData PERSPECTIVAS 2024 » TENDÊNCIAS AVANÇO DO 5G As novas tecnologias também extrapolam os tradicionais componentes de um carro. Kalume Neto, da Jato, sublinha que a conectividade também avança rápido: “Com a evolução do 5G no Brasil veremos uma grande área de evolução tecnológica e a aplicação mais prática do IoT [internet das coisas] que colaborará com o desenvolvimento de veículos autônomos, a manutenção remota em veículos comuns, facilitando o mapeamento das falhas, e com a comunicação de parceiros estratégicos para a entrega logística das peças necessárias para o eventual reparo, que será agendado automaticamente”. O 5G também atuará nas rodovias inteligentes, onde haverá informações de forma instantânea de um acidente ou de algum problema na pista, e até a conexão da seguradora com o veículo que analisará o perfil de condução do motorista para oferecer bônus por comportamentos mais seguro, dentre tantas outras aplicações. REINADO DOS SUVS O crescimento das vendas de SUVs e picapes no mercado brasileiro continuará a evoluir na opinião dos especialistas. Cássio Pagliarini avalia que “são veículos mais caros do que os hatchbacks de entrada mas que conseguem absorver melhor o custo incremental das novas tecnologias e das novas exigências legais de segurança e atendem plenamente o desejo dos clientes”. Os SUVs estão em alta no mundo mas no Brasil essa evolução é mais intensa. Padovan cita estudos em que os utilitários esportivos representam hoje 40% do mercado nacional e chegarão a 50% em 2030. Os hatches cairão dos atuais 24% para 19% a 20%. E os sedãs continuarão na casa de 12% a 13%. Francisco Mendes acredita que os hatchbacks pequenos continuam com grande participação puxados pelas vendas para frotas, mas no varejo os SUVs dominarão: “Nas picapes a maior novidade deve ser a GWM Poer com versão híbrida”. Tripodi Neto aposta na demanda de SUVs e picapes em crescimento mas a busca por maior eficiência energética levará a mudanças em design nas novas gerações: “Haverá a redução de massa e melhor aerodinâmica, o que seria, de certo modo, incompatível com os veículos Reprodução internet

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38 Outubro 2023 | AutoData PERSPECTIVAS 2024 » TENDÊNCIAS de grandes dimensões, mais altos, mais pesados e com grandes rodas e pneus”. O QUE ESPERAR DO PROMOVI Às vésperas do anúncio do Promovi, Programa Mobilidade Verde e Inovação, sucessor do Rota 2030, as expectativas são positivas. O programa terá vigência a partir de janeiro de 2024 e se estenderá até dezembro de 2028. É certo que o Promovi terá regramentos de incentivo e punição para elevar a reciclabilidade e descarbonização, estímulos à utilização de tecnologias para reduzir emissões, os quais envolverão principalmente a evolução da eletrificação nos veículos produzidos no País. Para Ricardo Roa, sócio líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, “podemos esperar regramentos de mercado, benefícios para dispêndios em pesquisa e desenvolvimento, medidas para produção e difusão no mercado de tecnologias de propulsão de baixo carbono, programas prioritários para fortalecimento da cadeia de fornecedores, tributação verde e mecanismo de suspensão de tributos federais ao longo da cadeia com recolhimento concentrado no último elo produtivo”. Roa ainda cita que o programa pretende melhorar a eficiência energética do tanque à roda e do poço à roda e ampliar a inserção global da indústria automotiva brasileira por meio da exportação de veículos e de autopeças. O principal impacto para o setor será acelerar fortemente a transição dos veículos eletrificados: “Cada empresa que aderir ao programa passará a traçar sua estratégia de eletrificação, seja para o híbrido ou para o elétrico, mas é certo de que terá de avançar nestas tecnologias para se manter competitivo no mercado local e até mesmo global, possivelmente aumentando exportação na América Latina”, afirma o consultor da KPMG. “Poderemos obter importantes benefícios atrelados à redução de alíquota de imposto de importação, IPI e até mesmo de PIS/Cofins para veículos que atenderem a critérios específicos. Além de incentivos de crédito financeiro atrelado aos investimentos em P&D”. Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, destaca que além das novas metas de eficiência energética e instalação de novos itens de segurança o Promovi traz mudanças de medição do ciclo do carbono: “Também se discute a redução do imposto na cadeia, a cobrança seria no fim, o que diminuiria a burocracia e melhoraria o fluxo de caixa das empresas. O P&D focará naquilo que são competênDivulgação/Jeep

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